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4

ELLEN

— Mas por que tem que ser eu? Você não pode mandar a Juliet e a Mel juntas? — pergunto ao Steven.

Uma semana após ir à Nova Iorque, aqui está ele me dizendo que eu tenho que voltar lá. De jeito nenhum. Ver o Nicholas uma vez foi o bastante, não preciso vê-lo novamente. Ou melhor, não posso vê-lo novamente. E dessa vez, eu sequer poderia escapar de falar com ele. Eu não posso ir.

— Por que a Juliet não é capitã da equipe.

— Não, a Melissa é. A Juliet é uma das melhores. Ela pode ir no meu lugar.

— Você é a que tem obtido melhores resultados nos últimos meses, não a Juliet. Você venceu os três torneios que participou.

— Mas...

— Olha, Ellen — ele se inclina para frente na sua cadeira e me olha nos olhos — nós demos muita sorte de o senhor Hoffman ter nos escolhido. A equipe passou por uns momentos ruins ano passado antes de você se juntar a nós e não conseguimos nos recuperar totalmente ainda desses momentos. Não posso me dar ao luxo de perder o patrocínio da Fundação Hoffman, além do mais...

E nem eu quero. Não seria egoísta ao ponto de querer foder com tudo só porque ele foi um idiota comigo. Mas ir até lá falar com ele... parece demais para eu aceitar. Enquanto o Steven fala e fala, eu me penso que talvez se todos soubessem do meu histórico com ele, eu tivesse uma chance de ser mantida longe dele, mas ninguém sabe e eu não acho que seja prudente contar.

—... então por isso ele não pôde vir até aqui trazer os papéis pessoalmente e pediu para que eu mandasse representantes em meu nome. Ellen? Está ouvindo?

Não.

— Estou.

— Entende por que tem que ser você? Eu também não posso ir, tenho que cuidar de tudo aqui então você e a Melissa serão as responsáveis por ir à Nova Iorque quinzenalmente prestar contas com ele.

— Espera aí, o quê? Quinzenalmente?

— É. — ele sorri — Não estava me ouvindo, não é?

Ignoro a sua pergunta repetida.

— Não podemos mandar um e-mail ou enviar os documentos pelo FedEx?

— Não. Estamos para usar uma quantidade absurda de dinheiro da empresa dele então não, nós não podemos prestar contas por e-mail ou pelo correio.

Bufo frustrada e me largo na minha cadeira. Mas que droga. Justamente agora que eu estava conseguindo seguir em frente, tenho que ir atrás dele em seu ambiente.

— Aqui. — ele tira os papéis do nosso contrato da gaveta da sua mesa e o entrega a mim — Leve para os outros assinarem e depois vá pra casa fazer sua mala ou o quer que seja que as mulheres levam para uma viagem de um ou dois dias.

Então é inevitável? Talvez eu deva mesmo contar sobre o Nick e eu. Pelo menos ao Steven. Não precisa ser a todos, só a ele. Assim ele entenderá e mandará a Melissa e outra pessoa.

— Steven?

— Ellen, não se preocupe. Talvez você esteja um pouco amedrontada porque deve ter ouvido que ele é um pouco egocêntrico, mas fique calma. Eu já falei com ele. Ele é um homem bastante agradável. Inclusive, ano passado quando conversamos sobre o apoio dele à nossa equipe, ele pareceu realmente bastante simples e educado.

Espera aí, ano passado? Mas a sua fundação não foi inaugurada apenas semana passada? Ano passado nós ainda estávamos juntos. O que quer dizer que ele fez isso, provavelmente, por mim. Se eu não o conhecesse, pensaria que não passa de uma coincidência, mas eu o conheço.

Então ele não voltou atrás em sua palavra com o Steven mesmo depois do que houve entre nós? Posso dizer que estou surpresa. Achei que ele não fazia ideia de que financiaria a minha equipe de hipismo, que ele apenas veria os bons resultados, mas não se prenderia a nomes. Mas ele já queria fazer isso antes e manteve sua decisão.

— Tudo bem, Steven. Mas é bom mesmo que ele não seja um empresário grosso. — sorrio, dando uma de boba — Você conhece meu temperamento.

À noite, vou com o Asher ao Barbieri's, meu primeiro trabalho em Miami, tomar alguma coisa antes da viagem. Meu voo sai às onze e meia e eu preciso de algo para me fazer dormir a viagem inteira ou vou ficar cada minuto das sete horas no ar, pensando nele.

Com uma cerveja na mão e metade de um cigarro na outra, penso de repente que teria sido melhor ter bebido algo em casa mesmo. Asher está alegre, contando uma série de coisas sobre seu novo emprego em uma clínica veterinária e o que fez na viagem relâmpago para sua casa na Carolina do Norte, mas eu não estou ouvindo absolutamente nenhuma palavra que sai da sua boca. Apenas vejo os movimentos de abrir e fechar. Minha mente está longe. É difícil não pensar que o Nick esteja talvez a essa hora na cama com a sua noiva.

— Terra chamando Ellen.

Pisco aturdida e olho pra ele. Seu rosto está bem pertinho do meu e na mesma hora eu me afasto um pouco.

— Está tudo bem? — ele pergunta se recostando de novo em sua cadeira.

— Está. — minto. Ele franze a testa.

— Não, não está. Você está fumando de novo.

Com um novo e delicioso trago, eu confirmo, soltando a fumaça logo depois. Ele rola os olhos pra mim.

— Então como pode estar bem?

— Eu estar fumando não quer dizer nada, Ash. — digo sorrindo.

Ah isso não poderia ser uma mentira maior.

— Você começou a fumar quando você e ele terminaram, mas parou depois. Só que há uma semana eu estou vendo você fumar novamente.

Resolvo ser sincera. Ele merece. Foi o único que me ajudou a suportar a dor e a ausência do Nick quando ele me deixou por aquela vadia.

— Tudo bem, eu admito. Eu o vi na semana passada quando fui à Nova Iorque.

— Eu sabia. E foi só vê-lo pra voltar aos maus hábitos.

Não posso nem ao menos corrigi-lo, pois ele está coberto de razão. Eu fiquei muito nervosa depois do fim do namoro e fumar me acalmava. Mas há um mês eu parei porque estava me sentindo um pouco melhor, porém foi só vê-lo naquele evento e toda a vontade voltou com força.

— Esse cara não faz bem pra você, Ellen.

— Não é bem isso, Asher. O problema é que... eu o amo.

Como não amaria se ele mudou a minha vida para sempre?

— Mesmo depois de tudo o que ele fez?

— O que quer dizer? — pergunto desconfiada.

— Bom, ele terminou com você sem dar explicações, né. Você mesma disse que ele foi muito grosso.

— Pois é. — digo, soltando um longo suspiro.

Dou mais um gole na cerveja e um trago no cigarro.

— Sabe do que você precisa?

— Não, mas você vai me dizer.

— De um novo amor. — ele se inclina pra frente com um sorrisinho — Ou um novo amante. — ele bate no peito — Como eu.

A fumaça do cigarro fica presa na minha garganta, me fazendo tossir. Depois sorrio bastante. Uau. Ele nunca – nunca mesmo – foi tão direto.

— Nossa! Cadê o cara que aceitou tomar uma cerveja comigo?

— Cansou de ficar no banco e quer participar do jogo.

— Asher...

— Olha Ellen, eu sei que você ainda está magoada e que não quer se envolver em uma relação complicada, envolvendo sentimentos, agora. — ele começa sério, mas depois acrescenta um tom de brincadeira à conversa — Mas só pra você saber, eu estou disposto a ter com você apenas uma relação carnal se quiser. Eu deixo você me usar.

Sorrio. Não. Sorrio mesmo. Bastante. Suficiente para me deixar com as bochechas doloridas.

— Que gentil da sua parte. — digo levando a cerveja à boca após me recuperar do ataque de risos — Você é realmente nobre, Ash.

— Não sou? — ele dá uma piscadela sexy — E só pra você ver como eu sou um cara legal, eu vou te dar um prazo bem longo pra aceitar a minha oferta. Vou te dar um mês.

— E se eu não aceitar em um mês? — pergunto rindo.

— Bom, nesse caso... eu então posso te dar mais um mês, e se você não aceitar eu te dou mais um mês e assim por diante até você dizer sim pra mim.

Após suas palavras, olho para ele – tomando despreocupadamente sua cerveja e olhando para fora do vidro – por um longo tempo e por um minuto me permito imaginar como seria minha vida se eu lhe desse uma chance de tentar me fazer feliz. Ele é bonito, inteligente e pelo que tenho visto até hoje, gosta de mim. Mas em nenhum momento ele me fez sentir como se o mundo não existisse quando estamos juntos. Muito menos tirou o chão dos meus pés após uma briga.

Não acho que seja um defeito dele, mas existe um único homem que me estragou para todos os outros. Talvez se eu nunca tivesse conhecido esse outro homem...

— Onde esteve? — Asher toca meu braço, trazendo-me para o agora.

— Pensando na sua proposta. — respondo sinceramente.

— E? — ele pede com um grande sorriso.

— Eu não poderia aceitar.

— Oh. — ele muda sua expressão divertida para uma mais séria e firme — Eu posso pelo menos saber por quê?

— Eu amo o Nick.

— Você já disse isso, mas e se...

— Não, Asher. — reafirmo — Eu amo o Nick. Em uma outra vida, eu poderia ter me apaixonado por você. Em uma outra vida, você seria meu namorado perfeito. Em uma vida onde eu jamais tivesse conhecido o Nick.

Ele balança a cabeça concordando, mas sem emoção nenhuma. Dói em mim que seja assim. O Asher tem sido a única pessoa realmente constante na minha vida. Todos os outros vieram e se foram e ele ficou, mas não pode ser do jeito que ele quer. Foi ele quem esteve comigo nos últimos meses, me ajudando a passar por tudo sem que eu me entregasse a uma depressão profunda. Perder o Nick... ou ser abandonada por ele... ou ter deixado ele ir, foi de longe a coisa mais dolorosa pela qual eu passei. Superando inclusive o meu aborto.

— Mas essa é a minha vida. — eu continuo — E nessa vida, não existe espaço para outro homem em meus pensamentos ou em meu coração.

Tomamos mais algumas cervejas antes da hora do meu voo, mas claramente o clima entre nós mudou. Não queria ter sido tão direta no corte, mas eu preciso tanto de um amigo agora que o Nick está longe de mim – provavelmente pra sempre com essa história do casamento – que não posso me dar ao luxo de misturar sentimentos. É bem verdade que se eu quisesse, poderia ter me deixado levar e me entregado nos braços dele para esquecer toda a dor, afinal ele tem sido tão companheiro e carinhoso, mas a última coisa da qual eu preciso é de uma amizade colorida ou de um novo namorado remanescente de uma boa amizade.

Desde que eu conheci o Nick eu soube que deveria ter deixado a amizade e o sexo em campos separados. Começamos com sexo inocente que acabou se transformando em um amor de proporções gigantescas. Tinha medo de perder o amigo caso o amante não fosse meu para sempre.    Arrisquei. Foi bom. Vivi o maior amor da minha, até então, curta vida. Um amor que eu jamais terei novamente. Mas como resultado eu perdi o amante e o amigo. Não quero cometer o mesmo erro novamente. Asher é meu amigo e sempre será meu amigo apenas.

A viagem de elevador do térreo até a cobertura, onde fica o escritório da presidência da HHE, é torturante. Eu tenho certeza de que não tenho mais unhas quando coloco o pé para fora do elevador. Meu coração parece uma locomotiva e as minhas pernas, gelatina. Sem mencionar que o meu estômago parece ter umas mil malditas borboletas dentro.

O barulho dos saltos das mulheres andando de lá pra cá, é a primeira coisa que eu noto. A incrível visão da estátua da liberdade nas janelas atrás da recepção é a segunda. E o cheiro de café vindo de uma mini cozinha à direita do elevador é a terceira. Meus pés parecem ter se enraizado na frente das portas duplas do elevador enquanto eu observo e sinto tudo ao meu redor, e eu só me movo depois de ouvir uma tosse forçada de alguém atrás de mim querendo sair.

Logo, retomo a coragem que me fez levantar da cama após o breve cochilo depois da aterrissagem e ando até a recepção. Informo o meu nome e o horário disponível para mim com o Nicholas e sou encaminhada até a sua assistente. Uma garota mais ou menos da minha idade com cabelos castanho claro e olhos esverdeados num tom mais claro que o meu. Bonita e muito bem vestida, olhando a tela do seu computador por trás de uma mesa de vidro. Lhe dou uma bela conferida antes de me aproximar. Sinto um calafrio.

— Pois não? Deseja algo? — ela mesma me faz tirar os olhos do seu rosto e corpo. Devo ter parecido uma louca olhando fixamente para ela.

Sorrio antes responder.

— Eu tenho uma reunião marcada por Steven McKinley com o Sr. Hoffman.

— Deixe-me ver. — ela leva os olhos à tela do computador novamente e eu posso observá-la mais uma vez — Oh sim, claro está aqui. Ellen Muller?

— Isso mesmo.

— O Sr. Hoffman está em uma reunião no momento. Pode se sentar, se quiser. Ele não deve demorar muito.

— Obrigada.

Sento-me em um sofá branco de couro perto da mesa da assistente, onde no centro lê-se Srta. Hitchcock em uma plaquinha prateada. Pego uma revista e começo a folheá-la devagar, não focando em nada de especial, sempre de olho na assistente e na porta enorme de vidro fosco com o nome Nicholas Hoffman, CEO.

Mais ou menos cinco minutos depois, uma ruiva sai pela porta do diabo, com os cabelos volumosos meio despenteados e abotoando um botão na parte de cima da sua camisa azul marinho. O olhar da Srta. Hitchcock para a ruiva é frio, quase mortal e carregado de desprezo. A ruiva tem um brilho a mais nos olhos e a feição de mulher satisfeita que eu sempre via no espelho após uma boa transa com o Nick.

Rolo os olhos contendo um riso. Não é preciso ser um gênio para ver que: um, a ruiva é no mínimo uma amante do Nicholas e dois, a sua assistente é totalmente apaixonada por ele. Como não seria? É simplesmente impossível passar o menor tempo que seja com ele e não acabar suspirando de amor.

Quando a ruiva entra no elevador, a assistente então sorri pra mim e me dá acesso ao escritório do chefe. Meu coração parece querer pular pra fora do meu peito. Quase posso ouvir sua pulsação em meus ouvidos. Com um breve aceno de cabeça, seguro com força a bolsa no meu ombro e entro no escritório. Mas me surpreendo ao ver que ele está vazio.

O lugar é grande e espaçoso. Sofás estão distribuídos por duas paredes. Uma coleção de quadros abstratos está na parede ao lado da mesa e por mais que pareça impossível, a visão de Nova Iorque daqui de dentro é ainda mais impressionante do que a lá de fora. A mesa à minha frente – vários metros à minha frente, aliás – está com alguns papéis espalhados e há também alguns no chão. Olho por toda parte, esperando ver qualquer coisa que mostre sinal de vida aqui dentro, mas não tem nada.

Pouco tempo depois, escuto o barulho de um chuveiro em algum lugar. Estou quase voltando à recepção para pedir que a assistente remarque a reunião quando o vejo sair, do que parece ser um banheiro, só de cueca, enxugando os cabelos com uma toalha branca. Ele para ao me ver, com uma expressão de choque, mas logo depois deixa um sorriso satisfeito escorrer dos seus lábios.

— Boa tarde. Fiquei me perguntando se você viria mesmo.

Engulo em seco ao ouvir sua voz de forma tão sedutora e rouca. Não é difícil de imaginar por que tem tantas mulheres aos seus pés. Sua voz é um verdadeiro pecado oral.

— Por que eu não viria?

Ele sorri ainda mais, andando na minha direção e jogando a toalha em cima de um dos sofás. Nicholas para a um metro de mim e me olha de cima a baixo com... fome no olhar?

— Você deveria dizer. Afinal foi você quem correu no dia da inauguração da Fundação Hoffman.

Enrugo a testa por um milésimo de segundo. Como assim? Ele me viu? Achei que estivesse ocupado demais beijando a sua noiva para ver algo além dela.

— Por que você fugiu? Não estava lá para apresentar a equipe de hipismo da Universidade de Miami?

Por que ele está perguntando isso? Se ele me viu, só pode ter existido um momento. Depois que ele a beijou. Ele sabe que eu vi. Sabe que eu ouvi o pronunciamento. Ele então sabe porque eu corri. Oh. Ele quer jogar.

— Acho que nós dois sabemos que a equipe não precisava de nenhuma apresentação.

Ele apenas sorri em resposta. Não está tão próximo de mim, mas mesmo assim eu posso sentir o cheiro da sua pele junto com o cheiro do seu sabonete. Sua cueca não deixa nenhuma margem para a imaginação. Ele está ereto. O que não chega a ser nenhuma novidade, considerando o que devia estar fazendo com a ruiva.

Mas a constatação de que ele estava agindo mais uma vez como um idiota não diminui o efeito que ele – e o corpo dele – têm sobre mim. Me afasto instintivamente quando ele se aproxima mais e viro de costas.

— Você poderia se vestir, por favor?

Não vejo, mas escuto a sua risada. Posso até mesmo sentir seu olhar sobre mim.

— É mesmo necessário você se virar? Não que eu esteja reclamando, a visão deste ângulo é perfeita, mas não há nada aqui que você nunca tenha visto.

— Não quer dizer que eu queira ver de novo. — digo engolindo o nó que se forma na minha garganta.

— É claro. Pode fingir que não está morrendo de vontade de passar a língua no meu peito.

Viro pra ele indignada. Ele é mesmo muito convencido. Como ousa? Mas percebo o meu erro ao ver que ele está tão perto de mim agora. Perto o bastante para eu realmente querer puxá-lo pelos cabelos e morder seu pescoço.

— Vai me desmentir, ou vai apenas ficar olhando abobalhada?

Na verdade eu quero rodar a mão na sua cara, o que acha disso? Cretino arrogante. Tem todos os motivos para ser um filho da puta convencido já que é lindo, rico e gostoso de morrer, mas não vou admitir isso pra ele em uma ocasião como essa. Nem morta.

— Meu Deus...

— Mas pode me chamar só de Nick.

— Vai se foder. — digo, estirando o dedo do meio pra ele.

Ele solta uma gargalhada e se afasta, entrando em outro espaço escondido por trás de uma parede de vidro fosco. Talvez um closet. Em instantes ele volta com a calça colocada e a camisa no corpo, mas ainda aberta, exibindo seus músculos firmes e bem esculpidos. Minha nossa, ele é muito, muito fantástico.

— É só pedir.

— O quê? — levanto os olhos para o seu rosto a tempo de ver o sorriso de satisfação sumir do seu rosto.

— Meu corpo. Afinal de contas, peguei você olhando.

— Você é um... — idiota. Eu quase digo. Ele chega a erguer uma das sobrancelhas e realmente se aproximar de mim esperando pelo insulto. Mas eu não o faço e ele parece ficar decepcionado com isso.

Ele limpa a garganta com um pigarro e fecha todos os botões da sua camisa. Depois se vira para as janelas envidraçadas com vista para a cidade e assume, de repente, outra postura. Alguns minutos tensos se passam antes de ele voltar a falar.

— Você trouxe os papéis do contrato assinados?

Ele se vira pra mim novamente e é todo profissional agora. Onde está o flerte? O Nick provocador? É como se ele tivesse vestido a máscara de um homem totalmente diferente.

— Trouxe. Estão na minha bolsa.

— Ótimo. Eu vou... ahm... eu...

Ele parece mesmo desconcertado. O que houve aqui? Tiro com cautela os papéis da minha bolsa e lhe entrego, sentindo um arrepio correr pelo meu corpo quando nossos dedos se tocam no processo.

— Toda a equipe assinou? — ele pergunta indo até a sua mesa para pegar uma caneta.

— Sim, todos. Inclusive o Steven.

— Ótimo.

Ele se debruça um pouco sobre a mesa, por causa do seu tamanho, para assinar. Depois dá a volta e tira algo de uma gaveta. Parece ser um cheque.

— Aqui. — ele assina isso também e estende os dois pra mim — Você pode preencher o valor. O Steven me disse que prefere prestar contas a cada  quinze dias do que mensalmente, então marque seus horários com a minha assistente. Eu preciso ir, estou atrasado para uma reunião.

Eu pego o contrato assinado e o seu cheque. Em seguida abro a boca para falar alguma coisa, qualquer coisa, mas antes que eu possa fazer isso, ele já está indo em direção à porta do escritório e abrindo-a, me dando passagem ao ficar de lado.

— Srta. Hitchcock, marque horários na minha agenda quinzenal para a Srta. Muller. Eu estou indo embora mais cedo.

Mas, ele não tinha uma reunião? E estava atrasado?

— Sim senhor. — a moça concorda com um sorriso genuíno, mas então enruga a testa, checa o computador e o para quando ele já está à meio caminho do elevador — Sr. Hoffman, o senhor tem uma reunião com o Sr. Hoyt daqui a vinte minutos.

— Cancele. — ele diz sem olhar pra trás — Eu estou encerrando o dia.

— Sim, senhor.

O elevador chega e ele entra, aperta o botão rapidamente e some sem olhar pra trás nenhuma vez. A assistente ainda olha o lugar onde o seu chefe estava por vários minutos antes de se virar para mim com um sorriso um pouco menor que o que deu a ele.

— Quer se sentar Srta. Muller? Verei onde posso encaixá-la na agenda do Sr. Hoffman.

À noite no quarto da mesma pousada onde Melissa e eu ficamos da outra vez, saio do banho de uma hora que tive, disposta a ter uma longa noite de sono. Tudo o que eu quero é tomar um Valium e cair nas profundezas do sono ininterrupto até a hora do meu voo amanhã de manhã.

Mas parece que a Mel tem outros planos. Ela está vestida para a noite e não me refiro a uma noite tranquila no quarto e sim a uma noite à solta na rua.

— Anda. — ela joga um vestido preto pra mim — Se veste, nós vamos curtir à beça.

Pego a peça de roupa no ar e olho pra ela sem entusiasmo enquanto a Mel mantém sua postura com as mãos nos quadris.

— Não. — coloco o vestido na minha cama e sento na penteadeira — Você vai curtir à beça. Eu vou ficar aqui de molho no quarto, obrigada.

— Não, não, não. Você vai comigo, Ellen. — ela fica ao meu lado — Nós estamos em Nova Iorque, a cidade que nunca dorme, e você quer ir dormir?

— A cidade pode querer ficar acordada, mas eu não quero. Eu estou cansada, tá. Só quero ir pra cama.

— Você pode ir. Mais tarde. Quando nós tivermos dançado horrores e enchido a cara.

Começo a escovar os cabelos devagar, tentando resistir à vontade de aceitar sua oferta. Deus sabe que eu quero dormir apenas para esquecer os sentimentos que voltaram a aflorar depois que eu vi o Nick hoje à tarde, mas a ideia de ficar bêbada também é tentadora.

— Ellen, da outra vez que viemos nós ficamos a noite toda no quarto porque você ficou doente. Temos que sair hoje já que você está bem.

— Meli...

— Nem vem. — ela pega meu vestido em cima da cama de novo e o coloca sobre o meu ombro — Você vai sim.

Suspiro, derrotada.

— Ah, foda-se. Tudo bem.

Vamos a uma boate no Harlem com uma fila de quase dez metros para entrar. Meus pés com salto agulha de quase dez centímetros estão prestes a me matar pelo tempo de espera na fila. Mas quando entramos e eu vejo como o lugar é por dentro, sinto-me recompensada. Qualquer pessoa passaria horas na fila pra entrar aqui. O lugar é simplesmente único. Há atrações para ambos os públicos masculino e feminino. Strippers homens e mulheres dançam em palcos diferentes e cada plateia vai à loucura com os números. Melissa e eu ficamos vários minutos admirando um dançarino em particular e depois do show, jogamos alguns dólares para ele. O cara esfrega seu corpo musculoso no meu e no dela com bastante malícia e depois vai embora agradecendo a todas.

— Ah meu Deus, só esse cara já fez a saída valer a pena. — ela diz eufórica, se abanando com as mãos.

— Valeu a pena a nota de cem que você jogou pra ele? — pergunto brincando.

— Ah, com certeza. Ele pode até ter ido embora, mas ele vai ficar comigo até amanhã de manhã. Nossa!

Sorrio e vou até o bar pegar algumas bebidas pra nós. Na volta até onde ela está, um cara me puxa pelo braço e pede pra dançarmos um pouco. Por que não? Entrego a bebida da Melissa e vou com o cara até a pista. Ele é bonito e dança muito bem. Por alguns instantes, esqueço de tudo e me entrego à dança. Com os olhos fechados, jogo as mãos pra cima e deixo que o cara ponha as suas na minha cintura.

O corpo dele fica mais próximo do meu, tão próximo que sinto sua respiração no meu pescoço. De repente paro. O cheiro dele é muito parecido com outro que senti hoje e que não sentia há muito tempo. Esse cara tem o mesmo cheiro do Nick. A menos que o dono seja mesmo o Nick. Viro-me devagar e vejo que o homem atrás de mim é mesmo ele.

— Nick... — é tudo o que eu consigo dizer com a respiração acelerada.

— Está se divertindo? — ele pergunta sério — Quem era aquele cara?

Olho pra trás dele e vejo o cara com quem eu achei que estava dançando, com um olhar de medo e decepção no rosto.

— O que você fez com ele?

— Pedi que ele encontrasse outra garota em quem esfregar seu corpo.

— Pediu?

Ele dá um maldito sorrisinho de lado.

— Ameacei.

— Você não tinha o direito. — digo irritada — Quem você está pensando que é?

Ele rosna e se choca comigo. Não tenho tempo de falar nada antes da sua boca tomar posse da minha. Sua língua logo me invade com lambidas furiosas e selvagens. Em questão de segundos eu sinto minha pele pegar fogo.

— Quem é ele? — Nick pergunta com a boca colada à minha.

— Eu não sei. — respondo sentindo-me sem ar — Nós dois só estávamos dançando.

Ele volta a me beijar. Mais forte dessa vez, me empurrando para trás até que minhas costas batem em alguma coisa. Logo percebo que é uma porta, pois o trinco está no meio da minha coluna. Ele passa as mãos pela minha cintura e abre. Continuo andando de costas até bater em outra coisa. Ele então se abaixa um pouco, segura minhas coxas e me levanta. Quando me dou conta, percebo que estamos no banheiro e eu estou sentada na pia.

Sua boca não me dá descanso. Beija minha boca, morde minha orelha, chupa meu pescoço... Suas mãos apalpam meus seios, minhas pernas, minha bunda... Ele está em todo lugar, acendendo todas as terminações nervosas que estiveram adormecidas por meses. Quando ele baixa a alça do meu vestido e suga meu mamilo, jogo a cabeça pra trás com um grito agudo.

Ele baixa a outra alça e repete a mesma coisa com o outro. Depois sobe a barra do vestido – já curta, diga-se de passagem – até a minha cintura e traça a linha da minha calcinha rosa com o dedo. Em instantes, seus dedos safados passam pelo tecido e me tocam onde eu estou pulsando de desejo e depois mais para dentro.

— Deus, você está encharcada.

Sua boca volta à minha enquanto seus dedos brincam de entrar e sair dentro de mim. Chupo sua língua com fome e ele geme. Puxo seus cabelos, enterrando minhas unhas no seu couro cabeludo e ele deixa a minha boca para beijar meus seios de novo. Escuto o barulho do tecido da minha calcinha sendo rasgado e em instantes é a sua boca que toma o lugar dos seus dedos. Eu gemo alto com o primeiro toque da sua língua no meu clitóris.

Procuro por um apoio atrás de mim na pia enquanto guio sua cabeça, segurando com força os seus cabelos. Ele geme de tesão com a boca colada à minha boceta. Seus dedos voltam a entrar em mim, mas não são mais dois, são três agora. Me fodendo, me alargando, me levando à loucura.

— Oh meu Deus, Nick. Não pare.

Quando a primeira onda de tremor começa no meu interior, ele enfia os dedos com mais força e morde meu clitóris, me levando ao orgasmo apenas com a pontinha da língua. O suor escorre pelos meus seios enquanto eu tento respirar mais devagar. Ele beija minhas coxas nuas e segue subindo até meus mamilos e então meus lábios novamente.

Minhas mãos voam para a sua calça quando ele morde meu lábio inferior, mas ele já está com o zíper aberto quando eu o toco. Sinto a ponta da sua ereção na parte de cima da cueca, então a abaixo e o toco, quente e liso, com minhas mãos famintas.

— Eu quero entrar em você. — ele diz com sofreguidão.

— Faz isso.

Não queria que minha voz tivesse saído tão necessitada, mas não tem jeito. Eu não fazia ideia do quanto queria senti-lo dentro de mim até ver seu pau tão perto dos meus tecidos inchados. Meu corpo resiste um pouco por causa do longo tempo sem sexo. Ele geme alto com cada movimento de intrusão e joga a cabeça pra trás quando finalmente entra por completo.

— Nossa, como eu senti falta disso.

Procuro não me afetar muito com suas palavras. Procuro não gemer tanto com seus golpes precisos. E principalmente, procuro não sentir meu coração se regenerar aos poucos e ganhar esperança.

Seu ritmo por enquanto é lento, mas então ele me pega nos braços e me leva até a parede oposta à pia. Seus movimentos se intensificam com suas mãos segurando minhas coxas com força. A transa é tão boa que não tem como eu não gritar de prazer.

— Faça silêncio. — ele diz entre os dentes — Você quer que todos lá fora saibam que eu estou comendo você?

Sua voz sai rouca, com divertimento. Eu puxo seu cabelo com força e ele rosna aumentando a velocidade. Em resposta, eu grito mais. Ele não foi o único que sentiu falta disso. Sinto meus músculos se contraírem de novo com o anúncio de outro orgasmo. Ele abaixa a cabeça para morder os meus seios quando eu gozo gemendo.

Em pouco tempo, ele tenciona o queixo, joga a cabeça pra trás e grunhe dando uma última e forte estocada. Seu pescoço também está tencionado e  vermelho, e suas veias totalmente expostas. Quando enfim ele termina, encosta sua testa no meu ombro e procura respirar mais devagar.

— Oh Deus. — sinto sua respiração no meu pescoço. Ouço e sinto seu nariz cheirando-me. A curva da minha orelha, os meus cabelos... — Tudo o que eu tenho cheira a você. Em tudo que eu olho, só vejo você.

Nick afasta devagar seu rosto do meu e olha nos meus olhos, vulnerável. Ele então sai de dentro de mim e me põe sobre meus pés. Eu espero o seu sêmen escorrer pelas minhas pernas, mas isso não acontece. Olho para o seu pau semiereto ainda e só então eu vejo que é porque ele estava usando camisinha. Quando ele a colocou? E por que?

— Poderia ser você. Como eu queria que fosse você.

— Nick... do que está falando?

— O que aconteceu aqui hoje foi...

— Foi o quê? — pergunto ainda meio tonta e ansiosa pela sua resposta.

Ele abre a boca para falar, mas meu celular toca em cima da pia e Nick olha pra ele, fechando a cara em seguida. Abaixo a barra do vestido e vou à pia para atender a ligação e então entendo o motivo da sua nova postura. É o Asher. Nick anda até a porta, já recomposto, mas para antes de sair.

— Um erro. Isso foi um erro.

Procuro minha calcinha pelo chão, mas não a encontro. No seu lugar, encontro apenas a gravata do Nick que eu arranquei enquanto ele me fodia com força contra a parede. Acaricio o tecido preto e cheiro, me lembrando das suas palavras e dos seus sons enquanto ele estava dentro de mim e depois que saiu.

Jogo um pouco de água no rosto e me debruço sobre a pia, ouvindo em meus pensamentos as palavras da Cami sobre ele pensar coisas erradas a respeito da minha amizade com o Asher. Porra, ele tinha que ligar justo agora? Não atendo sua segunda chamada. E nem teria tempo, pois a Melissa entra com um grande sorriso.

— Você transou com ele, não é? — ela pergunta apontando com o polegar para fora da porta.

Abro a boca pra responder, mas ela me interrompe.

— É claro que transou. Olha só a sua cara de quem acabou de ter um orgasmo.

Dois na verdade. Sinto vontade de dizer, mas não faço isso. Apenas sorrio, um sorriso amarelo. Após me olhar no espelho para constatar que minha aparência não está um desastre, saio do banheiro com ela dando gritinhos histéricos atrás de mim.

Chegamos ao bar e eu logo peço uma dose dupla tequila. Ela me pergunta como aconteceu o encontro sexual de agora a pouco e estou quase contando tudo quando ouço a voz dele ainda aqui. Próximo a mim, pra falar a verdade. Me viro, esperando que ele esteja bem atrás de mim, mas tudo o que eu vejo é uma loira odiosa com cara de poucos amigos.

—... e é exatamente por isso que eu vim aqui. — então ela me vê, mas não parece surpresa — Eu ia te perguntar o que estava fazendo no banheiro feminino, mas acho que não será necessário.

Ela aponta com o queixo para mim e ele se vira praguejando baixinho ao perceber que ela me viu.

— Vamos embora, Ada. — ele fala pra ela com uma voz baixa — Você não tem que fazer isso.

— Fazer o quê? — ela o encara de volta com audácia. — Confrontar sua amante? Armar um escândalo? Não se preocupe, eu não farei isso.

— Vamos embora. — ele pega em seu cotovelo para levá-la embora, mas ela se solta facilmente.

— Não. Você vai embora, querido. Eu vou ficar e tomar um drinque com a Ellen.

Eu arregalo os olhos, olhando pra ele, exigindo uma posição onde ele a afasta de mim, mas ele não faz nada.

— Já está na hora da Ellen e eu termos uma conversa de mulher pra mulher.

Ada senta-se no banquinho do bar, desafiando-o a tirá-la de lá, mas o Nick simplesmente se vira e vai embora, me deixando perplexa e com ela.

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