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2. Os olhos da floresta

O dia estava amanhecendo, os primeiros raios de sol se infiltravam na caverna, mas somente um brilho tênue chegava até Soraia e Augusto abraçados , de conchinha, em um canto; Marcus com Amy em seu peito recebendo carinhos nas costas e Katrina em posição fetal bem pertinho das cinzas da fogueira que dava um calorzinho ao ambiente. Havia o ‘porém’,

Soraia não dormiu sem antes ligar para Malvina e a deixar falar com Katrina e o mesmo aconteceu com Amy e a mãe e Augusto com Sheila que contou o episódio com Miranda que quis falar com Soraia.

Sonolentos foram abrindo os olhos, se espreguiçando e se levantando, menos Soraia que ao levantar-se, tonteou, mas por sorte, Augusto estava ao seu lado e a amparou e ajudou-a a sentarse no chão novamente.

-Eu estou tão tonta que nem consigo me manter em pé - admitiu.

-Você não vai conseguir sair daqui sem repor, ao menos, um pouco do sangue que dera a sua mãe - disse Marcus ao vestir sua jaqueta de couro.

-Dessa vez, eu irei atrás de sangue –informou Augusto ao entregar Soraia aos cuidados da mãe.

Uma voz familiar, até agora sem rosto, surgiu e dissera - não será necessário- e quando todos olharam para a entrada da caverna – com exceção de Soraia – todos ficaram boquiabertos ao verem Ezequiel com uma garrafinha de sangue junto com os protetores. Augusto cruzou os braços - evidenciando seus belos músculos - e chispou os olhos em direção a Ezequiel que limpou a garganta ao gracejar:

-Corro riscos se me aproximar de Soraia?

-Por que demoraram tanto para aparecerem? - perguntou Soraia assim que recebeu a garrafinha das mãos de Ezequiel e dera um gole que se deliciou.

-Você nos sentiu? - perguntou Lavínia encarando Soraia que lhes sorriu orgulhosa de tê-los descobertos.

-O tempo todo.

-E por que não nos disse nada? - inquiriu Augusto um pouquinho bravo.

-Porque – ela levantou-se já com mais equilíbrio - você os teria mandado embora e, eu temi, e ainda temo que algo nos ronda por entre as árvores.

Augusto levou as mãos a cintura, depois ao rosto, bufou, mas nada falou.

-Eu também sinto algo nos espreitando e, seja lá o que for é bem forte – emendou Ezequiel. -Então eu sugiro irmos embora –concluiu Caio já saindo e Marcus ia ao seu lado com os demais seguindo-os com um grupo de elite.

Bruxelas, Bélgica                                6 anos atrás

Floresta de Ardenas

A floresta estava em chamas, lobos de pelagens variadas corriam por todos os lados, uivando para a lua protetora que mandava seu brilho por entre os galhos consumidos ou sendo consumidos pelo fogo. Risadas malignas ecoavam no ar ao verem o desespero dos lobos, muitos se arriscavam a tentar atravessar as chamas e acabavam sendo consumidos por elas, provocando ainda mais risadas dos exterminadores. Só um entre todos permanecia rígido, impenetrável, em seu olhar de aço e se sentindo um Deus de olhoem seu traje de borracha reforçada com aço ao fazer sinal de cruz e beijar seu crucifixo de ouro branco como se sentisse pena dos lobos em chamas e outros já mortos.

Seu nome: Todos o chamam de Isca, por que é sempre ele a armar as armadilhas e ficar de Isca, mas seu verdadeiro nome ninguém sabe e/ou ousa dizer.

Dias atuais

Um trailer cercado por rangers rovers e motos, ambos cromados e nas cores pretas a frente, atrás e de ambos os lados como se fosse o presidente em comitiva pelas ruas ou melhor, por uma estrada cercada por uma cadeia de montanhas de um lado e do outro um paredão de milharal. Ao horizonte atrás da tempestade anterior fora deixada e uma cidade surgia á frente: Lacrimal city. Sim, os exterminadores a pedido de uma voz ainda sem rosto, estão vindo a esta cidade.

Uma batalha está por vir e até a guerra final chegar muito sangue humano e sobrenatural irá rolar pelas ruas. Isso claro nos olhos negros de Isca que está no banco ao lado do motorista, cruel e impassível, de postura ereta.

Londres, Inglaterra

Depois de todo o clima tenso na casa dos pais de Joss, principalmente pelo jeito como o pai a tratara e a dispensara só restara a Joss juntar suas roupas e objetos pessoais, engolir a dor, despedir-se da mãe e do irmão que aceitaram seu abraço e sair de casa.Definitivamente.

Na janela do andar de cima, seu pai – um pai de coração duro, mas partido-olhava a filha ir embora, esfregava os olhos furiosamente para impedir que lágrimas tão teimosas quanto ele rolassem por seu rosto. Joss deixou as lágrimas caírem por suas bochechas livres como as da mãe que a abraçava como se nunca mais fosse vêla novamente. E talvez estivesse certa.

Leonel estava a duas esquinas da casa, escondido nas sombras de um beco e sentia a mágoa de Joss apertar seu coração, como outrora ocorrera consigo, e a vontade que tinha era de ir até seu pai, falar-lhe umas boas verdades e bater com sua cabeça contra uma parede para ver se ele enxergava a burrada que estava cometendo com a filha. Mas se conteve, pois sabia que ao fazer isso causaria mais mágoas em Joss e voltadas para si também.

-Será que algum dia nossa menininha vai voltar? perguntou-se a mãe aflita e chorosa abraçada ao filho que lhe afagava os braços, ambos á porta – espero que sim, mãe - respondeu ele com lágrimas contidas em seus olhos – e viram Joss caminhar vagarosamente pela calçada até sumir na esquina.

Joss já estava passando pelo beco quando uma voz que ela ansiava ouvir, ainda que não admitisse, a chamou e, sem hesitar, ela largou as bolsas no chão e correu para os braços da única pessoa que poderia entender a dor de deixar a família para trás e iniciar outra vida com outras pessoas.

Leonel a abraçou e deixou ela chorar até esvaziar todo o pote de carga emocional sentido nas camadas mais profundas de seu coração. E depois que isso aconteceu, Leonel a largou, deu-lhe um beijo breve, pegou suas bolsas do chão e seguiram para a casa. Sua nova casa.

Na cama, Leonel estava com Joss sob seu peito, estendida metade do corpo sob o seu, mas lembranças começaram a atormentar o sono de Leonel. Lembranças a muito tempo enterradas nos recônditos de sua mente e que agora vieram á tona.

‘Leonel e Augusto ainda crianças correndo pelas florestas de Valência como se nada os pudesse deter. Ora seu irmão o ultrapassava e o empurrava, ora ele o fazia, e ambos riam’ ‘Anos mais tarde, já adolescentes, os dois passariam pela primeira transformação natural- a transformação de sangue – algo que o pai os preparara desde os 10 anos. Já que a primeira transformação ocorre aos 12 anos, na noite de lua cheia dos lobisomens conhecida como noite de lua vermelha.

As 22:00 horas se aproximava era o ponto máximo da lu Os irmãos já sentiam a tensão e a curiosidade, bem como os demais garotos que também passariam pela experiência. Um nó no estômago e suor nas mãos era o que antecedia o lobisomem. E quando o relógio da catedral badalou dez vezes e a lua atingiu seu auge percorrendo com seu brilho a floresta inteira a transformação começou. Uma dor incomensurável percorreu os nervos dos garotos fazendo-os ficar de joelhos no chão, enquanto seus ossos e cartilagens começavam a se alongar bem como seus rostos; pelos e cabelos trocavam de cor.

Uma ‘coceira’ instalou-se em seus corpos e ao passarem a mão estas já estavam maiores e com dedos longos e garras, os pelos grossos começaram a nascer.

A lua fora coberta por nuvens e o pouco brilho que alcançava a floresta via- se o nascer dos lobisomens através de suas enormes sombras e, quando as nuvens sumiram, os seres uivaram prolongadamente e correram. Livres.

Leonel começou a suar frio e isso acabou por despertar Joss que sentiu seu coração acelerar num ritmo frenético.

-Leonel? - chamou-o ao tocar seu rosto febril e assustada sacudiu-o

Leonel corria por uma floresta, estava tão irritado que uivava e rasgava as árvores com suas garras. Augusto o seguia e uivava baixinho como se estivesse a lhe pedir desculpas por ter atraído a atenção da loba que o irmão desejava. Mas fora sem intenção, droga.

-Maldito! - esbravejou Leonel ao acordar num rompante e, sem perceber – Joss gritou- e ele a agarrou pelos braços e com raiva lhe mordeu o pescoço.

-Leonel, não! - pediu ela tentando se soltar e só quando Leonel sentiu o sangue de Joss quente em sua boca – e não o do irmão como sonhara - é que percebera o erro e a soltou de imediato.

Joss afastou-se – Leonel tentou aproximar-se, pedindo desculpas, mas quanto mais o fazia, mais Joss se afastava.

Leonel com os olhos cheios de lágrimas e a boca a escorrer sangue pedia desculpas a Joss, e sem pensar, jogou-se pela janela aberta tendo por última visão o olhar confuso e amedrontado de Joss e na queda transformou-se em lobo para sumir na noite.

Joss escostada a parede com a mão no pescoço, mas já sem ferimento, apenas com o sangue seco, deixou-se escorregar ao chão chorando ´por ela e por Leonel.

Em uma das muitas florestas de Lacrimal city, sentados ao redor de um lago, jogando pedrinhas que quicavam na água antes de afundar, estão os lobos do novo bando de Lucas e Lucian(mais cheios de segredos do que nunca), estes estão sentados sobre o tronco de uma árvore, distanciados dos outros, a conversar.

-E então, o que vamos fazer agora que conseguimos entrar de novo em Lacrimal city? - perguntou Lucas com as mãos por trás da cabeça- a pose evidenciando seus músculos bem maiores e até o abdome sarado exposto por falta de uma camisa, á sua frente seu irmão com os braços descansando sobre os joelhos dobrados, que o olhou com o seu único olho- uma cortesia de Augusto.

-Vou fazer aquele lobo desgraçado pagar por isso – rosnou apontando para o tapa-olho que cobria o buraco sangrento onde outrora houvera um olho.

-Vai enfrentá-lo de peito aberto para perder o outro olho?

-Claro que não. Assim não tem graça. Quero vê-lo desesperado, e quando o estiver, serei sua misericórdia - riu.

-Você será louco o suficiente para enfrentar Soraia?

-Não falo de Soraia, seu idiota. A mãe de Augusto servira mais do que aquela bruxa.

-E você se esquece de que vai ter de passar não só pela matilha dos lobisomens mas como também pelo clã dos vampiros – lembrou-o, mas ele riu.

-Armadilhas servem para isso, meu irmão. Armadilhas – e com isso a conversa encerrou.

O dia se passou ‘normal’ para os acontecimentos de uma cidade habitada por humanos, lobisomens e vampiros em guerras uns contra os outros e entre si mesmos. Os exterminadores já estão instalados em uma sede do governo em Lacrimal city, mas até agora ninguém os viu, apenas ouviu falar de carros, motos e um trailer estranhos na cidade. Afinal a pessoa que os chamou pediu sigilo, pois o momento de suas aparições já estava próximo de acontecer.

Os três lobos que a polícia prendera estão indignados, pois nos constantes interrogatórios são tratados como cães de rua e estão ficando cansados disso(e isso não é nada bom). Mas se Lucas e Lucian não derem um jeito de tirarem-nos dali – pois qualquer movimento deles é monitorado e se tentarem algo, os jatos liberaram pó puro de prata. O que ainda não sabiam é que Lucas e Lucian já planejavam o resgate e, assim mostrariam a todos a que vieram( e se transformaram).

No acampamento desde o episódio com Miranda que Sheila ligara para Augusto e contara tudo, ela exigiu que ele lhe ligasse ao menos três vezes ao dia lhe informando tudo.

Nesse momento, passado um pouco das três da tarde, eles se falavam, mas até agora nada acontecera. Mas estava para acontecer, pois assim que Sheila guardara o celular uma Miranda muito eufórica trazia pela mão uma Leticia muito constrangida – por que essas caras?- perguntara.

- O que a senhora vê de diferente em Leticia? - questionou Miranda ao empurrar Leticia á frente para ser observada como um rato de laboratório. Fora o fato dela ser uma vampira agora? E muito constrangida por sinal.

-Sim.

-Normal, não?

Miranda suspirou.

-A senhora acha normal uma vampira recém-criada sair á luz do sol sem isso – e virou Leticia de costas para Sheila e afastar-lhe o cabelo da nuca.

-Menina, onde está sua partícula de ouro? - perguntou Sheila boquiaberta ao tocar-lhe a nuca – e como veio até mim sem se queimar?

-Eu não tenho nada de ouro –disse ao virar-se e arrancar seus cabelos das mãos de Miranda com indignação - e vim até a senhora puxada como um cavalo – olhou feio para Miranda que cruzou os braços.

Sheila riu.

-Ao que vejo, Leticia tornou-se imune ao sol.

-Mas como? - perguntou Miranda cheia de curiosidade.

-Eu acho que conheço alguém que pode nos dar respostas á respeito disso- concluiu ao pegar novamente o celular, discar alguns números, leválo a sua orelha e esperar alguém atender.

Malvina mal havia guardado seu celular no bolso de sua jaqueta após uma conversa com Soraia e Katrina quando ele tocara novamente.

-Alô? Ah, Dona Sheila a mãe de Augusto, quem diria?

Uma pausa longa enquanto Sheila lhe relatava algo.

-Claro que posso ajudar, basta que me envie uma amostra do sangue dessa menina, pois eu sei de alguém que entende muito de sangue licantropo e vampiríco. -Me agradeça depois de tiver suas respostas. Até logo.

Duas garotas curiosas e preocupadas pelo que ouviram, encaravam Sheila que guardava o celular.

-E? -questionou Miranda tensa.

-Malvina para a nossa sorte conhece alguém que parece entender bastante de tudo relacionado a sangue humano e sobrenatural. Basta que eu envie uma amostra do sangue de Leticia.

-E a senhora tem como fazer isso?

Sheila sorriu satisfeita e vendo sua expressão, Miranda também sorriu e deu uma debochadinha.

-Vai ser só uma picadinha. Leticia fez um biquinho e estreitou os olhos para Miranda que riu, pois era o que os médicos diziam as crianças para acalma-las.

Desde que mordera Joss, sem intenção, refugiarase na torre do relógio e ali permaneceu, olhando a cidade com olhos perdidos. Pois Joss era a única visão permanente em sua cabeça. E ele culpava as malditas lembranças que há muito tempo haviam morrido em sua vida e justo agora tinham de voltar para atormenta- lo e fazê-lo machucar a única pessoa que não queria que isso acontecesse. Seu celular no bolso da calça tocou e ao olhar viu que era Joss – depois de 20 ligações e muitas mensagens, ambas sem retorno, ela continuava insistindo.

-Por que você deixou isso acontecer? - perguntou á lua linda no céu.

Raina e Malvina conversavam pelo celular, só que ao contrário de Raína que havia saído para jantar com o marido e já voltaram.

Malvina continuava na delegacia á espera do resultado dos exames de sangue de Leticia, que Sheila havia enviado mais cedo.

-Minha intuição me diz que Lacrimal city vai reviver a época dos massacres, minha irmã, e ao centro de tudo vai estar Soraia – disse Raina falando da cozinha a beber um copo de água com cubos de gelo e sangue obviamente.

-Parece que desde que Soraia envolveu-se com Julio Cesar tudo está girando em torno dela. E se esses massacres vierem a acontecer, é ela quem vai ser a peça chave- concluiu Malvina no corredor bem movimentado até, levando em conta do horário.

- Ainda bem que Augusto parece disposto a dar a vida por Soraia.

-Eu já percebi isso também e, se Deus permitir, isso vai perdurar por anos.Então ambas se despediram com beijos e guardaram os celulares.

-Investigadora, eu já tenho as respostas que pediu – informou a Doutora Elena ao sair á porta e chamar-lhe.

- Então quer dizer que as partículas de ouro estão concentradas na corrente sanguínea da Letícia e, quando um humano que fora batizado com a água da cachoeira, o vampiro também torna-se imune ao sol –afirmou Malvina com os exames em mãos a lê-los.

-Não há melhores palavras para descrevê-los – elogiou Elena.

Malvina suspirou.

-Agora entendo a preocupação de Raína – murmurou.

-Em relação a quê? - perguntou Elena curiosa ao servir-se de um copo de café e oferecer outro a Malvina que agradeceu.

-Por acaso você já leu a respeito de massacres entre clãs em Lacrimal city há muitas décadas atrás?- perguntou-lhe

-Já li a respeito, mas somente a pouco tempo descobri que se tratavam de lutas violentas entre clãs de lobos e vampiros por poder.

-Exatamente – Malvina dera um gole em seu café - minha irmã Raína é intuitiva demais com relação a pressentimentos ruins, e pelo que ela me contou, talvez Lacrimal city venha a se tornar um campo de guerra dos clãs novamente. - finalizou.

Elena suspirou.

-Então os livros de história no futuro terão suas páginas escritas com sangue – concluiu ao bebericar seu café, bem como Malvina e trocaram olhares apreensivos.

O dia estava próximo do amanhecer e a primeira coisa que aconteceu foi o ataque do bando de Lucas e Lucian á nova instalação da delegacia mais uma vez.

O sol estava recém enviando seus primeiros raios sobre a cidade, mas ainda todos sentiam o friozinho gostoso da madrugada.

O novo departamento era cercado por telas de alta tensão farpadas, câmeras e seguranças bem armados contra vampiros, já contra lobos...ainda não. Só que eles não esperavam que os lobos viriam por todos os lados, rasgando as telas com suas garras como estas fossem papel e os seguranças mal tiveram tempo para atirar pois foram decepados antes que erguessem suas armas.

Os três lobos presos e sob vigilância constante já estavam apreensivos, pois podiam sentir o cheiro dos companheiros.

- Está acontecendo alguma coisa –murmurou um policial que cuidava das câmeras para o companheiro ao ver os três lobos...gargalhando.

Nesse momento a porta da sala fora arremessada contra a parede, deixando os policiais de olhos arregalados, então um garoto – um lobisomem á julgar pelos olhos amarelos – apareceu á porta e disse - vocês estão absolutamente certosentão surgiu ás suas costas três lobos negros salivando, adentrando a sala, os policias começaram a atirar, mas foram estraçalhados, bem como os outros ali.

O prédio estava ás escuras, somente o brilho dos tiros e os olhos dos lobos é que surgiam junto a gritos, rosnados e os arranhados das garras nas paredes.

Em um dos corredores o brilho de quatro pares de olhos amarelos surgira e pararam em frente a cela dos três lobos ansiosos para saírem. E no justo momento que um dos lobos destruiu as barras da cela, vários alarmes começaram a disparar e jogar no ar o pó de prata. Vários lobos começaram a correr e uivar desesperados enquanto outros eram consumidos pelo mesmo. Lucas e Lucian – privilegiados –voltaram a forma humana e, após transformaram-se novamente, afinal a situação exigiu.

Era hora da matança, uma a qual eles adoraram terminaram, pois quanto mais policiais vinham, mais eles matavam, mais adoravam. Com a matança completa o silêncio reinou, só o que não se esperava é que uma policial havia se escondido num dos banheiros –e com ajuda divina – conseguiu manter-se viva. Agora caminhava cambaleante, machucada e nauseada por entre o que sobrar dos seus companheiros. Com lágrimas lhe nublando os olhos e trêmula, conseguiu discar o número do celular do delegado Sergio que o mandou voltar para o banheiro e ficar lá até que os outros policiais chegassem, e ele já estava á caminho.

A cidade acordou com o barulho das sirenes dos carros da polícia e de várias ambulâncias e não demorou muito para a notícia virar destaque na tv, imprensa local e internacional, internet e todas as demais fontes de informação.

Sergio e Malvina já estavam na delegacia a algum tempo e já haviam caminhado por vários corredores e a única coisa que seus olhos - não muito chocados por tudo o que já haviam vistos – eram vidas espedaçadas, literalmente, por todos os lados e sangue pintando paredes, tetos, chão, móveis e monitores.

-Minha irmã está coberta de razão-murmurou Malvina agachada ao lado de um dos muitos corpos a verificar o pouco da garganta que sobrara.

-Á respeito de quê? - perguntou Sergio ao estender um lenço a Malvina para que limpasse os dedos sujos com sangue.

-Uma guerra está vindo para Lacrimal city – levantou-se e jogou um lenço na cesta de lixo – e o princípio dela já está se manifestando.

Sergio suspirou exasperadamente ao passar as mãos nervosas por seu rosto - Malvina, se isso vier a acontecer, nós vamos precisar estar prontos, em todos os sentidos. Mas não temos nem sequer armas para matar lobisomens!

-Acalme-se – Malvina pegou-lhe os ombros e o encarou firme – mantenha a compostura delegado Sergio, se você se desesperar, o que será daqueles que tem fé em você?

A tensão pairava no ar junto ao cheiro de morte, mas Sergio fechou os olhos e respirou fundo, mesmo inalando aquele cheiro horrível.

-Você tem razão - abriu os olhos já calmos e determinados – me desculpe. Malvina sorriu-lhe e assentiu em concordância.

-E quanto a armas, eu sugiro que não se preocupe, eu sei a quem recorrer – dissera.

-Graças a Deus, nós já estamos quase em casa – celebrou Amy tentando iniciar uma conversa, afinal depois que saíram da caverna todos pareciam estranhos compartilhando uma caminhada e nada mais.

-Que droga, dá pra vocês calarem a boca! - gritou Amy em desespero infantil, tentando chamar a atenção de todos e para seu alívio eles a olharam, embora a vissem como uma louca.

- Está bem, não precisa deixarem explícito que me acham louca- defendeu-se–sem muita vontade-e viu-os esconderem os risos.

-Sério? - debochou Augusto erguendo a sobrancelha.

-É que esse silêncio me deixa nervosa – gesticulou com as mãos- afinal, estamos indo para casa e não para um velório.

-Amy tem toda razão -apoiou Katrina com um braço dando apoio a Soraia que sorriu a amiga.

-Com certeza a gatinha nervosa tem razão - dissera uma voz estranha bem próxima a eles, pois estiveram tão atentos a Amy que por um segundo esqueceram-se da vigia. Agora todos se encaravam, e a julgar pelo cheiro que sentiam dos visitantes tratavam-se de lobos, mas com um quê a mais em seu sangue.

O líder estava á frente – o dono da voz – um ‘armário’ em altura e músculos e pura arrogância em sua postura quanto no olhar azul celeste.

Amy dirigiu-se até Marcus que a protegeu com seu corpo, bem como Soraia e Katrina foram protegidas por Augusto, enquanto Ezequiel e os protetores ficavam ao redor.

-Pelo visto ela não é a única gata –dissera outro um pouco mais baixo, mas não menos arrogante em seu olhar fixo e lascivo em direção a Soraia.

Augusto rangeu os dentes de ciúme, a tensão percorrera seu corpo bem como a vontade de brigar, e tudo isso Soraia sentia emanar dos músculos flexionados e pulsos cerrados de seu lobo.

-Se você pensar em chegar perto dela – rosnou ao transformar suas unhas em garras de aço- eu te rasgo inteiro.

-Poderia te dizer a mesma coisa, mas no momento a única coisa que quero rasgar é as roupas de gata ai - e louco para avançar em Soraia, ele foi com tudo, mas Augusto transformou-se em lobisomem, fazendo-o fazer o mesmo e se atacaram. Com isso, Soraia, Katrina e Amy se afastaram enquanto os protetores e Marcus se engalfinhavam com os lobos.

Lavínia fora encurralada por dois lobos –ainda na forma humana que iam se aproximando, e ela se afastando com o seu cajado de ouro branco trabalhado em mãos .

-E então, gata, o que vai ser? - perguntou um deles.

-Já vou te dizer – e os atacou com o cajado.

O primeiro tentou arranca-lo de sua mão, mas ela lhe dera um golpe na barriga e quando abaixou-se, recebeu outro no queixo que o fez bambear. Então o outro lobo a pegou pelo pescoço ferido e a jogou contra uma árvore.

Lavínia levou a mão ao pescoço machucado pelas garras do lobo, e rosnou furiosa ao ver seu sangue em sua mão - isso não vai ficar assim – murmurou ao dar uma sacudida no cabelo, levantar-se e esperar pelo ataque do lobo novamente. Ela não era uma protetora iniciante, e isso ele iria descobrir. Bem como ela esperou, o lobo a atacou, mas mais dois vieram atrás, então ela teve de improvisar um segundo plano.

-Quanta covardia- murmurou, eles salivaram, e quando se jogaram sobre ela... Lavínia apertou um botãozinho escondido em seu cajado, transformando-o num belíssimo e afiado sabre e, com golpes espetaculares cortou a mão de um lobo que caiu de joelhos ao chão, urrando de dor e raiva ao ver sua mão decepada, então ela lhe dera seu golpe de misericórdia.

Do outro ela arrancou a cabeça, e o terceiro teve o peito fatiado e o coração arrancado entre gritos estridentes e jorros de sangue.

-Vocês mexeram com a gata errada- vangloriou-se e ao sentir o sangue escorrer por seu pescoço em certa quantidade, a fraqueza a fez tombar ao chão.

-Lavínia! - gritou Lucius ao enfiar seu sabre no estômago de um lobo, atravessando-o para o outro lado, só para puxa-lo de volta e lhe decepar a cabeça. Então começou a vir ao encontro de Lavínia e no caminho arrancou a cabeça de mais dois lobos. E ao chegar a companheira, esta amparada por Amy e Katrina.

Soraia no momento estava ocupada com um lobisomem que havia se jogado sobre si, e ele era tão pesado que ela mal conseguia se mexer, mas pelo menos conseguia manter sua bocarra furiosa longe de seu rosto. Mas como ainda estava um pouco fraca, não conseguia usar o poder de seus olhos.

Augusto tentara ir salva-la, mas o lobo que ele havia acabado de lhe cortar a garganta, conseguira reforços de dois lobos. Um deles conseguira imobiliza-lo por trás, enquanto o outro lhe rasgava a barriga e o peito.

Mas que droga, eu sou o Alfa! - pensou indignado ao fazer seus olhos pegarem fogo. Então Augusto rasgou a lateral da barriga do lobo que o imobilizara e arrancar-lhes os órgãos internos seguido pelo grito de agonia do rival.

O outro o olhou espantado e tentou lhe dar um golpe, mas Augusto lhe agarrou os braços e os arrancou.

O uivo de intensa dor reverberou pela floresta, enquanto todos os olhares se voltavam para a cena. Augusto sem pressa, pegou a cabeça do lobo e, com frieza a arrancou, espirrando sangue para o seu pelo e ao chão.

O lobo negro uivou em sinal de ordem e seu olhar de fogo concentrou-se em Soraia, que ainda estava embaixo do lobo com o focinho ferido por suas unhas, bem como os ombros, braços e cintura de Soraia pelas garras do lobo. Augusto foi se aproximando dos dois como um leão furioso fixo em sua presa, rondando em silêncio mortal.

Soraia sentia a fúria emanar de Augusto, assim como a do lobo em cima de seu corpo que rosnava e salivava, mas não tinha coragem o suficiente para encarar o olhar de Augusto.

Num momento tudo congelou e noutro Augusto saltou sobre o lobo que uivou e rosnou quando Augusto abocanhou seu pescoço com sua bocarra e o arremessou para o meio dos outros que se afastaram.

-Eu mandei você sair de cima dela- rosnou no momento que voltava a forma humana e limpou o sangue dos lábios com a mão que limpara na calça para poder estendê-la a Soraia que a pegou e levantou-se. Seus companheiros já estavam ás suas costas prontos para mais uma ‘rodada’ e o lobo humilhado parecia querer revanche. Ele levantouse, passou as garras no pescoço ferido e após lambeu o sangue das mesmas.

Enfurecido uivou e junto com alguns outros correram em direção a Augusto, principalmente. Mas Soraia tomou a frente e os lobos colidiram com uma muralha de energia do seu olhar e, com um leve meneou de sua cabeça os arremessou ao chão.

Ganidos e rosnados se misturaram no ar junto ao cheiro de sangue e fúria pela nova humilhação sofrida.

- Você - isto ao ‘armário’ que os atacara no princípio, voltou a forma humana e apontou o dedo para Soraia - é a vadia que matou Julio Cesar, então - ele ouvira muito falarem da tal garota que matou o Conde arrancando o coração dele e, ainda, ganhou o apoio e respeito de muitos lobos, vampiros e até humanos.

Augusto chegara a dar um passo á frente para ensinar ao lobo como respeitar uma mulher, principalmente, a sua mulher. Mas Soraia o deteve com um toque em seu braço e quando o encarou teve seu olhar -não vale a pena.

-Se sabe quem eu sou, sabe também que eu posso fazer bem mais – advertiu ao estender sua mão, e só com este gesto muitos recuaram, mas o ‘armário’ sorriu e não se moveu.

-Nós só queremos ir pra casa –disse Amy depois de ter usado bem mais energia do que supusera precisar nos ferimentos tanto de Vandressa quanto nos de Lavínia e Caio. Em outra ocasião, eu os faria lutar até a morte – declarou, e isso deixou todos tensos e de olhos estreitos –mas só por ela – apontou para Soraia novamente – e o fato de ter matado aquele desgraçado, vocês tem passagem livre – e abriu caminho com a mão.

- Cautelosos, mas prontos para se defenderem se preciso fosse, Soraia, Katrina e Augusto foram os primeiros seguidos por Amy, Marcus e os demais de olhos atentos. Isso não termina aqui –pensou Augusto e muitos outros ali.

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