Capítulo 1
O morro do Canavial é um dos piores de São Paulo, tem sido sempre alvo de manchetes, desde que Lobo, um bandido muito perigoso, expandiu os negócios, tocando terror pelas redondezas, liderando inúmeros assaltos aos condomínios e prédios da região. Ele foi criado em uma família de classe média alta e depois de perder sua empresa, caiu na vida errada, mas sem abandonar totalmente suas origens.
Há mais de dez anos envolvido com milícias e facções, ele viveu grandes amores já no morro, que lhe renderam duas filhas, uma de cada mãe, Marcela e Dabrielly, com poucos meses de diferença na idade. A mãe de uma delas criou as duas e desde pequenas, brigavam muito, sempre disputando a atenção do pai, que tinha sua preferida e não conseguia disfarçar muito bem.
Lobo as criou da melhor maneira possível, no morro mesmo, com muitos luxos e sempre as proibiu de namorarem, mas só uma delas o obedecia, Marcela, a queridinha mimada, que era de fato mais calma e querida do que a irmã.
Dabrielly saiu de casa aos quinze, porque não respeitava a madrasta e nem a ninguém, foi morar no morro mesmo, sendo bancada pelo pai, enquanto morava com ele já nem era virgem, matava muita aula e namorava escondido um colega da escola. Só não tinha filho por muita sorte, pois nem se cuidava como deveria para evitar. Seu tipo ideal de homem era mais velho, malandro, tatuado, marrento, com grana para bancar seus mimos e, o mais importante, bom de cama.
Ela dizia isso debochada de boca cheia, sempre foi mais sensual, com personalidade forte e nem ligava para os julgamentos alheios. No asfalto, em baladas de luxo, acumulava apelidos relacionados à sua boca "quente/de veludo", pois era boqueteira assumida, mas nunca dentro do morro, onde seu pai controlava tudo.
Ela saiu de casa para morar com um namoradinho, saiu do morro por menos de um ano, voltou viúva quando seu companheiro faleceu em um acidente. Foi acolhida pelo pai e o luto a estava segurando solteira, sofrendo, mas isso durou um curto tempo, alguns meses. Lobo idolatrava Marcela, até fazia o que podia para ajudar e agradar Dabrielly, mas desistiu de ficar em cima quando ela se revoltou e saiu de casa, o evitando por meses. Quando ela voltou, ele não dava a mínima para o que ela fazia ou não no morro, porque também, no fundo, gostou dela por perto novamente.
Era dia de baile funk, desde a tarde a quebrada estava no fervo, todo mundo seguindo o fluxo se preparando para a anarquia noturna de sempre.
Marcela não era de frequentar os bailes, adorava ficar em casa no conforto, estudar, viajar, toda posturada nem parecia ter a família que tinha, até seu jeito de se vestir, era superior a grande maioria das moças lá.
Como era aniversário de Lobo, ela sabia que precisava marcar presença, pelo menos um pouco, foi ao salão de beleza se arrumar, fazer tranças nagô no cabelo, a fila estava enorme, tinham várias manicures e cabeleireiras, trabalhando feito doidas, Marcela passou na frente, tinha até senha por ordem de chegada.
Também cortavam cabelo masculino lá, os caras do corre nunca ficavam esperando, assim como ela, tinham preferência.
Quando Chacal chegou lá, foi entrando mais retraído, pegou a senha e já sentou esperar sua vez para ser atendido, o barbeiro estava devendo, o chamou para já ser atendido, achando que ele era do corre, porque o viu lá acompanhado de um cobrador outro dia.
Chacal cortou o cabelo ao lado de Marcela, reparou no quanto era bonita e diferente, ela estava com um vestido longo de alças, na cor terracota, não muito decotado, nem notou ele lá, pois estava distraída no celular lendo.
Chacal tinha acabado de chegar para morar lá, perdeu a avó e praticamente nem tinha família, estava querendo entrar no corre, seu primo fazia parte e o indicou. Depois de cortar o cabelo, foram a uma missão no asfalto, sequestrar um playboy que devia muito. Sem medo e muito focado, Chacal fez tudo da melhor forma, lidou diretamente com a família do rapaz e conseguiu receber tudo.
Como recompensa pelo trabalho muito bem feito, ele ganhou um combo de bebida, dinheiro e foi avisado que ia ter mulher para foder a noite toda. Ele ainda nem tinha experiência com nada, era um semi virgem, tinha saído do interior onde tudo era bem pacato e as mulheres, nenhuma gostava muito do jeito dele, mais calado observador, todo inseguro.
Seu primo, vulgo o Lagarto, transava direto na frente dele em festinhas e até suspeitava que ele não gostava de mulher, porque ainda não tinha dormido com nenhuma. Ele dizia que não gostava de putas, por ter nojo.
Ansioso, ele se preparou para o baile todo animado, colocou uma camiseta nova Polo vermelha, bermuda do Tio Patinhas, tênis Nike de molas novo, passou o perfume importado do primo, um Invictus, até pegou uma única cami.sinha e levou.
Foi para o baile todo animado, começou a beber, fumar skank e curtir. O pessoal do corre estava meio perto, reunido perto do palco, até MC famoso tinha lá. Depois de beber o combo, ele criou coragem para tomar uma atitude, foi se chegando nas meninas que estavam dançando com roupas curtas perto deles, foi logo na mais bonita com cara de invocada, ofereceu um beck novo. Ela começou a rir debochando, disse que tinha muito mais daquilo na casa dela.
Todo sem jeito, ele disse que não, o mesmo, bolado especialmente para ela. Dabrielly nunca o tinha visto por lá, o achou bastante bonito, pegou o baseado, achando bem fofo o jeito dele. Ele acendeu para ela com o isqueiro e se afastou, desistindo de investir, porque de perto, ela era melhor ainda: unhas compridas com cores vibrantes, toda cheirosa, perfume forte, falava toda certinha, diferente da maioria das outras lá.
Naquele grupo, Dabrielly era a mais bonita, ainda que tão vulgar quanto as outras. Ela estava com um cropped pink neon parecido com um sutiã tomara que caia, exibindo a marquinha de fita e os seios, shorts bem curto jeans mostrando a poupa da bunda, sandália de salto alto.
Ele nem sabia filha de quem ela era, não era o único a achá-la bonita. Seu primo o viu falando com ela; eles já eram conhecidos. Já bêbado e noiado, o Lagarto, que não perdia tempo, largou outra menina de canto, uma que era ficante casual dele e foi falar com Dabrielly. Começaram a beber juntos, logo ele estava esfregando o p.au nela, dançando funk atrás, a encoxando. Ela gostava daquilo, aquela sensação de ser a preferida, ser disputada. Falou logo que não era lanchinho, porque sua buc.eta era boa demais e quem fode..sse uma vez não largava mais. Ela se arriscou no joguinho de sedução, porque sabia que ele era da confiança de seu pai.
