Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Dois

As botas batiam com empolgação enquanto os homens cantavam sua cantiga favorita dos mares, algo que detalhou a vida de um pirata e como eles se divertiam nas tavernas quando tinham seu tempo de paz. Eles limpavam o navio, trabalhavam as cordas e seguiam as ordens que o imediato gritava, sempre cantando alegremente a música durante nossa travessia pelas águas.

As ilhas orientais ficavam próximas de onde nossa embarcação se escondia, mas sempre estávamos em lugares de difícil acesso para os maiores líderes dos mares. Kiar, por exemplo, era a melhor ilha para isso por conseguirmos vagar pelas ruas com disfarces que ninguém chegava a se importar em olhar diretamente, afinal, quando se tem homens com dentes podres, sem algum membro do corpo ou cheios de cicatrizes em suas faces, era quase que impossível não chamar atenção. Ali, pelo menos, a pobreza era tão grande pelo pouco recurso que tinham, que as pessoas viviam doentes, com fome e até mesmo caindo pelas ruas sem um auxílio dos líderes, ao ponto de homens como os meus conseguirem se igualar aos habitantes sem lar.

Os demais reinos sempre cuidavam para que tivessem poucos ambulantes sem rumo nas ruas, já que isso atrapalhava a reputação dos locais. Os guardas ficavam por todas as partes, retirando-os das calçadas para que os senhores caminhassem com seus narizes empinados. Era difícil se esconder em lugares assim e por isso muitos acabavam na abandonada Kiar depois de muito buscarem um lugar pelos reinos. Ela era uma ilha tão pequena, que não entrava nos detalhes dos mapas; todos eles tinham apenas o desenho de seu formato, como se a ilha não fosse habitada. Estava entre Madilian e Gayu, sem um governante digno, pois o rei era um homem faminto e ambicioso, que adorava se beneficiar de jovens virgens, enquanto seu povo se matava de fome nas ruas pela fraca agricultura do lugar, que era sempre roubada por esse mesmo governante arrogante. Talvez por isso que estivesse abandonada.

O antigo imperador tinha ciência de sua existência e até tentava controlar o pequeno comércio da ilha, comprando alguns grãos para que a pobreza não matasse de vez todos os habitantes. Porém ele havia entendido que os piratas precisavam de um lugar além da Ilha das Sereias para abastecer os navios e era ali nosso ponto de encontro com qualquer informante do império. Por essa razão ela nunca foi dominada pelos buxius. Já o rei Gregory batia em seu peito, dizendo que assustava os líderes maiores e que sabia manipulá-los para receber verbas que sustentavam seu castelo intacto e mantinham seu reino longe dos grandes acordos, sem saber que na verdade era apenas um depósito dos piratas.

Para chegar em Chogo seria bom parar primeiro na ilha e encontrar alguém que pudesse nos colocar dentro do palácio. Smith já havia comunicado ao nosso informante onde precisaria nos encontrar ao chegar em Kiar e nós seguíamos para lá.

Durante o trajeto eu batia a ponta do punhal na grande mesa da cabine ao ritmo da cantiga dos homens enquanto tentava controlar meus nervos para que não mandasse todos entrarem no império e matassem tudo o que se mexesse. Claro que morreríamos, pois em Chogo era onde estava a maior concentração de guerreiros buxius, e, por mais que eu tivesse quatro navios em minha retaguarda, não seríamos páreos para um exército de proporção estrondosa. Mesmo que um pirata não se importe com o próprio destino e seja por isso que viva em meio à vida bandida, morrendo com um sorriso medonho, seria um enorme desperdício perder tantos homens.

— Capitã — disse Smith ao escancarar a porta. Seus olhos se arregalaram quando o punhal que estava em meus dedos passou raspando por sua face, cravando-se no batente de madeira escura. No mesmo instante o homem se lembrou das regras sobre a cabine e voltou para trás, fechando a porta.

— Não é porque somos um bando de ladrões e assassinos, que não podemos ter modos, Smith! — gritei pela milésima vez em anos e o homem pigarreou.

— Nosso informante enviou uma pomba diretamente do império, capitã — anunciou o pirata, batendo na porta. Suspirei, não esperava uma resposta, apenas que ele nos encontrasse em alguns dias. — Acredito que isso compromete nossa parada na ilha da esbórnia.

— Entre e leia. — A irritação tomou conta de mim, pois minha mente teria que arquitetar outros métodos para chegar até o novo mestre.

— Parece que o imperador está viajando em busca de uma esposa e não nos receberá no império — suas palavras vinham carregadas de ironia, pois era fato que o mestre nem sabia de nossa reunião. — Se mudarmos a rota para o Selo de Gogh, que será sua última parada, e dobrarmos a velocidade, é provável que o peguemos no mar — rosnei com a notícia e novamente tentei controlar-me. Bom, não era de todo mal. Um imperador no mar era mais acessível do que um em terra e menos protegido também.

— Então faça.

Smith não esperou uma segunda ordem, fechou a porta e gritou pelo navio para que os homens seguissem a nova rota.

Observei o enorme mapa preso à parede próxima de mim enquanto calculava a trajetória até o reino do urso gigante. Torcia para não precisar pisar naquelas terras, ali seríamos facilmente presos e, por ser uma ilha fiel ao império, estaríamos com os dias contados. Jones iria até o inferno para me punir se eu morresse por coisas tão óbvias.

Estávamos no meio do dia quando a direção do navio foi alterada. Teríamos que contornar a ilha de Melanny, o que poderia levar mais de uma tarde, e depois fazer o mesmo processo quando chegássemos em Ifith. O enorme arquipélago de Gogh estava a quase três dias de alcance e, caso o imperador estivesse há alguns dias no mar, tínhamos que nos esforçar para chegar muito antes dele naquelas águas. Sabíamos que ele atracaria na cidade de Portube e por isso precisávamos estar entre as montanhas próximas ao porto à sua espreita. Longe o suficiente para que nenhum habitante ou guarda nos visse.

Um trabalho gigantesco para poder apenas conversar com um garoto mimado e cheio de regras que eu já queria morto. Não posso negar que implorava para ouvi-lo dizer “não” aos piratas apenas para atirar no meio de seus olhos, porém isso traria consequências aos bucaneiros em geral e eu seria vista como uma péssima líder por eles. Se tinha algo vergonhoso para nós, era sermos vistos daquela maneira por pessoas que decidiram passar suas vidas foragidas dos guardas, matando e saqueando os locais. Então teria que ser apenas uma boa conversa com o mestre do império.

— Navio à frente! Reduzam a velocidade! — um dos homens gritou do lado de fora horas depois. Rapidamente me levantei da cadeira, que caiu no chão com o tranco e o balanço do mar. A garrucha logo veio para minha mão, livrando-se do coldre, enquanto eu me apressava para sair. O homem que havia gritado antes era Dorn, o olheiro. Ele se encontrava apoiado no guarda-corpo acima de minha cabine, com suas vestes novas — que havia roubado na ilha de onde saímos — cobertas pelo enorme casaco esfarrapado. Ele trouxe seus olhos verdes em minha direção quando mostrei as caras. — Capitã, bandeiras vermelhas.

— O Tempestade… — sussurrei. — Onde estamos?

— Contornando Melanny. — Ele disse após coçar a barba de aparência suja.

— Então eles saíram do império há pouco. — O enorme navio do imperador estava distante o suficiente para podermos segui-lo sem chamar atenção. — Smith.

— Muitos buxius, mas ele está lá e temos algo interessante também — observou o imediato, analisando com sua luneta. Ele me olhou por um momento e entendi seu recado. Era imprudência do imperador navegar apenas com uma embarcação, não havia escolta e isso me soou como uma afronta. Ele estava subestimando os piratas. Dorn cochichou algo para o imediato, que pigarreou e disse: — acredito que falte cinco horas para o sol se pôr.

— Alguém na gávea? — perguntei e ambos negaram. — Tentem manter uma distância segura por hora e ao cair da noite preparem os barcos. Vamos entrar quando todos dormirem — ordenei.

— E os buxius? Eles não dormem — disse um dos piratas próximos de mim.

— Sejam discretos, rapazes. Ninguém morrerá esta noite se o senhor do império entender a situação. — Meus olhos foram de encontro à multidão de homens sujos a minha frente. — Se não for, eu não poderei controlar ninguém com uma arma afiada.

Vi o sorriso cruel de cada um daqueles homens e sabia que, como eu, todos eles torciam para termos uma recusa. Fazia tempo que nossas armas não se banhavam em sangue e já estava ficando tedioso viver daquela maneira.

— Continuarei observando do alto. — Dorn se pendurou nas madeiras do navio para escalar o mastaréu principal até a gávea em seu topo. Era seu trabalho ficar naquela cesta, observando tudo ao nosso redor para nos prevenir de um ataque ou apenas analisar nossos passos. Ele tinha o mapa na cabeça e se guiava muito bem pela posição do Sol e pelos desenhos das estrelas no céu.

O cair da noite veio rapidamente, com isso nossa movimentação também. As águas daquele lado do mar eram calmas, portanto tínhamos que ser ainda mais silenciosos. Nos pequenos barcos cabiam quatro pessoas, então eu só poderia levar comigo os homens mais rápidos no primeiro bote. Os demais se aproximavam com nossa embarcação e alguns pequenos botes em torno dela.

O Safira era o navio mais rápido dos mares pelo que todos sabiam. Embora sua madeira escura fosse fácil de ser escondida na noite, as velas brancas e manchadas de sangue sempre eram iluminadas pela Lua. Os respingos vermelhos reluziam, mostrando aos nossos inimigos onde estávamos e, por isso, sempre atacamos em pequenos botes, cercando as embarcações para depois atirarmos com os canhões barulhentos.

Todo pirata aprende a ser sorrateiro e minha tripulação tinha um dom maravilhoso de se esconder nas ondas da noite. Não seriam notados pelos buxius, mesmo que eles tivessem treinado a arte da percepção durante anos.

— O lado leste está vazio, devem ter montado guarda nos quartos ocupados e isso inclui o do mestre do império. Ninguém na gávea até o momento — comunicou-me Smith, sempre observando em sua luneta.

Aquela desproteção do novo mestre era suspeita demais ou uma irresponsabilidade incrível.

— Quero conversar com ele a sós. Façam com que os guardas se afastem da porta e eu cuido do resto — instruí os homens.

Pude ver um deles acenando seu código aos piratas nos botes em nosso encalço. Todos apagaram suas lanternas, uma por uma, e lançaram-se na água com cautela para que o som não viajasse até nosso alvo. Deveria ser uma surpresa calma no início, já que queríamos manter o acordo que sempre nos beneficiou, contudo, não tinha uma forma melhor de um gatuno falar com alguém tão importante por estarmos no ponto de arrancarem nossas cabeças em praça pública, então precisávamos daquilo.

Mais fácil do que roubar moedas de um andarilho foi tirar a maioria dos guardas do caminho. O pobre Caio era o pirata menos moribundo daquela tripulação, tinha uma aparência muito melhor por ser um dos piratas mais recentes na embarcação e ele foi nossa chave de entrada. O marujo arrancou toda sua vestimenta e boiou pelo mar em torno do navio, em uma direção oposta à nossa, até alguém vê-lo e gritar para os demais. Logo ele estava dentro do Tempestade Vermelha, sendo atendido como náufrago enquanto Smith invadia a parte onde acreditava estar o líder. Ele fez sons com a boca, fazendo os demais guardas seguirem em sua direção para investigar, o que deixou a área completamente livre para que todos invadissem o navio e eu entrasse na cabine do mestre Amino. Lancei-me na água quando o pequeno barco tocou o casco do navio e agarrei a corda que me foi lançada.

— Temos pouco tempo. — Avisou um dos homens depois que escalei o casco e entrei na embarcação. Meus dedos foram rapidamente em direção à porta que ele havia apontado, abrindo-a antes que qualquer eventualidade ocorresse.

— Jones. — A palavra ecoou pelo quarto escuro quando entrei.

Fazia muitos anos que não o via e percebi o quão diferente estava o som de sua voz. Um pouco mais velha do que na noite em que falei com ele pela primeira vez, mais rouca também e até parecida com a de seu pai. Deveria ter imaginado que ele era alguém desconfiado desde os ataques durante sua infância e por isso não deveria dormir muito bem. ‘‘Droga, Cassandra’’.

— Amino — falei para a escuridão e cerrei a porta no instante em que ele acendeu a lamparina.

— Você cresceu — ele observou, fazendo-me quase voltar ao tempo em que o vi parado e assustado em meio ao jardim de seu palácio. — Esperava mesmo que me procurasse em algum momento. Não tão rápido, confesso.

O rapaz estava sentado em uma cadeira próxima da pequena mesa onde apoiava seu cotovelo direito. A mão esquerda acariciava o cabo branco de sua espada. Os longos cabelos escuros estavam presos em um rabo de cavalo — como os lordes de sua nação faziam quando se dirigiam para uma guerra ou um treinamento. Seu rosto se escondia nas sombras. Ainda assim, eu me lembrava bem das feições de Tadaki. Deveria estar mais confiante já que se tornara líder, mas o garoto curioso que quase me entregou aos guardas no dia da última invasão ao palácio ainda estava ali em algum lugar.

— É perceptível. — Foi minha vez de comentar apontando para sua arma.

— Isso? — disse ele erguendo a enorme e, provavelmente, pesada espada para depositá-la em cima da mesa. — É apenas uma precaução. Acredito que não precisaremos se você veio para se entregar.

Foi impossível levar aquela frase ao nível de seriedade que talvez o imperador quisesse. Rir era o melhor que eu poderia fazer para tentar distrair a mulher que dentro de mim queria matá-lo. Enquanto eu explodia em risos, o rapaz inclinou ligeiramente seu corpo para frente. Isso fez com que seu rosto ficasse completamente exposto pela luz, dando-me liberdade para encarar seus olhos pequenos e raivosos. Ainda tinham o brilho que eu me lembrava.

— Tu é mesmo um tolo, mestre — disse de maneira zombeteira. Pude ver o pressionar de seu maxilar se mexer, talvez de raiva. — E isso me prova que não tem interesse em ouvir uma proposta.

— Realmente não tenho — ele afirmou, mantendo a postura dura. — A pirataria tem dado trabalho aos buxius desde que surgiu e isso precisa acabar de uma vez por todas. Estou farto de ver o povo com medo de um bando de inúteis tentando furtar suas riquezas! Deveria ter feito isso naquele dia; teria poupado essa conversa.

— Interessante — observei. Pois o novo mestre do império tinha um gênio mais controlado que o de seu pai. No entanto, a forma enojada com que se referia a nós era quase semelhante à maneira ambiciosa do antigo líder. — Os piratas tinham um…

— Acordo ridículo com Tzuki e eu não me mancharei com isso — interrompeu-me ele. — Sempre soube dessa estupidez. Também sabia que Tzuki só estava domesticando vocês para poder enfiar as espadas em seu pessoal assim que baixassem a guarda. Estou sendo justo aqui e dando a opção de redenção aos piratas. Vamos, Cassandra, posso ajudá-la.

— Justo? Redenção? Ajudar? — Deixei outro riso escapar. — Acha que ser imperador é ser um Deus?

— Não diga besteiras.

— O que sabe sobre ajudar alguém? — Acariciei o coldre como se alisasse o pelo de um animal de estimação, era minha calmaria. — Viveu em luxo, cresceu em um palácio, não teve que mendigar pelas ruas e não sabe nada sobre pobreza e desespero.

— Sei que você foi humana o suficiente para tirá-lo dessa vida. — O imperador suavizou sua voz. — Alguém sempre pediu proteção para ele por sua causa. Sabemos que o visita e isso me faz acreditar que existe bondade em você.

— Então você não sabe nada sobre mim — eu o interrompi antes que aquela história se aprofundasse ainda mais. — Não tente me fazer acreditar em contos de fadas, você não sabe nada!

— Jones…

— Deixe-me dar a opção do imperador continuar com nosso acordo então — interferi outra vez. Caminhei pelo quarto quase escuro em busca de uma bebida forte.

— Ou?

— Sua irmã amará se tornar bichinho de meus homens. — Eu o ameacei. Vi, então, o senhor do império mudar seu humor por completo e reagir por um mísero segundo, apertando firmemente a espada em cima da mesa. Porém Tadaki ainda era diferente do pai, pois ele se deteve, provavelmente ao se recordar de que a herdeira do império estava a bordo.

Smith a tinha notado horas antes com sua luneta. A jovem Mariko perambulava alegremente pelo navio enquanto os tripulantes seguiam com suas tarefas. Saber de sua presença ali era nossa carta extra para ter o maior líder do mundo nas mãos. Uma tolice dele por tê-la levado; e um benefício para nós.

Dei um sorriso maior ao ver bom senso naquele rapaz, pois seu pai teria apenas me atacado pela simples afronta. Ainda que os guerreiros a bordo matassem todos os piratas, havia também a probabilidade da jovem herdeira fazer parte da pilha de corpos e acreditei que imaginar aquilo havia sido terrível para seu irmão.

— Então… — Encostei em um aparador próximo à mesa que estava o mestre e busquei uma garrafa de álcool pelo ambiente enquanto iniciava meus termos. — Não atacaremos e nem tocaremos em sua preciosa irmã, hoje. Apenas iremos embora.

— Com a condição? — Era evidente em sua voz que ser chantageado o deixava extremamente irritado.

— Que o imperador pense. Podemos manter o acordo ou atacar até que alguém que o grande mestre ame morra.

— Mataria um por um — rosnou ele.

— Sei disso, sei disso — sorri abertamente. Desisti de encontrar álcool naquele lugar e inclinei o corpo ligeiramente para ser iluminada pela luz da lamparina entre nós. — Mas não traria quem ama de volta. Não é mesmo, mestre?

— Jones…

— Façamos assim. — Apoiei os cotovelos na mesa, ficando próxima o suficiente para ouvir a respiração forte e nervosa do rapaz. Aquilo estava ficando divertido. — Te darei um prazo para pensar sobre tudo isso e irei embora agora da mesma forma que entrei em seu navio. Sem ser notada. Ah! E ninguém irá se machucar, prometo.

Fiz o sinal de juramento com os dedos, mas ele mantinha os olhos furiosos.

— Rapaz difícil — disse e pigarrei para continuar. — O imperador receberá nossa mensagem em dois meses e nos encontraremos nas águas de Melanny para saber se teremos uma trégua ou atacaremos o império para matar algumas pessoas, incluindo uma herdeira de Chogo.

Em um movimento rápido ele agarrou e apertou meu pescoço, os olhos em chamas. Eu conseguia ver toda sua ira claramente ali enquanto seus dedos tentavam tirar o ar de dentro de mim. Ele poderia facilmente me matar se não tivesse seus princípios.

— Não me provoque, Jones — rosnou com a voz enfurecida.

— Ora, imperador. É apenas uma observação e um bom trato. — Sorri novamente, ainda que minha face pedisse socorro por receber pouco ar. Ele me soltou bruscamente, acredito que entendera a proporção dos perigos naquele momento. — Bom… te vejo em alguns dias, mestre. Nas águas de Melanny. Use bem esse tempo para pensar e não deixe essa oportunidade passar. Eu não costumo fazer barganhas tão boas assim.

Comecei a caminhar em direção à saída, sempre apurando meus sentidos para não ser pega de surpresa.

— Ele é um bom guerreiro — comentou o imperador, ainda com aquela voz dura. — Gosta do que faz.

Abri a porta de madeira e ousei olhar uma vez mais para o grande mestre do império, que me encarava cheio de fúria em sua cadeira, o que me deu ainda mais motivos para me vangloriar do poder que tive sobre ele, como uma perfeita bucaneira faria. Jones estaria orgulhoso de mim.

Novamente fingi não ter ouvido sobre aquele que ele havia tentado usar para me dobrar e fiz o som de um relógio para dar um pouco mais de ênfase ao tempo que estava correndo. Meneei a cabeça em seguida para o pirata guardando a porta, avisando-lhe sobre o fim daquela reunião e caminhei com cautela pelos corredores do Tempestade Vermelha enquanto o assobio dele soava por toda embarcação, avisando aos outros que era hora de partir.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.