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CAPÍTULO 03 (PARTE 2) - A CARONA

EMMA:

Depois de muito tempo procurando, finalmente encontrei um disponível para uso. Senti um alívio extremamente gostoso, após eliminar todo o líquido que estava preso dentro de mim. Ao passar pela porta, me deparei com o Thomas. Ele estava encostado na parede de frente a porta que abri. Será que ele está esperando para usar o banheiro? Mas se for isso, porque está me encarando dessa maneira? O meu inconsciente me mandou sumir de perto dele, mas por algum motivo que desconheço, minhas pernas não obedeceram. Ficamos nos encarando por algum tempo. Um tempo que mais pareceu uma eternidade, e então, ele começou a andar na minha direção, chegando bem perto de mim. Se aproximando cada vez mais e mais, ao ponto de seu nariz encostar no meu. Meu olfato capturou o frescor do seu hálito de menta. Sei que deveria correr para bem longe dele, mas não consegui. Queria estar ali, precisava estar ali. Ele continuou me encarando profundamente, e tive a impressão que tentava ler minha alma. Por um segundo, desviei meus olhos dos dele, e encarei sua boca, e nesse momento, ele mordeu seu lábio inferior e passou seu polegar sobre meus lábios. No mesmo instante senti um forte arrepio subir pela minha espinha. O meu coração começou a palpitar forte e chegou a parecer que estava subindo pela garganta. Me faltou ar. Viajei para um mundo mágico, observando seus dentes perfeitos, que mordiam aquele lábio chamativo. A diva que existe dentro de mim, chegou a dançar valsa enquanto via a magnífica cena.

Escutei uma porta se fechando do meu lado, e retornei para o mundo real. Felizmente alguém precisou entrar em um quarto que havia próximo de nós. O ruído que escutei foi o suficiente para me tirar do mundo de imaginação perversa no qual me enfiei. Respirei fundo, e comecei sentir minhas pernas responderem novamente. Dei uma última olhada para ele, e me afastei o mais rápido que pude. Puta merda, que climão foi aquele? Meu inconsciente surgiu repleto de expectativas. Meu Deus! Preciso beber mais! Por um momento, até esqueci que estava na casa do Heitor. A necessidade de encontrar uma bebida falou mais alto, e fui até a cozinha para pegar uma. Assim que passei pela porta, me deparei com o Heitor encostado no balcão. Merda, sou tão azarada.

— Emma? Faz algum tempo que não te vejo — disse espantado, com os olhos arregalados.

— Oi, Heitor! É, já faz um tempo! Desculpe ter vindo sem avisar, é que a Sabrina me convidou e pensei que você não se importaria — falei completamente sem graça. Com certeza sou a pessoa mais azarada do universo.

— Ah, por favor, Emma! Você sempre será bem-vinda na minha casa! Sinta-se à vontade — sua educação me causou uma estranheza duvidosa.

— Hã, obrigado Heitor — franzi o cenho um tanto confusa. Peguei a bebida, e quando já estava me retirando da cozinha, de longe, escutei a voz alta dele ecoando pelo ambiente.

— Alguém finalmente conseguiu tirar sua preciosa virgindade, Emma Campbell? — Gritou para qualquer um ouvir. Fechei meus olhos e minha pele começou a ferver. Foi como se alguém tivesse acabado de jogar um balde de água fervente sobre mim. Senti a vergonha me consumindo, contudo, não pretendia jogar o joguinho dele. Ele não vai conseguir me desestabilizar. Não irei fazer um escândalo no meio de uma festa. Se ele queria me envergonhar, ele conseguiu. Mas não posso querer participar desse show. Céus, alguém me segura.

— Presumo que minha vida sexual não seja da sua conta, Heitor — rosnei através dos meus dentes, tentando me recompor da imensa vergonha que acabei de passar.

— Ah, qual é? É só uma curiosidade! Nunca ouvi alguém falando que te fodeu gostoso — fez alguns gestos obscenos com seus braços e quadris, tentando ser engraçado. Nem me surpreendi com tamanha ignorância e falta de respeito vindas dele. Até hoje não consigo entender o que me fez ficar tanto tempo com uma pessoa tão pobre de alma. Caminhei rápido até ele e não consegui me segurar. Literalmente entrei em um transe enfurecido. Quando percebi já era tarde. Estava derramando o copo de bebida sobre ele.

— Sua vaca, vai se foder! — Berrou extremamente irritado, tentando enxugar a cabeça com alguns guardanapos.

— Ah que medinho! Bem que você queria me foder, não é Heitor? — E no fim, perdi toda a compostura que estava tentando manter.

Parece que fiquei uma eternidade encarando-o. Ele não esperava por essa reação minha, na verdade, nem eu esperava por essa. Observei seu rosto ficando vermelho de raiva, e isso me deu uma satisfação enorme. Senti alguém pegando meu braço e me puxando, olhei para o lado e vi a Sabrina tentando me tirar da cozinha. Segui com ela para fora da casa, e definitivamente, precisava ir embora agora. Essa festa já deu o que tinha que dar. Sabrina me encarou com os olhos arregalados.

— Sabrina, agora vou embora — avisei me distanciando rápido da casa.

— Fica mais um pouco, Emma — correu atrás de mim segurando-me pelo braço. Ela só pode estar brincando, não é? Depois dessas trocas de farpas, ela quer que eu fique mais? Só pode ser brincadeira.

— Se me encontrar com o Heitor de novo, sou capaz de soca-lo! Outro dia a gente se fala — gritei completamente descontrolada, tentando soltar meu braço das garras dela.

— Por favor, só mais uma dose — pediu com o olhar mais piedoso que já vi.

— Certo, só mais uma dose e vou embora — avisei dando-me por vencida. Ela abriu um longo sorriso e se pendurou no meu pescoço, em uma tentativa falha de me abraçar.

— Já que é a despedida da noite, vou pegar uma bebida mais forte — avisou e começou a correr feito uma louca descontrolada, forçando-me a correr junto a ela.

— Sabrina, pare com isso! Não vou entrar lá de novo, te espero aqui na calçada — gritei forçando ela me soltar.

— Tá bom! Eu já volto — avisou e correu.

Sentei-me na calçada e fiquei à espera dela. Para passar o tempo, procurei meu celular dentro da bolsa com a intenção de acessar alguma rede social, mas encontrei o mesmo desligado. Nossa, que estranho. Pressionei o botão da lateral tentando ligar o aparelho, quando a tela acendeu, o ícone de bateria apareceu e o celular desligou novamente. Droga, quase nem usei essa porcaria e já descarregou. Estava impaciente. A vontade de ir embora era cada vez maior. Levantei-me e caminhei até um dos carros que estava parado do outro lado da rua. Aproximei-me do espelho retrovisor para dar uma averiguada na minha maquiagem. Meu Deus, que aparência péssima! Me assustei quando vi meu reflexo. Peguei um batom na bolsa e dei uma leve retocada na minha boca. Não ficou incrível, mas achei que deu uma boa melhorada na minha aparência. Fiz inúmeras caretas olhando-me pelo vidro da porta do carro, ajeitei a minha roupa e comecei fazer algumas poses, como se fosse tirar fotos, enquanto me observava.

— É tarde para uma moça tão bonita ficar sozinha na rua — disse uma voz atrás de mim.

— Droga, Thomas! Você ainda vai me matar de susto — joguei o batom que estava na minha mão contra ele.

— O que está fazendo tão próximo do meu carro? Perdeu alguma coisa aí? — Encarou-me e pegou o batom que havia caído no chão.

— Ah, o carro é seu? Desculpe, eu não sabia — meu rosto queimou de tanta vergonha. Com tantos carros na rua, eu tinha que usar justo o espelho dele.

— Para falar a verdade, não é meu, é emprestado — explicou, aproximando-se um pouco mais de mim e entregou-me o batom.

— Me desculpe — dei alguns passos para trás com a intenção de me afastar dele.

— Eu não mordo, Emma! O que queria no carro? — Um semblante mais sério surgiu em seu rosto.

— Coisas de mulher, você não entenderia — me afastei e logo senti meu braço ser agarrado.

— Eu posso tentar entender — segurou firme no meu braço.

— Dá pra me soltar? — Olhei para sua mão que me segurava, e em seguida, encarei os olhos verdes.

— O que está acontecendo? — Sabrina perguntou ao se aproximar.

— Está acontecendo alguma coisa? — Arqueei a sobrancelha, e de imediato, ele me soltou.

— Vem amiga, vamos beber — Sabrina me convidou. Afastei-me e fiquei olhando para meu braço com uma certa desconfiança. Qual o problema desse cara?

— Bourbon? — Fiz uma grande careta, consegui sentir o sabor forte só de olhar para a garrafa.

— Eu avisei que pegaria algo mais forte — explicou sorrindo. Virei algumas doses da bebida e comecei a sentir ânsia de vômito. Encostei-me no tronco da árvore que possuía na calçada, e tudo ao meu redor começou a girar rápido. O efeito foi imediato e cai no chão.

— Acho que estou passando mal — avisei para Sabrina que tentou me levantar.

— Amiga, vamos! Não podemos passar a noite aqui! Levanta — pegou-me pelo braço.

— Com licença, ela está bem? — Thomas perguntou ao se aproximar.

— Ela está passando mal! — Sabrina explicou. Ele me levantou e colocou-me sentada com minhas costas encostadas no tronco da árvore. Logo ele se abaixou, ficando de frente para mim.

— Quanto você bebeu hoje? — Tocou no meu rosto de forma suave.

— Não faço ideia! O que você quer? Porque não para de me perseguir? — A rispidez na minha voz manteve-se presente.

— Emma, pare com isso! O moço só quer ajudar! — Sabrina chamou minha atenção. Levantei minha cabeça para respondê-la, contudo, meu vômito saiu espontaneamente. Parecia que minhas tripas queriam sair juntas. Passei um bom tempo colocando tudo para fora. Observei que o Thomas segurou os meus cabelos pacientemente, impedindo-os de ir até meu rosto.

— Se sente melhor? — Ele perguntou extremamente calmo.

— Acho que sim, obrigada — respondi me sentindo aliviada após ter vomitado.

— Eu preciso me limpar — apontou as mãos para seus sapatos.

— Ah não, me desculpe por isso — falei envergonhada, tudo foi tão rápido que nem percebi que havia vomitado nos sapatos dele.

— Vou lá dentro pegar guardanapos! — Sabrina avisou e saiu apressada.

— Acho que esse é o momento em que você perde totalmente o encanto comigo — mantive minha cabeça baixa.

— Como eu já disse antes, não costumo desistir do que quero tão facilmente — me encarou fazendo-me sentir um tanto intimidada.

— Pessoal, trouxe os guardanapos — Sabrina avisou entregando um rolo de papel toalhas na mão dele. Ainda sentada na calçada, fiquei analisando enquanto ele se limpava. Apesar de ter tomado um banho de vômito, ele foi bastante atencioso comigo. Me peguei sorrindo feito boba, ao perceber que ele não iria mesmo desistir da ideia do encontro.

— Você precisa se limpar? — Perguntou e concordei com a cabeça.

— Amiga, vai mais uma dose? — Sabrina estendeu um copo para mim.

— Ela não vai beber mais! Não hoje, não é? — Thomas falou e logo se virou para mim. De imediato, notei uma certa grosseria na sua voz.

— Quero ir pra casa — avisei com a voz baixa.

— Entra no carro, te dou uma carona — ofereceu gentilmente.

— Obrigada, mas prefiro ir andando — tentei me fazer de difícil.

— Ah, qual é? Você prefere ir sozinha, caminhando na escuridão, do que aceitar minha carona? Coisas ruins podem acontecer com você no trajeto, e eu não mordo, entra logo no carro! — Insistiu me convencendo sem qualquer esforço.

— Só vou aceitar porque está muito tarde — avisei e me despedi da Sabrina.

— Tem certeza que vai com ele? Você mal o conhece! — Sabrina sussurrou enquanto me abraçava.

— Fica tranquila, ficarei bem! Ele parece ser uma boa pessoa — sussurrei no ouvido dela e me afastei.

Dei a volta e abri a porta do passageiro, apesar de mal conhecê-lo, não posso me dar ao luxo de negar sua carona. Nunca se sabe os perigos que podemos enfrentar, e com certeza estaria mais segura com ele do que na rua. Assim que me acomodei, ele me observou com um sorriso de tirar o fôlego e deu uma leve piscada. Tentei não manter contato visual. Ele girou a chave no contato e começou a dirigir. O silêncio entre nós era imenso, cheguei a me sentir desconfortável. Resolvi puxar assunto para quebrar um pouco o clima chato, mas quando pensei em falar, ele me surpreendeu.

— Caralho, que briga foi aquela na festa entre você e o dono da casa? — Perguntou.

— Há, você viu? O Heitor é um imbecil! — Passei as duas mãos pelos meus cabelos, me sentindo imensamente envergonhada, tanto pela briga, quanto pelo episódio de vômito.

— Confesso que fiquei bastante curioso! Então, você conseguiu perder a sua virgindade ou não? — Encarou-me. Ele só pode estar brincando, quem ele pensa que é para perguntar isso pra mim?

— Acredito que isso não seja da sua conta — irritei-me de forma significativa.

— Porra, fala! Só fiquei curioso, fala logo — retrucou com tom brincalhão, porém, repleto de curiosidade.

— Me diz o que você acha? — Contrai os lábios.

— Acho que é virgem ainda — fitou minha boca por um instante.

— Hum, acertou de primeira — grunhi matando sua curiosidade.

— Eu não entendo — resmungou aparentemente confuso.

— O quê você não entende? — Perguntei com a voz baixa.

— Você é bem sexy! Como ninguém conseguiu te fazer sentir prazer ainda? — Sua voz saiu completamente rouca.

— Acho que não encontrei uma pessoa que fizesse valer a pena — expliquei nervosa ao extremo. Esse assunto é muito íntimo, e estou conversando sobre a minha intimidade com um estranho. O que tenho na cabeça?

— Hum, faz sentido! Mas observando o estilo de cara que você sai, não me admira muito não valer a pena para você — manteve os olhos fixos na estrada.

— Acredito que esse é o momento em que você diz que homens como você seria o estilo correto para minha escolha — falei com sarcasmo e ele sorriu, mas não respondeu nada. O sorriso dele era simplesmente magnífico, era de tirar o fôlego de qualquer mulher. Ele dirigiu por cerca de vinte minutos, sempre me observando, eu o observava também. A boca dele é perfeita.

— E você? Tem namorada? — Perguntei com um estranho medo de ouvir a resposta.

— Não, nunca tive uma! — Me encarou profundamente. É loucura, sei que é, mas senti um forte alívio ao ouvi-lo dizer que nunca teve namorada.

— Chegamos, você está sã e salva, viu só? Eu falei que não mordo — sorriu.

— É, parabéns, você não mordeu! — Sorri por um momento, mas logo fiquei séria. Como ele sabe meu endereço? Eu não passei e com a história do Heitor, nem percebi que não havia passado. Encarei ele friamente. Percebi que seu olhar ficou sério e notei uma das suas sobrancelhas erguendo. Pela sua expressão, consegui perceber que ele estava se perguntando o que aconteceu. — Como sabe meu endereço se nem te falei? — Cruzei os braços, completamente indignada.

— Bella ragazza, se lembra quando falei que andei me informando sobre você? Eu não estava brincando — explicou com a voz calma. Fiquei boquiaberta ao descobrir que ele sabia até meu endereço. Essa era a hora que eu deveria sair correndo e fazer uma ligação para a polícia, mas algo dentro de mim me impediu de realizar tal feito.

— Cara, você é muito estranho, espero que não esteja pensando em me matar — um tom brincalhão se fez presente na minha voz.

— Não pretendo te matar, a menos que seja de prazer, bella ragazza — sua voz rouca me deixou em colapso. O meu sangue fervia dentro de mim e minhas pernas amoleceram na mesma hora. Ah não. De novo não. Juntei todas as minhas forças, e finalmente consegui sair do carro. Encostei-me na janela, assim que saí.

— Obrigada pela carona! Ah, antes que me esqueça, quero saber o que quer dizer Bella ragazza — determinei um tanto curiosa.

— Quer dizer moça linda! Não se esqueça que temos um encontro amanhã! Não me deixe esperando — fitou-me com seus olhos verdes intimidantes.

Concordei com a cabeça e corri para dentro de casa. Quando fechei a porta, estava praticamente sem ar. Puta merda. Parece que tenho um forte desejo por este homem. Ele é italiano, mas isso não significa que ele tenha algum envolvimento com o falecido Montanari. Até porque, se fosse alguém próximo dele, já teria feito algo comigo. Preciso tirar essas paranóias da minha cabeça. Amanhã terei um encontro com ele, e no momento, isso é tudo que importa.

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