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Capítulo 4

ARTEMISIA

Antes que meu pânico aumente drasticamente, eu me acalmo, pois o cheiro dele deve ter sido suficiente para que eu o identificasse como meu companheiro de segunda chance. E mesmo que o cheiro dele seja de dar água na boca, ele não está gritando companheiro.

— Essa é uma peculiaridade sua?

Olho para ele confuso e vejo que ele está sorrindo.

Que diabos?!

— Emm... o quê?

— Você faz isso com frequência. Além disso, durante a cerimônia. — Seus olhos caem para meus lábios, e eu retiro a mão rapidamente.

— Ah, sim. Desculpe, é que... eu faço isso sem pensar.

— Não se preocupe. — Ele diz, voltando a olhar para o lago enquanto se recosta no banco. — É adorável, na verdade.

Meu coração bate tão rápido que corro o risco de ensurdecer com os estrondos em meus ouvidos. — Oh... Obrigada.

Fico feliz que ele esteja olhando para o lago, pois devo estar parecendo o tomate mais embaraçoso do mundo.

Quando me arrisco a olhar, vejo-o observando a superfície do lago concentrado. E devo dizer que ele chama bastante a atenção. Não é só o fato de ele ser alto e bem constituído, mas também sua mandíbula quadrada, os olhos escuros e expressivos e as maçãs do rosto altas que devem enfeitiçar toda loba. A maneira como a lua brilha em suas feições o deixa ainda mais lindo.

E agora você está babando.

Ele cerra a mandíbula pouco antes de se voltar para mim, erguendo a sobrancelha. A ação me tira do meu devaneio, mas acho que é tarde demais para recuperar um pouco da minha decência.

Deusa, ele deve ser capaz de ouvir meus batimentos cardíacos enlouquecidos.

Que vergonha.

— Você é a filha de Alpha Franco, certo?

— Sim. — Eu cuspi, talvez um pouco alto demais.

Como se eu estivesse respondendo com entusiasmo à pergunta do meu professor favorito.

— Na verdade, sou o favorito dele.

Deusa, você não pode me impedir?

Sua risada faz com que eu me sinta menos estúpido, mesmo que isso não tire o meu desejo de que um buraco negro me engula neste instante.

— Aposto nisso. — Ele brinca, fazendo meu coração vibrar.

— Mas, sinceramente, tenho muita sorte. Meus irmãos são os melhores, mesmo que sejam muito protetores na maior parte do tempo.

— Bem, se eu tivesse uma irmã como você, eu provavelmente a trancaria em algum lugar para mantê-la longe de todos os cretinos por aí. — Eu ri alto, e ele balançou a cabeça. — É sério. Eu quase teria começado uma guerra com o Ricky-boy só de respirar em sua direção.

Estou lutando para respirar enquanto me divirto e ele apenas sorri para mim. — Oh, Meu Deus!

Respiro fundo e enxugo uma lágrima do meu olho. — Não acho que alguém queira arriscar uma guerra com você, Alfa Blackwood.

— Cayden. — Ele rosna, fazendo com que eu o olhe com os olhos arregalados.

Na verdade, ele não pediu que eu o tratasse pelo primeiro nome.

E nós seremos gratos por essa oportunidade e não a recusaremos para envergonhar a nós mesmos e a nossa matilha. — Meu lobo diz de forma depreciativa, e eu suspiro, pois não tenho notícias dela desde o dia em que fomos rejeitados.

— Claro... Alpha Cayden. — Sinto meu rosto esquentar quando ele se inclina, rosnando.

— Largue o Alfa.

Oh, meu Deus.

Acariciando uma mecha de cabelo atrás da orelha, empurro Cassy para baixo, gemendo em minha cabeça.

— Seria uma honra, Cayden — digo, sentindo como se minha língua tivesse ficado dormente.

— O prazer é todo meu, Senhorita.

Tremendo agradavelmente, eu me forço a levantar para escapar dessa situação antes que eu faça algo que incomode ainda mais meus pais.

— Você também tem um lugar como esse nas terras de sua matilha?

Quando ele me alcança sem pressa, meu coração começa a bater mais rápido no peito.

A luz da lua toca a superfície do lago, criando um cenário romântico. Seu rosto é beijado pelos raios de luz que iluminam seu lado esquerdo, deixando-me sem fôlego.

Demoro alguns segundos para perceber que ele também está olhando para mim. Ficamos em silêncio pelo que parece ser uma eternidade e, em determinado momento, penso que devo estar sonhando. Seus olhos escurecem, deixando apenas uma única mancha dourada em suas íris.

Eu suspiro e, quando estou prestes a dar um passo para trás, ele é mais rápido para me impedir, agarrando meu antebraço com cuidado. Sou capturada por seu olhar intenso, perdendo-me completamente.

Quando ele dá um passo à frente para ficar ainda mais perto, eu engulo. Estou um pouco confusa por não sentir nenhuma faísca em minha pele, pois seu toque é divino.

— Cayden? — Eu sussurro, vendo-o se aproximar.

Mas ele fica quieto, seus lábios se aproximam dos meus lentamente. Meu coração se contrai na garganta e fecho os olhos, esperando que seus lábios toquem os meus. Sinto seu hálito quente me abanando, fazendo com que eu me aqueça ainda mais.

Seus lábios mal tocaram os meus quando um rosnado alto me tirou do transe.

Cayden parece não se incomodar com o rugido ameaçador quando olho para ele, mas parece mortalmente irritado. Virando a cabeça para a origem do som, encontro um dos meus irmãos com o punho cerrado e o peito arfando.

— Que merda, Blackwood! — Ele grita, seu lobo lutando pelo domínio.

Cayden endireita a coluna sem se impressionar, enquanto eu entro em pânico.

E que momento estúpido, idiota!

— Vá embora, idiota! O que está fazendo? Eu o conecto mentalmente, fazendo com que sua expressão de raiva se volte para mim.

— Não se atreva a falar comigo assim depois que eu a encontrei em uma situação tão ruim! — Ele ruge, fazendo-me miar.

Que vergonha.

Mas Cayden dá uma risadinha, aparentemente sem saber que meu irmão está prestes a atacá-lo. — Calma, Guerrieri! Você está interrompendo! Você não tem bolo para comer?

Oh, você não pode estar falando sério.

Ao ver que meu irmão estava prestes a explodir, fiquei em seu caminho, tentando acalmá-lo. — Zeno, por favor. Você precisa se acalmar. Não...

— Não me diga o que fazer! — Ele rosna, passando por mim.

— Não! — Gritei em pânico, enquanto me virava, sem conseguir parar meu irmão que estava se movendo no ar.

Ao me virar, cheguei bem a tempo de ver Cayden bloqueando meu irmão e jogando-o no lago como se ele fosse feito de feno.

Ele nem mesmo mudou parcialmente de posição, virando-se para olhar meu irmão, agora com dificuldades, nadando no lago, de volta à sua forma humana.

Corri para ficar ao lado dele com os olhos arregalados enquanto meu irmão chegava lentamente à margem do outro lado do lago.

— Oh, meu Deus! Eu sinto muito! Ele é um idiota!

Cayden me dá um sorriso lindo, com seus caninos brilhando à luz da lua. — Não se preocupe. Você me disse que era o favorito deles!

Isso me faz sorrir e eu balanço a cabeça, abaixando o olhar para evitar que ele me veja corar. Quando meus olhos se fixam em seu braço, minha respiração fica suspensa.

— Oh, não! Você está machucado!

Ele estala a língua, levantando o braço. — Ah, não. É só um arranhão. Não se preocupe.

Tiro minha estola de mim e a envolvo em seu braço.

— De verdade, Senhorita. Não se preocupe. Não há necessidade de estragar seu vestido!

Ao pressionar o pano em seu ferimento, que provavelmente já está fechado, sinto-me estranhamente agitado.

— De verdade! — Ele repete, colocando sua mão sobre a minha. — Senhorita.

Respirando fundo, sinto seu toque me acalmar e, lenta mas seguramente, isso está me assustando.

Ele sorri enquanto eu olho para ele, sentindo-me excitado.

— Você cheira bem. — Seu sussurro rouco me atinge em cheio no coração, fazendo meu peito se apertar.

Um pigarro me faz pular mais uma vez, encontrando os olhos do meu irmão. — Você está bem? O que aconteceu? — pergunta Giorgio, preocupado.

Seus olhos se estreitam quando ele vê Zeno voltando para o lago, caído e molhado.

— A culpa é minha, Alpha Guerrieri — diz Cayden, e eu olho para ele surpreso. — Eu fiz uma piada estúpida. E ele só queria proteger o orgulho de sua irmã. Sinto muito pela confusão que criei!

Giorgio não parece estar convencido do que Cayden está dizendo, mas ele sabe que não deve acusar o alfa de uma matilha inimiga de mentir.

— Não se preocupe, Alfa Blackwood. Sinto muito se meu irmão não foi capaz de reagir como um adulto a uma piada.

Depois de muitas idas e vindas diplomáticas entre os dois, Zeno finalmente chega até nós.

— Chiedi scusa! — Eu sibilo para ele, fazendo-o distorcer o rosto. [Peça desculpas!]

Zeno se balança para frente e para trás, agindo de forma infantil, mas à medida que mais e mais pessoas se juntam a nós no lago, ele finalmente cede. — Sinto muito, Alfa Blackwood!

— Não, por favor. Eu também peço desculpas.

Cayden bate em minha mão gentilmente antes de se afastar para encontrar os membros de sua matilha que estão a alguns passos de nós.

Eu o observo, enraizado no chão, enquanto Giorgio repreende Zeno. Quando o grupo de homens chegou à lateral da casa, prestes a desaparecer, eu me solto do chão e corro em direção às suas costas largas.

— Alpha Blackwood. — Eu me encolho internamente quando o chamo, chegando até ele com passos rápidos. Ele se vira para mim, olhando-me sem graça, e percebo imediatamente o que o irrita.

— Cayden, desculpe. — Enquanto ele sorri levemente, meu estômago se revira com os olhares de ódio que recebo de sua comitiva. — Obrigada. Pelo que você disse ao Giorgio. Espero que você possa perdoar meu irmão e não pensar tão mal de nós.

— É claro, Senhorita.

Ele está prestes a abrir a bandagem da minha estola quando eu o impeço. — Não, por favor. Você pode ficar com ela. De qualquer forma, não vou mais usar esse vestido.

Forço um sorriso enquanto ele suspira alegremente: — Que pena. Ficou lindo em você.

— Oh, obrigadoa — digo, sentindo minhas bochechas esquentarem.

Com outro sorriso e uma leve reverência, ele se vira, com seu barítono penetrando em minha pele.

— Boa noite, Senhorita. Obrigado pela visita guiada.

Pisco várias vezes antes de conseguir falar. — O prazer é todo meu, Cayden.

— Boa noite — acrescento gaguejando, batendo na minha perna com o punho repetidamente.

Muito embaraçoso.

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