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Capítulo 5

5 - Mia Lauren Hudson

Mas se você tem alguém que estará lá por você, alguém com quem você possa contar, você ficará bem. Você tem alguém assim?

- How I Met Your Mother

Kayla e eu estávamos sentadas em um café próximo a NewScene. Eu engolia um café quente pra tentar aliviar o clima frio entre as minhas entranhas. Não tenho certeza se era pela neve lá fora, ou o que eu decidiria em poucas horas.

Eu estava eufórica e ao mesmo tempo arrependida. Eu sei que não deveria estar ali, não deveria desobedecer a Bradley e eu nunca confrontei uma palavra sua e isso me fazia pensar qual seria a versão dele que falaria comigo quando eu voltasse. De todas as versões que meu marido tinha, em nenhuma ele era compreensivo e amável, ele era... Bradley.

- Tá pensando no quê? - A voz da minha amiga me arrancou de meus pensamentos. Eu apenas balancei a cabeça em negação alegando que não era nada.

Kayla foi a única pessoa que me sobrou e a quem eu confiava completamente, mas ela odiava meu marido e eu sei que falar dele naquele momento não ajudaria nenhuma de nós duas. Mas a minha amiga me conhecia...

- Eu não entendo por que você insiste nessa merda. - Irritação brotou em sua voz.

A encarei. Os seus olhos azuis feito uma manhã de verão me fitando, séria, o cabelo platinado de azul e branco me acusaram que eu deveria falar alguma coisa.

- Ele é meu marido, Kayla. - Falei, como se aquilo diminuísse a dor que ficava em meu coração quando ele não cumpria o seu papel.

- É exatamente isso. - Ela cruzou as mãos sobre a mesa. - Ele é seu marido, mas não é o seu dono. Você é submissa a ele e você sabe disso.

Soltei um longo suspiro.

Não era bem assim. Eu não era submissa a ninguém, eu só tinha medo do que ele fosse capaz de fazer quando eu não seguisse suas ordens, eu só era... Uma submissa?

- Você não entende. - Deixei o café de lado. - Eu não posso sair disso. Eu me casei pra ser pra sempre e eu... Eu o amo. - Baixei os olhos.

Vi o seu movimento de balanço com a cabeça e um longo suspiro.

Ela não podia me culpar por amá-lo. Ninguém deveria culpar ninguém por amar alguém, nós não temos escolha quando se trata disso. Tudo que temos é a sensação do batimento do coração acelerar toda vez que seu nome é pronunciado.

- Você precisa ser feliz. – Sua voz estava franca. - Sério, Lauren, você acha que será feliz com ele? – ela insistiu nisso. - Você não é feliz com alguém te violenta.

O quê?

- O quê? - Meus pensamentos saíram por meus lábios. - Bradley nunca bateu em mim. Eu nunca permitiria isso.

Um sorriso curto brotou em seus lábios.

- Ele nunca bateu em você, mas não a deixa cortar o cabelo, - eu sempre quis cortar meu cabelo. - Ele nunca te bateu, mas não te deixa pintar a unha de uma cor escura. – Eu sempre quis pintar minha unha de preto, e Kayla continuou: - Ele nunca te bateu, mas você tem que pedir permissão toda vez que sair, tem que sentir medo quando chega perto dele. Ele nunca te bateu fisicamente, Lauren, mas eu aposto que seu coração é cercado de hematomas das palavras frias que saem da boca dele. E não venha arranjar uma desculpa para tudo isso porque não tem.

E eu não tinha. Eu nunca entendia o porquê ele me privava de tudo que me fazia feliz, eu nunca entendia por que parecia lhe dar prazer me ver com os olhos marejados.

- E o que você sugere que eu faça? - Umedeci os lábios e encarei seus olhos. - Que eu o traía?

- Não é diferente do que ele faz com você. - Suas palavras saíram rápidas do mesmo jeito que facas encontraram meu coração.

Eu sabia que Bradley saía com outras mulheres, eu sabia que ele nunca foi fiel a mim, mas ouvir aquilo da boca de alguém, da boca da pessoa mais sincera do mundo, fez a dor aumentar. Eu nunca fui suficiente pra ele mesmo eu não entendendo. Eu fazia de tudo pelo meu marido, tudo que ele pedia eu fazia. Mas parecia que ele se importava mais com as atrizes de seu estúdio do que comigo.

Eu queria não me sentir mal, queria poder ver tudo que Kayla sempre me mostrara e tentar ser feliz outra vez, mas aquilo partia para o meu caráter e eu não podia. Eu nasci pra ser mulher de um homem só. Eu esperei um homem só. Eu amei apenas um homem.

- Hum... Me desculpa, Lauren. - Disse minha amiga, quando percebeu que suas palavras me fizeram sair em devaneios.

- Não, Kayla. Tudo está bem. - Falei a minha frase padrão, mas sem verdades. - Eu vou me amar agora. Vou tentar ver algo além de como eu sou menor do que qualquer outra pessoa.

Ela só não entendia que há tempos eu já tentava, mas eu não conseguia. Lutar contra sentimentos é ter a certeza de que nessa guerra você sairá derrotado, perdido e danificado.

- Bom, eu preciso ir. - Não queria prolongar aquele assunto e olhei o relógio. - Está chegando a hora. - Sorri.

Um sorriso grande também pintou no rosto de minha amiga e ela se levantou até a mim.

- Eu desejo que tudo dê certo, minha Lauren. - Ela segurou meus ombros. - Desejo que você voe e se levante a cada queda que encontrar, mas nunca, em hipótese alguma, desista de você mesmo, desista de ser quem você é. E você não é essa garota medrosa, é uma grande mulher. É Mia Lauren. - Então ela me abraçou.

Me prendi ao choro preso em minha garganta. Eu adorava me sentir especial, gostava que as pessoas dissessem algo bom sobre mim, e fazia tanto tempo que eu não ouvia nada disso que aquelas palavras me motivaram.

- Agora vai. - Kayla beijou minha bochecha. - Vá e conquiste o seu próprio mundo e acredite em você.

Então eu fui.

E foi surpreendente me deparar com os pares de olhos azuis mais incríveis que vi na vida, foi surpreendente saber que eu era especial e bonita, e mais surpreendente que isso, foi meu coração ter dançado. Foi ver sentimentos desconhecidos invadir as janelas de dor do meu coração.

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