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Capítulo dois: Deseje-me sorte, Ellie

Suas mãos são ásperas ao afastar minhas pernas, meu corpo tremeu involuntariamente ao saber o que viria a seguir, sou forte, posso arrancar as tripas de sua barriga entre um abrir e fechar de olhos, mas não devo fazer isso. O “poder” é a questão, torna tudo insuportável.

Apoiando-se em minhas pernas Ronland afunda a maca ao subir, em todos esses momentos dolorosos penso no quanto seria feliz se não tivessem me roubado. Teria um lar, conheceria o conforto do coração da pessoa que me trouxe ao mundo, com a convicção que meus pais jamais deixariam ninguém me machucar de nenhuma forma.

Prefiro pensar assim, pois a verdade é dolorosa.

Os empregados dizem que, na verdade, fomos comprados, entregados de livre e espontânea vontade por nossos pais, que eles nunca nos quiseram, que éramos um desperdício de vida para eles. Ellie discordava " Eles falam isso para desencorajar fugas" dizia para me confortar.

A verdade é que Ellie não tinha acesso a essas informações e não poderia afirmar suas palavras com certeza.

Onde vocês estão? Pergunto-me mentalmente.

eu esperei virem me buscar dia após dia nesses cinco anos em que Ellie me deu esperança. Ela me prometeu que os encontraria, prometeu para mim que viriam me buscar. E como uma tola eu esperei, exatamente como a bela adormecida esperava o príncipe encantado. A verdade, nua e crua, é que eu não sou uma princesa, e não existe príncipe encantado na vida real, há somente sapos, sapos malvados.

Me perdoem, não aguento mais esperar.

Pensar em como meus pais eram, tiravam um pouco da minha atenção do que Ronald fazia comigo. Eu queria não sentir ele acomodando-se no meio das minhas pernas, esfregando seu corpo repulsivo na minha pele. Almeja desesperante bloquear toda a percepção que eu tinha, ser um animal, como todos me chamavam, seria melhor, eu não sofreria tanto, não saberia que havia outra vida fora dessas paredes e não sonharia com grama fresca e terra úmida.

A imagem de um casal sorrindo e feliz me afasta do presente.

— Hm agora sim 00, na posição perfeita — diz depois de se abaixar sobre mim e afundar as mãos de cada lado da minha cabeça para se equilibrar.

Meu corpo todo fica tenso, quando uma de suas mãos acariciam meus lábios eu tremo, felizmente ele não percebe. Ronland retira-os e volta a acariciar novamente, mas dessa vez com os dedos molhados, força-os a entrarem na minha boca em movimento vaivém.

A bile sobe na minha garganta na mesma proporção que minhas unhas crescem, saindo de seu casulo. Nem a mais vil criatura nesse mundo merece tal sofrimento que passo, eu não era religiosa como Ellie, como poderia um ser superior deixar que monstros como Roland caminhassem sobre a terra fazendo o mal?

Ao perceber a calmaria, a aflição me banhou com rajadas de água gelada. Está tudo lento demais, tranquilo demais, Ronland nunca foi assim.

Em resposta aos meus pensamentos seu membro toca minha entrada e antes que eu pense em desistir ele abre caminho dentro de mim, sem gentileza ou pena, com apenas uma investida, se enterra todo em mim, até o fundo, me machucando por falta de meus fluídos para me lubrificar. O único a não sofrer danos é seu próprio membro, que está revestido por alguma pasta gélida e oleosa.

— Isso, bem quietinha.

Ele tem o costume de me espancar enquanto acasala comigo, sente prazer com minha dor, me fazendo sofrer. Não sei se é porque quase o matei ou por algum hábito sexual doentio.

Quebrar meu espírito é sua missão de vida, transformar-me em uma boneca sem vontades. Eles nunca vão conseguir.

A cada golpe eu me sinto mais forte, a dor não me amedronta, não mais. Depois de todos esses anos chorando e implorando para ele parar, toda vez que ele me forçava, eu finalmente havia desistido de pedir clemência. Não adiantava, isso sempre o fazia ficar ainda mais agressivo.

O lado poético da dor física é quando ela já é conhecida, e no meu caso, esperada, não deixa de ter a mesma intensidade, mas é confortante saber o que esperar. Um ciclo cujas paradas sei seguir com olhos fechados, e por isso terei a chance de fugir.

A sala de Ronland era na segunda porta à direita na frente da minha cela, meus gritos de dor e das demais fêmeas atrapalhavam os demais funcionários de fazerem seus deveres, por isso mudaram sua sala para cima, o bloco “A”, o térreo.

Outros funcionários fazem com outras fêmeas o que ele faz comigo, acasalar com elas sem seu conscientemente, drogadas de mais para defender-se. A diferença de maldade é tanta que até aqueles homens vis não gostam de ouvir a dor que Ronland me aplica.

Ele gosta que eu esteja acordada, sentindo tudo que ele quer que eu sinta.

Lembro-me da primeira vez como se fosse hoje, quando ele arrancou minhas presas depois que mordi e comi seu dedo anelar, naquele dia eu conheci o inferno, enquanto ele rasgava minha roupa preferida, Ellie que havia me dado, uma bata rosa bebê com uma bonequinha estampada na frente.

Às vezes perguntava-me porque eu? Nunca fiz nada de mal, nunca machuquei ninguém em minha curta vida, que não merecesse. Ellie disse que quem não acreditava em um ser superior tinha um nome, ateu, sim, eu definitivamente era essa palavra.

Sua voz me tira de meus devaneios. A maca para de se mexer.

— Que merda, me sinto mais excitado quando você está acordada.

Um soco muito forte atinge meu estômago e mesmo sendo ateu oro para quem pode me ajudar a não vomitar. Começo a conta e, com exatamente nove investidas, seu corpo cai em cima de mim, esgotado pelo esforço.

Recomponho-me enquanto espero seu sono. A pena que eu sentia de mim mesma, pobre menina diferente, violentada e maltratada, acaba no instante em que eu finalmente amadureci. Ellie não veio me buscar como prometera, não conseguia me ressentir dela, foi minha tábua de sanidade durante muito tempo. A única que confiei. Até ela ser transferida para outra instalação. Sua promessa de voltar, para aqueles que nunca deveriam ter deixado, fora esquecida.

Bom comportamento não nos tirava dos nossos problemas, promessas, às vezes, não são cumpridas e a alto pena só nos traz gosto de cinzas a boca. Percebi que estava lutando na frente errada e resolvi tomar uma atitude. Escapar.

Olhando-o dormir, penso em como fui tola. Esse tipo de pessoa que devo ter pena. macho abusivo, feio por dentro e por fora. Nenhuma fêmea gozando de sua plena sanidade mental acasalou com ele de boa vontade. Com uma vida livre do lado de fora, comida e bebida ao seu bel prazer, ele sentia que suprimiria o buraco do seu coração abusando de seres indefesos.

Levantando-me devagar, com as pontas dos pés toco o chão sem deixar de fitar seu rosto, faço uma carranca para sua boca babando na maca. Abro meu arque- inimigo: o armário dos sedativos, tiro dois, e muito calmamente injeto no braço mais acessível. No segundo sedativo seus olhos abrem, arregalados, olhando incessantemente de mim para o sedativo que estou aplicando, sua boca se abre, mas não consegue emitir som algum.

— Isso, bem quietinho ㅡ murmuro em um tom condescendente.

Enquanto tiro e coloco outro sedativo, só no caso... para garantir, fazendo vários furos, vejo dor nos seus olhos e sinto seu cheiro de medo.

— Hm, agora sim, a dose perfeita. — Falo imitando suas frases.

Ellie diria que não se deve devolver o mal com mal, pois eu digo que Ellie não estava aqui quando ele me machucou, ela não sentiu na pele como dói.

As duas doses podem matá-lo, mas depois de tudo que já me fez não seria má ideia. Meu desejo de pegar um bisturi e acabar logo com isso é grande, porém tenho que seguir o plano. Matá-lo agora daria apenas mais motivação para irem atrás de mim.

Mas não, meu lado felino não consegue deixar passar. Eu não iria esquecer de todos os abusos que passei, pelo menos saberia que tive uma pequena vingança.

Pego um bisturi na bandeja de medicamentos ao lado, e começo o ritual para circuncisão. Ver seu sangue fluir é como um bife suculento e mal passado deslizando na minha garganta, sua carne fácil, fácil demais. Ao final admiro meu trabalho, acho que posso ter exagerado um pouco, não, não exagerei, assim está perfect.

Tiro suas calças ridículas mostarda, blusa, sapatos e boné. Não é problema, seus 100 e poucos quilos são como uma pluma. Visto suas roupas bem rápido. Sou muito mais forte que humanos normais, poderia tentar imobilizá-lo, entretanto ele rapidamente abriria a boca e os soldados armados com sedativos apareceriam. Esse foi, sem dúvidas, o melhor jeito. Pego seu relógio de pulso, colocando-o em mim.

São dezenove horas e onze minutos, o tempo de jantar demora em média 35 minutos. Tenho pouco tempo, não sei se vou conseguir, quem disse que a vida era fácil? Faço um coque bem apertado no topo da cabeça e coloco o boné cobrindo-o, a fim de parecer um homem.

Deseje-me fora, Ellie.

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