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05- Estou aqui com você

Elira narrando

Eu tinha crescido nas mãos de uma tia maluca alcoólatra que, por mais que me incomode e me machuque lembrar da minha adolescência com ela, devo agradecer a ela que pelo menos hoje eu tenho vida e que ela não me deixou morrer na rua depois da morte da minha mãe.

Ela não era a melhor tia do mundo, mas eu não queria que ela morresse, ela era minha única família, ela era meu conforto em saber que eu não estava totalmente sozinha neste mundo. No entanto, pelo bem dela, não fiz nada estúpido neste concurso. Eu não queria que Salvatore a matasse por minha causa.

— Os três fizeram obras de arte maravilhosas. Vocês são artistas maravilhosos que merecem o grande prêmio de um ano integralmente remunerado na universidade que estudam, disse um dos jurados que decidiria o vencedor.

Eu estava presente, mas ao mesmo tempo não estava. Eu estava me sentindo desconfortável com o olhar penetrante de Salvatore sobre mim o tempo todo.

Ele estava sentado com o público assistindo ao concurso e mesmo dali pude sentir aquela corda que me prendia a ele, sem entender o porquê.

Apesar do pouco tempo com ele e das poucas palavras que trocamos, sua aproximação me deixava nervosa, minha mente insistia em me lembrar dos atritos que ele teve comigo...

— Elira Evans! A vencedora é Elira Evans!

Surpresa ao ver todos aplaudirem, o diretor me ofereceu a mão ajudando-me a levantar, caminhando comigo em direção ao centro onde colocou uma medalha em meu pescoço, e tirar fotos com o júri.

— Por que você pintou uma borboleta, senhorita Evans? - um dos jurados me perguntou com um grande sorriso.

Ele me entregou o microfone para que eu pudesse responder.

Imediatamente meus olhos procuraram os de Salvatore.

— Porque me identifico muito com aquele animalzinho lindo, adoro vê-los voar e sem dúvida alguma as borboletas são como eu, livres, respondi sem nunca desviar o olhar do mafioso.

Da distância entre nós, pude ver suas veias, o quanto elas se destacavam em seu pescoço e o quanto sua mandíbula permanecia cerrada.

Mas eu não me importei.

— Parabéns Srta. Evans, espero que aproveite.

Balancei a cabeça, oferecendo um meio sorriso.

Esse era um dos meus sonhos, mas acontece que já tenho outro, que é recuperar minha liberdade.

Não quero pertencer a um mafioso. Não quero.

Eu me senti mal pelas outras duas garotas que estavam competindo comigo, então eu disse a elas que elas eram muito boas e que não deveriam ficar desanimadas com isso.

Senti aquela presença atrás de mim. Aquele aroma que esta manhã senti tão perto, aquele perfume que onde quer que estivesse presente eu saberiam reconhecer.

— Vocês me deixam falar com ela um momento, meninas?

Salvatore disse com as meninas. As duas só faltaram babar, parecia que nunca tinham visto ele antes de perto.

— Claro, fique à vontade.

— Eu não falei para você tentar não vencer? - Ele me perguntou com aquela voz forte que enlouqueceria qualquer mulher.

Cruzei os braços.

— Não fiz o maior esforço para vencer. Fui simplesmente guiada pela paixão que sinto ao pintar. Isso é o que acontece quando você ama alguma coisa. Mas é claro que você não sabe disso. Não acho que saiba o que é amar.

Eu o vi ficar vermelho, apertando ainda mais a mandíbula.

— Você vai conhecer minha paixão, não se preocupe, Elira. Você apenas complicou as coisas. Disse ele, passando as mãos pela barba, ele deu um em minha direção, encurtando nossa distância.

— Você nem sempre consegue tudo que quer.

— E eu juro que vou conseguir. Você está me desafiando, Elira?

— Sim, estou fazendo isso.

— Então não reclame depois, não quero ver você chorar mais tarde.

— Sinto muito em interromper a conversa de vocês. Como vai, Sr. Lombardo?

— Bem, diretor, o que você deseja? Salvatore foi direto ao ponto.

Aquela atitude arrogante que ele tinha, aquele comando na voz, aquele olhar e aquele caráter que eu não tinha visto antes, me surpreendiam cada vez mais neste homem.

— Permita-me falar com a senhorita Evans dez minutos. Preciso conversar com ela sobre o prêmio, disse o diretor ao Salvatore.

Salvatore olhou para ele por alguns segundos, depois olhou para o relógio brilhante em seu pulso.

— Você tem cinco minutos, então seja rápido.

Eu olhei para Salvatore de boca aberta. Que homem arrogante.

Nós dois fomos para a sala do diretor, onde ele fechou a porta e me convidou para sentar.

— Bem, querida, antes de mais nada, parabéns. Eu sabia que você não iria nos decepcionar.

— Muito obrigado diretor, respondi com um meio sorriso.

— A partir de amanhã iniciaremos o processo distrital onde vocês representarão todo o instituto.

As pessoas ficam muito animadas em ver você pintar. Você é uma estrela, fiquei lisonjeada.

— Amanhã?

Perguntei já sabendo que agora não estava em minhas mãos querer fazer as coisas quando quisesse.

— Sim, você não precisa de preparação. Você conhece todas as técnicas para fazer um bom trabalho.

— Senhor, não me sinto pronta ainda.

Tentei arrumar uma desculpa.

Claro que me sinto preparada.

Eu estava me preparando lentamente para tudo que surgia em meu caminho. Eu acreditei nas oportunidades, e sabia que elas viriam em minha direção.

Por isso me preparei todos os dias e não me arrependo, mas dessa vez a sorte bateu na minha porta, as coisas estavam fora do meu alcance, dessa vez não decidi por mim mesmo. Salvatore me sequestrou e duvido muito que amanhã ele me deixe vir como se eu tivesse livre arbítrio.

O diretor se levantou e caminhou até mim. Ele tentou acariciar meu rosto, mas parei sua mão.

— O que há de errado com você, Elira? perguntou Irritado

— Não me toque!

Disse levantando da cadeira e tentei sair, mas ele me agarrou pelo braço e me pressionou contra seu corpo gordo. Eu podia ver seu bigode nojento e despenteado e sentir sua grande barriga colidir com meus ossos.

— Me solte!

— O que você pensou?! Você acha mesmo que você ganhou por causa do seu talento? Eu fiz você vencer! Não seja estúpida.

Ele me disse, apertando meu braço com mais força enquanto agarrava meu pescoço e o beijava.

Lágrimas escorreram pelo meu rosto, isso não pode estar acontecendo comigo.

— Me solte! Gritei dando uma joelha nele.

Eu o ouvi gritar de dor, mas ele enterrou as mãos em meu cabelo e puxou-o, agarrando suas bolas e desfazendo a alça.

Ele ia me estuprar.

— Me largue seu nojento!

A porta se abriu e um Salvatore furioso entrou, com os punhos cerrados, o rosto vermelho. Atrás dele também estava dois guarda-costas que nos trouxeram da casa dele.

O diretor imediatamente soltou meu cabelo e tentou consertar a calça.

— Não é o que você está pensando Sr. Lombardo, eu...

Ele nem terminou a frase quando Salvatore o derrubando no chão, acertando-o repetidas vezes com socos no rosto.

— Você é um filho da puta miserável! Sempre soube disso!

Salvatore gritou cuspindo em seu rosto ensanguentado.

Ele sacou uma pistola de trás da jaqueta e, sem hesitar atirou nele.

Fiquei esperando para ouvir o som, mas ele nunca soou. A arma tinha um silenciador.

Me afoguei em lágrimas ao ver que a bala estava entre as sobrancelhas enquanto um fio de sangue escorria por sua testa, seus olhos permaneciam abertos e seu corpo estava sem vida.

Os olhos de Salvatore procuraram os meus e pela primeira vez senti a necessidade de responder ao seu olhar.

No entanto, seus braços de repente me envolveram, me enchendo de calor enquanto ele se agarrava ao meu corpo e acariciava suavemente meus cabelos. Não pude deixar de abraçá-lo com força. Fechei os olhos me sentindo segura pela primeira vez em toda a minha vida.

— Shshshsh acabou, você está seguro comigo agora. Estou aqui com você, bonequinha.

Abri os olhos aos poucos, olhando para o corpo de Salvatore ao meu lado.

Estávamos na mesma cama, no quarto dele.

De repente o vi se virar para mim, vendo aqueles olhos coloridos que agora não conseguia distinguir perfeitamente devido à pouca luz do quarto.

— Como chegamos aqui? Só me lembro que você me abraçou e nada mais, disse a ele, tentando lembrar o que aconteceu depois do momento horrível que passei.

— Você desmaiou em meus braços, eu te trouxe para casa. Quando eu te coloquei na cama você me disse que não queria ficar sozinha, então fiquei ao seu lado, cuidando do seu sonho. ele respondeu, me fazendo sentir muito estranha.

Aquele formigamento por todo o meu corpo combinado com a satisfação não permitiu que minha mente questionasse por que eu disse isso a ele?

— Eu estava com muito medo.

— Eu sei, mas já acabou. O importante é que consegui evitar que o pior acontecesse.

— Como você sabia o que estava acontecendo? perguntei a ele, intrigada.

— Eu simplesmente senti. Algo me disse que você estava em perigo, disse ele, olhando para mim.

— Mas como? - perguntei a ele novamente

— Já tenho um vínculo com você, Elira. Mesmo que você não acredite, já estamos ligados um ao outro, ele me respondeu com sinceridade fazendo meu coração bater muito rápido.

— Obrigado!

Tínhamos um vínculo... não consigo parar de pensar nessas palavras.

— Você não precisa me agradecer. Ninguém pode te machucar. Qualquer um que encostar o dedo em você morre.

Fiquei olhando aqueles olhos, que me intrigavam, me fazendo querer chegar a fundo.

— Se você realmente queria algo comigo, por que simplesmente não agiu como qualquer pessoa normal? Há muitas maneiras de chamar a atenção de uma mulher, você pode me trazer flores, me mandar uma carta, me dedicar uma música, pegar meu número e me enviar uma mensagem de texto. Por que você teve que me sequestrar e mudar minha vida do nada.

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