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Capítulo 3 - Uma mulher como eu?

- Não posso acreditar... Você é Lucas Black, da família Black? Dono da revista de moda BlackFusion? - perguntei atônito.

- É isso mesmo..." Ele acenou com a cabeça, ficando sério.

- Espere um pouco...", comecei a refletir. - Esse é o mesmo Lucas Black que assumiu a direção da revista poucos meses antes de ela ser fechada por desvio de verbas? - repeti impertinentemente, mas era óbvio que eu faria essa pergunta, pois estávamos em uma entrevista de emprego e o histórico dele era crucial.

- Sim, é isso mesmo...", ele afirmou novamente com mais ênfase, recostando-se em seu assento, visivelmente desconfortável.

- Uau... Agora tudo faz sentido... - pensei comigo mesmo, enquanto continuava a examinar o arquivo.

- Desculpe-me... Mas o que faz sentido? - Lucas perguntou entre dentes.

- Bem... - Levantei a cabeça, olhando-o seriamente nos olhos. - Que um homem como você, com tanta educação e experiência, esteja se candidatando a um cargo de assistente. - Olhei para baixo novamente. - Para ser franco, até eu teria vergonha de me candidatar a um cargo de gerência depois de um escândalo como esse. - murmurei e poderia jurar que ouvi o ranger de dentes dele.

- Vergonha? - Lucas rosnou, levantando uma sobrancelha, visivelmente irritado. - Vai me desculpar, Sra. Golf, mas você não sabe de nada?

- Não? - Franzi as sobrancelhas, notando o tom de voz agressivo que ele usou.

- Se a senhora prestasse mais atenção às notícias, em vez de fofocas, saberia perfeitamente que esse desfalque foi feito pelo meu cunhado, que é, de fato, quem está atualmente na prisão... - Ele disse, sentando-se ereto em sua cadeira.

- Bem, eu... - Tentei responder, mas ele me interrompeu.

- E você também deve saber que meu pai me entregou a empresa depois de perceber certas anomalias e mudanças na revista, mas quando assumi o cargo de CEO, já era tarde demais, o dano à revista já estava feito, era irreversível... E no meio do escândalo de que você está falando, se você estivesse bem informado, como qualquer bom gerente envolvido nesse negócio deveria estar, você deveria saber que eu não tive nada a ver com aquele desfalque, estou livre por uma razão, não acha? - Ele disse, olhando para mim com grande seriedade.

"Como convém a qualquer bom gerente envolvido nesse negócio!", gritei mentalmente. "Aquele homem, como muitos outros, está me subestimando." ponderei, tentando controlar minha língua.

- Se esse é o caso, Sr. Black, então por que coloquei essa experiência de trabalho em seu arquivo? - perguntei, sentindo-me um pouco irritado.

- Porque não importa o que eu faça e não importa para onde eu vá, aquele trabalho vai me perseguir pelo resto da vida e, mesmo que eu o omita, sempre haverá alguém que acabará apontando para mim ou me julgando pelo que fiz ou deveria ter feito, sem conhecer as circunstâncias. - Ele explicou com uma expressão carrancuda, deixando um gosto ruim na minha boca, não sei por que, mas suas palavras me fizeram sentir um pouco de empatia por ele.

Pensei nisso por um momento, aquele homem era tudo o que eu estava procurando e não tinha encontrado, ele tinha muita educação e experiência. Sem contar aquele trabalho na revista de sua família, ele tinha excelentes referências, embora eu não gostasse um pouco de sua atitude, ele era perfeito para o trabalho.

- Bem, Sr. Black, agora que entendo a situação e analisei o restante de seu arquivo... - Fechei a pasta e o encarei. - Parece-me que o senhor atende a todos os requisitos que procuro e, portanto, estou lhe oferecendo uma vaga como meu assistente. - Informei-o, levantando-me da cadeira, sentindo que tinha de mostrar a ele quem estava no comando aqui.

- Eu lhe agradeço, Sra. Golf, e sinto muito por ter desperdiçado seu tempo..." Lucas se levantou, ainda com a testa franzida, e ajeitou o terno. - Mas eu pensei bem e acho que isso não vai funcionar. - Ele disse, deixando-me confuso.

- O que não vai funcionar? - Não sei por que, mas suas palavras pareciam mais como se ele estivesse terminando comigo do que deixando um emprego.

- Pelo que estou ouvindo... acho que não vou conseguir trabalhar com uma mulher como você. - A última frase ecoou em meus ouvidos.

Isso era uma piada ou ele estava falando sério, uma mulher como eu? O que diabos ele quis dizer com isso?

Levantei-me do meu assento, sentindo que deveria encará-lo, estar no mesmo nível dele para pedir uma explicação, embora ele fosse consideravelmente mais alto do que eu. Quando eu estava prestes a falar, a porta do escritório se abriu e, sem aviso prévio, Gina entrou, muito agitada.

- Eu... Sra. Golf... Desculpe-me por entrar assim, mas... É uma emergência! - Gina gaguejou nervosa.

Uma emergência? Por quanto tempo os problemas continuariam a me assombrar? Suspirei frustrado.

- Está tudo bem, Gina, o Sr. Black já estava de saída. - comentei, observando com o canto do olho enquanto Lucas se dirigia a um balcão e começava a organizar alguns papéis em sua pasta. Por que ele simplesmente não foi embora?

- Senhora... É que...

- Sim, Gina? - insisti com um pouco de cansaço.

- Liguei para a empresa importadora de tecidos e... expliquei a eles sobre o erro no pedido, mas... eles disseram que não podiam fazer nada, que o pedido estava pronto e que, se quiséssemos outros tecidos, deveríamos fazer um novo pedido... Porque o erro foi nosso, não deles..." Ela explicou insegura, percebendo como minha expressão estava mudando.

Senti meu sangue ferver, o cliente não deveria estar sempre certo? Que tipo de empresa era essa? Respirei fundo: "Tudo bem, Eva, não fique chateada", falei mentalmente para mim mesma.

Não era hora de ficar com raiva e gritar, eu poderia fazer isso quando chegasse em casa.

Agora, eu tinha que pensar em uma solução, porque embora eu pudesse perfeitamente ter feito outro pedido desde o início para resolver meu problema, sabendo que isso significava uma despesa extra, na realidade, meu maior problema era que não havia tempo.

Em breve haveria outro desfile de moda e, enquanto a empresa estivesse preparando o outro pedido de tecido e despachando-o, perderíamos um tempo crucial para deixar os designs prontos para a apresentação.

- Gina... Ligue novamente para a empresa e transfira a ligação para mim, eu mesmo falarei com eles, talvez se eles falarem diretamente com o gerente, eles... - Comecei a pedir, quando uma voz grossa me interrompeu.

- Desculpe-me... - Lucas falou com Gina, que o olhou confusa. - De qual empresa você encomendou os tecidos?

- Com... Com a importadora asiática Lanatex. - Ela respondeu nervosa.

- Sr. Black, desculpe-me, mas... - Tentei dispensá-lo, pois isso não era da conta dele, no entanto, ele me ignorou completamente, direcionando toda a sua atenção para Gina.

- Eu conheço essa empresa, eles têm políticas de trabalho muito rígidas que seguem à risca, a única solução que eles têm é ir pessoalmente à Ásia para falar com eles... - Ele explicou com muita confiança, enquanto Gina assentia. - Recomendo que você fale diretamente com o gerente, eu o conheço e posso lhe dar o número de contato dele para que você marque uma reunião, ele é um bom homem e, se você explicar a situação a ele, tenho certeza de que ele poderá ajudá-la.

- Oh, muito obrigada. - Gina sorriu para ele e Lucas lhe deu um leve sorriso torto, que o fez parecer muito sensual.

- Sugiro que você seja muito educada ao falar com o gerente, Huan Yue é um homem muito formal e acho que seria muito melhor se você o convidasse para um jantar de negócios, isso vai agradá-lo.

Fiquei parado por um momento, pensativo, ouvindo as instruções de Lucas, embora o homem presunçoso continuasse a me ignorar, eu podia dizer que ele conhecia muito bem esse tipo de negócio.

- Gina...! - Chamei a atenção de minha assistente com grande autoridade. - Poderia nos deixar a sós por um momento? - Ela assentiu com a cabeça e saiu do escritório.

- Sr. Black... Como você sabe de tudo isso? - Curioso, perguntei em voz alta de trás da minha mesa assim que ficamos sozinhos.

Lucas retomou sua expressão carrancuda enquanto olhava para mim.

- Huan Yue é uma boa amiga minha, já compartilhamos alguns momentos juntos... Sra. Golf, um bom gerente no ramo da moda sabe que é importante conhecer todas as pessoas associadas de alguma forma à empresa, é para isso que servem as reuniões, festas e desfiles de moda... E suponho que pertencer a uma família importante que possui uma empresa de moda é algo que a senhora deve saber. - Ele completou a frase com um tom de sarcasmo.

- Bem, se o senhor fosse bem informado, Sr. Black, saberia que, embora eu tenha trabalhado na empresa de minha família durante toda a minha vida como modelo, nunca tive a oportunidade de ser responsável por uma das filiais como gerente. - Eu refutei.

Mais uma vez me subestimando, ele quis dizer que eu não era um bom CEO? Embora fosse verdade que a empresa não estava indo bem, isso não significava que eu não pudesse aprender.

E Lucas parecia saber tudo o que eu precisava saber sobre esse negócio, era uma pena deixá-lo ir embora em um momento tão crucial para minha nova carreira, quando eu poderia conseguir outra pessoa com tais capacidades.

Sentindo uma faca na garganta ao ter que engolir meu orgulho, decidi que o melhor para a empresa era contratá-lo, pois não podia pensar apenas em mim.

- Muito bem, Sr. Black, considerando sua experiência, seu potencial e seu conhecimento, que podem ser de grande utilidade para nós aqui, eu gostaria de lhe oferecer o cargo de assistente novamente. - Ele levantou uma sobrancelha e sorriu novamente, desta vez com pedantismo. Isso me irritou, fazendo com que meu peito se agitasse um pouco.

- Desculpe, Sra. Golf, mas já lhe disse antes, acho que não vai dar certo. - Lucas começou a caminhar em direção à saída. - Eu me conheço e sei como você é.

- O que você sabe sobre minha aparência? - perguntei confuso, fazendo com que ele parasse um pouco antes de abrir a porta. - Você não me conhece...

- É claro que eu conheço você. - Lucas se virou para me olhar e ficou pensando por um momento, detalhando-me. - Bem, o que quero dizer é que conheço mulheres como você?

- Mulheres como eu? O senhor poderia se explicar, Sr. Black? Seja claro no que quer dizer..." Comecei a elevar um pouco a voz.

- Vou ser franco, Sra. Golf, eu sei como são mulheres como a senhora... Mulheres convencidas, orgulhosas, egocêntricas e egoístas, que só pensam em si mesmas, na aparência e no que vão dizer. - Ele disse com grande confiança. - Desculpe-me, mas não estou aqui para lidar com isso novamente.

- Quem você pensa que é? Você não pode dizer isso sobre mim! Você não sabe nada sobre mim! - gritei, sentindo meu corpo enervar.

- Talvez eu esteja errado, Sra. Golf. - Ele encolheu os ombros. - Mas acho que é melhor para nós dois não descobrirmos.

Ele saiu e, assim que a porta se fechou, soltei um grunhido de frustração enquanto me agarrava à escrivaninha. Quem aquele idiota pensava que era? Como se atrevia a falar comigo daquele jeito, egocêntrico, ele não tinha se visto em um espelho?

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