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O Guardião das Sombras

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Deypi
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Resumo

(+18)As Sombras viviam ocultas esperando seu mestre, em um mundo pós apocalipse, tentando uma reconstrução. Ele, estre, foi enviado para salvar, mas foi capturado e mantido prisioneiro por muitas décadas, até que conseguiu se libertar quando sentiu a presença de sua companheira de alma. Mas o mundo estava destruído após o apocalipse e além de escassez, havia contaminação. Seres vivos eram utilizados como alimento e crianças subjugadas. Como poderia pôr ordem nesse caos? Mas encontrou sua companheira e descobriu o amor, descobriu como era bom acasalar e colocou em prática o que foi enviado para fazer: SALVAR O MUNDO! Contém cenas de violência, abusos e eróticas.

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Ratos de Esgoto

Introdução

É incrível o quanto a criação e o meio onde uma criança é criada influencia sua vida. Na guerra entre sobrenaturais, crianças ficaram órfãs ou nasceram em masmorras imundas, sendo separadas de seus pais e criadas sem sequer saberem sua origem.

Sem higiene, com pouca comida, sem vestes direitas ou agasalhos e muito menos amor.

As que sobreviviam, eram exploradas para servirem de soldados, faxineiros, carteiros, sexo ou o pior, como comida.

Talvez, se uma dessas crianças tivessem a sorte de um dos cuidadores se agradar dela, podia até ouvirem a história de como era o mundo antes da guerra e aprender coisas básicas como asseio e fala.

Assim foi com Rubião. Cresceu e mostrou ser esperto e inteligente, sendo levado para a casa do guarda da prisão e criado por ele e seu companheiro, como um filho, já que os dois não podiam procriar. Conforme foi crescendo, tornou-se um estudioso das espécies sobrenaturais e um pequeno e imbatível guerreiro.

Mas, uma coisa, Rubião não esquecia: do buraco de onde saíra e de todas as crianças que ainda estavam ou iam para lá.

***

Aquele lugar era um labirinto. Túneis que saiam de túneis, que chegavam a túneis e bifurcavam em outros túneis. Alguns com uma vala no meio, outros com apenas um fino córrego.

Uma jovem aparentando ter seus dezoito anos, corria pelo lugar, levando consigo três crianças. Não dava para ver se eram menina ou menino, pois todos vestiam-se iguais, com short e blusas de malha de algodão, que um dia foram brancos. Nos pés, chinelos improvisados com sola de pneu de carros. Cabelos bem curtos, quase rente a cabeça.

– Fiquem atrás de mim, um segurando a mão do outro, evitem pisar dentro na água, andem pela beirada. Me imitem. – Ela olhou para trás para se certificar que estavam ouvindo.

Sim todos ouviram, mas tinham medo de responder, pelo tanto que eram surrados caso respondessem ou perguntassem algo. Acenaram com a cabeça até chegar a uma parede com ferros fincados nela, formando um tipo de degraus.

– Fiquem aqui, eu vou subir e avisar que chegamos - assim ela fez, dando pequenas batidas na tampa redonda sobre sua cabeça.

Percebeu que escutaram e já estavam retirando a tampa e desceu rápido, pegando a primeira criança e ajudando a subir. A tampa foi removida e um rapaz, um pouco mais forte que a jovem, apareceu e pegou a primeira criança.

– Anda Mira, o sinal já tocou. Quantos vieram desta vez? – Perguntou o rapaz.

– Três – respondeu ajudando o segundo e o terceiro, mais esperto, logo começou a subir atrás do outro sem esperar.

– Venha Mira, rápido, as crianças já foram.

Mira estava olhando para trás tentando ouvir se tinha gente nos dutos, mas só ouvia o barulho das águas sujas correndo. O odor de fezes e urina era tão forte, que anulava qualquer resquício da passagem deles por ali. Então ela subiu rapidamente, saindo e ajudando a pôr a tampa de volta no lugar.

O bueiro ficava no pátio de um casarão antigo, que virou cortiço depois da guerra.

– Vá Norhy, corra, eu vou dar cobertura – falou Mira para o rapaz.

– Você é louca, vamos juntos. – Ele respondeu, esperando por ela.

– Vá logo, eu tô mandando – ela esticou o corpo, mudando a postura e engrossando a voz - eu sinto ele por perto, vá logo.

O jovem temeu a atitude de sua líder e se retirou correndo do local. Mira correu para debaixo de uma marquise, onde era a área que servia de lavanderia para todos os moradores. Ficava debaixo de uma marquise e tinha um tanque para lavar a roupa.

Esperou ali, tirando o vestido roto de algodão cru que usava e ficando com as calças pretas e camiseta de malha preta, pegou dentro do tanque, um saco plástico, de onde tirou um casaco velho que achara no lixão e parecia ser de um motoqueiro. Ficava um pouco grande nela, mas a protegia do frio e dos olhares curiosos sobre suas protuberâncias.

Ficou quieta espiando e logo sentiu a presença daquela praga, voando sobre os telhados. Como se não bastasse os vigilantes passarem em motocicletas velhas, o tempo todo. Tinham esses seres que envergonhavam a própria raça, trabalhando para o inimigo.

Ela fez um movimento, criando uma sombra ambulante e foi se esgueirando junto ao prédio, em direção a saída principal do prédio. Pegou um castiçal de bronze, que deixou propositalmente no caminho e continuou, saindo na calçada.

Aquele ser alado desceu rápido em direção a sombra e Mira apareceu, com o castiçal na mão, fingindo se assustar com o guardião, se prensando na parede. Abaixou a cabeça, sem olhar para o rosto do ser alado. Diziam que eram muito bonitos e lembravam os anjos pintados nas paredes das igrejas e que podia-se contemplar nas poucas paredes de igrejas que ficaram de pé.

– Acho que encontrei o ladrãozinho que me relataram que anda por aqui. Deixe-me ver o que tem aí? – Pediu o ser.

Mira abraçou o castiçal, como se fosse muito importante.

– Anda logo, me dá isso! – Ele ordenou com sua voz ressonante.

Mira estendeu o castiçal para ele, ainda de cabeça baixa. O ser alado pegou, examinou e viu que não tinha valor algum, já que não existiam mais velas para colocar nos bicos das hastes e o material era muito leve, para ter algum valor. Olhou para o ladrãozinho a sua frente e esticou o castiçal.

– Fica. Isto não vale nada. Vá embora e vê se arruma outro lugar para roubar. As pessoas daqui são sobreviventes como você e também não têm muita coisa. Vá embora, antes que eu mude de ideia.

Mira virou-se e passou rapidamente por ele, para iniciar uma corrida para o lado contrário ao local onde as crianças estavam.

No momento em que Mira se virou e passou por ele, o deslocamento de ar pelo movimento, levou até as narinas dele, o aroma mais delicioso que já sentira. Dentro de si, a fera enjaulada, arranhava, querendo sair.

– Minha…

Falou baixinho, mas quando saiu do torpor, para pegar o rapaz, não havia mais nada, só sombras.

***

Uma batida foi o suficiente para que abrissem a porta do quarto, no terceiro andar do prédio.

– Até que enfim, Mira. Você demorou – reclamou Northi.

– Aconteceu uma coisa estranha hoje – falou, se jogando na poltrona rasgada que havia num canto.

As crianças dormiam num colchão de espuma, num canto, no chão do quarto. Não havia cama.

– Conta logo, Mira.

– O guardião alado, sentiu meu cheiro e surtou, ficou me procurando por todos os cantos e becos do lugar e quando não me encontrou, subiu e ficou um tempão sobrevoando o local. Acho que nunca passei tanto tempo parada num mesmo lugar, me escondendo na sombra – contou Mira.

– Isso tá ficando muito perigoso, Mira. Você precisa parar, aliás, nós precisamos dar um tempo deste lugar e traçar novas estratégias, para evitar que roubem as crianças e não precisar resgatá-las. Logo eles vão descobrir nossa rota de fuga. Não sei como ainda não descobriram.

– É, dessa vez você tem razão. Vamos descansar, que logo vai amanhecer.

Northi estendeu outro colchão no chão e deitaram juntos para dormir. Não havia espaço para ser diferente, era daquele jeito ou seriam pegos.

***

Rubião andava de um lado para o outro, inquieto. Sentiu aquele cheiro em suas narinas e gravou em seu cérebro. Como pode perdê-lo assim? Estava a uma distância de um braço e escapou. Falaria com seu pai, o chefe da guarda e pediria para ficar na vigilância, todas as noites daquela semana. Tinha que encontrá-la.