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Capítulo 1

Eu tinha que estar em Washington em quatro horas para fazer a cobertura do escândalo que se alastrava pelo cenário político: um deputado com a sua secretária gostosona – típico da raça –, que estavam tendo um caso. Nunca gostei desse tipo de matéria, mas eram as que pagavam minhas contas e não tinha muita escolha. Não era conhecida por ser a melhor em coberturas desse tipo, entretanto o meu forte sempre foi fazer investigações e fuçar o lixo dos grandões de Nova Iorque. O que, para muitos, era algo arriscado demais, para mim não era, pois sempre gostei do perigo. Não foi à toa que ganhei o apelido de Garota dos nervos de aço. Tinha que ter nervos de aço mesmo, já que não era todo dia que uma mulher, principalmente como eu, se deparava com o perigo e ficava confortável com isso. Tinha que ser forte, decidida e audaciosa. Ou era assim, ou o bicho papão me comeria.

Morava em um pequeno apartamento perto do The Poster; era o máximo que conseguia pagar, um apartamento que mais parecia uma caixa de fósforos, já que estava economizando para comprar o meu próprio apartamento. As paredes estavam pintadas de branco, com uma única parede em vermelho ao fundo, e apesar de ser pequeno, era meu refúgio depois de um dia cansativo de trabalho.

O que eu ganhava era suficiente para guardar um pouco em uma poupança e gastar apenas com o necessário. Meu sofá estava um lixo de tão velho, as rachaduras no tecido sintético, de cor marrom, denunciavam que ele merecia uma tão sonhada lixeira.

Minha vizinhança era quase legal, se bem que eu mal falava com os poucos vizinhos que tinha, ou que achava que tinha, pois nunca saía do meu apartamento nem para pedir uma xícara de café. Morava no décimo andar, e conseguia ver a janela da vizinha do outro lado, que sempre estava transando com alguém diferente, fosse homem ou mulher; aquela lá não deixava escapar um. De vez em quando dava para ouvi-la gemer, ou melhor, gritar.

Eu realmente queria sair o mais rápido dali, mas tudo tinha o seu devido tempo, e Deus sabia do que eu estava falando. Meu sonho de consumo era ter uma cozinha onde pudesse andar livremente, sem ter que esbarrar nos objetos ao meu redor e nem ter que me espremer no banheiro. Normalmente não recebia meus amigos em casa, a não ser Matt, que sempre aparecia de surpresa, e ainda assim, me sentia incomodada.

Até pensei em criar um gato, mas era ocupada demais para ter um, e com certeza, ele morreria de fome na primeira semana. Quando o telefone tocou às sete da manhã, tive a certeza que era Matt avisando que já estava me esperando na frente do prédio.

— Sabe quantos minutos já estou esperando? — gritou Matt, e tive que afastar o telefone do ouvido.

— Já vou descer. Tenha calma, esquentadinho. — falei apresada, antes que ele me engolisse mais um pouco, e o ouvi bufar ao fundo.

— São mais de quatro horas dentro de uma van, dona Lizzie. Agradeço se adiantar o quer que seja que esteja fazendo aí… — reclamou, desligando o telefone, sem me dar a oportunidade de rebater. Era só o que me faltava.

Peguei meu blazer preto, que fazia mais de um ano que o vestia; ainda bem que o tecido era bom, senão, caso contrário, já estaria no lixo. Peguei o celular e o guardei dentro da bolsa. Depressa tomei uma generosa xícara de café, já que uma boa dose de cafeína sempre me fizera bem.

Fui ao quarto, me olhei no espelho e, por mais que meu cabelo fosse liso, nunca obedecia à lei da gravidade. Tratei de trançá-lo e deixá-lo de lado. Passei protetor, já que minha pele era branca e com algumas sardas espalhadas sutilmente pelo meu rosto. Todo cuidado é pouco! Afastei-me e, com muita luta, encarei o meu reflexo no espelho. Ruiva, sem maquiagem, visivelmente pálida e com aspecto cansado, cabelos trançados e jogado de lado sobre o ombro. Eu não era feia, na verdade me achava bem atraente, mas não podia ser atraente para ninguém.

O telefone vibrava a todo vapor em minha bolsa; Matt já estava me irritando. Dei uma última olhada no apartamento e me contorci quando meus olhos pousaram no sofá. Era uma vergonha ainda não o ter trocado. Mas, assim que voltasse de Washington, tomaria coragem e compraria o maldito sofá.

Quando desci, lá estava ele parado na frente do prédio, escorado na van e com os braços cruzados. Com uma camisa azul colada no corpo e calça jeans desbotada, tênis verde-escuro mais velho que o ex-presidente Bush – o pai, Matt Brown era o que poderia chamar de um quase amigo. Bem, para mim, era assim que o via, mas ele! Tinha quase certeza que seus interesses iam além da amizade, apesar de estar sempre me criticando. Um dos motivos de não querer ser atraente era, também, o Matt.

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