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Capítulo 5

Quando a vi no elevador, achei que estava tendo alucinações.

"Ela, aqui."

Qual era a probabilidade de nos encontrarmos três vezes em um único dia?

Meus pensamentos estavam confusos, mas este não era o lugar nem o momento para analisá-los.

À nossa frente, ela e sua amiga murmuram algo uma para a outra enquanto riem. Quando as portas do elevador se abrem, seu companheiro entrelaça o braço com o dela e eles se dirigem para a saída.

-O que vamos comer no almoço? -Marlon pergunta ao meu lado.

-Não sei, vamos deixar que ela decida.

Ele aponta na direção da entrada onde, com um grande sorriso, minha querida irmã corre em nossa direção.

-Vocês dois, seus idiotas! -Ela entrelaçou o braço com o meu: "Tem um restaurante italiano aqui perto, podemos ir lá?

-O que a pirralha mimada pedir", Marlon responde e ela sorri.

Entramos em meu carro e chegamos rapidamente ao restaurante. Ao entrarmos, olho para a mesa à nossa frente e ela está lá com seu parceiro, me olhando com cara de amiguinhos.

Seu parceiro se vira e, quando me vê, me dá um olhar cansado e volta seu olhar para ela. Um garçom nos leva a uma mesa onde nos sentamos e eu tento ignorar o constrangimento e continuar conversando com meus companheiros.

No entanto, meus olhos a procuram novamente, atraídos por um tipo de magnetismo involuntário.

Eu a vejo se levantar da mesa, com o rosto pálido e passos cambaleantes, como se sua energia estivesse se esvaindo a cada movimento. Algo em meu instinto me diz que eu não poderia ficar aqui apenas observando.

De repente, a agitação do restaurante desapareceu, e só havia ela, caminhando em direção ao banheiro.

-Ela voltou em um instante.

-Aonde você está indo? -Marlon pergunta e eu decido ignorar sua pergunta.

Ao seguir seus passos, eu a vejo encostada na parede, com os olhos fechados e o rosto transtornado. Algo estava claramente errado.

Não era apenas cansaço ou o efeito de um dia ruim. Havia algo mais profundo, algo que ela parecia estar tentando esconder, mas que naquele momento era evidente.

-Você está bem? perguntei, aproximando-me dela com cautela.

Eu sabia que estava passando dos limites, que ela poderia interpretar minhas palavras como uma intrusão, mas não podia ficar parado sem fazer nada.

Ela abriu os olhos por um momento, surpresa, e notei um brilho de pânico em seus olhos.

Ela olhou para mim como se não acreditasse que eu estava ali, como se minha presença a intrigasse ainda mais.

-O que está fazendo aqui? -Sua voz mal era um sussurro, carregada de tensão.

Tento manter a calma e pergunto novamente.

-Você está pálida, tem certeza de que está bem?

-Por que está preocupada comigo? -Ela responde com uma mistura de desafio e vulnerabilidade que não consigo decifrar. -Nós nem sequer nos conhecemos.

Eu estava prestes a dizer algo, mas naquele momento notei que ele estava cambaleando. Antes que ela pudesse reagir, suas pernas cederam e todo o seu peso caiu em minha direção. Meus braços a seguraram instintivamente, pegando-a antes que ela caísse no chão.

-Ivanna... -murmurei, sentindo um estranho nó em meu peito.

Havia algo em sua fragilidade que despertava um sentimento inesperado, uma necessidade de protegê-la que eu não sentia há muito tempo.

Com cuidado, eu a levantei nos braços e me dirigi à saída do banheiro, procurando alguém que pudesse me ajudar a carregá-la para um lugar seguro.

Na entrada, sua companheira estava prestes a entrar no banheiro, quando parou abruptamente, com o rosto cheio de preocupação.

-O que aconteceu com ela? -perguntou ela, visivelmente alarmada.

-Ela desmaiou. Não sei qual é a gravidade, mas ele precisa descansar", respondi, sentindo a urgência em minha voz.

Ela assentiu, juntando nossos pertences e abrindo caminho para mim enquanto nos dirigíamos para a saída.

Do lado de fora, o ar fresco parecia trazer alguma cor de volta ao rosto de Ivanna, embora ela ainda estivesse inconsciente. No caminho para a minha caminhonete, quando a acomodamos no banco de trás, sua companheira se inclinou para mim, com uma expressão carregada de perguntas.

-De onde você conhece a Ivanna? -perguntou ela, quebrando o silêncio.

Olhei para ela, sem saber como responder. Eu realmente não a conhecia, pelo menos não no sentido tradicional, mas havia algo nela que parecia inexplicavelmente familiar.

Algo em seu olhar naquela manhã havia despertado algo em mim, algo que eu pensava estar enterrado.

-Não posso dizer que a conheço", respondo, tentando parecer neutro. -Estou apenas... ajudando alguém que precisa da minha ajuda.

Ele franze a testa, como se minhas palavras fossem algum tipo de enigma.

-Tem certeza?

Desvio o olhar, tentando evitar uma resposta direta.

Como eu poderia explicar o que nem mesmo eu entendia?

O que estava em seus olhos naquela manhã era algo que eu reconhecia, algo que me era muito familiar: um tipo de tristeza contida, a mesma que eu havia aprendido a mascarar.

É melhor levá-la a um hospital", ele sussurrou, observando o rosto pálido dela enquanto fechava a porta.

Não. Vamos levá-la para o apartamento dela", ele responde rapidamente. Ivanna ficaria chateada se eu a levasse para um hospital e não para sua casa.

-Não acho que seja a coisa certa a fazer. Precisamos saber se o que ela tem é grave.

-A Ivanna já passou por muita coisa, embora nem sempre diga isso. Ela é... muito forte, mas todos nós temos um limite", comentou ela, com um tom baixo e melancólico. -Ultimamente, tenho notado que ela está mais exausta do que o normal, mas ela só precisa descansar para se recompor.

Eu não sabia o que dizer. Havia algo em suas palavras que me fez sentir ainda mais responsável, embora eu não entendesse bem por quê.

Quando chegamos ao prédio dela, eu a ajudei a sair do carro. Sua colega de quarto abriu a porta do apartamento e eu a levei até o sofá, depositando-a com cuidado.

Ivanna se mexeu levemente, com os olhos ainda fechados, a respiração calma, mas com um toque de vulnerabilidade.

Lucero, ou assim acho que se chama; ela olhou para mim, com uma expressão ao mesmo tempo grata por minha ajuda e me alertando para algo que eu não conseguia decifrar.

-Ela não costuma deixar que os outros a vejam assim", disse ele em voz baixa.

-Ela é... muito reservada, como se não quisesse sobrecarregar os outros com seus próprios problemas.

Eu a observei por um momento, lembrando-me do brilho em seus olhos quando nossos olhares se encontraram pela primeira vez.

Havia algo nela, uma ferida oculta que nós dois compartilhávamos de alguma forma, uma história não contada que eu reconheci com muita clareza.

-Às vezes, não se trata de querer carregar os problemas de outra pessoa, mas sim de entender que temos os nossos próprios problemas", murmurei, mais para mim mesmo do que para Lucero.

-Vou ligar para a Sra. Regina e explicar o que aconteceu com a Ivanna", ele suspira, "vou esperar ela acordar e voltar para o escritório.

-Não precisa. Passe o resto da tarde com ela, eu me encarregarei de falar com a Sra. Smith.

-Muito obrigado, Sr. Carter. -Vou pegar um pouco de álcool e algodão e ver se ela acorda.

Ela sai, deixando-me no meio da pequena sala com ela. Dou uma olhada no local e vejo que é bem pequeno, ou pelo menos para o meu hábito.

Noto um papel branco aberto na mesa acima dela. Ela o pega e, quando começa a lê-lo, meu sangue ferve de raiva.

"Ivanna."

Não sei como dizer isso a você sem parecer o covarde que sou, mas acho que não há como disfarçar.

Não posso ir adiante com você ou com o que esse "nós" significa.

Não sou o homem que você precisa, muito menos o pai que o bebê merece.

Não tenho coragem de enfrentar isso; não posso carregar a responsabilidade ou a vida que você tem agora dentro de você.

Não posso fazer isso, Ivanna. Sinto muito

Harold

As palavras eram tão frias, tão podres, que eu achava difícil acreditar que alguém pudesse deixar as coisas assim, sem um pingo de remorso.

Achei impossível imaginá-la lendo isso em algum momento, recebendo a notícia de que o homem em quem ela confiava tinha acabado de abandoná-la, deixando-a... e seu bebê.

Um bebê.

Agora, as peças se encaixam: sua exaustão, aqueles lampejos de tristeza em seus olhos, a maneira como ela evitava qualquer proximidade. Ela está carregando algo tão grande, tão difícil e tão doloroso sozinha.

Não pude deixar de sentir uma onda de raiva pelo homem que a abandonou.

Como ele pôde deixá-la daquele jeito?

Com apenas algumas linhas covardes, fingindo que isso apagaria a responsabilidade?

Eu me virei para olhar para ela e lá estava ela. Tão frágil e magoada, tentando se manter de pé.

Mas a verdade é que eu não conseguia mais vê-la da mesma forma. Por trás de seu olhar firme, eu agora entendia que também havia dor, um peso que ela havia decidido carregar sozinha...

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