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Capítulo 2

Cezar narrando:

Chegamos eu e o Estevan nas escadarias principais do castelo escoltados por dois soldados, creio que estavam se certificando de que compareceríamos ao gabinete do meu pai.

Viro-me de frente para os soldados, parando abruptamente:

— Muito obrigado pela companhia, entretanto, seguimos só nós dois  — retorno ao trajeto certo de que estou sendo obedecido.

No corredor, bem próximo ao gabinete do rei, ainda com o cabelo molhado Estevan chacoalha a cabeça balançando os cabelos, e neste ato seu cotovelo derruba um vaso de cristal que estava posto em cima de uma pequena mesa em baixo de uma pintura.

— Nossa, merda, veja só o que fiz... — Estevan se lamenta, abaixando-se para juntar os cacos.

Sabemos o quanto o rei é neurótico com tudo.

— Ninguém viu que foi você, então não foi você — levanto-o pelos ombros.

— Majestade... — Estevan gagueja visivelmente apavorado olhando para trás de mim.

Viro-me e dou de cara com o rei Luiz Cezar. Meu pai é um homem loiro e forte, possui cabelos como os de Filipe, compridos até os ombros, olhos e lábios parecidos com os meus, usa um pequeno cavanhaque... Muito conservado para a idade que tem. Minha altura. Usa um manto vermelho e a coroa real a maioria do tempo. Ele é um rei apaixonado pelo seu reino, nem é o reino que venera ele, é ele quem venera o reino.

— Pai, deseja falar comigo? — pergunto me encaminhando em direção à ele, fingindo desentendimento.

Meu pai se desvia de mim e anda em direção aos cristais no chão.

Arg.

— O que é isso? O que houve aqui? — encarou Estevan que estava totalmente desconcertado.

Este pobre sujeito se torna um verdadeiro banana na presença do rei.

— Perdão, majestade, eu...

— Eu derrubei, pai, simples assim — interrompo abrindo a porta do seu gabinete avançando para dentro, sendo seguido pelos dois.

O gabinete do rei é uma sala branca enorme que possui duas mesas: uma de madeira no tamanho básico que serve para reuniões pessoais, e do outro lado da sala uma mesa de madeira maior, que serve para reuniões mais importantes, ambas luxuosas e trabalhadas.

Nos sentamos eu e Estevan de frente para o rei que está nos encarando do outro lado da mesa sentado em sua cadeira majestosa de madeira pura e almofadas vermelhas com rendas douradas, que um dia será minha. Enquanto Estevan se posiciona todo ereto e com os ombros ajeitados, eu praticamente me jogo, apoiando-me entre os próprios joelhos.

— Creio eu que vocês dois são mais próximos do que aparentam ser — o rei começa, juntando as mãos de frente para o queixo, nos encarando.

Dou um sorriso largo.

— Isso não é segredo, meu pai, o senhor sabe que nos conhecemos desde a infância, somos velhos amigos — dou um leve tapa no ombro do Estevan ao meu lado, fazendo-o rir sem jeito.

Estevan é, de fato, outra pessoa quando está próximo ao rei ou ao próprio pai.

— Me refiro à algo mais próximo, mais que um amigo.

Se eu estivesse engolindo algo nesse momento eu tenho certeza que iria me engasgar.

— O senhor está sendo ardiloso, pode ser mais claro com as suas insinuações, por pura cortesia? — sinto o meu rosto em chamas tamanha indignação que me tomou.

Estevan se remexe na cadeira, sua face levemente avermelhada transparece a aversão pelo comentário infeliz do rei.

— Não diga tolices, César, me refiro à uma amizade fraternal, vocês possuem uma relação de irmãos, e não apenas de amigos, assim como eu e meu velho amigo Petrov.

— O senhor está certo, mas isso vem ao caso? — pergunto mudando a minha posição na cadeira, olhando o meu pai com desafio, — creio que a nossa amizade não seja interessante para o senhor.

Ele me devolve o olhar, parecemos dois leões demonstrando poder. Estevan olha de mim para o rei e do rei para mim, como se estivesse em apuros. Ele sabe que o rei presa muito o bom comportamento, coisa que Estevan com certeza possui, mas não quando está comigo, eu tenho o poder de fazer as pessoas se soltarem.

— Realmente não vem ao caso, o que vem ao caso é, já que são próximos provavelmente Estevan fará parte de seu governo, e isso significa que você confia nele... todavia eu não confio em nenhum dos dois  — soltou sem rodeios encarando a nós dois com firmeza.

Sorrio debochando de meu pai. Se ele não confia no próprio filho, então deve ser tragicamente paranoico. Apesar de que ele não me trata como um filho, eu morreria por ele!

— Então pai, que tal nomear Petrov Julius como o herdeiro do trono? Isso seria vantajoso tanto para o senhor quanto para mim... dado que estás ciente que eu nunca fui consultado sobre querer ou não ser o futuro rei, — levanto-me da cadeira passando as mãos em meu curto cabelo, vindo até a janela para respirar melhor, por ela podemos enxergar uma grande parte da beleza de Lurhuis.

Meu pai se levanta também, vindo até mim.

— Não diga tolices, Cezar! É o seu dever! Você é o meu filho! Você herdará o trono de Filipinas! — pousa sua mão em meu ombro, trazendo-me uma leve ternura, quase capaz de me fazer esquecer o quanto ele me tira do sério.

— Se não confia em mim, qual é o seu plano? entregar o seu amado reino nas mãos de um filho o qual não confias para assim destruí-lo? — encaro-o, estamos com nossos rostos bem próximos.

Ele se afasta visivelmente perturbado, martelando algo em seus pensamentos.

— Eu me preocupei tanto com Filipinas que não fiz o mais importante para ela, preparar você! Não que eu não confie em você meu filho... é que nunca demonstrastes interesse algum nos assuntos reais, errei muito ao deixá-lo livre para fazer o que queria, e a partir de hoje isso muda  — espreito meus olhos sem entender...

O quê ele quis dizer com isso?

— Está me dizendo, pai, que eu não serei livre para fazer o que bem entender? me explica quando foi que eu realmente fui livre? — Questiono seguindo-o, ele se voltou para sua cadeira e eu faço o mesmo, sento-me no lugar o qual eu estava, — pretende me prender ainda mais?

— Não apenas você... Estevan também deverá mostrar mais maturidade, — ambos, eu ele, viramos o nosso rosto em direção ao Estevan que arregalou os olhos ao perceber que estava sendo alvo da nossa discussão, — já que provavelmente a amizade de vocês afetará de alguma forma o reino, então pretendo que seja de uma forma positiva.

— Por que dizes que Estevan não aje com maturidade? Ele é o melhor mestre de armas que este reino possui, bom, ele me ensinou suas técnicas, agora sou eu o melhor mestre de armas eu sei, — Estevan revira os olhos discretamente. — Não estou entendendo a sua intenção com esta reunião... Diz de uma vez por todas, o quê pretende conosco, pai? — Dobro meus braços em cima de meu peito.

— Pois bem, o general Haian sairá em resgate de uma tropa em dois dias, porém ele não irá comandar... os soldados receberão ordens direta do príncipe Cezar!

Só pode ser uma brincadeira do meu pai... Ele dificilmente faz brincadeiras, entretanto tenho certeza de que é.

— Isso soa tão engraçado pai, mas, por que será não estou rindo? — pergunto confuso.

Estevan está me encarando com seriedade.

— O rei está falando sério, alteza  — deu-me um sinal com os olhos o qual eu entendo muito bem.

É o nosso sinal secreto. O fazemos quando estamos mentindo contra a vontade, quando queremos sair para outro lugar e etc.

— Vai mesmo enviar o seu filho para uma missão dessa magnitude? Está ciente do perigo que eu correria? Sou o príncipe herdeiro do trono de Felipinas, na certa irão me reconhecer de imediato e me tornarei o alvo principal de nossos inimigos! O senhor realmente está falando sério? — Levanto-me incrédulo quando percebo que sim, o meu pai está falando muito sério.

— É para o seu bem, e para o bem de Filipinas! — Diz, pondo-se em pé.

— Tudo para o rei gira em torno de Filipinas! Mesmo que seu único filho corra o risco de ser morto! Só que nada para o senhor é mais importante do que Filipinas, não é mesmo? — o rei faz menção de dizer algo, porém eu não dou espaço. — Pois bem, pai! Farei sua vontade! Depois não venha se lamentar porque o seu reino não possui um herdeiro.

Caminho em passos duros e rápidos até a porta de saída. Não me aguento de tanta indignação.

Vou comandar um resgate em território inimigo? Irei atravessar o oceano em um navio cheio de soldados fedorentos?

Por que diabos que de uma hora para a outra o meu pai resolve me mandar para a guerra?

Espero que eu morra, porque assim meu pai sentirá o remorso pela minha perda.

Ou talvez não sinta.

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