Por favor... me solta.
Empurro-o com toda a força que tenho, mas ele nem se mexe.
— Vai, gostosa, abre essas lindas pernas pra mim. — Começo a me debater, tentando me livrar do toque da sua boca na minha pele. Gerson senta em cima de mim e paraliso quando sinto algo gelado e afiado no meu pescoço. — Se gritar, faço picadinho desse seu perfeito rosto.
Mal consigo respirar. Desde pequena, quando fico com muito medo, meu corpo paralisa e minha voz mal tem som para conseguir gritar. Desde que me casei com Taylor, esse medo vem ficando cada vez mais forte. Cada vez que tento lutar, parece que as minhas forças somem.
— Por favor... me solta... — suplico baixinho, forçando a voz a sair.
— Ah! Como amo uma mulher implorando. — Ele solta minhas mãos para tirar o cinto. Ao sentir seu membro duro contra meu corpo, me desespero. Junto toda a minha força, que nem sabia que tinha, e jogo tudo no meu joelho, fazendo-o cair da cama. — Ahh, desgraçada.
Levanto correndo e consigo chegar até as luzes. Corro para a porta, mas está trancada. Passo a mão na cômoda onde fica a chave, mas não acho. Entre o meu desespero, começo a socar a porta e gritar alto, o mais alto que consigo. E, pela primeira vez, meu corpo obedece às minhas ordens. O quarto de Taylor é longe, não sei se ele vai me ouvir. Procuro meu celular e não está onde deixei.
— Deus! O que eu faço, TAYLOR, SOCORRO. — continuo batendo na porta sem parar.
— Para de gritar, sua vagabunda. — Ele fala levantando e vindo em minha direção. — Pensei que fosse mais inteligente. — Em um movimento rápido, ele me joga na cama. Sua boca nojenta começa a beijar meu rosto novamente, que arde com seus dedos cravados em meu queixo.
Minhas vistas começam a se escurecer, meus olhos queimam pelas lágrimas que caem sem parar.
"Deus, eu não posso fraquejar, não agora." (pensamento)
Imploro a ele que pare, mas nada faz com que ele saia de cima de mim. Cada lágrima que cai parece estar lhe dando mais desejo. Estou tremendo, com medo de que ele consiga fazer o que quer. Meu corpo está sem forças, minha mente já não raciocina mais. Quando tudo está escurecendo, ouço um estrondo na porta. Nesse instante, meu corpo amolece. Meus olhos estão abertos, mas fixos em um só lugar. É como se minha alma tivesse abandonado meu corpo. Gerson é arrancado de cima de mim. Viro minha cabeça para o lado e percebo que é Taylor. Estou me sentindo pequena. Meu corpo grita por socorro, por proteção. Ouço socos. Logo, Cecília vem separar, gritando e me xingando, falando para Taylor que eu sou a culpada de tudo.
— Seu maldito. — Outro soco faz Gerson cair no chão.
- PARA! Você vai matar seu pai. — Cecília grita, tentando impedir que Taylor continue batendo em Gerson.
— Filho, não está vendo? Ela armou pra mim. Me ouça, filho. Acredita em mim. Essa vadia fica se esfregando e se insinuando pra mim desde que você a trouxe para casa.
— Eu vou te matar. — Taylor continua suas sessões de socos. Ouço tudo, mas não consigo me mexer. Me encolho, abraçada nas minhas pernas. A única coisa que sei fazer é chorar. Grito quando sinto uma mão no meu ombro.
— Não, não me toca, por favor, não me machuca.
— Amor, sou eu! Ele já foi! — Taylor me abraça apertado. Eu não consigo ter reação. Meu corpo inteiro treme, minhas lágrimas parecem ter secado, pois elas já não escorrem mais. Estou com nojo de mim, estou com raiva por não conseguir me defender. — Me perdoa.
— Voc... você não acreditou em mim, por quê? Por que não acreditou? Tudo poderia ser diferente.
— Vem, amor. Vou cuidar de você. — Ele me pega no colo e me leva para seu quarto. Encolhida, fico em seus braços. A cada passo, ele me pede perdão, mas o que adianta? Nada vai mudar. A dor que sinto aqui dentro não vai passar. De tudo que vivi na minha vida até hoje, essa noite, sem dúvida, foi a pior noite da minha vida.
— Por favor... me deixa viver minha vida longe disso tudo. Me dá o divórcio, eu te imploro. Eu imploro...
— Não, amor. Ninguém mais vai te machucar, eu prometo. Nunca vou te dar o divórcio. Você é minha, sabe disso.
Ele me deita na cama e me cobre, me puxa para seu peito e me abraça, fazendo juras de que ninguém mais vai me machucar. Taylor fica o tempo todo abraçado comigo, sem se mexer. Depois de horas, consigo dormir. Dessa vez, não tem sonhos bonitos. Eu só queria apagar o que aconteceu...
Não demora muito e a luz do dia invade o quarto. Acordo e Taylor está me olhando.
— Bom dia! Como você está? — Ele pergunta, sentando na cama e me olhando.
Não respondo, levanto e vou para meu quarto. Olho e ainda está do mesmo jeito, me fazendo lembrar dos momentos de terror que vivi essa madrugada: a porta quebrada, minhas coisas jogadas no chão e uma tesoura, a mesma que ele usou para me ameaçar. Encontro meu celular debaixo da cama. Tem mensagem de bom dia do Renan, Fábio e Dani, coloco-o na cama e vou tomar um banho, só debaixo do chuveiro que me acabo de chorar, as lágrimas voltam a cair sem parar.
Depois de uns minutos, já estou pronta, dou uma olhada no espelho me sentindo um nada, fiz uma leve maquiagem só para cobrir as marcas do meu pescoço e rosto. Saio do banheiro, Taylor está parado na porta, seus olhos se encontram com os meus, vejo tristeza em seu olhar.
— Vem comigo, vamos tomar café no caminho. — ele estende a mão, mas não pego.
— Não estou com fome, Taylor. Pode parar de fingir. Se não está disposto a me dar o divórcio, pelo menos não tente me enganar mais. — Ele se aproxima e beija minha testa.
— Deixe-me cuidar de você, por favor?
Olho para ele, demonstrando toda a minha fragilidade.
— Não! Agora é tarde demais. — Falo, ainda sem certeza de que é isso mesmo que eu quero.
Ele me puxa pela cintura e me abraça forte. Sinto algo úmido em meu rosto e percebo que ele está chorando. Me separo e olho em seus olhos, surpresa, pois ele nunca foi assim comigo. Nunca o vi tão vulnerável como está agora. Nunca recebi uma demonstração de carinho da parte dele.
— Vamos, amor. Estou faminto. — Taylor tenta passar confiança em suas atitudes, fingindo que nada aconteceu.
Novamente, não respondo, apenas baixo a cabeça e suspiro pesadamente. Estou cansada de tudo o que está acontecendo, com vontade de fugir para bem longe. Mas, no momento, a única coisa que posso fazer é aceitar a vida que levo. Ele entrelaça seus dedos nos meus e me puxa ao seu lado. Desisto de negar e desço as escadas com ele. Ouço a voz de Gerson e, no mesmo instante, começo a tremer. Minhas pernas parecem estar paralisadas. Taylor me olha apreensivo e ignora os chamados deles, me tirando rapidamente porta afora. Saio praticamente arrastada. Só quando ouço a porta se fechar é que respiro aliviada por não estar na frente daquele monstro.
Entro no carro em silêncio. Não consigo falar. Encosto a cabeça no vidro do carro e lá estão novamente aquelas lembranças. Se eu fechar os olhos, consigo sentir o hálito nojento daquele homem, cada toque daquelas mãos asquerosas, aquela voz que tanto me causa repúdio.
Taylor começa a puxar assunto para ver se eu esqueço. Liga o som do carro e coloca minha música favorita. Encaro-o por alguns minutos e percebo que ele realmente está tentando. Por incrível que pareça, agora sei que ele conhece meus gostos, melhor do que eu imaginei.
— Será que depois de tudo isso, vou conseguir voltar a ser a mesma? — Pergunto baixinho. Ele me olha e logo desvia o olhar para a rua novamente.
Paramos na frente do escritório e me sinto aliviada, pois ali está o meu refúgio, as pessoas que em dois anos se tornaram minha família.
— Quando chegar da viagem, me liga que venho te buscar.
— Por quê? Eu posso ir embora sozinha.
— Deixa eu tentar, prometo que vou recompensar todo o sofrimento que te fiz passar.
— Promete?
— Sim, prometo, Ive. Posso te dar um beijo? — Fico olhando nos seus olhos e concordo, me aproximando lentamente. Ele acaricia meu rosto, fazendo-me fechar os olhos por alguns instantes. Logo, ele sela nossos lábios e, pela primeira vez, recebo um beijo sem segundas intenções, sem nada programado. Pela primeira vez, beijo o homem que amo, num beijo calmo, lento e carinhoso. — Bom trabalho.
— Para você também.
— Espera...
— O que? — Antes que eu abra a porta para sair, Taylor desce rápido do carro e abre a porta. Fico alguns segundos olhando para ele desconfiada, mas se ele realmente está querendo mudar, acho que está no caminho certo. — Obrigada!
— Não esquece de me ligar.
— Tá bom. — Entro no escritório e Dani vem correndo ao meu encontro.
— Amiga do céu, como assim você está com o gostoso do Jolins? — Ela fala toda animada.
— Ele que é meu marido, amiga. — Ao terminar de falar, seu sorriso se desmancha.
— Aquele desgraçado, filho de uma puta, vigarista. — Acabo rindo dela, pois ela é capaz de mudar de humor em segundos.
— Nem acredita em tudo que passei nessas últimas 24 horas, amiga. — Falo desanimada.
— O que foi? Por que me parece algo ruim? — Abaixo a cabeça e não consigo conter as lágrimas. Ela me abraça e conto tudo desde o restaurante até o pior momento da minha vida. — Meu Deus, você está bem? Ele te machucou? Me diz, Ive, pelo amor de Deus!
— Graças ao Taylor, ele não conseguiu fazer o que queria, mas foi por muito pouco. Me senti frágil, com tanto medo, que naquele momento a única coisa que desejei era a morte.
— Maldito! Quando o Renan descobrir, ele vai matar esse homem, e eu vou ajudar! — Seguro suas mãos, quase implorando, e peço para que ninguém fique sabendo.
— Não fala nada, por favor. Já basta a vergonha que passei ontem. Ele tem a vida dele, não quero que ele se preocupe comigo.
— Você sabe que sou contra isso, não sabe? Mas se tem certeza, não vou falar nada.
— Tenho, eu vou ficar bem, amiga, eu juro!
— O Taylor denunciou esse maldito para a polícia?
— Não! Como amiga, se ele é a própria polícia?
— Não importa se ele é o papa, esse homem tem que pagar. Enquanto nós mulheres ficamos reféns do medo e nos calamos, esses malditos vão continuar nos assediando.
— Eu tenho medo de que piore as coisas, sabe... Por favor, não faça nada. Ele pode te machucar, você não conhece esse homem. — Falo, quase implorando. Ela me olha, mostrando todo seu descontentamento.
