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Capítulo 2

Enquanto caminho em direção à família real, sinto um calafrio percorrer meu corpo. Os olhares intensos e famintos deles me fazem questionar se mamãe está certa e eu vou voltar.

Agora acredito que não.

Estou prestes a me tornar a próxima fonte de alimento do príncipe Eros, e depois do que ouvi, depois de saber sobre as outras antes de mim, minha perspectiva da morte é quase certa, como se ela pairasse sobre mim. Pensando nisso, olho para o alto, a tempo de ver uma sombra de asas largas entrar no castelo, me arrepiando toda.

A cada degrau que subo em direção a eles, minha mente se enche de dúvidas. Será que eu serei capaz de saciar a sede dele? Ou ele vai sugar cada gotinha de mim, mesmo sem necessidade, já que eles bebem em média um copo de sangue por dia.

Assim que chego no topo da escadaria onde eles me esperam, sou recebida com o total silêncio. Os olhos vermelhos do rei Vlademir Carliste perfuram minha alma, enquanto sua esposa e seus filhos permanecem imóveis ao seu lado. Sinto que estou sendo avaliada, como se procurassem em mim algum defeito.

Cruzo minhas asas uma sobre as outra, mostrando que estou ali para servir, abaixo minha cabeça como uma boa serva, já que foi para isso que vim.

Escuto uma risada baixa, quase um sussurro, mas com a minha boa audição consigo ouvi-la. O rei se aproxima de mim, segura em minha mão e com a outra levanta meu queixo para que olhe em seus olhos.

— Seja bem-vinda Nina. — Sorri, um sorriso largo que mostra os seus caninos. — Eros esperou muito por você, espero que seja doce e saborosa, como é bela. — Minhas pernas tremem diante das palavras dele. Fico em silêncio e a rainha se aproxima de mim, olhando minhas asas.

— Lindas como sangue. — Sorri — Posso tocar? — Pergunta e eu aceno que sim.

A rainha toca minhas penas com delicadeza, me mantenho em silêncio. Olho para o lado vendo os filhos do rei, seus olhos vermelhos me encaram.

— Esses são meus filhos mais novos. Eros está ali, acabou de chegar. — O rei diz, virando meu rosto para uma das colunas do castelo.

Encostado na coluna o vejo, não consigo segurar o suspiro de medo, mas também pela sua beleza. Os olhos vermelhos me fitam fixamente, o cabelo preto mediano caído tampando uma parte do rosto, a roupa preta como a noite em sua pele pálida. Lindo, extremamente lindo e mortal.

— Venha conhece-la. — O rei o chama e meu coração acelera.

Sinto o olhar do rei em mim, tão fixo e vidrado que parece estar dentro de minha alma.

— Seu coração está acelerado fêmea. Consigo ouvir o fluxo do seu sangue daqui. — Eros diz e agora entendo o motivo de todos estarem me olhando tão fixo. Eles estavam prestando atenção no meu sangue.

— Chega dar fome só de ouvir. — Um dos irmãos dele fala e me encolho tentando controlar meus batimentos. Se decidirem me devorar, não passarei de hoje.

Enquanto a família real me observa com olhares famintos, eu estava reunindo toda a minha coragem para enfrentar o meu destino. Eu não seria apenas mais uma vítima indo direto à morte certa, isso não. Eu ia lutar pela minha liberdade, fazer o que fui designada a fazer e sair daqui de cabeça erguida.

— Não tenha medo, minha querida. — A voz do rei Vlademir soou como um trovão, ecoando pela escadaria. — Você foi escolhida para um grande destino. — Ele sorri, mostrando seus caninos afiados. — Você deve se sentir honrada.

Honrada por ter alguém grudado em meu pescoço, sugando meu sangue? Não, eu não me sentia assim. Voltei meu olhar para Eros, ele me olhou com indiferença, como se eu fosse uma mosca insignificante. Senti um calafrio percorrer meu corpo, e não era de frio. Era de medo. E de algo mais. Algo que eu não conseguia entender. Algo que me atraía para ele, como um ímã. Tentei resistir, mas era inútil. Eu estava hipnotizada por aqueles olhos vermelhos, que prometiam dor e prazer. Estava entregue ao meu destino.

Eros estendeu a mão me chamando sem dizer uma palavra, o rei me soltou e em passos lentos caminhei na direção dele. Meu coração batia tão forte que doía e eu vi o sorriso dele ao escutar meus batimentos. Um sorriso cruel e sedento. Parei e recuei um passo antes de pegar em sua mão, talvez fosse loucura, não podia desafiá-lo, eu sabia disso, mas a forma que ele estava me olhando causava tantas coisas estranhas dentro de mim.

— Não serei apenas uma fonte de alimento para você príncipe. Não serei sua presa. — Ele sorri mostrando os caninos e se aproxima de mim, cheirando o ar. O silêncio se instalou entre a família real que nos observava com olhares surpresos. Eu sabia que minha coragem poderia me levar à morte mais rápido, mas não poderia deixar de falar o que estava preso em minha garganta.

— Você não é uma presa, fêmea mestiça. As presas têm de ser caçadas e você foi me entregue desde o dia que nasceu. Você só tem um único propósito. — Umedece os lábios como se estivesse ansioso. — Ser minha, apenas minha, até quando eu desejar que seja assim.

Sua voz me arrepia, ele segura em meu braço com cordialidade, como se o que eu disse não significasse nada, me guiando para dentro do castelo. Olhei para o horizonte vendo o sol fraco entre as árvores e eu sabia que seria a última vez que eu veria o sol, não o sol frio de Morbóvia, mas o sol quente do meu lar.

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