Na Pele - EP 5
O quarto estava mergulhado em uma penumbra confortável, apenas o leve brilho da lua entrando pelas cortinas finas. O ar estava impregnado do cheiro dos corpos que se entregaram, do suor misturado ao perfume natural de pele quente. As respirações, ainda descompassadas, começavam a encontrar um ritmo mais calmo, mais próximo do sussurrar do silêncio.
Jaston estava deitado de costas, os braços estendidos e relaxados, enquanto Hellen se aninhava atrás dele, a pele dos seus corpos se tocando com uma suavidade quase sagrada. Ele abraçou-a por trás, os dedos delicados envolvendo a cintura dela, puxando-a para mais perto, como se temesse que o toque pudesse desaparecer se ficasse distante.
Ela apoiou a cabeça no ombro dele, sentindo o leve batimento da veia pulsar sob a pele quente. O calor que restava entre eles era muito mais do que apenas o prazer físico. Era uma conexão rara e quase proibida, onde o desejo se encontrava com a vulnerabilidade, e a força da entrega se misturava com a ternura inesperada.
Enquanto os dedos dele brincavam com a curva do quadril dela, Hellen deslizou a mão lentamente pelo antebraço dele, tocando cada veia como se guardasse um segredo. O contato era sutil, mas carregado de significados que iam muito além das palavras.
Ele virou o rosto lentamente, encostando a testa na dela, os olhos ainda fechados, a voz baixa e rouca, como se pronunciasse uma confissão:
— Isso não é só sexo, e você sabe.
Ela sorriu com os olhos fechados, deixando a ponta dos dedos passear pelos cabelos dele.
— Fome assim... não se sente por qualquer um.
O silêncio que se seguiu foi confortável, cheio de tudo que não precisava ser dito. Hellen sentiu o peito apertar de uma forma doce, quase dolorida, enquanto o corpo de Jaston se movia levemente contra o dela, o calor e a presença preenchendo um espaço que antes parecia vazio.
— Você sabe que não é só isso para mim, né? — ele sussurrou contra o pescoço dela, a voz tão suave que ela quase não ouviu.
— Sei — ela respondeu, a voz embargada de um sentimento que ainda não conseguia nomear completamente.
Eles ficaram assim por um tempo que parecia eternidade, envoltos na calma depois da tempestade, o corpo dela se moldando perfeitamente ao dele, a respiração compartilhada, o toque discreto que dizia mais do que mil palavras.
Hellen desviou o rosto para o travesseiro, ainda sentindo os dedos de Jaston entrelaçados aos seus. Por um momento, uma memória inesperada passou em sua mente — os dias solitários, a ausência de alguém que a desejasse assim, por inteiro, e não apenas pelas sombras do prazer.
Ela respirou fundo, sentindo a pele arrepiar com a lembrança e com o toque cuidadoso que ele não parava de oferecer.
— Sabe o que mais me assusta? — ela confessou, olhando nos olhos dele com um brilho tênue.
— O quê?
— Ter que me acostumar a não ser só desejo. A não ser só carne.
Jaston apertou sua cintura com mais firmeza, como se quisesse protegê-la até mesmo das próprias dúvidas.
— Então fica comigo. Fica para mais do que isso.
— Eu quero — ela disse, sem hesitar.
E naquele instante, o mundo pareceu alinhar-se ao redor deles, como se a fome que sentiam não fosse só por sexo, mas por algo mais profundo: a sede de conexão, de presença, de alguém que os aceitasse — com todos os desejos e medos.
Eles ficaram ali, abraçados, enquanto a madrugada avançava, deixando que o silêncio fosse a linguagem que finalmente os unia.
O corpo dela repousava quente contra as costas dele, as mãos entrelaçadas, dedos entrelaçados como se fossem a única âncora naquele instante. Hellen sentia cada batida do coração dele contra a sua coluna, cada respiração profunda que dizia mais do que palavras poderiam expressar.
— Você acha que tudo pode mudar assim, depois de uma noite? — ela perguntou baixinho, sem querer romper a magia, mas desejando entender o que sentia.
Jaston demorou para responder, como se estivesse vasculhando dentro de si uma resposta que fosse verdadeira, sincera.
— Não sei se tudo muda. Mas eu sei que… não quero mais que seja sempre igual. Que a gente se use e vá embora. Quero mais. Quero a gente.
Ela virou o corpo lentamente para encará-lo, o rosto iluminado pela luz tênue da lua. A vulnerabilidade nos olhos dele era diferente daquela do desejo. Era uma entrega mais profunda, um pedido silencioso para que aquela fome — não só de carne, mas de alma — fosse saciada.
— Eu sempre tive medo disso — confessou Hellen. — Medo de sentir demais, de me entregar e depois me arrepender.
— Eu também — ele admitiu, passando a mão pelo cabelo dela, descendo depois para acariciar o rosto com carinho. — Mas talvez o medo seja só o sinal de que estamos vivos. De que isso aqui importa.
Ela sorriu, sentindo as lágrimas que ela mesma não sabia que estavam vindo escaparem silenciosas pelos cantos dos olhos. Ele percebeu, sem que ela precisasse dizer uma palavra. Com a delicadeza de quem maneja um tesouro raro, Jaston levou o polegar até o rosto dela, enxugando aquelas lágrimas tímidas. Em seguida, depositou um beijo suave no lugar molhado, um gesto de ternura que fez o coração dela bater mais forte.
— Você é louca — disse ele com um sorriso terno, tão sincero que parecia derreter todas as barreiras ao redor dela. — Mas eu gosto disso em você.
Hellen riu, meio sem jeito, meio encantada. Naquele instante, sentiu algo que não experimentava há muito tempo: a segurança de estar diante de alguém que a aceitava inteira, com todas as suas contradições, medos e paixões. Um suspiro escapou de seus lábios, e ela se aninhou ainda mais naquele abraço, sentindo o corpo dele quente e firme contra o seu.
— Você me assusta — ela confessou entre risos tímidos, — mas é o tipo de medo que quero sentir sempre.
— E eu vou fazer questão de te assustar todo dia — respondeu ele, beijando os cabelos dela com ternura.
Eles ficaram ali, lado a lado, por horas, conversando sobre tudo e nada. Entre risos, confissões e toques lentos que ainda incendiavam a pele, perceberam que o mundo lá fora poderia esperar. Ali, naquele quarto, envoltos pelo pós-prazer, encontraram uma fome que não se saciava só com sexo — uma fome de conexão, aceitação e verdade.
Ela olhou para ele, olhos brilhando à luz da lua, e disse baixinho:
— Eu não sabia que podia sentir tudo isso junto.
Ele sorriu e respondeu:
— Nem eu. Mas agora não quero mais abrir mão.
O silêncio se fez confortável, e o tempo parecia dobrar-se ao redor deles. O que começou como desejo intenso se transformava em algo maior, mais complexo, mais verdadeiro. Ali estava o começo de algo que nem eles mesmos conseguiam definir completamente — e isso os aterrorizava e fascinava ao mesmo tempo.
Ela suspirou, encostando a cabeça no peito dele.
— Então, o que a gente faz com essa fome?
Ele apertou a mão dela, ainda entrelaçada à sua.
— A gente se entrega, devagar. Sem pressa. Porque o que é real não tem pressa.
E assim, no silêncio que falava mais alto, eles se permitiram simplesmente ser — corpos, almas e desejos entrelaçados, famintos por tudo que o futuro pudesse lhes reservar.
