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Amiga!

Estamos revisando os papéis da reunião. Tivemos que mudar algumas cláusulas no contrato que, no primeiro instante, estava perfeito. Agora, o cliente colocou defeitos. Mas mesmo com essa parte que parece ser chata, gosto de estar aqui com essas pessoas, com o Renan. No trabalho, esqueço de tudo, até mesmo da noite de terror que vivi naquela maldita casa.

— Bom, acho que é isso. Obrigado, Ive. Ficou perfeito. — Meu chefe fala sem tirar os olhos dos papéis.

— Sim, Renan. Acredito que agora seria impossível mudarem de exigência novamente.

— Nem me fala, Fábio. Eu já tinha mandado todo mundo pro inferno, cê loco. As pessoas acham que somos palhaços? — Dani nem olha os contratos e diz que está bom rsrsrs. — Está perfeito.

— Você nem leu rsrsrs. E fica calma, amiga. Vai que, por azar, na hora da reunião eles mudam novamente.

— Nem brinca com isso, Ive. Não sei como consegue digitar tranquilamente tudo de novo.

— Para ela, nada é impossível, Dani. Você sabe que tenho a melhor secretária e assistente pessoal de todas.

— Só sou o espelho de como vocês me tratam. — Falo um pouco envergonhada.

— Você é uma joia rara, amiga.

Saímos todos juntos. Dani é da contabilidade, ela vai com a gente caso aconteça alguma coisa e eles realmente fechem com a gente. Ela já está lá para receber o adiantamento.

— Dizem que o restaurante é muito acolhedor. — Fábio fala puxando assunto.

— Por isso quis ir lá. Depois vamos comemorar. — Renan fala me encarando. Ele tem feito muito isso esses últimos dias.

— Opa, se pagarem a bebida, vou até no deserto a pé.

— Dani, você é uma cachaceira rsrsrs.

Entramos no carro e não tinha como parar de rir com eles. Renan é leve, Dani é doida e Fábio só sabe reclamar, igualzinho a mim. Depois de 3 horas, chegamos na cidade.

— Chegamos, glória a Deus, minha bunda está até dormente. — Dani reclama e todos nós rimos.

— Ainda bem, já estava dando câimbra na minha boca de tanto rir. — Falo ainda sorrindo.

— Amo ver esse seu sorriso.

— Com vocês, meus dias escuros se tornam um pouco mais claros.

— Não sei por que você é casada com aquele babaca do Jolins, que te traiu na cara dura. — Fábio fala e eu abaixo a cabeça desanimada.

— Xiuu, não vamos estragar o clima que está tão leve. — Renan encara ele, não gostando do rumo que a conversa tomou.

— Realmente, poderia guardar sua opinião pra si. — Dani fala, chamando sua atenção.

Ela olha pra mim e lá está sua carinha de preocupação. Descemos do carro e fomos para a loja comprar uma roupa pra mim. Eles dizem que eu fico estranha no terno rsrsrs, mas eu gosto. Cobre todas as marcas que se formaram no meu corpo, que ultimamente andam cada vez mais roxas. E depois dessa noite, não posso arriscar que saibam tudo que passei.

— Esse não, está parecendo uma freira. — Toda roupa que eu pego, ela joga no balcão.

— Então eu vou sentar aqui e você escolhe.

— Isso, fica quietinha aí. — Ela abre um sorriso lindo. Me sinto uma boneca e ela vai me vestir. — Esse, o que acha?

— É lindo, mas os braços ficam de fora, amiga.

— O que tem nos seus braços que não pode mostrar? — Renan entra todo lindo, com uma camisa preta com os botões abertos. Como o dia está muito calor, ele está mais à vontade.

— Que isso, chefe? Quer matar suas funcionárias do coração? — Ele passa a mão na sua barriga perfeita, me fazendo acompanhar com os olhos, e caramba, ele está cada dia mais lindo. — Limpa a baba, amiga. Você é uma mulher casada, lembra? — Dani fala rindo da minha cara ao perceber que estou encarando demais o Renan. Sinto meu rosto queimar de vergonha.

— Sou casada, não cega. — Falo encarando os olhos do Renan, que me olham na mesma intensidade.

— Eita, o negócio aqui tá quente. — Fábio chega percebendo nossas trocas de olhares e faz mais algumas piadas, que não foram ouvidas por Renan.

Renan continua me encarando, como se quisesse ler meus pensamentos. Sei que ele quer saber do que estávamos falando.

— Nem adianta mudar de assunto. Que marcas são essas que você quer esconder? E não tente me enganar. Eu te conheço, Ive, e sei exatamente quando está mentindo.

O sorriso da Dani se desmancha igual ao meu, e pela primeira vez ela fica sem ter o que falar.

— Não é nada, Renan. Fui beber água de madrugada, estava escuro e acabei escorregando. Como a bela desastrada que sou, bati meu braço na porta.

— Saiba que não acredito. Sei que não vai falar agora, depois falamos sobre isso. — Ele me olha desconfiado. Sei que ele realmente não se convenceu. Nem eu acreditaria nisso.

— Chefe, vai lá que ela vai se vestir. Nós já vamos.

— Ok. — Ele sai e enfim consigo respirar novamente. Detesto mentir para ele, mas não posso contar o que aconteceu. Sei que ele vai surtar.

Danielle mostra um monte de roupas, mas nada é muito do meu estilo. Até que vejo um conjunto vermelho, com blazer e saia. Achei lindo.

— Esse! Olha, é perfeito.

— Não gostei, e se...

— Aí amiga, é tão lindo, e faz quase 3 anos que não uso uma saia.

Ela concorda comigo e eu entro para me trocar. Olho no espelho e, mesmo que a saia seja curta, ela não mostra muito o meu corpo por causa da meia-calça que coloquei por baixo. Ela é quase uma segunda pele. Minhas roupas são mais largas, os terninhos não ficam colados no corpo. Esse é totalmente diferente do que estou acostumada a usar.

— Ficou linda, amiga. Realmente, mudou até o seu rosto. Aquele terno cinza te deixa tão apagada.

— Viu, ainda sei me vestir.

Saímos do provador e vamos para o caixa. Renan me olha com admiração. Ele já está com a camisa abotoada. Ele paga e volta a atenção para mim. Não estou acostumada a receber elogios, mas ele sempre que pode fala alguma coisa. Às vezes, quando faço algo diferente no cabelo, ele é o primeiro a reparar e elogiar. Quando coloco um brinco ou algum acessório, recebo os melhores elogios, como se ele preparasse tudo que se refere a mim.

— Você está muito perfeita. Tudo em você fica perfeito.

— Renan, está na hora de mudar o uniforme. Aquele deixa nossa amiga com cara de folha amassada. — Fábio fala rindo e Dani não se aguenta de rir.

— Folha amassada, de onde tirou isso? — falo um pouco envergonhada. — Nem é tão ruim assim.

— Não mesmo. Qualquer coisa que você vestir, ficará lindo em você. — Renan fala um pouco perto do meu ouvido. Sua voz rouca, seu hálito fresco com cheiro de menta roçam na minha pele, me fazendo arrepiar.

— Ai, Deus. Eu com um homem desse, me olhando assim e falando coisas perto do meu ouvido, já nem vestidos estaríamos mais.

— Credo Dani, meu Deus! Mulher, sossega esse facho.

— Você é hilária Dani. — Fábio fala rindo e dando um tapinha de leve no ombro da Dani, como se ela fosse sua camarada. Ela olha para ele e revira os olhos. Saímos da loja e encontramos o pessoal da reunião. Conversa vai, conversa vem, pega contrato, revisa contrato, colocam defeitos, até que um deles diz que quer os termos do primeiro acordo.

— Só pode... —Dani coloca a mão em cima da mesa e a fecha com raiva. Eu seguro a mão dela, impedindo-a de continuar a falar. Dani deve ter uns parafusos soltos, certeza.

— E agora? Como vamos fazer? Mudamos todo o contrato para que fique do agrado de vocês.

Abro minha pasta e tiro o primeiro documento.

— Senhor Renan, esqueci de te avisar, senhor. Eu trouxe ele comigo, estava com receio de que isso acontecesse.

– Graças a Deus. Fábio chega perto do meu ouvido e sussurra bem baixinho. — Estava pronto para voar no pescoço dele, você evitou uma tragédia.

Claro que é brincadeira, eles são muito profissionais. Se eu não tivesse o primeiro documento, iríamos em algum lugar imprimir o contrato que está salvo no meu notebook.

— Minha nossa.— Dani fala rindo ao ouvir ele falando, mesmo tentando se controlar para não rir, ela não se aguenta. — Desculpa gente, lembrei de uma piada que contaram de manhã e só agora entendi. — Olho para ela sem acreditar na cara de pau que tem. Ela consegue sair de uma enrascada sem ninguém desconfiar.

— Obrigado minha linda. Renan segura minha mão, que estava em cima da pasta, debaixo da mesa, me agradece e volta sua atenção para os acionistas.

— Muito obrigado por serem tão eficientes. Achei que não iríamos fechar negócio hoje.

— Isso jamais, senhor Joaquin. Vocês fizeram um ótimo negócio. — Eles se cumprimentam com um aperto de mão e saem.

— Nossa, estou com fome. Esse negócio de fazer a fina só fez abrir um buraco no meu estômago. — Dani fala, fazendo todos nós rir.

— E você, Ive, está com fome? — Antes que eu possa responder, o Renan, minha barriga fala por mim.

— Oxi, achei que fosse brincadeira o que você falou, mas realmente você tem um dragão aí dentro. — Coloco as duas mãos cobrindo meu rosto, que queima de vergonha pelo que o Fábio falou.

— Só comigo acontecem essas coisas? Não é possível!

— Rsrsrs, vamos alimentar o dragãozinho que vive em você.

— Ai, meu Deus, até você, Renan?

— Aí, amiga, é um dragãozinho lindo.

— Eu mereço vocês.

— Agora aguenta.

Estamos comendo o velho e bom arroz e feijão. Entre conversa e risadas, posso dizer que em toda a minha vida nunca tinha me divertido tanto como me divirto com essas pessoas que estão na minha vida há 2 anos.

Depois do almoço, pedimos uma sobremesa. Pedi um mousse de chocolate. Há muito tempo que não comia. Lembro que a última vez foi quando trabalhava limpando os quartos do Brooson. Gostava daquele tempo. Meu último dia limpando o hotel foi quando descobri que ia me casar com Taylor.

Estou distraída, rindo das bobagens que Dani e Fábio falam, quando sinto uma mão no meu ombro. Olho para cima e vejo quem eu não via há mais ou menos 4 anos.

— Amiga! — Ela se aproxima e toca no meu ombro. Levanto rápido e a abraço.

— Meu Deus, Nadya, quanto tempo. — Apresento-a para o pessoal. Fábio ficou de olho nela. Dani tenta disfarçar, mas sei que ela morre de ciúmes dele.

— Querido, se abrir mais a boca, a baba vai escorrer! Nossa, nem é tudo isso!— Dani fala com desdém.

— Danielle! — Renan chama sua atenção. Ele e eu nos divertimos com a forma como ela fala. Se a Dani não queria demonstrar ciúmes, ela fracassou.

— O que faz aqui, Nadya? Está com seu pai?

— Sim! Cheguei essa semana. Meu pai estava investigando uma mulher e só agora entregou o documento para o rapaz que o contratou.

— Ah, entendi. Ele é cheio de mistérios, rsrsrs. O senhor Foston é detetive particular, um homem íntegro com um coração que não cabe no peito de tão grande.

— Sabe como é, por mais que eu pergunte, ele não diz nada sobre seu trabalho e muito menos quem está investigando. Só sei que é alguém muito rico. E de quebra, estou saindo com o homem que o contratou.

— Nossa, que bom que todos saíram felizes.

Sentamos na mesma mesa e começamos a conversar. Ela já fez amizade com Dani e Fábio. Renan cumprimentou, mas nada muito íntimo e nem muito contato como Fábio e Dani.

— Me diz, Ive. Como anda a vida? Soube que casou!

— É, sim, casei.

— Qual é o nome dele? — Quando ia responder, ouço alguém me chamando. Quando olho, me surpreendo.

— Ive?

— Elisa... nossa, hoje é dia de reencontros. Sim, Elisa é a mulher que comentei nos primeiros capítulos. Ela é a mulher que Taylor sempre amou. Acho que é a única. — Oi, quanto tempo.

— Caramba, Ive, você só conhece mulher top. — Fábio fala empolgado.

— Aí que idiota. — Dani resmunga sem se importar em ser ouvida.

— Deixa eu apresentar meus chefes e amigos. Esse é o Fábio, caso queira saber, rsrsrs. Essa loira maravilhosa é minha amiga Dani. E esse... bom, é o Renan.

Sentamos todos juntos e ficamos conversando. Renan ficou mais em contato com a gente, seus amigos mesmo. Elisa cresceu os olhos nele e isso não foi muito bom. Me senti um pouco incomodada com a forma que ela ficava colocando as mãos no seu braço.

— Bom, prazer em conhecer vocês. Vamos antes que fique muito tarde. — Renan fala se levantando, como se tivesse incomodado com esse contato todo.

— Verdade, vamos antes que o Fábio se atire mais em cima delas. — Dani fala rindo, mas sua expressão facial não está nada feliz.

— Que pena, essas duas são tão encantadoras. Vocês são estraga-prazeres.

— Abre o olho, Fábio. Você vai perder a pessoa mais incrível que você poderia ter. — Falo baixinho, só para ele ouvir. Percebo que ele ouviu, quando os seus olhos vão para a Dani, que está com um beiço do tamanho do mundo.

Levanto-me para me despedir, mas Elisa pergunta sobre meu marido.

— E o Jolins? Tem notícias dele?

— Não tenho, faz tempo que não o vejo. — Falo sem pensar. Os três me olham surpresos, sem entender por que eu disse isso.

— Ele me ligou no começo da semana, mas eu estava em uma viagem e não deu para a gente se encontrar. Como sempre, ele estava louco para me ver. Lembro como você babava por ele, e Taylor sempre correndo atrás de mim. Eram bons tempos. Até fiquei com ele em uma viagem que fiz a Paris. Acredita que ele até falou em casamento, que loucura. — Ela fala rindo, como se fosse uma conquista.

Renan para ao meu lado e sussurra para irmos embora. Ele viu que essa conversa estava me incomodando. Não me surpreendo em descobrir mais uma traição. Sei que sempre fui traída. Ele nunca escondeu isso.

Nos despedimos e fomos embora. Estamos conversando sobre a comemoração que estão programando para o final de semana. Bom, eu vou. Não vou deixar de me divertir por causa do ciúme do Taylor. Afinal, meu casamento nem é um casamento.

Combinei com Nadya de nos encontrarmos depois do trabalho. Ela é uma garota incrível, totalmente diferente de mim. Personalidade forte. Quando quer, corre atrás. Estudamos psicologia juntas, só que ela trabalha na área. Nadya tem uma beleza fora do comum. Seus olhos são verdes como esmeraldas. Desde que a conheço, ela tem os cabelos longos, que batem na cintura, todos cacheados. Assim como eu, ela não é muito alta. Por onde passa, chama a atenção.

O caminho de volta foi tranquilo. Não demora muito e estamos na frente da empresa.

— Boa noite para vocês. O dia foi ótimo e muito lucrativo. Renan, quando chegar no apartamento, me liga. Dani, desamarra essa cara. E minha querida Ive, mete o pé na bunda desse psicopata que é seu marido, pois se você não fizer, eu faço. — Fábio fala e entra no carro. — Fui, família. Amo vocês.

— Até amanhã, cara. Não cansa de me encher o dia todo? Quer que eu te ligue ainda? — Renan fala brincando.

— Para, que eu sei que você me ama. — Fábio responde rindo. Ele olha para Dani, que realmente está brava, e a ignora completamente. — Bom, eu vou né, antes que alguém me lance laser pelos olhos de tanta raiva. — Ele acelera e vai.

— Já vai tarde, babaca! Amiga! Você vai de táxi?

— Não, eu vou levá-la.

— Na verdade... Taylor vem me buscar.

— Ah, sim!— Renan me olha e abaixa a cabeça, como se não esperasse por isso. — Bom, até amanhã. Se cuida, dragãozinho. — Ele beija minha testa e demora uns segundos para se afastar. Olho para cima sorrindo, até que me assusto com a buzina do carro de Taylor.

— Que susto! Tem que ser esse filho da mãe!.— Dani resmunga brava.

— Até amanhã, gente.

— Até, minha morena linda. Cuida do seu coração, não deixe ninguém machucá-lo. — Dani fala me abraçando com ternura.

— Se precisar de mim, saiba que sempre estarei aqui. — Renan fala. Olho para ele e por alguns segundos nossos olhos parecem estar conversando.

— Bom, obrigada gente. Amo vocês.

— Também te amamos, né Dani?

— Sim, e muito, né Renan?

— Vocês dois são estranhos, mas amo vocês mesmo assim. Até amanhã.

Entro no carro e mal consigo fechar a porta. Taylor me puxa para um beijo. Me sinto estranha recebendo seu beijo.

— Oi para você também. — Falo me afastando.

— Estava com saudades. Tenho uma surpresa.

— O que é?

— Se eu te contar, não vai ser mais surpresa.— Ele liga o carro e dá a ré. Olho para a janela e vejo Renan e Dani me olhando. Baixo a cabeça, pois parece que minha felicidade só é real ali ao lado deles. Algo em mim muda quando estou com Taylor, não sei, talvez seja medo de me machucar novamente. — Ansiosa?

— Ah, sim, muito. — Nem estava pensando nisso, mas disfarço para não mostrar meu desinteresse. Olho para a rua e percebo que não estamos indo para a sua casa. — Para onde você está me levando?

— Você vai ver.

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