Capítulo 5
"Que preço você está disposto a pagar pela sua paz e mente ?"
- Dara Muniz.
O dia não poderia ter começado melhor para mim, pois além de acordar atrasada acabei pegando o ônibus errado para a empresa, e para ajudar, não estava conseguindo achar nem um mototáxi, ou seja, eu estava literalmente ferrada.
Após muito esforço consegui achar uma moto, mas quando cheguei na empresa faltava apenas 5 minutos para dar meu horário.
- Obrigada!! - Agradeci o motoboy e em seguida lhe entreguei o dinheiro e o capacete, e saí correndo em direção a entrada do prédio, pois se eu chegasse mais um dia atrasada, minha gestora me deixaria viva.
Ao atravessar a rua quase fui atropelada por um carro que estava estacionado na entrada, eu pedi mil desculpas antes de começar a andar, até que percebi de quem era aquele carro.
- Você está atrasada para o trabalho. - Falou Jackson curto e grosso descendo do carro.
- Me desculpe Senhor, é que para ajudar acabei pegando o ônibus errado e tive que sair correndo para chegar aqui.
- Espero que isso não aconteça novamente - E eu balancei a cabeça concordando.
- Sim Senhor. - E quando eu ia começar a andar, ele também foi, então dei uma enrolada e esperei ele ir na frente para depois seguir o meu caminho.
Como ele é o presidente, o elevador do andar dele já estava posicionado, então passei bem despercebida e fui para o último elevador chamar por ele, mas ele ainda iria demorar, estava no 17º andar.
- Você está quase atrasada, não é? - Ouvi sua voz dizer antes de entrar no elevador. - Venha comigo! - Ordenou e logo em seguida entrou no elevador, e o guarda apenas sussurrou um " vai logo!".
E eu com a pouca coragem que me restava entrei no elevador tentando manter o máximo de distância possível dele.
- Qual andar? - Ele perguntou.
- Am? - Perguntei.
- Você não apertou o seu andar. - Ele respondeu sem me olhar.
- Ah, verdade, esqueci. - Respondi sem graça indo lentamente apertar o portão do 10º andar, meu coração parecia que iria saltar pela boca a qualquer momento.
Durante o curto tempo que ficamos no elevador, eu não conseguia respirar, parecia que o andar estava tão longe de chegar.
- Obrigada por me deixar vir no elevador! - Agradeci assim que chegamos no meu andar, e ao sair esperei a porta se fechar e então, consegui respirar. - Por que eu tenho tanto medo desse cara? - Me questionei. - Oh não, vou me atrasar. - Voltei a minha realidade e sai correndo para o escritório.
***
E finalmente, após um longo dia de trabalho, eu consegui chegar em casa e falar com meus pais depois de tanto tempo e expliquei o quão exaustivo às vezes era e como tinha muita pressão em cima de mim.
- Se a pressão for muita, apenas volte para casa filha. - Falou mamãe. - A gente ficará orgulhoso do mesmo jeito e saberemos que tentou.
- Não se preocupe, mãe, eu estou bem e sou forte! - Respondi.
- Essa é a minha menina. - Respondeu ela. - Agora vá descansar, vou desligar, beijos, te amo!!
- Também te amo, beijos! - Me despedi desligando o celular e capotando na cama, eu precisava tirar um sono profundo.
***
Hoje, ao subir para deixar a marmita na recepção da presidência, Mei me entregou um envelope todo personalizado e chique, que segundo ela era um convite para o chá de bebê do sobrinho do presidente que havia acabado de nascer, e a senhora Aimee fez questão de me convidar para que desta forma, pudéssemos nos conhecer, e ela estava cobrando o presidente sobre esse encontro.
Na hora do almoço, eu havia convidado Nong para que pudéssemos almoçar juntas.
- Espera, você foi convidada para ir ao chá de bebe do sobrinho do presidente Wang? - Perguntou Nong sem acreditar.
- Sim. - Respondi me sentando ao lado dela. - Também estou sem acreditar e olhei umas 3 vezes para ver se era meu nome realmente aí.
- E quem desenhou o mapa no convite? - Perguntou. - Você sabe?
- Eu também achei estranho, ainda mais desenhado a mão. - Eu encarei o desenho no verso do convite e me lembrei da outra manhã em que encontrei Jackson e comentei que havia chegado atrasada por conta de ter pegado o ônibus errado. - Talvez alguém tenha medo que eu me perca. - Sugeri sem dar muita bola para os meus pensamentos.
E acabamos sendo interrompidas pelo meu telefone, e no visor vi o nome da minha prima "Bora", o que será que ela queria?
- Oi Bora, aconteceu alguma coisa? - Perguntei preocupada.
- Eu estou aqui na frente do seu condomínio, o tio me passou o endereço e pensei em visitar. - Respondeu do outro lado da linha.
- O que?? Como assim?- Perguntei animada e desliguei a ligação, corri para fora do condomínio com Nong para cumprimentar Bora, que me esperava na calçada.
- Bora? - A chamei.
- Sophie. - E nós abraçamos.
- Estou tão feliz!! - Disse nós soltando um abraço. - Então você decidiu vir pra capital?
- Sim. - Ela respondeu animada.
- Isso é bom, mas então por que você não vem morar comigo? - Sugeri.
- Não, minha mãe não iria deixar, ela quer que eu fique na casa de um amigo dela, por que assim, segundo ela, pode cuidar de mim mesmo longe.
- Ah sim... - Respondi desapontada. - Essa é a Nong, e Nong essa é a Bora, minha prima. - Apresentei as duas. - Eu já falei dela para você Bora, lembra dos meus jogos online? Era com Nong que eu jogava. - Expliquei para ela.
- Bora? - Chamou o rapaz que estava com ela. - Já está na hora de voltar e como está ficando tarde, não estou familiarizado com as ruas por aqui. - Falou ele super grosso, parecia aqueles playboys sustentados pelo pai e a mãe. - Vamos !! - Falou por fim antes de sair andando e caminhando para seu carro.
- Tudo bem, agora você está em Seul é mais fácil de nos encontrarmos. - Animei ela e o rapaz do carro começou a buzinar sem parar.
- Tudo bem eu já vou! - Gritou ao rapaz. - Beijos meninas. - Respondeu ela se distanciando de nós e dando tchau com a mão de longe
- Eu queria que Bora fosse livre dessa vida, eu sinto tanto por ela. - Falei a Nong que apenas me encarou. - A mãe dela pensa apenas em 1 coisa, dinheiro. - Expliquei e Nong logo captou a mensagem por cima, e vi Bora passar de carro por nós e dar tchau novamente, e por um momento, apenas desejei que Bora ficasse bem.
***
Na manhã seguinte como estava com pouco serviço fui até o andar da presidência conversar com Mei, antes do horário do almoço.
- Humm Mei? - Eu puxei assunto antes dela sair. - Você também vai no chá de bebê?
- Você quer dizer a festa do sobrinho do presidente? - Ela perguntou parando bem na minha frente.
- Sim. - Respondi animada.
- Por que me convidariam? - Ela riu da minha pergunta.
- Então, você não vai? - Perguntei assustada e ela apenas negou com a cabeça.
- Mas, se você não vai, é correto eu ir? - Perguntei. - Já que nenhum funcionário foi convidado a não ser eu, por que devo ir?
- Sophie, quer um conselho meu? - E eu balancei a cabeça afirmando. - Você deve ir sim! - Respondeu ela. - Eu estou na empresa a quase dois anos e não vi ninguém que ousou desobedecer as regras do chefe, então, você quer ser a primeira pessoa? - Perguntou ela, e aquilo me assustou.
- Lógico que não Mei, ele é muito assustador. - Imaginei a cena. - Quem ousaria? - Mei apenas sorriu para mim e balançou a cabeça como se não acreditasse no que eu estava falando, em seguida ela apenas se despediu de mim sem me responder mais nada.
Como ainda faltavam 5 minutos para o almoço, desci até o térreo para encontrar Nong, e para minha sorte, o assistente do presidente estava parado esperando alguém na entrada da empresa, e acredito que ele saberia me dar a resposta que eu procurava.
- Olá, Lim Jae-Beom? - O chamei e ele me olhou sorrindo.
- Senhorita Sophie. - Me cumprimentou. - Já vai almoçar?
- Sim, estou indo encontrar alguns amigos. - Sorri. - Mas antes, eu tenho algumas coisas para te perguntar, lógico, se você estiver disponível.
- Qual é o problema? - Me olhou sério e eu olhei para os dois lados antes de finalmente fazer a minha pergunta e ele fez o mesmo gesto que eu.
- É sobre o presidente Wang. - E tomei coragem antes de continuar a pergunta. - Só ... hum ...queria saber se realmente não tem quem se atreva a desafiar os desejos do presidente? - Ele continuou a me ouvir. - Eu ouvi quando entrei na empresa que o presidente era feroz a primeira vista, e queria saber, ele realmente é? E se sim, o quão feroz ele é? Você já o viu sendo assim?
- Sim, eu já vi, principalmente quando é algo relacionado ao trabalho. - Ele respondeu.
- Disso eu sei, repreender por erros no trabalho é algo normal. - Falei como se fosse o óbvio. - Mas o que quero saber é se eu for contra a vontade do presidente, o que vai acontecer? - E quando ele ia responder uma voz atrás de mim respondeu primeiro.
- Redução de salário!!
- Quanto é isso? - Respondi no automático, mas quando me virei para a voz, lá estava ele, de pé ouvindo toda a nossa conversa.
- Se é um período de experiência... - Ele deu uma pausa. - É demitido da empresa. - E eu fiz uma cara de espanto. - Você quer ir contra mim? - Me desafiou e eu apenas neguei com a cabeça. - Isso é bom! - E saiu andando em direção ao carro.
- Eu estou indo. - Respondeu o assistente e eu apenas acenei com a cabeça.
- Ele pensa que é quem? A última bolacha do pacote? - Falei para mim mesma enquanto via o carro dele se afastar.
Caminhei até o restaurante que fica do outro lado da rua, e encontrei Bora e Nong sentadas apenas me esperando.
- Desculpe o atraso, eu estava falando com o JB quando o Sr Wang apareceu. - Expliquei.
- Ui, falando com o assistente do presidente? - Brincou Nong.
- Eu fui perguntar para ele o que acontecia quando vamos contra a vontade do presidente, e adivinha quem apareceu bem na hora?
- O presidente? - E eu balancei a cabeça confirmando.
- Quem vê de longe acha que eu quero muito participar da festa do sobrinho dele. - Suspirei bagunçando meu cabelo nervoso. - Eu vou ter que arcar com custo de roupa, preço do presente ... - Fui fazendo as contas na mão.
- E no final acabaria indo a falência. - Complementou Nong e começamos a brincar, mas quando olhei para Bora ela estava séria e nem havia tocado em sua comida.
- Bora? - A chamei e ela não me ouviu, então chamei mais duas vezes até ter sua atenção. - Qual o problema? - Perguntei.
- Humm... não tem problema nenhum. - E sorriu disfarçando. - Já que todas nós saímos, vamos encontrar algo divertido a fazer, que tal?
- E o que seria? - Perguntei.
- Encontrar a roupa perfeita para você ir à festa. - Ela respondeu animada.
- Vamos então? - Perguntei e logo o garçom veio trazer a conta.
***
Como eu não almocei a comida que o presidente havia me enviado, eu coloquei em uma marmita a parte para levar para casa e depois comer, limpei a dele e fui deixar na recepção da presidência e encontrei Mei fazendo algumas coisas.
- Sophie, eu já ia te ligar. - Falou ela acabando de digitar alguma coisa no computador e em seguida pegou algo em sua bolsa.
- Por que? - Perguntei curiosa. - Aconteceu alguma coisa?
- Eu tenho um presente para te dar, e espero que você use hoje. - Falou me entregando o batom.
- Sério? Eu amei a cor Mei.
- Eu acho que combina bastante com você. - Respondeu.
- Você realmente está dando para mim? - Perguntei sem graça com seu presente.
- Claro, por que eu mentiria sobre isso? - Perguntou ela. - Eu ganhei uma promoção, leve um e ganhe outro, e quando vi a cor pensei em você de imediato.
- Se for deste modo, então muito obrigada. - Respondi guardando o batom. - Prometo que usarei hoje no aniversário. - E novamente agradeci. - Estou de saída Mei, tenho algumas coisas para terminar e depois vou me arrumar aqui mesmo. - E enquanto eu virava sem prestar atenção, acabei batendo em algo, e percebi pelo olhar quem se tratava, ele apenas olhou para chão, e foi aí que eu me toquei que estava pisando em seu sapato caríssimo.
- Ai meu Deus!! - Gritei espantada e dei um salto pra trás. - Me desculpe senhor, não era minha intenção. - E ele continuava com um semblante indefinido. - Não foi de propósito, eu juro. - Me curvei em sua direção e ele apenas passou reto
- Edite isso aqui de acordo com as minhas instruções, por favor? - Pediu entregando uma pasta a Mei.
- Sim Chefe. - Respondeu ela de imediato, enquanto eu pegava alguns lenços de papel, e me ajoelhava para limpar a marca que havia ficado no sapato dele.
- Me desculpe Presidente, eu já estou limpando. - Falei enquanto ele se virava.
- Não precisa fazer isso! - Respondeu ele com seu jeito autoritário me puxando pelo braço para me levantar do chão, e ao fazer isso nosso rosto ficou tão próximo que a respiração tinha virado um apenas, e assim ficamos por uns 10 segundos, até que voltamos a realidade.
Enquanto eu me levantava e o Jackson me dava apoio, acabamos nos confundindo com os movimentos e eu quase cai novamente, mas antes que isso acontecesse, ele segurou meus dois braços e me puxou pra frente, fazendo com que meu rosto acertasse seu peitoral, e desta vez, voltamos a nós encarar, eu podia jurar que tinha visto um sorriso escondido.
Jackson soltou meu braço e me olhou pela última vez antes de sair da recepção e caminhar lentamente para seu escritório, e eu fiquei ali, imaginando mil coisas, mas ao mesmo tempo quebrando todas as minhas expectativas.
- Obrigada! - Sussurrei enquanto observava ele se distanciar.
- Sophie ... - Chamou Mei, mas eu estava ocupada demais em meus pensamento. - Sophie. - Chamou ela pela segunda vez e a encarei sem dizer nada. - Como se chama isso? - Percebi seu olhar cheio de segundas intenções. - Dançando com a funcionária?
- Mei, você está louca? - Perguntei fingindo não entender o que ela quis dizer. - Vou trabalhar! - Falei enquanto saia de lá o mais rápido possível, nem dando tempo para Mei responder.
***
E finalmente havia chegado o grande dia, e como seria apenas a noite, eu levei todas as minhas coisas para o escritório pois iria otimizar meu tempo.
E na hora do almoço, a senhorita Park deixou em cima da minha mesa a marmita, só que desta vez continha um bilhete "Te vejo hoje a noite na festa!".
- Quem será que deve ter escrito?- Pensei comigo, e minha mente começou a criar mil e uma possibilidades, como por exemplo, será que foi o presidente que escreveu isso? Ou foi sua irmã? Não era possível ser dele, e acredito que nem era ele que mandava o almoço, deveria ser outra pessoa.
Meus pensamentos foram interrompidos quando o pessoal do meu time chegou e começou a fazer piadinhas.
- Uau, Sophie virá na festa da casa do presidente.
- Não é na casa do presidente. - Respondi. - Eu já disse que só fui convidada porque ajudei ele uma vez. - Falei sem graça.
- É mesmo? - Perguntou outro e eu apenas sorri sem graça confirmando com a cabeça.
- Olá pessoal! - Se aproximou uma moça de onde estávamos. - Sou a Gina, estou começando hoje aqui, sou do Departamento de Marketing.
- Seja bem vinda Gina. - Me levantei cumprimentando ela. - Sou Sophie do departamento de contabilidade.
- Prazer. - Ela sorriu. - Que legal, você traz seu próprio almoço? - Perguntou ela apontando para a marmita. - Nada mal. - E eu novamente fiquei sem graça.
- Que nada, é um almoço oferecido pela empresa e enviado diretamente de cima, em outras palavras, do escritório do presidente. - Falou uma das meninas do departamento.
- Sim. - Confirmou o restante do pessoal.
- Ah, é assim? - Respondeu Gina, e percebi pelo seu tom de voz, uma certa inveja? Talvez.
- Vou pegar água, licença. - Respondi me levantando.
