

Tentação de vizinho parte-1
Fernanda
Meu nome é Fernanda, tenho um emprego dos sonhos e amizades que me fazem sorrir todos os dias. Minha vida é quase perfeita, com uma exceção — meu lado amoroso e se.xual. Esse, infelizmente, está longe de ser tão empolgante quanto eu gostaria. Mas, como dizem, ninguém é perfeito...
Moro em um condomínio tranquilo, onde cada porta parece guardar histórias. E, no apartamento ao lado, mora um homem que sempre me intrigou. Ele é o tipo que atrai olhares e, embora constantemente receba a visita de diferentes mulheres, é como se ele nunca se envolvesse de verdade com nenhuma. Elas vêm e vão, como se ele fosse uma passagem temporária em suas vidas.
Esse mistério ao redor dele — o jeito seguro, as tatuagens que escapam da camisa como segredos guardados — desperta em mim uma curiosidade irresistível. Afinal, quem é esse homem ao lado? E o que ele esconde por trás de tantas idas e vindas silenciosas?
Se ao menos nossas paredes fossem mais finas... Eu saberia cada detalhe das obscenidades dele, aquele homem que só pode ser um verdadeiro pervertido. Um pervertido delicioso, sem dúvidas.
Às vezes me pego imaginando que ele seja um acompanhante profissional. E, sinceramente? Não seria nada surpreendente. Já o vi com todo tipo de mulher, inclusive algumas claramente mais velhas e bem elegantes. O que eu posso fazer? Sou curiosa demais para ignorar. Toda vez que escuto o elevador subindo, corro para a porta e, de maneira disfarçada, espreito. Quero ver quem é, quero saber se vão entrar no apartamento do meu vizinho.
O problema é que, por mais que ele esteja aqui há tanto tempo, eu sequer sei seu nome, nem o que realmente faz. E, mesmo assim, ele ocupa meus pensamentos de um jeito que me deixa desconcertada. Penso nele até aqui, no meu trabalho, olhando para a pilha de papéis que já nem consigo organizar. Meus olhos correm por eles, mas minha mente… ela está nele.
Pode ser que eu esteja só carente — afinal, faz tempo que não me permito sentir prazer. Mas imaginar meu vizinho tatuado e absurdamente atraente tão perto de mim me faz suspirar, me faz fantasiar.
O que será que ele realmente faz? Será mesmo um garoto de programa? Essas perguntas são como um fogo constante que arde em mim, me consumindo cada vez mais, a ponto de achar que minha mente está prestes a explodir.
A única coisa que eu sei com certeza é que ele é deliciosamente tentador.
Enquanto estou absorta nesses pensamentos, o chamado enérgico da minha amiga me tira de volta para a realidade, me arrancando do mundo de devaneios em que minha mente está perigosamente mergulhada.
— Fernanda, está prestando atenção ou foi abduzida por um extraterrestre? — A voz estridente de Cristiane me arranca dos meus devaneios, me fazendo dar um salto.
— O que houve? Meu Deus, Cristiane, precisava gritar tão alto? Misericórdia!
Ela revira os olhos com um sorrisinho. — Fiquei te chamando um tempão, e você aqui, olhando para o nada. Em quem estava pensando? Só espero que não seja naquele seu ex noivo idiota.
Dou um suspiro, revirando os olhos. — Claro que não estou pensando no traidor. Você está maluca? Ele já faz parte do passado, mas você e a Verônica parecem não querer deixá-lo pra lá.
— Falso, totalmente falso! — retruca, com um sorriso travesso. — Só ficamos de olho, porque, né… você fica com essa cara de quem está em outra sintonia, como agora. Acho que precisamos sair esse fim de semana. Quem sabe você não encontra um gato e, de quebra, cuida da sua pe.riquita, que já deve estar criando teia de aranha!
Ainda bem que Verônica não está aqui para ouvir essa. Dou uma risada, tentando ignorar a última frase.
— Ah, não sei… Na verdade, hoje estou com vontade de ficar em casa e relaxar assistindo TV. Que tal fazermos uma reunião no meu apartamento? — sugiro, na esperança de convencê-la.
— De jeito nenhum! Hoje é o evento na boate do nosso colega, e a gente vai entrar de graça. Você vai, entendeu, querida? Nem que eu tenha que te convencer com jeitinho.
Eu resmungo, vencida. Quando Cristiane coloca algo na cabeça, não há quem a faça mudar de ideia.
— Tá bom, tá bom… você venceu. Eu vou.
Ela solta um grito animado, bate palmas e sai da sala com um sorriso de vitória, deixando-me sozinha com meus pensamentos. Olho pela janela e agradeço mentalmente a brisa fresca de hoje — uma raridade para Goiânia, onde o calor costuma ser implacável. Se ao menos tivéssemos uma praia por aqui, a história seria outra.
Respiro fundo e olho para o escritório. Trabalho em uma firma de advocacia há anos, desempenhando o papel de secretária jurídica e assistente social. Além disso, colaboro com uma organização não governamental, tentando fazer a diferença sempre que posso. É uma vida ocupada, mas, ultimamente, sinto falta de algo... talvez de alguém. A sombra do vizinho irresistível volta a aparecer em minha mente, e meu coração acelera levemente.
Acho que uma noite na pista de dança pode ser exatamente o que eu preciso para esquecer tudo isso… ao menos por algumas horas.
Imagino que vocês devem estar se perguntando a mesma coisa que todos costumam me perguntar: "Como você consegue dar conta de todas essas responsabilidades em dois lugares diferentes?"
A resposta é simples e, ao mesmo tempo, exige muita disciplina: dedico metade da semana ao escritório de advocacia, onde organizo documentos, agendas e auxilio em casos que precisam de total atenção. A outra metade da semana reservo para a ONG, onde dedico meu tempo e energia a ajudar aqueles que mais precisam. Lá, cada dia é um desafio novo, mas a gratificação é imensa. E é exatamente esse equilíbrio entre as duas realidades que mantém meu propósito firme.
São mundos distintos, mas, de certa forma, um completa o outro.

