Capítulo 8 - Beatrice
Esperei em silêncio, torcendo para que ele me dirigisse um olhar ou tentasse puxar conversa, mas isso não aconteceu. Lutei contra a vontade de fechar aquele maldito notebook e jogá-lo pela janela, direto na água lá fora.
Observei-o com atenção, analisando cada detalhe: o formato da mandíbula, os lábios finos, a cor penetrante dos olhos, a força do olhar. Seus braços eram musculosos, decorados por tatuagens de dragões que serpenteavam até a camisa bem ajustada ao peito. Não podia negar que ele era bonito, especialmente com aqueles óculos de aro grosso. Não parecia nada com um mafioso. Um leve sorriso ameaçou escapar dos meus lábios, mas balancei a cabeça vigorosamente, tentando afastar pensamentos indecorosos.
— Então… — Quebrei o silêncio, estalando a língua em frustração quando Ryuu continuou a trabalhar. — Entendo vagamente por que seu pai pode pressionar por este casamento, mas por que você concordou?
Finalmente, Ryuu ergueu os olhos para mim, desviando-se do notebook. Recostou-se na cadeira, cruzando os braços, e me observou intensamente, fazendo meu coração acelerar.
— A união de nossas famílias beneficiará a força dos meus negócios — respondeu, com uma voz tão monótona que quase me fez rir.
— Seus negócios?
— Construção de condomínios de luxo — ele mentiu com uma naturalidade irritante, a expressão impassível me fazendo morder a língua.
— Ah, claro. Esse negócio — retruquei amargamente. Não sabia por que ele escolhia mentir, mas não era ingênua em relação à vida que ele levava. Conhecia bem os negócios da minha própria família e me recusava a ser apenas mais uma esposa sem nome, um adereço decorativo ao lado de um mafioso.
Compreendi perfeitamente que o casamento não fortalecia a rede de condomínios de luxo dos Morunaga. Quando fosse anunciado que a única neta de Giorgio Carbone estava casada com Ryuu Morunaga, o império dele se tornaria instantaneamente mais poderoso. Teriam de lidar com mais ameaças, é claro, mas também se tornariam um inimigo formidável com o apoio do meu avô.
— Esperava outra resposta? — Ryuu perguntou, um sorriso se formando nos lábios. Nunca vi um homem parecer tão cruel, e meu coração deu um salto estranho. — Preferia que eu confessasse uma eterna atração por você? Ou quem sabe você tenha uma confissão dessas a fazer?
— Que merda você está falando? — Disparei, sem pensar. Meu tom de aversão o fez limpar a garganta, em um gesto ameaçador.
Será que ele realmente acreditava que eu desejava esse relacionamento? Ou pior, que eu o desejava?
— Apesar de não parecer uma típica mulher italiana, você é atraente. Mas não espere romance em nosso casamento.
— Ha! — Bufei, revirando os olhos com raiva.
Eu sabia que não me encaixava no estereótipo. Não era alta e esbelta, mas baixa e “cheia”, algo que mulheres bem-intencionadas gostavam de me lembrar nos últimos anos. Não me importava se Ryuu Morunaga achava isso atraente. O que me incomodava era ele presumir que eu era uma jovem ingênua desesperada por elogios.
— Você é muito arrogante — retruquei, franzindo a testa, odiando o quanto ele parecia calmo enquanto meu sangue fervia. Ryuu não parecia nem um pouco perturbado com meu temperamento explosivo.
— Sou apenas franco. Não quero que tenha seu coração partido.
A vontade de jogar algo no oceano era agora irresistível, e não se limitava ao notebook dele.
— Acho que terminamos nossa conversa. Imagino que passar mais tempo na sua companhia me dará uma enxaqueca. Não vou mais o incomodar.
Com a raiva alimentando cada passo, saí da sala. Se aprendi algo com esse breve encontro, é que meu futuro marido tinha uma habilidade incrível de me enfurecer.
***
— Não, não. Como posso me casar com aquele homem? Ele é incorrigível!
Irrompi no escritório do meu avô, onde a sua risada suave me irritou ainda mais. Como ele poderia achar algo divertido na minha situação?
— Acredito que vocês dois vão fazer bem um ao outro, Bea — assegurou ele, oferecendo-me a mão. Quando aceitei, ele acariciou suavemente as costas da minha mão, tentando me confortar, mas minha raiva permanecia. — Ryuu está focado demais no trabalho. Ele precisa de um alerta, algo que acredito que virá de uma mulher pequena e apaixonada como você. Ele precisa de uma mulher forte ao lado dele, alguém que o corrija e o ensine as lições importantes da vida.
Segurei um bufo de frustração.
— Como não ser um idiota completo — murmurei, mas alto o suficiente para que ele ouvisse. O olhar aguçado que ele me lançou fez meu rosto corar, e abaixei a cabeça, permitindo que meus cachos ruivos escondessem minhas bochechas.
— Sua língua afiada!
Não estava arrependida. Ryuu era um idiota.
— Embora eu ache suas piadas divertidas, Gojou Morunaga não. Vai ter que controlar essa língua mais do que gostaria, Bea.
Suspirei, retirando a mão e repousando-a no colo, os olhos fixos no chão. Sabia que não poderia agir da mesma forma com os Morunaga como fazia com minha família. Agora, teria que observar tudo o que dissesse e cada movimento que fizesse, sempre consciente de como minhas palavras e ações seriam percebidas.
Ouvir meu avô cimentar isso foi como um soco no estômago. Detestava que me dissessem o que podia e não podia fazer. Minha tia tinha sido muito indulgente comigo nos últimos quatro anos. Uma filha italiana tradicional deveria ser criada de maneira a se tornar a esposa perfeita da máfia, mas eu não fui criada assim. Era independente, desafiadora e falava livremente o que pensava.
Agora, essa liberdade estava ameaçada. Depois do casamento, seria mantida em rédea curta.
Mesmo agora — ainda não casada, ainda não uma Morunaga — sabia que não poderia lutar. Não haveria chance de ganhar vantagem contra os Morunaga, e eles não tolerariam desobediência.
Eu não tinha escolha a não ser aceitar meu destino… Era isso ou colocar minha vida em risco.
