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Capítulo 6 - Encontro com o passado

Eugênia não podia acreditar que havia se tornado mulher nos braços de Alfa e sentido prazer ao estar com ele, questionando onde havia deixado sua honra e sua essência humana. Conforme ele se transformava totalmente em uma fera, ele se afastou de seu corpo, e ela se cobriu com o lençol, ainda envergonhada pela completa nudez. Alfa olhou nos olhos dela e saiu abruptamente do quarto.

— O que eu fiz? — Eugênia perguntou a si mesma, aguardando por uma resposta que sabia que não viria. Ela se levantou, caminhou até o banheiro e se lavou. Ela não sabia se aquele tinha sido o momento mais belo ou o mais terrível de sua vida.

Longe de Eugênia o Alfa recobrou os sentidos e voltou a sua forma humana. O que sentiu o deixou pela primeira vez em sua existência, assustado e pensando: como uma humana pode exercer tal poder sobre mim?

— Não posso demonstrar fraqueza, estou no topo da cadeia alimentar e vou permanecer nele.

Alfa voltou para o quarto, farejou o sangue que estava no lençol. Eugênia estava no banho, saiu usando os restos do vestido do baile.

— Posso ir para o meu quarto? — Perguntou ela envergonhada e sem o olhar nos olhos.

— Não, deite-se aqui. Disse estar cansada.

Ela obedeceu e se deitou de costas para ele, mesmo após estar nos braços dele e até implorar por mais, Eugênia conseguia ser orgulhosa e nisso o Alfa sabia terem em comum. Ele abraçou o corpo, cheirando a pele do pescoço dela.

— Posso fazer uma pergunta?

— Claro, sim, minha bela. Desde que não seja o óbvio!

— Por que o padre Jonas? — Ele ouviu o choro contido dela ao perguntar.

— Eu não escolho as vítimas do sacrifício, isso é feito pela sua vila!

— Não, não! O padre era uma pessoa isenta de maldade, quem quer que tenha escolhido tirar a vida dele é um monstro ainda pior que você.

Ela fez com que ela se virasse de repente e olhasse em seus olhos.

— Devia nos agradecer por todos esses anos, estupradores, assassinos e toda a escória da sua vila ter nos servido de alimento. Isso é uma forma de justiça Eugênia!

— Você está mentindo.

— Quem os traz até aqui é meu general Zayon, ele tem o poder de decisão sobre quem vive ou morre na sua vila. Há anos eu não me importo em saber de quem é a carne que eu como.

— Por isso, te odeio e vou odiar por toda a minha vida. Que tipo de líder é você Alfa, que sequer sabe ser justo?

O Alfa repousou sobre ela, forçando a mão sob o queixo dela.

— Você não sabe nada sobre mim, ou quem sou. Sua função é abrir as pernas sempre que eu pedir e se não concorda, volte para casa!

— Eu voltaria, se tivesse a certeza de que você é homem ou fera o bastante, para cumprir a promessa que me fez nessa cama.

Eugênia o beijou, mais uma vez conseguiu dominar o Alfa em seus braços e fizeram amor a noite inteira.

Enquanto isso, na vila...

Os caçadores da vila buscavam encontrar alimento em suas armadilhas, mas acabaram encontrando algo aterrador.

— Que cheiro horrível. — Gabriel cobriu o nariz e se abaixou para verificar de onde vinha esse odor. Com a mão afastou alguns arbustos; seu grito de horror chamou a atenção dos outros que vinham logo atrás dele.

— O que diabo é isso? — Murmurou Tony, mas logo sua pergunta foi respondida ao ver mais de perto.

— É o braço do padre Jonas, malditos monstros!

— Ele tentou se defender como pôde, usando sua fé. Até quando essa covardia seguirá acontecendo? E a pobre filha de Anthony segue nas garras do Alfa, eles sequer sabem se ela ainda está viva.

— Quem sabe o próximo cadáver a ser encontrado possa ser o dela!

Em Sangria...

Jane vagava pelas ruas, faminta, hostilizada por todos da alcateia. Precisava sair daquele lugar, de volta à sua vila, depois de tantos anos de clausura. Quem sabe pudesse encontrar uma forma de retardar a maldição que apodrecia seu corpo e consumia sua alma pouco a pouco.

Os muros que cercavam o castelo e as dependências daquele reino eram altos, e ela já não tinha forças para isso. Um carniceiro iria sair e levar os restos apodrecidos para fora da cidade. Em um momento de desatenção dele, Jane conseguiu entrar e se cobrir com aquela carne putrefata e fétida. Sentia as larvas caminharem sobre seu corpo.

Assim que foram levados para fora dos portões da cidade, vagaram por alguns metros e pararam em frente a uma grande vala que fedia a morte. O semi-monstro começou a jogar os pedaços dentro daquele buraco. Jane se encolheu um pouco mais para não ser encontrada.

A criatura ouviu passos quebrando galhos pelo chão; seu faro apurado, mesmo que ainda dominado por aquele cheiro de carne podre que pairava pelo ar, ainda pôde detectar a presença de humanos. Mas não havia tempo para cercarem a carroça; eles portavam armas cujas balas eram de prata, e ele podia sentir o cheiro daquele nobre metal.

— O que fazem aqui, próximos às dependências de nosso reino? — O monstro perguntou, olhando e detectando quantos eram e as chances que tinha de sair dali com vida.

— Vim buscar minha filha, Eugênia.

— Sua filha agora é concubina do Alfa!

— Atire nesse maldito de uma vez. — Thor gritou.

— Nos leve para dentro e pouparei sua vida, pelo menos por agora. — Anthony olhou para a vala cheia de corpos.

Jane juntou as forças que tinha e jogou os restos sobre todos eles com a força de uma bomba. Confundindo-os e deixando o monstro escapar de volta para Sangria, ela correu para dentro da mata fechada.

— Peguem a criatura! — Anthony gritou. Thor correu o mais rápido que pôde.

Jane estava fraca e não conseguiria ir muito longe. Prendeu o pé em um galho e acabou caindo. Thor pegou uma grande pedra e iria colocar fim à vida daquele monstro horrível.

— Thor, como você está belo! — Jane o fez paralisar com sua frase.

— Vamos, vai ficar aí parado? — Anthony perguntou ao chegar correndo.

— Ela sabe o meu nome.

— Ela? — Questionou Anthony.

— Sou eu, Jane. Esposa de Gustave Prestes.

Enquanto isso, na vila, Elizabeth permanecia angustiada pela filha.

Elizabeth não conseguia passar um segundo sem pensar no que poderia estar acontecendo com sua filha. Aquele monstro, cujo rosto ela jamais ousara ver, devia estar escravizando-a. Eugênia havia se sacrificado por todos eles, mas sua dor parecia não ter valido de nada. Naquela tarde, fariam um velório simbólico para o que restava do pobre padre Jonas. O que aconteceria com ela e com todos dali em diante?

Após lavar as roupas no rio, Elizabeth voltou para a cabana. Anthony e Thor não estavam lá. Ela sabia que eles estavam planejando resgatar a filha naquela cidade maldita, mesmo indo contra a promessa que haviam feito a ela.

— Eles não podem ter ido até lá, não podem!

Ela não sabia por que, mas memórias de seu passado estavam voltando cada vez mais fortes. Aquela noite em que foi tocada por aquele estranho desconhecido, o nascimento de Thor, que até hoje a fazia questionar sobre sua origem, nem mesmo sabendo se aquilo tinha sido real. Tudo o que dizia a ele era que Anthony lhe dera o carinho e o amor de um pai, mas os dois viviam em um conflito eterno, cheio de ressentimentos e dores.

Ela entrou no quarto da filha, pegou-se cheirando suas roupas. Não podia passar o resto da vida sem ver sua garotinha novamente. Ela era forte e corajosa, mas ainda assim apenas uma jovem mulher.

Thor pensou que esse monstro poderia servi-los como moeda de troca pela vida de Eugênia.

— Vamos levá-la, Anthony. Podemos usá-la para trazer Eugênia de volta.

A criatura começou a rir, e o som era assustador.

— Do que está rindo, sua porca? E vá logo nos dizendo por que não nos deixou entrar em Sangria, já que diz ter sido da nossa vila? — Thor perguntou.

— Olhe para mim, garoto. Acha que eles dariam sua irmã em troca de mim? Sou uma prisioneira recém-liberta, Eugênia me tirou daquele lugar. E deviam me agradecer pelo banho que lhes dei. Dentro daquela cidade, vocês seriam exterminados em segundos!

— Então, minha filha está viva? — Anthony perguntou, suspirando de esperança.

— Sim, ela é nossa maior chance de colocar fim a esse inferno. Mas tudo depende das escolhas que ela fizer! Agora vamos para casa, estou faminta!

Os dois se olharam. Anthony sabia quem ela era, mas não sabia se podia confiar naquele monstro e levá-la para a vila onde havia tantos inocentes.

— O que faremos, Anthony? — Um dos caçadores perguntou.

— Vamos levá-la, mas se mostrar os dentes, arrancaremos um por um. Está entendido? — Ele se aproximou de Jane, e ela concordou.

— Desde que me deem carne, estarão seguros, e eu direi tudo o que querem saber.

Thor amarrou as duas mãos dela e saiu puxando, enquanto faziam o caminho de volta. Anthony pensava que Jane não era nem a sombra da mulher que um dia foi; no passado, ele chegou a se encantar com a beleza dela. Lembrava que Elizabeth nunca o amou, e esse abandono afetivo o fez, por vezes, desejar conquistar Jane. Mas ela se casou com Gustave, e ele deixou esse sentimento trancado a sete chaves dentro de si, até agora.

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