
Resumo
— Você tem um gosto tão bom, querida — Nikolai geme asperamente. — Tão bom. Então ele arrasta sua excitação contra meu centro, me forçando a sentir cada centímetro dele. Porra, ele era grande. Tipo, muito grande. Estou falando do tamanho de uma baleia azul da Antártida. — Sinta o que você faz comigo, Solnyshko — ele rosna asperamente contra os planos sensíveis do meu pescoço. Sinto seus dentes roçando minha pele, e uma respiração irregular escapa de mim. — Você me deixa louco, toda vez que te vejo, não consigo pensar direito. É isso que você quer? Que eu perca minha maldita mente. ... Vendida pelo pai para salvá-lo, Ava é forçada a caminhar pelo corredor em direção a um futuro que nunca quis. Justo quando ela pensa que seu destino está selado e o universo está contra ela, um estranho inesperado invade a cerimônia reivindicando-a como sua. Nikolai Volkov é o enigmático chefe da Máfia Russa. Uma figura envolta em mistério e poder, alguém com quem não se deve mexer. Para ele, Ava é a chave de que precisa para desvendar a tragédia que tirou a vida de seu irmão. Quando Ava se vê de cabeça no meio de duas famílias da máfia, ela precisa decidir se pode confiar no homem que incendeia sua alma com apenas um toque ou se está disposta a continuar sendo um peão num jogo muito maior.
Capítulo 1 O casamento
Ava
Descobrir que meu pai me vendeu para um chefão sádico da máfia para se salvar não era como eu imaginava passar meu aniversário de 21 anos.
Mas, infelizmente, aqui estou.
— Você está bem? — meu pai pergunta, sua voz cheia de preocupação. Me viro para observá-lo, meus olhos percorrendo de cima a baixo seus ombros caídos. Ele estava num smoking preto que um dos capangas que nos trouxe tinha dado logo depois que chegamos à igreja. Seu cabelo puxado para trás, resultado de passar a mão inúmeras vezes pelos fios ralos numa tentativa desesperada de parecer mais jovem do que realmente era.
Não funciona.
— Ava... Por favor, fale comigo.
Soltei um suspiro, então apertei meus lábios numa linha fina. Como exatamente ele esperava que eu respondesse isso?
Ah, claro, pai, estou bem; é ótimo que você me vendeu para um verdadeiro chefe da máfia para salvar sua vida; eu entendo e te perdoo totalmente.
Meus lábios se torcem para baixo só de pensar nisso.
Meu pai me vendeu para um dos homens mais cruéis de Chicago pra salvar a própria pele e esperou até meu casamento, que por acaso é meu aniversário, pra me contar sobre isso.
Dá pra acreditar? Ele esperou até o dia do meu casamento literal, apesar de saber há meses, pra me contar a merda que tinha feito.
Dois capangas de Antonio invadiram meu quarto e nos arrastaram, eu e meu pai, pra dentro de um carro antes de nos levarem pra capela onde meu futuro sogro e meu futuro marido já nos esperavam.
Estávamos na sala de preparação e, enquanto meu pai fazia um péssimo trabalho em me acalmar, eu me fechei no silêncio.
Meu olhar vagou pro espelho, admirando como o tecido marfim do vestido de noiva que ganhei minutos atrás abraçava meu corpo. Sempre imaginei usar o vestido da minha mãe no dia do meu casamento, mas a renda delicada que agora agarrava minhas curvas não tinha nada a ver com o vestido de cetim branco enterrado junto com o resto das coisas dela no sótão.
— Você não pode ficar em silêncio pra sempre. Mais cedo ou mais tarde, vai ter que falar comigo — sua voz cortou meus pensamentos, mas não consegui me obrigar a responder. Em vez disso, continuei fixando meu olhar no meu reflexo, fingindo estar alheia à insistência dele.
Sua voz soou novamente, mais suave dessa vez:
— Eu sei que todo esse arranjo pode parecer um pouco... inesperado, mas você tem que entender, essa era a única coisa que ele queria. Você era a única coisa que ele queria.
Mercador da morte.
Era como a máfia italiana chamava homens como meu pai.
Homens que vendiam armas pra máfia em troca de poder temporário, e eram cegos demais pra ver as consequências inevitáveis que suas ações causariam. Meu pai acreditava que poderia ser mais esperto que homens que construíram seus impérios com o sangue dos inimigos e a lealdade dos parceiros, e esse foi o começo da queda dele... e minha.
A família Moretti era uma das três famílias criminosas que mandavam em Chicago. As famílias tinham origens italiana, russa e irlandesa, mas os Morettis eram os mais cruéis de todos. Seu líder, Alessandro Moretti, era um homem conhecido por sua precisão e autoridade inabalável. Ele administrava seus negócios como uma máquina bem lubrificada e não deixava espaço pra erros. Dois meses atrás, meu pai cometeu o erro de vender armas defeituosas pra Máfia Moretti. Suas ações resultaram na morte de três homens de Alessandro. Um deles era seu sobrinho.
Como era de se esperar, Alessandro não ficou nada satisfeito ao descobrir que a causa da morte do sobrinho foi meu pai. Uma vida por uma vida era a regra número um da máfia, e Alessandro estava determinado a fazer meu pai pagar com a dele.
Até que ele me viu.
Bem, uma foto minha.
Na mesa do meu pai. Ele olhou uma vez pra aquela foto e decidiu que eu seria a escolha perfeita pro filho dele.
Como sua noiva.
Por mais distorcido que parecesse, Alessandro Moretti acreditava que forçar meu pai a entregar sua única filha ao filho seria punição suficiente pra ele.
— Você me vendeu — as palavras escaparam dos meus lábios antes que eu pudesse contê-las. Minhas unhas cravaram na carne da minha palma enquanto eu o encarava com olhos vidrados.
Ele inclinou a cabeça pra trás, fechando os olhos brevemente — Ava, não é assim. Alessandro... era tudo o que ele queria. Que você se casasse com o filho dele. Se eu não tivesse concordado, ele teria matado nós dois. Eu não tive escolha.
— Você teve uma escolha. Poderia ter escolhido não vender sua única filha pra um monstro. Mas você não fez isso.
Ele passou os dedos pelos cabelos ralos, finalmente encontrando meu olhar.
— Antonio será bom pra você. O pai dele vai garantir isso.
Quase ri de tão convencido que ele parecia de que Alessandro, um homem conhecido por voltar atrás em suas palavras, garantiria que seu filho me trataria bem.
Como o próximo na linha de sucessão ao papel de chefe da família Moretti, Antonio era tão cruel e vil quanto possível.
Eu tinha ouvido rumores sobre meu futuro marido. Sobre como ele matava sem pensar duas vezes e como estava disposto a fazer qualquer coisa pra conseguir o que queria. Ele era um assassino e um estuprador que passava a maior parte das noites em clubes, cercado por mulheres, álcool e drogas.
Embora seu pai tenha passado a vida inteira preparando-o pra se tornar o sucessor perfeito, Antonio falhou miseravelmente no caminho pra se tornar o próximo chefe da Máfia Moretti.
Era uma das razões pelas quais o pai de Antonio estava tão desesperado pra casá-lo. Alessandro estava ficando velho e Antonio não tinha demonstrado nenhum interesse em se estabelecer.
A máfia precisava de herdeiros pra sobreviver e, como nenhum dos filhos de Alessandro estava interessado em casamento, ele foi forçado a bancar o casamenteiro nas vidas deles.
Uma batida suave ecoa pela sala e eu arrasto meu olhar em direção à porta.
— Faltam dois minutos pra cerimônia — uma voz avisa.
Meu ombro enrijece.
Espero até que os passos desapareçam antes de me virar pro meu pai mais uma vez.
Meu coração afunda. Eu me viro pra ele, meu tom desesperado enquanto imploro:
— Por favor, não me faça fazer isso.
Ele tinha que ver que isso era errado. Que ele estava cometendo um erro.
Meu pai desvia o olhar, ombros caídos enquanto fica ali, derrotado. Sua resposta não dita ferve no silêncio.
Já foi feito.
Meu coração bate forte contra minha caixa torácica enquanto as pesadas portas de carvalho da capela se abrem. O silêncio cai sobre os convidados enquanto eles se levantam e se viram pra testemunhar minha entrada.
Respire, lembro a mim mesma porque parece que esqueci como fazer isso.
A grande catedral, adornada com rosas brancas e iluminação suave, parece algo saído de um sonho. Pétalas de rosas espalhadas pelo corredor carmesim estreito que ia da grande entrada até o altar onde meu futuro marido esperava.
A visão teria sido de tirar o fôlego se não fosse pelo pequeno nó de medo corroendo meu peito.
Meu pai dobrou o braço, estendendo o cotovelo pra eu segurar. Com dedos trêmulos, coloco minha mão direita sobre o tecido macio do paletó do smoking. A fragrância delicada de rosas paira no ar enquanto ele começa nossa descida pelo corredor.
Meus olhos percorrem os rostos que enchiam cada banco. Eu nunca tinha conhecido nenhuma dessas pessoas, mas Alessandro havia considerado cada uma delas importante o suficiente pra estar presente.
Me perguntei se eles sabiam das circunstâncias que cercavam esse casamento. Eles sequer se importavam em estar presentes no casamento de um homem que causou sofrimento a centenas?
Meu pai resmunga algo baixinho, mas não dou atenção. Meu olhar encontra o homem que logo chamarei de marido em questão de minutos. Ele não é muito mais alto que eu. Seu rosto é redondo e gordinho e me lembra uma batata de formato estranho que meu irmão Aaron encontrou no jardim da minha mãe quando éramos crianças. Seu cabelo é escuro e visivelmente ralo, com manchas calvas no centro do couro cabeludo. Os botões de seu smoking esticam em volta da barriga enquanto tentam manter o tecido fechado.
Ele não era nada atraente, mas eu já sabia disso.
Imagino que seja isso o que acontece quando você está na casa dos 50 anos e é tão poderoso quanto Antonio.
Você se deixa levar.
Mas nada disso me incomoda tanto quanto seus olhos.
Escuros e sem alma.
Antonio me observa caminhar pelo corredor com a mesma intensidade predatória de um leão perseguindo sua próxima presa. Dizem que os olhos são a janela pra alma, e quando o olhar dele colide brevemente com o meu, eu vejo a dele.
E isso me deixa enojada. A bile sobe pela minha garganta, mas eu a empurro pra baixo.
Seu olhar nunca deixa o meu, e quanto mais perto eu chego do altar, mais meu coração afunda. Uma vontade incontrolável de me virar e fugir cresce a cada segundo, mas sei que não conseguiria dar nem um passo antes que uma bala encontrasse seu caminho até a parte de trás do meu crânio.
Meu pai solta minha mão quando chegamos em Antonio e, por um momento, me permito acreditar que ele caiu em si e está me deixando ir, mas meu alívio momentâneo logo é substituído por um pânico arrebatador quando Antonio estende sua grande palma suja na minha direção e, sem esperar, arranca minha mão da do meu pai.
No momento em que seus dedos se enrolam em volta do meu pulso, uma onda de repulsa dispara através de mim. Luto contra a vontade de me afastar, me forçando a aceitar o peso indesejado do seu toque. Pelo canto do olho, vejo o cabo de uma arma saindo das calças do padrinho de Antonio.
Engulo em seco e forço meus olhos a se afastarem da arma. Em vez disso, reajusto meu olhar pro homem careca na minha frente.
O canto dos lábios de Antonio se curva num sorriso cruel e sádico e ele aperta minha mão, com o aviso bem claro em seu aperto.
Tente qualquer coisa e você está morta.
— Sorria — diz scom voz cruel. — É o dia do seu casamento.
Eu faço o que ele diz. Forço um sorriso tenso nos meus lábios. Seu sorriso se alarga.
— Melhor — ele diz e se vira pro padre, sinalizando pra que comece a cerimônia.
— Queridos irmãos — começou o padre —, estamos reunidos aqui hoje para unir sua filha Ava Blackwood e seu filho Antonio Moretti no sagrado Matrimônio...
Pelo canto do olho, encontro os olhos de Antonio presos na curva do meu peito. Ele passa a língua no lábio inferior e um nó de nojo se forma no meu estômago.
O salão fica em silêncio quando o padre pergunta se há alguma objeção. Ninguém diz uma palavra.
Por favor, Deus, me salve. Por favor, Deus...
O padre se vira pra mim.
— Você, Ava Blackwood, aceita Antonio Moretti como seu legítimo esposo enquanto vocês dois viverem?
Passo a língua no lábio inferior e abro a boca pra dizer as palavras que sei que selarão meu destino para sempre, quando uma voz irrompe do fundo da sala, me interrompendo.
— Bem, bem, bem, isso não é adorável?
O intruso se anuncia, e cada palavra é acompanhada por uma batida lenta e deliberada.
Sua voz é suave e profunda, me fazendo tremer. Cada palavra carrega um leve sotaque russo, entrelaçando-se em cada sílaba que sai de seus lábios.
Murmúrios irrompem da plateia enquanto eu me viro estreitando os olhos, tentando encontrar a causa da interrupção. Minha respiração fica presa na garganta quando meu olhar colide com um par de olhos verdes profundos. Lá, no fundo da sala, estava o homem mais devastadoramente bonito que eu já tinha visto, encostado no batente da porta de saída.
Uma luz fraca tremeluz acima dele e eu observo o intruso se aproximar. Algo sobre sua presença mudou completamente a atmosfera da sala. Me consumiu. Era impressionante como sua simples presença transformou tudo. Havia algo nele que ia além de sua altura e do volume impressionante de seu corpo.
Poder.
Rapidamente concluo que ele é um deles.
Só que ele não deveria estar aqui.
Ele não foi convidado.
Mas lá estava ele.
Meus lábios se separam num suspiro enquanto meus olhos varrem suas feições. Ele é impressionante, de uma forma perigosamente perturbadora. Seu maxilar afiado e barba bem aparada dão a ele um ar de refinamento calculado, mas não há nada suave nele. Está vestido com uma camisa branca simples que exibe os planos de seus ombros largos. O tecido gruda no seu corpo e os dois primeiros botões estão desfeitos, expondo os padrões de tinta escura gravados em sua pele, da lateral do pescoço ao centro do peito e abaixo.
Uma imagem inesperada de mim traçando as curvas do desenho inscrito em sua pele com meu dedo de repente passa pela minha mente, me assustando. Eu nunca fui de babar por tatuagens, mas nele a tinta só aumentava o fascínio.
— Qual é o significado disto? — Alessandro ruge, levantando-se, seu rosto vermelho de raiva. Uma veia grossa incha o lado de seu pescoço, pulsando com sua fúria.
Mal tenho tempo de registrar o aperto de Antonio no meu pulso antes que ele me puxe pro seu lado, seus dedos esmagando minha pele enquanto se vira pra encarar o estranho.
— Você tem alguma ideia do que acabou de fazer? — ele rosna, sua voz grossa com raiva mal contida.
O intruso para no meio do caminho. Seus olhos verdes encontram os meus no meio do caos e eu congelo.
Esses olhos. Eu já os vi antes.
Mas onde?
Franzo a testa, tentando me lembrar de onde o vi, mas não consigo lembrar de nada.
— Você — é a voz do meu pai que corta a tensão. Seus olhos estão arregalados como se tivesse acabado de ver um fantasma — Não pode ser... você deveria estar morto.
Morto?
Meu pai conhecia esse homem?
Uma inquietação se arrasta por mim. Havia algo na reação do meu pai que me dizia que eu estava perdendo alguma coisa.
Um sorriso maníaco se curva no canto dos lábios do intruso, um lampejo de diversão dançando em seus olhos.
— Eu melhorei.
— Chega! — Alessandro ruge, fixando seu olhar furioso no meu pai — Você conhece esse homem, Marcus?
Meu pai não responde.
— Permita-me me apresentar — o estranho começa, sua voz baixa e cheia de ameaça. — Meu nome é Nikolai Volkov e acredito que vocês têm algo que me pertence.