Capítulo 2: O encontro que não aconteceu
Antonella
— Senhor, por favor, isto é uma biblioteca, não faça tanto barulho — reclamei pela terceira vez ao homem que falava ao telefone.
Finalmente, ele pareceu terminar a ligação. Respirei aliviada e continuei atendendo algumas pessoas que precisavam de ajuda.
Felizmente, hoje meu turno termina cedo. Enrico me convidou para jantar, e eu estou muito ansiosa. Enrico e eu somos amigos há pouco mais de 5 anos, ele é meu melhor e único amigo, mas sinto que ele sente algo mais e confesso que não me importo em arriscar. Não gostaria de estragar nossa amizade, mas talvez possamos nos dar muito bem e ter uma relação que dure… para a vida toda, quem sabe.
Depois que meu pai morreu, fiquei sozinha no mundo, e Enrico de certa forma completa o vazio que eu sinto. No orfanato onde cresci sempre fui bem tratada, às vezes até melhor que as outras meninas, mas nunca me senti bem, sempre senti que lá não era o meu lugar. Talvez por isso, porque o apreço das freiras por mim fazia com que as outras meninas me odiassem, e isso me fez crescer sem amigas, já que as únicas pessoas com quem podíamos manter contato eram as do orfanato. Por isso, mesmo com a insistência para ficar, quando completei 18 anos, saí do orfanato. Pensei em fazer uma faculdade, mas acabou não sendo possível.
Recebi uma herança do meu pai, que deu para recomeçar minha vida. Comprei minha casa e consegui me sustentar até conseguir o emprego na Biblioteca Nazionale Centrale di Roma. Não tenho um salário alto, mas não tenho muitos gastos, então o que ganho tem sido suficiente para mim.
Sobre meu pai não sei muito, na verdade, não sei quase nada. Não me lembro. O que as freiras me contaram é que ele morreu num acidente de carro. Mas eu não acreditei. Mesmo nova, eu sabia que meu pai era envolvido com a máfia. Até hoje é possível encontrar alguns registros na internet sobre Piero Valentini. Ninguém sabe quem o matou, mas foi assassinato, disso não há dúvidas! E quanto à minha mamma, eu nunca a conheci. Não sei se está viva ou morta, mas o que eu lembro é que meu pai nunca falava sobre ela.
Depois de mais algumas horas, finalmente meu horário de trabalho terminou. Caminhei até ao vestiário dos funcionários e tirei a camisa branca com o logotipo da biblioteca, substituindo-a por minha blusa florida com fundo branco. Peguei minha pequena bolsa castanha e saí ansiosa.
Caminhei até ao lado de fora, onde um táxi já me esperava, e entrei no mesmo cumprimentando o homem de aparência madura, que retribuiu com um sorriso simpático e colocou o carro em movimento.
Enquanto ele dirigia, eu estava com a cabeça encostada no vidro da janela do carro observando as ruas movimentadas. O trânsito não estava ruim, mas poderia estar melhor.
Terminados exactos 30 minutos, eu estava finalmente em casa. Joguei minha bolsa no sofá e caminhei até a cozinha, onde coloquei minha macarronada para esquentar no micro-ondas. Estou faminta.
Não demorou e ela já estava pronta para mim. Sem demoras, me alimentei, lavei a louça suja e me dirigi ao quarto. Me deitei na cama e acabei adormecendo.
Quando despertei, olhei para o meu relógio de pulso e já passavam alguns minutos das 7 horas da tarde. Me despi com pressa e entrei para o banheiro, onde tomei um banho rápido.
Saí do banheiro em direção ao pequeno closet, onde escolhi um vestido vermelho que vai até um pouco abaixo da altura dos joelhos e com detalhes delicados na parte de cima. Calcei uma sandália com um salto de tamanho médio e passei uma maquiagem leve.
Quando estava pronta, desci para a sala onde esperava por Enrico, mas ele não chegava. Olhei para o relógio mais uma vez e ele já estava 30 minutos atrasado. Suspirei, interrogada. Será que ele desistiu? Ou aconteceu alguma coisa?
Após uma hora de espera, acabei trocando de roupa. Vesti um pijama confortável e, antes de dormir, decidi ligar para ele, mas seu celular estava desligado. Respirei fundo. Não sabia se ficava preocupada ou decepcionada.
Já no dia seguinte, acordei na mesma hora de sempre e me dirigi ao banheiro, onde escovei os dentes e, em seguida, tomei um banho quente. Saí para o closet enrolada na minha toalha e a tirei após secar meu corpo. Vesti-me e já estava pronta para mais um dia de trabalho. Estou sem fome, então vou comer algo na rua.
Saí, trancando tudo. Caminhei até a estação, que não fica muito longe daqui, mas algo no caminho chamou minha atenção. Um homem extremamente lindo e atraente, alto, ombros largos, braços fortes. Ele aparenta ter uns 35 anos, vestia um terno preto que marcava cada detalhe do seu corpo. Sua barba por fazer o deixava ainda mais atraente. Ele descia de uma Ferrari LaFerrari vermelha, simplesmente o carro italiano mais potente e mais rápido de sempre.
Quando dei por mim, eu estava parada no meio da rua, olhando sem parar para ele. Tentei desviar o olhar, mas o homem já estava vindo em minha direção.
