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Capítulo 1 A reunião

Hailey

— A gente realmente precisa encontrar eles hoje, mãe? — resmunguei, calçando minhas botas enquanto descansava na cama dela. Não eram as botas que me incomodavam, mas esses encontros surpresa que ela me arranjava.

— É, esse é o plano — ela disse, passando um pouco de blush, sempre elegante. — Antes que você comece o discurso de "por que você não me contou antes", eu sabia que você ia correr pra passar a noite e o dia com a Isla. É por isso que eu soltei essa bomba agora.

Ela tinha razão. Se tivesse escolha, eu preferiria mil vezes relaxar na casa da Isla do que ir a essa reunião familiar de última hora. Tipo, sério, qual é?

Coby e eu já nos conhecíamos. Essa coisa toda parecia armada por causa daquele pequeno demônio — sim, eu já tinha apelidado ele assim. O filho do Coby, Damien ou sei lá o quê, tem uns onze ou doze anos, eu acho. Eu tava muito ocupada no meu celular quando mamãe falou dele.

Mas aqui tá o problema: o novo irmãozinho.

Cara, se ele for chato como eu suspeitava, eu provavelmente ia surtar e puxar a orelha dele. Eu não fazia ideia do tamanho dela, mas devia dar pro gasto.

— Você sabe que eu não sou fã de crianças, né? — revirei os olhos. O segundo casamento da mamãe até que foi legal; Coby a fazia feliz, a única pessoa depois do meu pai — felizmente morto — que colocou um sorriso no rosto dela.

— Sim, eu sei que você odeia crianças — ela riu —, mas acredita em mim, você não vai odiar ele.

— Claro que vou. Irmãos são tão irritantes — eu me encolhi. — Especialmente os mais novos. Eu vejo como a Isla sofre. A última coisa que eu quero é meu próprio pequeno demônio. Você não podia ter encontrado outra pessoa? Alguém sem filhos?

— Hailey, se acalma — mamãe riu, ajeitando o cabelo enquanto se levantava, deslumbrante — ela tinha esse dom — sempre deslumbrante e perfeita. — Ele não vai ser problema. Damien é bem na dele.

— Na dele? É uma criança de onze anos, mãe! — olhei pra ela incrédula.

Sério, ela tava brincando comigo?

Mais uma vez, sua risada encheu o quarto, dessa vez enquanto borrifava um pouco de perfume.

— Chega de papo, coloca isso. — Ela me entregou uma pulseira delicada. Ela sempre me ajudava a me arrumar porque eu era um desastre. Sempre que eu tentava, o armário virava um caos — bagunçado e desleixado, era assim que eu era. Francamente, eu não podia ligar menos pra isso. Hoje, com um friozinho lá fora, usei um suéter bege simples e legging preta, junto com um gorro e botas grossas. Agradeci a todas as divindades que minha mãe não me obrigou a usar alguma roupa chique porque eu era péssima nisso.

— Você é quem vai se casar. Por que eu tenho que me arrumar tanto?

— Porque você é minha filha.

— Esse não é um motivo válido.

— É perfeitamente válido. Se não te convence, inventa seu próprio motivo — ela retrucou. Percebendo que eu ainda não tinha colocado a pulseira, ela agarrou minha mão e a prendeu no meu pulso antes de me encharcar com o perfume dela.

Nossa, eu odiava esse cheiro.

— Mãe, não! — me afastei rapidamente, franzindo o nariz. — Eu odeio esse cheiro!

— Eu odeio esse que você usa. É muito doce — ela devolveu, fazendo careta e tentando borrifar mais spray, mas eu me esquivei.

— Prefiro aromas doces. Os seus são muito fortes — resmunguei, pegando meu perfume habitual na penteadeira dela e me encharcando com ele pra mascarar o dela.

— Tá bom, faz do seu jeito — ela cedeu, vestindo seu sobretudo branco e pegando as chaves do carro. — Vamos, não podemos nos dar ao luxo de nos atrasar.

Dei um suspiro de alívio quando ela pousou o perfume, mas quando ela saiu do quarto, um pensamento me ocorreu.

— Espera, não devíamos comprar uns chocolates pro Damien? — alcancei ela. — Ele é só uma criança! Pode ajudar ele a se aproximar da gente se trouxermos algo assim.

...

Chegamos ao restaurante, que era do Coby, um entre os muitos que ele tinha pelo país. Além de ser gente boa, minha mãe deixou bem claro que Coby era podre de rico. Eu não entendia bem por que esse fato importava, mas tinha aprendido a guardar isso na mente. Suspeitei que ela enfatizava isso porque não estávamos numa boa situação financeira durante quase toda nossa vida.

Talvez ela quisesse que eu percebesse que agora eu poderia ter tudo o que eu quisesse? Talvez, sei lá.

Ao entrar no restaurante, Coby nos esperava no saguão.

Observei o rosto da minha mãe se iluminar com um largo sorriso ao vê-lo, e a expressão dele refletiu essa alegria quando seus olhos encontraram os dela.

— Oi, queridas — Coby caminhou até nós, sempre impecavelmente vestido num terno. Toda vez que nos encontrávamos, quando ele estava nesta cidade, ele tinha acabado de sair correndo das reuniões de negócios ou outros compromissos oficiais. Ele era um homem ocupado, e eu admirava como ele sempre arranjava tempo pra minha mãe, entendendo quanta atenção ela precisava pra funcionar.

Ele envolveu minha mãe num abraço.

— Meu Deus, senti sua falta.

— Eu também senti sua falta, amor.

Nossa! Eles literalmente saíram ontem.

Depois de um beijo rápido na bochecha dela, Coby se virou pra me abraçar.

— Ei, Hailey.

— Ei.

— Juro que toda vez que vejo ela, parece que ficou um ano mais nova — ele riu, roubando meu gorro e bagunçando meu cabelo.

— Isso foi ofensivo, Coby.

— Você é adorável, Hailey. Não consigo evitar — ele riu antes de nos levar pra dentro. Mamãe, sendo ela mesma, pegou um pente da bolsa e me entregou.

— Arruma isso.

— Nem adianta. Seu noivo vai estragar tudo de novo — brinquei alto o suficiente pro Coby ouvir, provocando outra risada dele. Claro, esse era o hábito dele sempre que eu estava por perto. Ele me tratava como uma criança, o que eu não era.

— Você nunca me escuta, garota — suspirou mamãe, guardando o pente de volta na bolsa enquanto eu penteava meu cabelo pra trás com os dedos.

— Aqui, senta — Coby puxou cadeiras pra mamãe e depois pra mim.

— Então, onde tá o Damien, querido? — perguntou mamãe enquanto nos acomodávamos.

— Ele tinha que resolver algo importante, amor. Ele vai chegar a qualquer momento. Você sabe como ele leva a sério a pontualidade.

Espera aí, o que uma criança teria de tão importante pra resolver?

Antes que eu pudesse questionar, notei os olhos de Coby se voltando pra entrada.

— Parece que ele já chegou.

Virei pra porta esperando o pirralho que eu imaginava, mas, em vez disso, um Adonis beijado pelo sol entrou, vestido com um terno preto elegante. Seus olhos eram de um cinza cativante, suas maçãs do rosto marcadas, seu nariz reto e definido. Sua pele bronzeada brilhava sob as luzes quentes, destacando suas feições esculpidas e seu maxilar afiado, enquanto seus lábios eram perfeitamente carnudos e rosados.

Uau!

Ele era mesmo humano?

Espera, por que eu tava me distraindo? Eu ainda não tinha conhecido aquele pirralho — quero dizer, Damien. Esse homem que tinha entrado não podia ser o garoto que eu tava esperando. Mas a reação do Coby... Esse cara podia ser o tutor do Damien? Talvez Coby precisasse de alguém pra cuidar do filho, já que vivia ocupado.

Sim. Ele tinha que ser o tutor.

Mas, por outro lado, quem contrata um homem tão lindo, gostoso, sexy e tentador pra cuidar de uma criança? Além disso, quem veste eles desse jeito? A essa altura... eu tava com um pouco de inveja do Damien, mesmo não tendo conhecido aquele pequeno demônio ainda.

Surpreendentemente, o homem se aproximou de nós e vi mamãe e Coby se levantarem.

— Ei, querido — mamãe o abraçou, ao que ele retribuiu sem muito entusiasmo. Seus olhos tempestuosos encontraram os meus por um instante, e eu congelei na cadeira.

— Oi, Madison — seu tom não tinha calor, diferente de seu rosto convidativo, enquanto ele se sentava à nossa frente, ao lado de Coby.

— Por que demorou tanto? — perguntou Coby.

— A reunião foi um pouco mais longa, e tinha alguns documentos pra finalizar. Eu precisava concluir tudo em uma hora — suas mãos se moveram lentamente pra tirar o casaco, e por um momento, achei difícil respirar.

Quem era ele? Sei que parece idiota, mas minha mãe deixou bem claro que Damien era o filho de onze anos do Coby, que eu deveria tratar bem, como uma irmã mais velha.

Ficou mais difícil tirar os olhos daquele homem agora que ele guardava o casaco, revelando uma camisa branca por baixo e os músculos firmes enquanto ele desabotoava os primeiros botões.

Caramba.

Algo estava errado comigo. Meu coração... parecia que ia explodir.

— Hum... onde tá o Damien? — finalmente perguntei pra manter a compostura.

Uma risadinha escapou dos lábios de Coby, seguida pela da mamãe, enquanto um pequeno sorriso puxava o canto dos lábios do estranho, seus olhos agora fixos em mim, brilhando de diversão.

— Eu falei algo engraçado?

— Onde você acha que o Damien tá? — perguntou mamãe, segurando o riso.

— Na escola, talvez?

— Diz pra ela — Coby de repente deu um tapinha nas costas do estranho, rindo. — Fala pra ela onde o Damien tá.

O sorriso no rosto do estranho se alargou, e meu coração disparou sem querer, minhas mãos ficaram suadas e meus sentidos se aguçaram.

— Bem — ele começou, sua voz suave como seda —, não sei qual Damien você tá procurando, Coelhinha, mas posso garantir que o Damien que sua mãe pode ter mencionado sou eu.

Puta merda!

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