Capítulo 4
"Por que eu deveria estar ansioso para conhecê-lo?" — respondo, sabendo perfeitamente a resposta à minha pergunta. No entanto, quero que ele fale comigo sobre si mesmo pela primeira vez, em vez de sobre os outros.
— Prefiro o efeito surpresa a revelar tudo para você agora. —murmura misteriosamente, apoiando-se na grade do terraço, olhando para baixo e me deixando tonto.
—Eu não, porém. Eu sou Serly. — Me apresento tentando acalmar as coisas, mas ele não responde.
Espero alguns segundos antes de falar novamente, numa tentativa vã de estabelecer uma relação pacífica com esse garoto rabugento e amargo.
—Você é o Dario, certo? -
Ele se vira para mim e esmaga o cigarro com o pé.
—Você sabe perfeitamente quem eu sou. - ele declara com raiva e eu tremo.
—Foi só para conversar, nada mais. Você poderá dormir em paz. - murmuro, muito irritado com o comportamento dele para o qual não encontro explicação.
—Você está um pouco menos agora que mora comigo. —ele afirma misteriosamente com um tom de voz tão profundo que me faz estremecer.
É muito pior do que ouvi sobre ele e não falo com ele há cinco minutos.
E minhas dúvidas só aumentam quando, após alguns segundos de silêncio, ele volta para seu quarto batendo a porta.
Esse cara é realmente um enigma.
Um enigma odioso e insuportável que não tenho tempo nem vontade de decifrar.
Você não quer que eu procure? Bom.
Não terei que me forçar porque não teria feito isso de qualquer maneira.
Durmo quatro longas horas mas acordo ainda mais cansado do que antes, provavelmente porque foi um sono agitado e irritado com o comportamento de Dario.
— Bom dia querido, você dormiu bem? — minha mãe me pergunta, vestida com seu uniforme de governanta, enquanto conversa com outra empregada.
- Um conto de fadas. - retruco ironicamente e ela revira os olhos.
A empregada me cumprimenta e depois sobe.
— Onde posso conseguir cereais e leite? —Pergunto à mãe, esfregando os olhos.
Ela franze a testa.
— Querido, a família está te esperando lá para tomarmos café juntos. -
Como perdão? ¿
está esperando por mim
a família ? Mas o que diabos está acontecendo?
Conheci-os ontem mas apesar disso todos parecem demonstrar-me um carinho especial, excepto Dario e o seu pai, e uma vontade de me fazer sentir bem-vindo.
—O que isso significa, mãe? Sempre comerei com eles? — pergunto confuso, agora duvidando se ainda estou dormindo e portanto isso é apenas um sonho.
Ela encolhe os ombros.
- Eu acho que sim. Bethany se preocupa para que você não se sinta inferior a eles. -
O que é isso tudo?
Sou inferior a eles e é absolutamente inútil negar ou mesmo fingir que não é assim.
Balanço a cabeça, mais confusa do que nunca, e vou para a cozinha, onde todos me recebem com um sorriso no rosto.
— Bom dia, Serly! Como você dormiu? —Bethany me pergunta, balançando a cabeça, indicando o lugar à sua frente onde estou sentado.
O que tenho diante de mim me deixa sem palavras: um buffet repleto de todos os pratos que você pode sonhar em comer no café da manhã.
Croissants quentes que exalam um aroma delicioso, compotas de todos os tipos, leite, sumo, café...
Em suma, melhor que um hotel.
— Dormi muito bem, obrigado. — Sorrio e ignoro o olhar de Dario, sentado bem ao meu lado.
Felizmente ele me disse para não procurá-lo e então ele é o primeiro a me encarar sem motivo.
- Oh sim? — Ouço a voz dele tão irritante que me dá vontade de gritar.
E acima de tudo, como ousa duvidar que dormi bem?
É verdade que praticamente discutimos, eu do meu terraço e ele do dele, às três da manhã, mas… você poderia ficar calado?
"Sim", respondo simplesmente, ignorando os peitorais ondulando sob sua camiseta branca justa.
Seu cabelo escuro bagunçado quase o faz parecer doce e menos sério do que na noite passada, mas sei que a realidade é muito diferente.
—Serly, você viria passear comigo mais tarde? —Bethany me sugere enquanto mordo um croissant quentinho e muito doce.
- Diga não! — dizem Matthew e Julie, os gêmeos, em uníssono.
Eles começaram a rir e Bethany revirou os olhos.
“Chega, vocês dois. Então você a assusta. — ele os repreende e os dois fazem caretas antes de continuarem com o café da manhã.
— Bom, se Dario não assustou ela... — Logan também entra na conversa, recebendo um olhar feio do pai.
—Se você acha que eu assusto as meninas, talvez eu deva te ensinar. — Dario responde com tanta facilidade que me faz estremecer.
Quando você diz susto, temo que você queira dizer outra coisa.
Não duvido, dado o seu físico invejável e a sua atitude fria e inatingível que com certeza vai enlouquecer os mais pequenos.
Mas este não é o meu caso.
Já tenho muitos problemas em mente.
—Se já terminou, posso continuar conversando com Serly. - exclama a mãe e felizmente todos ficam em silêncio.
— Será uma oportunidade para nos conhecermos melhor e também poderei apresentar-lhe a área que presumo será nova para você. —Bethany acrescenta e eu aceno imediatamente.
—Claro, estou feliz. — Sorrio e ela faz o mesmo com uma expressão satisfeita.
Dario, por sua vez, já saiu da sala sem sequer dizer uma palavra, mas isso não surpreende ninguém.
Termino de tomar meu café e subo as escadas, tirando meu telefone do bolso do terno.
No meio de mil preocupações também esqueci de escrever para Samantha que me enviou doze mensagens perguntando como estavam as coisas com a nova família.
Decido mandar uma mensagem para ele enquanto vou para o meu quarto, digitando rapidamente no teclado porque sei que não terei muito tempo para fazer isso mais tarde.
Em poucas palavras conto a breve conversa, ou melhor, brigas, entre Dario e eu, mas não tenho oportunidade de terminar de enviar porque me deparo com algo de mármore.
- Oh! - exclamo olhando para cima e o que tenho diante de mim me deixa atordoada.
Dario, a centímetros de mim, tem uma expressão furiosa no rosto que me faz estremecer.
—Além de você não dormir, parece que nem acordou. — ele murmura com raiva e eu franzo os lábios, me afastando um pouco dele.
— Desculpe, estava escrevendo uma mensagem e não te vi - — Me justifico mas isso não me deixa nem terminar a frase.
- Não estou interessado. — ele me interrompe, erguendo as sobrancelhas.
—Você pode pelo menos se mover? Eu tenho que entrar. —Soltei, revirando os olhos.
Já estou farto do seu comportamento injustificado e sobretudo intolerável.
- Desculpe, você não é meu tipo. — encolhe os ombros sem se mover um centímetro.
- Que ? - Eu respondo.
Esse cara me confunde mais do que matemática.
- Este é o meu quarto. E você não faz meu tipo, então não adianta tentar entrar. — arregala os olhos com um sorriso malicioso no rosto que eu daria um tapa.
Olho em volta e percebo que, distraído pelas mensagens que estava mandando para Samantha, na verdade me avancei alguns metros.
Que figura.
Tudo o que precisávamos era este com ele.
—Se isso faz você se sentir melhor, você também não é meu tipo. — Afirmo com segurança, sem pedir desculpas por estar no quarto errado porque depois de suas respostas ácidas, deveria ser ele quem deveria se desculpar.
—Perfeito, eu diria. - Levante uma sobrancelha
- Perfeito . —repito, indo em direção ao meu quarto e acabando com esse teatro sórdido que estava se tornando sufocante.
E quando me viro para ele pela última vez fico surpresa ao ver que em vez de voltar para seu quarto, seus olhos estão fixos em meu corpo.
Uma sensação estranha toma conta de mim, mas tento ignorá-la o melhor que posso, fechando a porta atrás de mim e encostando as costas nela, respirando fundo algumas vezes.
Como diabos vou sobreviver com Dario em casa?
Bethany está me esperando lá embaixo para nossa caminhada e assim que pego minha bolsa, pronta para sair, começo a perceber que esta é uma oportunidade de conversar comigo sobre alguma tarefa misteriosa que ela quer me dar.
A única coisa que consigo pensar são algumas tarefas domésticas que depois terei que equilibrar com as minhas horas de estudo, mas para mim não é problema, principalmente depois de tudo o que estão fazendo por mim e pela minha mãe.
Bethany me cumprimenta com um sorriso e caminhamos até o carro dela, um Dacia Duster cinza.
-Para onde vamos agora? —Pergunto enquanto ligo o carro.
—Vamos ao centro e depois talvez parar para tomar um café, o que você acha? —ele propõe e eu imediatamente respondo que acho uma excelente ideia.
Ele respira fundo, como se estivesse se preparando mentalmente, e então me faz uma pergunta estranha.
—Você já teve oportunidade de falar com Dario? — muda de assunto para filho e fico tensa só de ouvir o nome dele.
