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Destinos cruzados

Elijah encontrava-se exausto após sair do hospital. Após adentrar em seu carro, ele dirigia diretamente para casa, mas o repouso que sonhava no caminho até em casa, foi interrompido pelo som insistente de seu celular. Observou o visor e constatou que mais um problema o aguardava: a escola de Joseph estava ligando novamente. Sabia que seu filho havia se envolvido em mais uma confusão:

— Bom dia, senhor Bayne. Seria possível comparecer à escola? — a voz de Vivian soou do outro lado da linha.

— Sim, Vivian. O que aconteceu agora? — perguntou Elijah, preocupado.

— Joseph teve um desentendimento com um colega e acabou brigando com ele. — explicou a diretora.

— Meu Deus. Estou cada vez mais perdido com esse garoto. Estou indo para a escola agora mesmo. — assegurou Elijah.

Desde o falecimento de Lilian, Elijah não conseguia lidar com Joseph da mesma maneira. O filho outrora alegre e brincalhão transformara-se em alguém diferente, trancado em seu quarto durante boa parte do tempo, buscando a companhia reconfortante de Catarina, a quem Elijah confiava para lidar com o jovem, Catarina trabalhava para família de Elijah desde que ele era um bebê, foi sua babá, em seguida a de Joseph.

Chegando à escola, dirigiu-se diretamente à diretoria. Lá estava Joseph, sentado com um olho roxo e manchas de sangue salpicadas em sua camisa. Ao seu lado, havia um rapaz visivelmente mais velho com algodão no nariz:

— É sério, Joseph? — Elijah questionou, exasperado.

— Fala sério, o que o senhor está fazendo aqui, Dr. Bayne? — Joseph respondeu, com um tom sarcástico.

— Este é o tom de sarcasmo apropriado, Joseph. Sou seu pai e se você se envolve em confusões, é meu dever vir resolver. Acabei de sair de um plantão de 48 horas e, ao invés de descansar, preciso lidar com seu comportamento irresponsável. — reclamou Elijah, muito irritado.

— Sempre o Dr. Bayne mais preocupado com o trabalho do que com qualquer outra coisa. — indagou Joseph, irritado e triste.

Elijah passou por eles e adentrou a sala da diretoria. Minutos depois, soube que Joseph havia se lançado contra o outro garoto após este ter mencionado a falta de sua mãe. Elijah entendia a dor que Joseph sentia pela ausência de Lilian, mas não via a violência como solução.

Deixou a escola com Joseph, levando-o consigo de volta para casa, onde ele ficaria suspenso por três dias como consequência de sua ação.

Joseph com 14 anos de idade, ele aparentava ter 16, fruto de seu desenvolvimento precoce. Em meio a essa fase de crescimento, carregava consigo uma lacuna dolorosa: a ausência de sua mãe, vitimada por um câncer.

Após o falecimento de sua mãe, seu pai mergulhou de cabeça no trabalho, deixando Joseph à própria sorte. Felizmente, Catarina, a quem ele afetuosamente chamava de Catita, esteva sempre ao seu lado.

Elijah chegou em casa, e Joseph correu para a cozinha. A exaustão o acometia, e, embora quisesse repreender o filho, o cansaço era avassalador. Dirigiu-se direto ao quarto, tomou um banho rápido e se deitou na cama. Antes que o sono o envolvesse completamente, sua mente se voltou à paciente grávida que estivera cuidando.

O acidente que a acometera fora grave, mas o bebê parecia determinado a vir a este mundo. Mesmo em meio aos ferimentos, a beleza da mulher não passou despercebida por ele.

Enquanto isso, Joseph estava imerso em seus próprios pensamentos. Convicto de que seu pai nunca mudaria, não importava o quanto ele se esforçasse para chamar a atenção. Por isso, ele buscava conforto na única fonte de carinho e atenção que conhecia, a mulher a quem carinhosamente chamava de vovó:

— Oi, Catita do meu coração. — cumprimentou Joseph, com tristeza

— Oi, meu menino. A essa hora em casa, o que aconteceu? — perguntou Catarina, preocupada.

— Briguei na escola, Catita! — explicou Joseph.

— De novo, meu menino? Por que insiste nisso? Seu pai fica tão preocupado. — questionou ela, com carinho.

— Não importa, Catita. Ele não se importa comigo. — confessou Joseph, com aperto no peito.

— Calma, meu menino. Seu pai trabalha muito, mas ele te ama. — reconfortava-o Catarina.

— Duvido muito disso, Catita. — reclamou Joseph.

Joseph ansiava por ser notado pelo pai, desejava intensamente que ele o enxergasse. Pegou uma maçã e se dirigiu ao quarto. Precisava de um banho, sua mente estava tumultuada. Ao deparar-se com a foto de sua mãe no criado-mudo, não pôde conter a enxurrada de emoções. Abraçado à fotografia, deixou as lágrimas rolarem, questionando silenciosamente por que sua mãe o deixara e por que a vida lhe reservara esse destino...

Valentin estava no hospital havia dois meses, acompanhando Valquíria, que permanecia em coma. O médico não oferecera nenhuma esperança de recuperação. Por mais que a contemplasse dormindo, Valentin sentia que não podia continuar a viver em função de alguém que talvez nunca despertasse. Decidiu que era hora de seguir adiante com sua vida, ignorando o bebê que Valquíria esperava dele, e escolheu estar com Penélope, uma amante antiga...

Elijah, por sua vez, dedicava seus dias a cuidar de sua paciente. Ela estava em coma há três meses, e sua barriga já começava a mostrar o início da gravidez. Cerca de um mês atrás, o noivo de Valquíria o procurara, buscando alguma esperança de que ela acordasse. Porém, Elijah não viu genuíno amor em suas palavras, tampouco preocupação pelo bebê que ela carregava. Desde então, ele não retornara para vê-la.

Valquíria, mesmo em seu estado inerte, parecia exalar uma beleza especial. A gravidez, longe de diminuir seu encanto, realçava-o. Elijah passava os dias observando-a, testemunhando a evolução de sua gestação. Quando a barriga dela se movimentou, ele se aproximou e tocou o ventre através do lençol. Seu plantão estava terminando, mas a relutância em deixá-la para trás era evidente.

Enquanto ele se dirigia ao consultório para pegar suas coisas, uma das enfermeiras, Jaque, o abordou ofegante:

— O que houve, Jaque? — perguntou ele, preocupado.

— A...sua...a...sua... — falou Jaque, gaguejando.

— O que aconteceu, mulher? — perguntou Elijah, curioso.

— Sua paciente, Valquíria, ela acordou! — explicou Jaque, enfim.

— Sério, Jaque? — perguntou ele, assustado.

— Sim, Dr. Bayne. — concordou Jaque, com alegria.

Elijah retornou ao quarto da Valquíria, onde encontrou ela acordada:

— Olá, Valquíria. Como está se sentindo? — perguntou ele, calmamente.

— Esse é meu nome? Valquíria? — perguntou ela, confusa com a mão na cabeça.

— Você não se lembra? — perguntou Jaque.

— Ai...minha cabeça dói... — falou Valquíria, não escondendo a dor.

— Com calma, com o tempo você vai se lembrar. Está se sentindo bem? — perguntou Elijah.

— Dr., não me lembro direito. Mas olhando minha barriga, eu tenho alguém, não é? — perguntou ela, alisando sua barriga.

— Bem... Valquíria Fairchaid. — começou ele, falando.

— Bem... o quê, Dr.? — questionou ela, com curiosidade.

— Como vou dizer? — questionou a si próprio, hesitante.

— Bem... Eu digo, Dr. Olha, Valquíria, eu sou a Jaque, que cuidou de você. Você tinha um noivo, mas ele não aparece há quatro meses. — respondeu Jaque, sem cuidado, apressadamente.

— Jaque! — repreendeu Elijah, olhando para Valquíria.

— Ah, Dr., ela precisava saber. — explicou Jaque.

As lágrimas encheram os olhos da Valquíria, enquanto ela segurava a barriga:

— Valentin me abandonou? — constatou ela, com tristeza.

— Então você se lembrou, Valquíria, de algo. — falou Elijah, encorajando-a falar.

— Sim, Dr., lembrei de tudo. Do acidente. Por que ele me deixou? Por quê? — questionava Valquíria, com lágrimas descendo forte pelo rosto.

— Calma, minha linda. Com o tempo, você se recupera. Pense em seu bebê, que precisa de você. — pediu Jaque.

— Obrigada pelas palavras, Jaque. Eu posso ver meu bebê? — pediu Valquíria.

— Sim, vamos fazer uma ultrassonografia para saber o sexo? — perguntou Jaque.

Elijah deixou Jaque cuidando de Valquíria e dirigiu-se ao corredor. Não poderia fazer o exame, já que não era obstetra. Mas ele desejava ser parte da vida dela e daquela criança.

Valquíria, nervosa e triste, não entendia por que Valentin a havia abandonado. Durante o exame de ultrassom, o som do batimento cardíaco do bebê ecoou, enchendo-a de determinação. A médica obstetra informou que ela esperava uma menina e elogiou a escolha do nome, seria Rebecca, sua Bequinha.

Uma semana depois, com a alta concedida, Valquíria encontrou-se sem dinheiro e parada diante do hospital. Alguém tocou seu ombro, e era o Elijah que a tratara:

— Oh, olá, Dr. — cumprimentou ela.

— Precisa de uma carona? — ofereceu ele.

— Não, Dr., não quero ser um incômodo. — negou ela, achando ser um incômodo para o DR.

— Não é incômodo. Não a deixarei sozinha. Para onde vamos? — perguntou Elijah, querendo saber para onde poderia levá-la.

Após ponderar, Valquíria decidiu ir ao restaurante de Valentin. Afinal, nesse horário, ele deveria estar trabalhando. Ela aceitou a carona do médico, ela ia, tentava se manter calma, mas estava, com medo, nervosa, e curiosa, para saber porque Valentim a deixou, e logo estavam em frente ao Cacique Chá, um restaurante quatro estrelas, que ficava na capital da cidade, onde ela mora. O médico desceu e iria ajudá-la a descer, mas...

Quando o Elijah se aproximou para abrir a porta do restaurante, para que Valquíria descesse, ela viu algo que nunca imaginara ver. Num impulso, agarrou-se à porta, começou a chorar e suplicou ao médico que a tirasse dali. O que teria causado essa reação em Valquíria?

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