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5

O tempo passou, e a transformação de Lorena de uma menina tímida em uma jovem assustada se acelerou conforme ela adentrava a adolescência. Aos treze anos, já não era mais a criança que aceitava as imposições do tio Geraldo de forma silenciosa. Embora sua timidez ainda fosse predominante, ela começava a entender que o que estava acontecendo em casa não era normal. A frustração crescia dentro dela, mas ela ainda não encontrava forças para reagir.

Geraldo, por sua vez, parecia notar essa mudança. O controle que ele exercia sobre Lorena não se limitava mais apenas às tarefas domésticas e à submissão diária. Ele começou a se tornar cada vez mais invasivo, atento a cada movimento dela, como se estivesse determinado a garantir que Lorena jamais escapasse de seu domínio. Se antes ele a ignorava em momentos de fúria, agora ele a vigiava como um carcereiro, buscando qualquer sinal de desobediência.

Foi durante essa fase de sua vida que os comportamentos inadequados de Geraldo começaram a se manifestar de forma mais explícita. No início, eram apenas olhares demorados, invasivos, que deixavam Lorena desconfortável. Ele a observava de uma forma que ela não conseguia entender completamente, mas sabia que era errada. Sentia a presença dele nas suas costas enquanto limpava a casa, e sua respiração pesada e próxima a fazia tremer por dentro.

— Está ficando mocinha, hein? — disse ele, certa vez, com um sorriso torpe no rosto, enquanto a encarava de cima a baixo. A insinuação por trás de suas palavras deixou Lorena nauseada.

Ela não respondeu, apenas abaixou a cabeça e continuou esfregando o chão, desejando que aquele momento passasse rápido. Mas o desconforto não sumia. A cada comentário, cada toque disfarçado de "afeto", o medo crescia. Não era mais apenas o temor de ser punida por suas falhas domésticas. Agora, havia uma nova camada de terror, algo mais sombrio e perigoso.

Com o passar dos meses, Geraldo começou a restringir ainda mais a vida de Lorena. Se antes ela já era isolada, agora ele tornava essa solidão ainda mais evidente. Ele a proibia de sair para lugares que não fossem a escola, monitorava os poucos contatos que ela tinha com colegas e professores, e constantemente a lembrava de que ela não tinha ninguém além dele.

— Você não tem amigos, não é? — zombava ele, com um olhar cruel. — Ninguém liga pra você, garota. Não adianta tentar se aproximar das pessoas. Elas só vão te deixar na mão, assim como seus pais fizeram.

As palavras eram como facadas. Lorena sabia que ele dizia aquilo para machucá-la, para mantê-la presa em sua rede de controle, mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia afastar a sensação de que havia alguma verdade no que ele dizia. Aos poucos, ela começou a acreditar que realmente estava sozinha no mundo, que ninguém se importava com sua existência.

A escola, que já era um lugar onde ela se sentia invisível, passou a ser um campo minado. Sempre que alguém tentava se aproximar, Lorena se retraía, temendo que Geraldo descobrisse e a punisse. Ela se isolava, evitando conversas e olhares, protegendo-se de uma maneira que a tornava ainda mais solitária. Seu mundo era feito de silêncio, medo e obrigações, e qualquer tentativa de rompê-lo parecia perigosa demais.

Os castigos físicos, que antes eram esporádicos, tornaram-se cada vez mais frequentes à medida que Lorena crescia. Geraldo não precisava de motivos claros para desferir suas punições. Um olhar de reprovação, um suspiro fora de hora, uma resposta que não o agradava — qualquer coisa podia ser o estopim. Ele batia com força, sem remorso, deixando marcas que Lorena escondia com cuidado na escola, onde ninguém parecia notar sua dor.

— Você precisa aprender seu lugar — dizia ele, cada vez que a agredia. — E o seu lugar é aqui, fazendo o que eu mando.

As surras variavam em intensidade, mas a dor emocional era sempre a mesma. Mais do que os hematomas no corpo, eram as feridas em sua mente que demoravam a cicatrizar. A cada golpe, a cada palavra cruel, a muralha emocional que ela construíra ao longo dos anos se tornava mais alta e intransponível. Era como se ela estivesse se enclausurando dentro de si mesma, numa tentativa desesperada de se proteger do mundo que a rodeava.

Os comportamentos de Geraldo se tornaram cada vez mais erráticos com o tempo. Seu controle sobre Lorena não era apenas físico, mas também psicológico. Ele a isolava de tudo e de todos, fazendo-a acreditar que o único futuro possível era o que ele ditava. Ela não podia sonhar, não podia planejar uma vida fora daquelas quatro paredes. E quanto mais ela crescia, mais ele tentava mantê-la sob seu jugo.

Havia dias em que Lorena se questionava se algum dia teria coragem de fugir, de buscar uma vida longe daquele pesadelo. Mas cada vez que esses pensamentos surgiam, a realidade voltava com força, como um balde de água fria. Para onde iria? Quem a acolheria? Não havia ninguém esperando por ela, ninguém disposto a ajudá-la. Geraldo sempre deixava isso claro.

— Você não vale nada lá fora — ele dizia, seus olhos fixos nos dela, como se pudesse enxergar seus pensamentos. — Não seja estúpida de pensar que alguém vai te querer. Você vai acabar na rua, pior do que está aqui.

Essas palavras ecoavam na mente de Lorena todas as noites, quando ela se deitava, sozinha em seu quarto escuro. Ela começava a acreditar nelas, a aceitar o destino que Geraldo desenhava para ela. O futuro parecia algo distante, nebuloso, e o presente, embora cruel, era o único que conhecia.

O medo de Geraldo se tornara uma presença constante em sua vida. Ela temia não apenas suas explosões de raiva, mas também os momentos de calma aparente, quando ele a observava com aquele olhar insidioso, avaliando cada movimento seu. Era como se ele estivesse esperando por uma oportunidade para destruir o pouco que restava de sua esperança.

Conforme a adolescência avançava, Lorena se fechava cada vez mais. Os sonhos que um dia tivera, de ser alguém, de escapar daquele pesadelo, foram substituídos por uma aceitação amarga. Ela não sabia mais quem era além da garota que fazia tudo que o tio mandava, que suportava as agressões e o isolamento sem reclamar. Sua identidade foi sufocada pelas expectativas e pelo medo.

E assim, Lorena continuava a viver sua rotina de pesadelo, cada vez mais isolada, cada vez mais machucada, não apenas no corpo, mas na alma. Ela caminhava como uma sombra, invisível para o mundo exterior, enquanto dentro de casa, era apenas a peça obediente de um jogo cruel que Geraldo jogava com maestria. Ela desejava, com todas as forças, ser libertada. Mas, ao mesmo tempo, não sabia se algum dia teria a coragem ou as ferramentas para escapar. Cada dia que passava, ela se afundava mais em seu isolamento, prisioneira de um tio que a despedaçava pouco a pouco.

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