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Capítulo 7 - Ryuu e Beatrice

&RYUU&

Eu estava alheio à conversa ao meu redor. Todos, exceto minha futura esposa, tinham se reunido no salão para beber antes de se retirarem para seus quartos. Mas conversar não me atraía.

Beatrice ficou retraída durante o jantar, e eu sabia que a culpa era da pressa com que tudo estava acontecendo. Eu podia entender seu medo ao se casar comigo. Não era justo esperar que ela aceitasse uma mudança tão drástica e rápida em sua vida. Não era algo pessoal, e eu não deveria me ofender com sua relutância. Qualquer um sentiria o mesmo, independentemente de quem fosse se casar. Claro que ela estava assustada.

Eu também precisava aceitar a perspectiva do casamento. Nunca havia considerado isso antes e, com certeza, não queria pensar nisso agora.

Uma dor aguda na nuca me trouxe de volta dos meus pensamentos. Virei-me irritado para encarar o agressor, mas minha expressão esfriou ao perceber que era meu pai.

— Estávamos falando com você — resmungou ele.

— Papai estava dizendo que você precisa se esforçar mais, tentar algo diferente de ignorar completamente Beatrice — Nitta se intrometeu, com aquele sorriso provocador de sempre.

— Talvez falar com ela ajude — acrescentou Giorgio com uma risada.

Diferente do meu irmão, eu realmente respeitava Giorgio Carbone. Pelo que percebi nas reuniões anteriores, ele era o tipo de homem que preferia observar atentamente as pessoas ao redor em vez de impor suas opiniões. Um homem perigoso para se antagonizar e um aliado valioso. Em vez de revirar os olhos, escolhi ser cortês.

— Vou ter isso em mente — respondi, apreciando o conselho do homem mais velho, mesmo que não o seguisse à risca.

Foi a última vez que falei naquela noite, mas meus irmãos compensaram meu silêncio com suas conversas animadas.

Quando finalmente me retirei para o meu quarto, fui surpreendido pela presença indesejada do meu irmão mais novo, caminhando ao meu lado.

— O que você quer, Nitta? — perguntei, cauteloso. Estava cansado demais para suas brincadeiras. Nitta apenas deu de ombros, seguindo em silêncio, mas quando cheguei à porta do meu quarto, ele cutucou meu braço, sorrindo daquele jeito irritante.

— Beatrice, hein.

— Nem pense nisso — adverti, estreitando os olhos. Nitta ergueu as mãos, fingindo inocência, mas seu sorriso diabólico permaneceu.

— Eu não vou fazer nada. Além disso, você precisa de toda a ajuda que puder — brincou. — Ela estava tão tensa ao seu lado que, em um momento, pensei que fosse vomitar. Cara, você realmente sabe como afastar as mulheres.

— Fico lisonjeado por seu esforço em me dizer isso, mas não sou um completo idiota quando se trata de mulheres — revirei os olhos diante do sorriso desonesto que se espalhou pelo rosto de Nitta.

Eu não me preocupava com a reação de Beatrice à minha presença no jantar. De que outra forma ela reagiria a um homem com quem estava sendo empurrada para um casamento? Com o tempo, ela ficaria mais confortável comigo, eu acreditava.

Eu já me sentia confortável na presença dela. Beatrice era fisicamente atraente, e sua confiança era ainda mais cativante. Quando a vi desafiar o pai durante o jantar, soube que ela seria uma esposa forte para os Morunagas. Talvez esse casamento não fosse um desastre completo, afinal.

***

&BEATRICE&

Depois de uma noite agitada e quase sem dormir, decidi que toda a tensão entre mim e Ryuu precisava ser resolvida rapidamente. Com determinação, percorri a casa em busca do meu noivo, ao mesmo tempo, aterrorizante e intrigante. Meus cachos ruivos balançavam a cada passo, até que parei abruptamente na porta do salão. Lá estava Ryuu, sentado sozinho, digitando furiosamente em um notebook preto e elegante, uma carranca pesada marcando sua testa.

Mais uma vez, ele vestia calças pretas e uma camisa branca desabotoada no colarinho, com as mangas arregaçadas até os cotovelos. Não pude deixar de me perguntar se ele possuía outras roupas. Este certamente não era o traje apropriado para o clima das Bahamas.

Na noite anterior, no conforto do meu quarto, pesquisei na internet todas as informações sobre o homem que seria meu marido. Cada jornal, coluna de fofoca e artigo reforçava a imagem que eu tinha dele: sempre vestido com um traje de negócios impecável. Após vê-lo pessoalmente, não me surpreenderia se ele dormisse de terno.

Fiquei parada na porta, despercebida, enquanto Ryuu estava completamente focado em seu trabalho. Limpei a garganta, tentando chamar sua atenção.

Ele não se assustou com a minha presença; em vez disso, levantou uma sobrancelha por cima dos óculos, que lhe davam um charme adicional, devo admitir, e me olhou com um misto de curiosidade e tédio por cima da tela.

— Sim? — disse ele, com uma voz profunda. Ao contrário do sotaque marcado de seu pai, Ryuu falava com a cadência familiar de alguém de Los Angeles. Fiquei impressionada com a fluência dele, e da família Morunaga, em italiano, e me perguntei quantas línguas mais aquele homem dominava.

De repente, uma preocupação me atingiu: teria eu que aprender japonês?

— Está sempre trabalhando? — perguntei educadamente, movendo-me para me sentar à sua frente.

Olhei pela janela e confirmei que o clima estava lindo. Enquanto a maioria aproveitaria para relaxar ao sol ou nadar no oceano, Ryuu permanecia em casa, provando ser sempre o homem de terno rígido.

— O que mais eu deveria estar fazendo? — ele replicou, com um olhar vazio, antes de voltar ao seu trabalho.

Observei, estreitando os olhos, enquanto Ryuu retomava a digitação, sem me dar mais atenção.

Todo o esforço que fiz para conhecer meu noivo! E ele mal percebeu minha presença. Essa falta de interesse parecia ser uma barreira a mais entre nós. Precisava encontrar uma maneira de quebrar essa parede invisível que ele insistia em manter.

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