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Capítulo 5 - Foi tudo culpa minha...

Vesti-me da melhor maneira possível no pouco tempo que tinha, apesar de não ter descansado praticamente nada nas últimas 36 horas e de ter bolsas que mal podia disfarçar com maquiagem, não consegui me conter quando senti que havia tanto em jogo.

- Bem-vindos..." Uma garçonete se aproximou de nós. - Trago-lhes o cardápio...

- Estamos esperando por alguém, assim que estivermos cheios, faremos o pedido... - explicou Lucas à jovem.

- Bem... O senhor e sua esposa gostariam de pedir algo para beber enquanto esperam? - perguntou a moça com o caderno na mão, pronta para anotar.

Esposa? Como essa moça pode achar que aquele homem pode ser meu marido, levantei uma sobrancelha, desconfortável com a confusão, sem querer ofender, mas meus padrões eram muito mais altos.

- Desculpe-me, mas ele não é... - tentei esclarecer a situação, quando Lucas me interrompeu.

- Sim, vamos tomar uma taça de vinho cada um. - Ele pediu, a moça anotou e saiu.

Fiquei atônita, enquanto Lucas me olhava presunçosamente com um sorriso torto.

- O que ele pensa que está fazendo, por que não disse a ela que não é meu marido? - murmurei indignada, ele deu de ombros, muito casual.

- Achei engraçado..." lancei-lhe um olhar ameaçador. - Relaxe, Sra. Golf. - Lucas ajeitou a gravata e esticou um pouco o terno, como se o resto não tivesse importância. - Já estamos na Ásia e logo resolveremos seu problema... Poderia se acalmar um pouco? Já estou um pouco desconfortável com seu nervosismo, só achei engraçado, só isso?

- Engraçado? O que há de tão engraçado nisso? - sibilei irritado.

- Ah, claro... eu me lembro. - Lucas se recostou em seu assento. - Não sou seu tipo, mas não se preocupe, minha intenção era apenas me divertir... Para ser sincero, você também não é meu tipo.

- O quê? O que você quer dizer com isso?

Que eu não era o seu tipo? Você poderia ser mais desagradável? Bem, isso era verdade, eu não era seu tipo porque estava acima do seu nível.

- Bem, só estou dizendo que não sou do tipo que gosta de mulheres irritadas... Talvez se eu sorrisse com mais frequência...

- Ha! - eu disse sarcasticamente. - Não sou rabugento, Sr. Black, se é isso que quer dizer, você acha que é fácil administrar uma empresa sem experiência? Só estou um pouco estressado..." cruzei os braços, recostando-me na cadeira. - Não sei como a Ava consegue...", resmunguei cansado.

- Ava?

- Minha irmã... - Lucas olhou para mim com uma careta e, depois de um suspiro, expliquei. - Minha irmã gêmea, seu nome é Ava, ela mora nos Estados Unidos e administra a sede da empresa da família, não sei como ela faz isso, mas todos a respeitam e ela conseguiu melhorar incrivelmente o desempenho do escritório... - Lucas ficou em silêncio por um minuto, pensativo.

- E você não acha que se ela conseguiu fazer isso, você também conseguiria facilmente se se empenhasse? Por que você não liga para ela e pede conselhos?

- Bem... Eu... A verdade... É complicado. - A garçonete veio e nos serviu taças de vinho. - Obrigada, e só para que você saiba, ele não é meu marido. - expliquei à jovem, que assentiu surpresa e se virou para sair.

Peguei minha taça e comecei a beber, detalhando todo o restaurante, eu não queria continuar essa conversa com Lucas, mas podia sentir seu olhar intenso sobre mim, o que aumentava meu nervosismo.

Pedir conselhos à minha irmã? Só de lembrar do nosso último encontro, há alguns dias, eu sabia que essa não era uma opção para mim.

*

Flashback:

Depois de descobrir que eu estava me passando por minha irmã, Alex Grand saiu de casa para encontrar Ava em Paris, deixando-me lá, perplexa, cheia de um forte sentimento: inveja.

Foi muito frustrante perceber que minha irmã tinha tudo o que eu sonhava, enquanto, ao mesmo tempo, eu estava perdendo tudo... Fiquei desamparada e, por um instante, como um furacão, quis agarrar tudo ao meu redor para jogar fora ou quebrar.

Mas isso não aconteceu, porque naquela ocasião, como costumava acontecer, a raiva não me cegou, mas se transformou em uma tristeza profunda, algo que nunca havia acontecido comigo antes.

Fui para o quarto e me joguei na cama, onde chorei até dormir, sentindo que estava esgotando tudo o que não havia jogado fora em toda a minha vida. Minha irmã teve muita sorte, ela tinha alguém que realmente a amava, como ela era e sem hesitação... E eu? Eu estava sozinha e, a cada dia, a solidão me envolvia mais e mais.

Na manhã seguinte, levantei-me um pouco cabisbaixo, tomei um banho e peguei um roupão que imaginei ser o de minha irmã, calcei também seus chinelos, ela certamente me notaria, e desci para tomar o café da manhã.

Quando voltei da sala de jantar, bem na sala de estar, fiquei atônito, minha irmã, Ava, estava na minha frente.

- Ava! - gritei no automático.

O que havia acontecido, Alex já estava de volta com minha irmã? Não, isso era impossível, a menos que ela tivesse um teletransportador. Ela deve ter voltado sozinha, não conseguiu encontrar Alex e isso significava que ela não sabia nada sobre o que eu tinha feito ou estava tentando fazer.

- Eva, que diabos você está fazendo aqui, o que está fazendo na minha casa? - Ela perguntou visivelmente confusa, confirmando minha suspeita.

Levantei-me com raiva e arrogância e sorri para minha irmã de forma presunçosa.

- Vim conhecer seu misterioso marido, há algum problema? - Dei de ombros como se nada estivesse errado.

Nesse momento, Martina, a empregada da casa de minha irmã, entrou na sala de estar com uma bandeja nas mãos, na qual havia servido alguns biscoitos e o chá que eu havia pedido. Quando viu a mim e a Ava na minha frente, Martina tirou a bandeja de suas mãos, chocada.

Bem, a reação dela foi normal, eu havia chegado na noite anterior fingindo ser Ava com menos peso, é claro, agora ela estava com nós duas, cara a cara, e tenho certeza de que ela não sabia que minha irmã tinha uma gêmea.

- Oh, meu Deus, há dois deles, há dois deles! - Martina gritou, levando as mãos à boca.

- Martina, se acalme. - Ava falou com ela, tentando acalmá-la. - Nós somos gêmeas, ela é minha irmã.

- Sra. Ava! - A mulher caminhou em direção a ela, parecendo assustada. - Sinto muito! Todos aqui pensaram que ela era a senhora! Sinto muito! Estávamos errados!

Detalhei a expressão de minha irmã e, aparentemente, ela já havia entendido o que eu estava fazendo em sua casa.

- Acalme-se, Martina. - Ava pegou as mãos de Martina, que parecia bastante chateada. - Não se preocupe, não é sua culpa.

- E... E..." A mulher olhou para a barriga da minha irmã. - Você está grávida! - exclamou ela, com os olhos arregalados.

- Estou mesmo. - Ava sorriu em resposta, deslizando uma de suas mãos até a barriga. Não sei por que, mas vê-la naquele estado me deixou mais irritado. - Pode nos deixar em paz, Martina? Tenho muita coisa para resolver com minha irmã. - A mulher saiu e Ava se virou para mim. - Não acredito que você tenha se rebaixado tanto. - Ela rosnou com cautela. Eu, por sua vez, tentei conter um sorriso.

- Que eu tenha me rebaixado tanto, quer dizer que você estava se esgueirando com Ethan, grávida do filho de outra pessoa? - perguntei com um sorriso presunçoso ao ver os olhos de Ava se arregalarem, pois ela havia sido descoberta. - É isso mesmo! Eu sei! Eu os vi!

- Isso não quer dizer nada! Ethan queria falar comigo para se desculpar e pronto! - Ela tentou me convencer.

Será que ela achava que eu era burra? Ethan pedindo desculpas? Eu nunca acreditaria em uma coisa dessas, especialmente depois de viver com ele e conhecê-lo tão bem.

- Isso não é verdade e você sabe disso! Ethan precisou vê-la tantas vezes para um pedido de desculpas estúpido? Eu sei que houve vários encontros! Mentirosa! - refutei, sentindo meu peito se encher de dor profunda.

- Você tem me seguido?! Está louca?!? - gritou minha irmã.

- Por que você voltou, não estava tão feliz com o Ethan? - perguntei, olhando para ela com raiva.

- Do que você está falando, Eva? Esta é a minha casa! Eu voltei para a minha casa! Você é a intrusa aqui!

Intrusa? Ela me chamou de intrusa? Ela me chamou assim? Ela me chamou assim? Ela me chamou assim? Ela me chamou assim? Ela me chamou assim? Ela me chamou assim? Ela me chamou assim? Ela me chamou assim? Ela me chamou assim? Ela me chamou assim?

Assim como me doeu ver minha irmã com Ethan, ela passaria pela mesma dor quando descobrisse o que eu tinha feito com o marido dela, mesmo que fosse mentira.

- Acho que isso não vai acontecer por muito tempo. - declarei, sorrindo maliciosamente.

- O quê?

- Sim, eu aceito, eu traí o Alex, fingi ser você, mas assim que provamos nosso espetacular reencontro na cama... Uffff... - abanei a mão como se estivesse com calor. - Não consegui mais esconder, contei a Alex toda a verdade e o que sua esposa vagabunda estava fazendo pelas costas dele em Paris com seu ex-namorado.

- O quê?! - Ela estremeceu, o que achei que me deixaria satisfeito, mas tive uma sensação desagradável.

- Espero que tenha vindo aqui com a intenção de assinar o divórcio. Volte para Ethan para que Alex possa ser feliz com uma mulher que esteja à altura de seus padrões. - Terminei, tentando expelir todo o meu veneno, embora no fundo ele parecesse tão amargo para mim quanto para ela.

- Não.

Os olhos de Ava se encheram de lágrimas, o que me fez sentir um nó na garganta, não sei por que, eu não queria sentir isso, minha intenção era me sentir plena e feliz com minha vingança, não pior do que já estava.

- O quê? É melhor você deixá-lo de uma vez por todas, afinal, você já o havia deixado, não é mesmo? - insisti, cheio de amargura.

- Eu não o deixei, ele o amava. - Ela afirmou, tentando parecer forte.

- Você o deixou, largou-o, e agora, com tudo o que Alex sabe, é apenas uma questão de tempo até que tudo acabe?

- Eu não vou deixá-lo e ele não vai me deixar. Pare de atrapalhar meus relacionamentos! Pare com sua obsessão ridícula com meus parceiros de uma vez por todas! E não me importa se você o traiu ou que tipo de truque usou para manipulá-lo, desta vez não vou me afastar, como fiz com Ethan! Alex é meu! Eu o amo e ele me ama! - Ava gritou, segurando as lágrimas e cerrando os punhos. Fiquei chocado, ela nunca havia reagido assim antes, sempre foi muito submissa. - Onde ele está?!

- Onde ele está?

- Onde ele está, Alex? - Ela perguntou e começou a andar pela sala, chamando pelo marido.

- CHEGA! ELE NÃO ESTÁ AQUI! - gritei a plenos pulmões, atônita com a reação de Ava.

- Onde ele está? - insistiu minha irmã.

- Não sei! Talvez ele tenha ido ao escritório! Assim que lhe contei a verdade, ele saiu e parecia muito chateado, se não furioso. - Continuei com minha mentira, não ia desistir, eu não era esse tipo de pessoa.

Ava foi direto para a saída, pronta para sair, provavelmente para procurar seu marido, mas antes de atravessar o corredor para a saída, ela se virou para mim, mais uma vez.

- Eva! Não sei qual é o seu problema comigo, mas isso tem que parar, você tem que crescer e... recomendo que saia da minha casa, antes que eu volte para o meu marido. - Ela saiu, deixando-me com uma sensação de desconforto. Uma hora depois, eu estava saindo com minha mala para voltar a Paris.

Ava descobriria que tudo o que eu disse era mentira e eu não me importava, só queria sentir que havia me vingado do que fiz e que havia sentido a mesma dor e raiva que senti quando a vi com meu ex-marido.

*

O Sr. Huan Yue não era nada do que eu esperava, bem, Lucas havia me dito que ele era um homem muito formal e correto, mas durante todo o jantar, ele não fez nada além de beber e rir com Lucas por coisas estúpidas que eu não entendia.

- Tudo bem, meu amigo, me dê a lista certa de tecidos... E não se esqueça de que está me devendo uma. - Yue falou com Lucas com uma certa cumplicidade.

- Claro, claro... O que você precisar, irmão. - Lucas respondeu, estendendo sua mão em um aperto firme. - Sra. Golf, poderia me passar a lista?

Eu estava absorto tentando entender o que estava acontecendo entre aqueles dois, ou talvez fosse a quantidade de vinho, somada ao meu cansaço, que me deixava como um zumbi, mas naquela reunião importante, eu parecia ser o assistente de Lucas e não o contrário.

Eles continuaram conversando e ouvi o telefone na minha bolsa tocar. Olhei para a tela e percebi que era minha mãe. Respirei fundo, ignorando a ligação e colocando o aparelho no modo silencioso.

Algum tempo depois, Huan Yue estava se despedindo e aproveitei a oportunidade para verificar meu telefone novamente, tinha muitas chamadas perdidas de minha mãe, o que era estranho, algo importante deve ter acontecido.

- Vamos levar essa para casa? - Lucas me perguntou, quando o telefone em minha mão começou a vibrar novamente.

- Pode me dar licença por um segundo?

Ele assentiu e eu me levantei para ir embora, mas acabei cambaleando, parecia que o álcool tinha me afetado e, para falar a verdade, eu não tinha percebido o quanto tinha bebido durante todo o jantar.

Lucas se levantou preocupado, mas quando notou que eu havia recuperado o equilíbrio e fiz sinal de que estava bem, ele se acomodou em seu assento.

- Mamãe? - Respondi à chamada.

- Eva? Onde você está?

- Estou trabalhando, fui fazer uma viagem de negócios para resolver uma coisa... O que aconteceu?

- Seu avô me ligou..." Meu peito pesou, um sentimento ruim tomou conta de mim. - Algo aconteceu com sua irmã...

- O que... o que aconteceu... o que aconteceu...? - Engoli em seco, lembrando-me de meu último encontro com Ava.

- Bem, foi quando ela voltou para a América, seu avô me disse que ela foi procurar o marido e partiu para a empresa, lá ela conheceu um ex-namorado maluco que a sequestrou....

- O quê?

- Sim, ele a manteve presa, o marido dela havia providenciado o resgate, mas ela tentou fugir e foi baleada... - Meus olhos se encheram de lágrimas instantaneamente.

- Como... Como está a Ava? - gaguejei com um nó na garganta.

- Seu avô me disse que, felizmente, ela está bem, ela e os bebês, dá para acreditar? Ava estava grávida? E de gêmeos? Eu nem percebi, só achei que ela estava mais gorda..." Exalei aliviada, quase sem fôlego. - Bem, ela ainda está hospitalizada, mas vai ficar bem... Foi um grande susto e eu queria lhe contar antes que você descobrisse algo que não era e acabasse se preocupando.

- Está tudo bem, mamãe. - murmurei.

- Eva, você está bem? - Perguntou minha mãe, percebendo o tom de voz quebrado.

- Sim, obrigada pelo aviso. - Desliguei o telefone.

Voltei para a mesa, quase arrastando os pés e enxugando as lágrimas que escorriam por conta própria, pois não conseguia mais contê-las.

É verdade que, quando ficava com raiva, eu podia ser uma verdadeira vadia, mas nunca gostaria que algo assim acontecesse com minha irmã, eu a estava machucando há muito tempo.

- Eva...? - Lucas se levantou preocupado quando viu o estado em que eu estava. - Você está bem? - Assenti com a cabeça, sentando-me na cadeira que ele já estava arrumando para mim. - Aconteceu alguma coisa?

- Minha irmã... - solucei. - Algo horrível aconteceu com ela...

- O que aconteceu? - Lucas se agachou ao meu lado, franzindo a testa.

- E foi tudo culpa minha...", murmurei, deixando-o surpreso.

- Você quer falar sobre isso?

- Preciso de mais uma taça de vinho... - murmurei.

*

Acordei com uma forte dor de cabeça e com o corpo completamente paralisado, mal conseguia me mover. Meus músculos estavam mais tensos do que em um dia de treino intenso na academia.

Olhei ao redor, percebendo que estava no quarto do hotel e que havia muita luz entrando pelas cortinas, então devia ser final da manhã. Em meio à minha confusão mental momentânea, olhei debaixo da colcha e vi meu corpo completamente nu.

Mas também vi que havia roupas masculinas por toda parte... Meu coração estava acelerado, o que havia acontecido? Eu me virei e ao meu lado havia um dorso forte e musculoso, meus olhos se arregalaram.

Havia um estranho dormindo ao meu lado! E aparentemente ele também estava nu... Levantei-me um pouco mais, com muito cuidado para não acordar o estranho. Quase tive um ataque cardíaco quando o reconheci: era Lucas Black.

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