Capítulo 8 Não vou dar o gostinho a eles
Gustavo franziu o cenho, adotando um tom paciente e persuasivo.
— Anabela, este não é momento para agir por impulso — argumentou ele, com genuína preocupação. — Se você sair da família Ribeiro, para onde pretende ir? Além disso, uma jovem mulher sozinha na rua enfrenta tantos perigos, e se algo terrível acontecer com você, como vamos lidar com isso?
Gustavo estava claramente fugindo do assunto e evitando responder diretamente à sua pergunta, o que tornava sua posição mais que evidente.
Anabela deixou escapar uma risada suave e amarga, respondendo com indiferença aparente.
— Não precisa se preocupar comigo, Sr. Gustavo — declarou ela, com frieza cortante. — Pode ficar tranquilo, vou viver muito bem e não tenho intenção alguma de me fazer mal.
Embora já soubesse a resposta antes mesmo de perguntar, Anabela ainda sentia uma pontada de tristeza em seu coração, mas isso não importava mais.
Ela contornou Gustavo e saiu definitivamente da propriedade da família Ribeiro.
Todo o complexo residencial era dominado por edifícios antigos e imponentes que, apesar de terem passado por reformas, ainda carregavam as marcas inconfundíveis de uma época passada.
Quando Anabela havia retornado pela primeira vez à família Ribeiro, ela não conseguira se adaptar ao ambiente familiar, então desde pequena havia vivido com sua avó, exatamente naquele local.
Dos dez aos dezesseis anos, toda sua adolescência havia transcorrido ali.
Contemplando aquela casa familiar que povoava suas memórias mais preciosas, Anabela sentiu os olhos se encherem de lágrimas enquanto continuava caminhando em direção ao interior do complexo.
Na memória de Anabela, ela jamais havia conhecido pessoalmente seu avô, apenas ouvira da avó que ele havia sacrificado a vida ao tentar capturar um ladrão, sendo um verdadeiro herói admirável.
Jaqueline Rocha, sua avó, havia acompanhado o marido durante suas campanhas militares, servindo como médica do exército, e após a aposentadoria dele, havia aberto uma pequena clínica ao lado do complexo militar.
Todas as habilidades médicas que Anabela possuía haviam sido aprendidas diretamente com sua avó.
Gabriel tinha problemas de saúde desde criança, e uma grande parte da motivação para ela estudar medicina com tanto afinco havia sido o desejo de ajudá-lo.
Infelizmente, todos os seus esforços e dedicação valiam menos no coração de Gabriel do que algumas palavras carinhosas de Camila.
Durante o período em que viveu com a avó, Pedro visitava raramente, aparecendo apenas algumas vezes por ano durante feriados e ocasiões especiais para vê-las.
Por razões que Anabela nunca compreendeu completamente, Jaqueline tinha uma relação extremamente tensa com Pedro.
Mãe e filho brigavam toda vez que se encontravam, e Jaqueline chegava ao ponto de perseguir Pedro com uma vassoura, o que acabou fazendo com que ele, mesmo sendo uma pessoa naturalmente paciente, perdesse completamente a paciência e nunca mais visitasse a idosa.
Após a morte de Jaqueline, ela havia deixado a casa e um cartão bancário para Anabela.
Aquele cartão continha todas as economias da vida inteira da velha senhora, dinheiro que Anabela jamais havia tocado, por não ter coragem de gastar aquela herança preciosa.
A casa ficava no segundo andar do terceiro prédio, e Anabela usou suas chaves para abrir a porta e entrar no apartamento de dois quartos, que ainda mantinha móveis no estilo antigo.
Tudo permanecia exatamente como ela se lembrava, exceto pelo fato de que, devido ao longo período sem ocupação, as janelas estavam cobertas por teias de aranha e uma camada espessa de poeira se acumulara sobre os móveis.
Anabela arregaçou as mangas e limpou meticulosamente cada canto do apartamento, sentindo-se finalmente satisfeita com o resultado.
Quando a fome começou a se manifestar, Anabela retirou uma quantia em dinheiro do compartimento secreto de sua carteira, onde guardava suas economias acumuladas ao longo de um ano.
Originalmente, ela planejava usar aquele dinheiro para comprar um presente de aniversário para Camila no mês seguinte, mas agora seria perfeito para sua situação de emergência.
A quantia consistia em notas de cinco, uma e dez reais, e depois de contar cuidadosamente, totalizava trezentos e seis reais, o suficiente para sustentá-la por um período considerável.
Havia uma pequena loja na entrada do complexo, então Anabela foi até lá para comprar um pacote de macarrão instantâneo, alguns ovos e outros itens essenciais para a vida diária.
Uma tigela de macarrão fumegante ficou pronta rapidamente, e embora tivesse apenas sal como tempero, sem outros condimentos, Anabela saboreou cada garfada com um prazer genuíno.
Não precisava mais agradar os membros da família Ribeiro, não tinha que servi-los como uma empregada doméstica, não era obrigada a escutar suas palavras cruéis e venenosas, e podia viver exatamente como desejasse.
Após se libertar completamente daqueles fardos, Anabela finalmente percebeu como aquela vida independente era incrivelmente prazerosa e tranquila.
No meio da madrugada, enquanto dormia profundamente, seu celular vibrou uma vez.
Anabela esfregou os olhos sonolentamente, pegando o telefone com irritação e verificando o nome que aparecia na tela.
Essa pessoa devia estar doente da cabeça! Não sabia que perturbar o sono de alguém a essa hora da madrugada era um comportamento extremamente indelicado?
Irritada, ela pressionou o botão para rejeitar a chamada e jogou o celular para o lado.
Assim que fechou os olhos novamente, preparando-se para voltar a dormir, o telefone começou a tocar novamente, fazendo com que ela atendesse impaciente.
Do outro lado da linha, a voz de Leandro chegou carregada de fúria.
— Anabela, você está ficando muito atrevida ao ousar desligar o telefone na minha cara — ameaçou ele, com raiva evidente.
Anabela limpou o ouvido teatralmente, afastou o telefone um pouco de sua cabeça e gritou de volta.
— Leandro, você está doente da cabeça? Se tem algo para dizer, fale logo, se tem algo para soltar, solte logo! — respondeu ela, sem cerimônia.
Assim que pronunciou essas palavras, mesmo através do telefone, Anabela podia sentir a fúria de Leandro se intensificando, enquanto ele respirava pesadamente e sua voz carregava um tom explosivo.
— Anabela, amanhã você volta para a universidade e é melhor que você mesma diga ao professor que está voluntariamente abrindo mão de sua vaga na competição — ordenou ele, com ameaça clara. — Caso contrário, tenho métodos suficientes para transferir essa vaga para Camila.
Após dizer isso, ele desligou o telefone abruptamente.
Contemplando a tela escura do celular, o cérebro anteriormente sonolento de Anabela subitamente se tornou completamente alerta e lúcido.
Se Leandro não tivesse ligado especificamente para lembrá-la, ela realmente teria esquecido completamente desse assunto.
Se eles estavam tão desesperados para conseguir aquela vaga e forçá-la a transferi-la para Camila, então Anabela definitivamente não daria o gostinho a eles.
