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Capítulo 7 - Segredo part. 2

¤ Por Ashley Cooper | Miami, Flórida 09:05 PM ¤

Não há nada que possa te tirar a dor. Mas, eventualmente, você descobrirá como conviver com ela. Você terá sonhos e pesadelos. E todos os dias quando você acordar, será a primeira coisa em que você vai pensar... Até que um dia, será a segunda coisa.

Para mim, uma das coisas mais difíceis que tive que presenciar foi a ida da minha mãe. Eu me lembro até hoje da estampa da roupa que ela usava, lembro de segurar a barra da sua blusa, chorando, pedindo para ela ficar, enquanto ela abria a porta, me empurrava para trás, e desaparecia das minhas vistas. Foi uma cena que se impregnou na minha mente, e nunca mais esqueci, me causando traumas decorrentes de abandono, eu tenho nação disso.

Contudo, nesse momento, nada era pior para mim do que a cena em que encontrei pela manhã. Era impossível qualquer coisa competir com aquilo. Uma verdadeira cena de terror e agonia. Fiquei tão assustada que só conseguia chorar, e agora, um peso enorme apertava o meu coração.

Os olhos de Dylan bateram nos meus de relance, assim que ele apareceu na porta. A sua pergunta ficou estacionada no tempo, e quando ele passou por mim, eu senti um arrepio pelo o meu corpo. Eu me afastei deles e limpei as minhas lágrimas, tentando engolir o choro.

— Filho, está tudo bem, foi apenas um susto... – Elizabeth disse.

— O médico me explicou sobre o corte e a quantidade de sangue que perdeu. A senhora está bem mesmo? – eu estava na janela, tentando distrair a minha mente para parar de chorar. Minhas mãos ainda tremiam.

— Claro que sim, estou ótima, não foi nada demais... – houve um momento de silêncio, e então ele voltou a questioná-la.

— E o que vocês duas conversavam antes de eu chegar? – é óbvio que ele ficou curioso e iria voltar a perguntar sobre.

— Sobre esse acidente, querido, eu estava preparando alguns cortes de carne na cozinha, fui desatenta, e você sabe como eu sou desastrada... – ela riu, querendo fazer graça com um assunto tão sério.

Eu entendo que ela estava arrependida do que fez e sei que ela só quer proteger o filho dos seus próprios demônios, mas enrolar ele não os levará à lugar algum. Pelo o contrário, quando ele descobrir a verdade ficará terrivelmente chateado por ela tentar esconder dele.

— Hum – escutei ele fazer.

— Bom, já que a senhora já está bem acompanhada – sorri gentilmente para ela. —, eu já vou indo – abaixei a cabeça e fui em direção à porta.

— Querida, por favor, me deixe lhe agradecer mais uma vez – ela disse, me fazendo parar. Eu olhei para ela em sua cama, e sorri, acenando negativo.

— Não precisa agradecer, não fiz nada demais – de fato eu não fiz. Qualquer um teria prestado socorro numa situação dessas.

— Você foi um anjo enviado por Deus! Se você não tivesse aparecido... – eu quis interrompê-la.

— Que bom que no fim deu tudo certo, desejo que a senhora tenha uma boa recuperação – eu sorri para ela uma última vez, e finalmente sai daquele quarto.

Eu evitei a cada momento olhar na cara de seu filho, não tinha forças para aquilo. Ela devia contar à ele o que de fato aconteceu. Ele não iria julgá-la, tenho certeza de que ele iria apoiá-la no tratamento. Mas, eu também entendo que ela estava frustrada, arrependida e envergonhada.

Eu parei no corredor, de frente para um filtro de água, e peguei um copo para me servir. Um pouco de água me ajudará a ficar mais calma.

— O que foi que aconteceu? – quase pulei pelo o susto. Dylan estava ao meu lado, com um olhar duro e expressão séria. — Não estão me contando tudo. – Acusou.

— Pensei que o meu pai tivesse te explicado pela ligação... – falei, com a voz trêmula.

— Eu quero ouvir de você – ele respondeu.

— Eu... fui na sua casa, queria falar com você, mas quando eu toquei a campainha ninguém me atendeu, eu tentei bater na porta, mas ela estava aberta, e nesse momento eu ouvi algo estranho, como se alguém estivesse sentindo dor e algo cair no chão. Achei que devia entrar e ver o que estava acontecendo, foi quando eu encontrei a sua mãe... – ele apertou o olhar.

— O que foi que você viu? – perguntou. Ele queria que eu fosse mais específica?

— Sua mãe já estava caída no chão quando cheguei, tinha uma poça de sangue do lado do corpo dela. Eu corri e chamei pelo o meu pai – expliquei.

— Foi isso? – eu assenti afirmando. — E por aque você está tão nervosa? – ele apontou para o copo tremendo que eu segurava em minhas mãos. Eu engoli em seco.

— Fiquei assustada, pensei que ela estava morta – ele acenou positivo, como se tivesse entendido.

— Mas ela já está bem, e você parece que viu um fantasma – por que o Dylan tinha que ser tão esperto? — Você quase nunca chora, e não é de se abalar por qualquer coisa. Vocês duas estão me escondendo algo?

— Por que acha isso? – franzi o cenho. Ele era muito bom em intimidar as pessoas. E por que ele falava de um jeito como se me conhecesse?

— Vocês duas estavam de segredinho quando cheguei, e você perguntava à ela se ela iria me contar alguma coisa. Quero saber o que é. – Deixou claro. Ele me olhava sério, como se estivesse preparado para qualquer coisa que eu lhe soltasse.

Olha a enrascada que a Sra. O'Brien me meteu. Ela bem pensa que o filho dela é bobo!

— Dylan...

— Ela descobriu alguma doença? – ele perguntou, apressado.

Meu coração se apertou mais ainda. Ele já era traumatizado pela doença que levou o seu pai, e agora ele pensava que o mesmo aconteceria com a sua mãe. Meu Deus, eu queria tanto abraçá-lo e lhe contar a verdade.

— Não, não – falei rapidamente, lhe assegurando que não se tratava disso. — Nós falávamos sobre o acidente, eu queria saber se ela iria lhe explicar como aconteceu. Só isso – eu me segurei muito para não desabar nesse segundo.

Ele ficou mudo por um tempo, mas depois respirou fundo e voltou a falar.

— Minha mãe tem razão, você apareceu no momento certo. Também quero agradecê-la por isso – ele disse, erguendo um braço e enlaçando a minha cintura.

Eu me deixei ser abraçada por ele, sentindo o seu perfume no meu rosto, e seu aperto significativo. Ele me segurou próximo ao seu corpo e ali se passaram poucos segundos, e logo ele se afastou.

Eu enxuguei as lágrimas que não consegui segurar e voltei a olhá-lo nos olhos.

— Se precisar de ajuda com ela ou com qualquer coisa, pode falar comigo ou com o meu pai – eu sorri e ele acenou para mim. Eu dei um passo para trás. — Tenho que ir – e com isso eu fui embora dali.

Eu quase corria enquanto voltava à pé pra casa, e durante o caminho eu não parava de pensar no que tinha acabado de fazer. Será que é pecado? Será que eu vou conseguir dormir à noite depois de ter mentido algo tão sério? Sentia que a minha consciência já estava pesando, o suficiente para me tirar de órbita, e não conseguir pensar em mais nada.

Enquanto eu tomava o meu banho, eu deixava apenas água cair sobre o meu corpo, e olhava fixamente para a parede branca, tentando organizar os meus pensamentos.

Não era culpa minha. Não sou eu a protagonista dessa situação, a decisão de contar ou não a verdade não é minha. Então, eu não tenho que me sentir mal. Só preciso tomar cuidado para o Dylan nunca descobrir que eu sabia dessa informação. Vai ficar tudo bem, eu sei que vai!

Já se passava das quatro da tarde quando eu finalmente terminei o meu banho. Precisava começar a preparar o jantar, então logo me enrolei na toalha e fui até o meu armário, procurar algum vestido leve para aquele clima quente. Quando um movimento na janela chama a minha atenção. Era o Dylan batendo a porta do seu quarto, e tirando a sua camisa do corpo, expondo seu peitoral musculoso. Ele estava distraído, parecia cansado. Provavelmente ele havia voltado do hospital só agora.

Eu não me dei conta que fiquei hipnotizada e boquiaberta com a paisagem, até que ele olhou de volta para mim, me notando ali parada. Eu quase dei um pulo pelo o susto, segurei firme a minha toalha no corpo e abaixei a cabeça, pegando logo a peça de roupa, e sumindo dali.

Desde quando eu fujo da atenção de Dylan?! Que idiota!

Eu só não queria ter que lidar com ele agora. Toda vez que olho para ele, eu me lembro de sua mãe, e quando lembro de sua mãe me vem a imagem de todo aquele sangue no piso de sua cozinha.

Deus do céu, até quando me sentirei assim?

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