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A Viajante do Tempo

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Evangeline Carrão
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Notas

Resumo

Quando Cristian, um aprendiz de bruxa usa magia para conseguir que a sua namorada Isabela reviva o seu primeiro encontro, algo corre mal e ela acaba por viajar cinquenta anos para o futuro, onde conhece o filho de Cristian, Benjamin. Isabela acredita que ainda pode casar com Christian e, para isso, aproxima-se de Benjamin para espionar, mas acaba por se apaixonar, dividida entre o passado e o presente. Depois de conseguir um meio de falar com Cristian no passado, Isabela deve fazer uma escolha. Voltar a Crristian mesmo que isso signifique que Benjamin nunca tenha existido ou desistir do seu amor passado e viver feliz no presente

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1994

1994

Meu nome é Isabela Maria Esposito, cristã, namorada oficial de Cristian Bianchi e co-presidente estudantil, pelo menos é o que ele diz quando alguém questiona o fato de eu ficar sempre fora do alojamento feminino depois do horário limite da sala comum.

O dormitório das meninas ficava do lado direito do prédio em forma de U que era o colégio católico de Santa Isabel, o pátio ficava logo abaixo e depois dele o dormitório dos meninos, um prédio grande demais para a única sala comum coberta ficar na recepção, mas era como as freiras e frades mantinham.

Também sou a melhor do meu ano em matemática e posso resolver qualquer problema. É em estudo religioso que não vou muito bem, ou finjo para o professor Antônio me deixar fazer dupla com o Cristian em todas aulas.

Isso porque há um ano, Cristian descobriu que o professor praticava ocultismo nos arredores da escola e exigiu participar, caso contrário contaria tudo. Eu achava ótimo, Antônio era desprezível, odiava o jeito que ele olhava para mim e as outras meninas, além disso, se meu namorado tivesse ambição, então eu apoiaria..

Ele diz que eu o desconcentro, mas gosta de ter-me por perto, sei disso. Aliás, era para essa aula em especial que estávamos indo.

- Oi, Sir - me aproximei, deixando um selinho rápido nos seus lábios.

Ele disfarçou e olhou em volta. Não eram permitidas tais interações no colégio, embora eu fizesse parecer que era só uma menina inocente, gostava de constrangê-lo assim.

- Eu ainda não concordei sobre isso.

- Mas faz parte do roteiro que você criou.

- Trocar de nome faz parte do roteiro, mas Sir? É um título, precisa conquistar. Ninguém atribui um título a si mesmo, é ridículo.

- Mas você vai ser o ocultista mais poderoso que já existiu, pode tudo.

- Por isso mesmo, se vou mudar meu nome oficialmente precisa ser sério.

- Que tal manter Cristian?

- É um nome muito comum, tem que ser algo que mesmo sem o meu sobrenome, todos reconheçam. Mas vou pensar em algo.

Bem, outra coisa importante sobre mim, é que nasci em 25 de fevereiro de 1926, uma quinta-feira ensolarada em Monte Confiança, a cidadezinha minúscula no interior de São Paulo, como dizia a minha mãe, e é exatamente no dia 25 de fevereiro, logo depois do início das aulas do meu último ano do ensino médio, mas de 1944, que essa história se inicia, no meu aniversário de dezoito anos.

- Já respondeu às questões?

- Desculpe, estou distraída.

Cristian pegou a folha da mesa na minha frente e começou a transferir as suas respostas para minha atividade, em uma simetria perfeita.

- Não vai perguntar o que está me distraindo?

- Não sendo os longos cabelos perfeitos da Ana, já está bom.

- Como ela consegue deixar sempre alinhados mesmo com o tempo úmido? Mas não é isso, estou ansiosa para o que você vai me dar.

- Ocasião especial?

- Para de fingir que se esqueceu ou vou acabar acreditando.

Fiz bico de choro e Cristian tentou segurar o sorriso apertando os lábios. Nossa, ele era tão bonito com seus olhos escuros e cabelos pretos ondulados, contornando o rosto claro e fino. Me fazia pensar na sorte que eu tive quando ele me notou dois anos antes, depois que eu ganhei dele na prova oral de português. Antes disso eu era só a incrivelmente linda, inteligente e talentosa coroinha da missa de domingo, segundo ele.

- Certo, mas não vou te deixar estragar a surpresa.

Cristian anotou algo no grimório que sempre levava junto ao corpo e arrancou a folha me passando ela dobrada por baixo da mesa. Dei um breve olhar no professor que explicava pela milésima vez para a turma o que era pecado original e abri a folha.

"Meia-noite no corredor.

Não se atrase.

Amo você."

- Tão tarde? - falei em um sussurro como se só a idéia de estar pelo colégio á essa hora já fosse proibido, Antônio me lançou um olhar de reprovação e me apressei em colocar o bilhete no bolso do suéter - não podemos, mesmo sendo presidente estudantil, se nos pegarmos...

- Não seremos pegos. E vai valer a pena eu prometo.

Tinha que valer, para ele arriscar ser expulso ou pior, voltar para o orfanato onde cresceu.

É, Cristtian vivia no Orfanato Imaculado desde que nasceu, ficava apenas alguns quilómetros da escola, mas suas notas garantiram a ele uma bolsa para o internato, então sei que não compraria um presente caro. Nenhum presente na verdade, mas isso me deixava animada.

No ano anterior ele me levou para ver o por do sol, me pediu em namoro enquanto eu estava admirada com a natureza e no Natal, cozinhou para mim depois de invadirmos a cozinha. Aquele macarrão com molho bolonhesa estava mesmo uma delícia, quase tanto quanto seu beijo.

Eu fiquei tão ansiosa o resto do dia que comecei a fazer diversas perguntas para Cristian o que o levou a se afastar, me evitando até o fim das aulas.

Fui para a sala comum às vinte horas em ponto. Se íamos para o mesmo lugar não fazia sentido ir separado, mas Cristian não apareceu e antes que ficasse atrasada eu saí.

O corredor estava completamente escuro, Cristian tampou minha boca abafando o som de um grito de susto. Eu só queria beija-lo e foi o que fiz assim que afastou sua mão. Segurei o seu rosto e o beijei, mesmo ele tentando me afastar.

Cristian pegou os meus pulsos e me empurrou de leve, eu já estava rindo de tão animada.

- Faz silêncio, acabei de ver a Diretora.

- Se formos pegos.

- Não seremos, mas vamos logo - ele começou a me puxar pelos corredores até parar debaixo da escada.

- Para onde?

- Não é onde, é quando - ele tirou um pequeno saco de pano do bolso, de onde pegou uma moeda grande de bronze antiga.

- O que é isso?

- Um medalhão de São Valentim. Parte de um feitiço.

- Você roubou?

- O professor Antônio me emprestou.

- Ele sabe que te emprestou?

- Com sorte, nunca vai descobrir.

- Sabe que não ligo de você estudar ocultismo, eu apoio seus sonhos e tudo o que conquistou com isso, mas não quero fazer parte… - na verdade, eu não botava fé nenhuma que essa magia fosse real, até aquele momento

- Confia em mim - ele disse pausadamente.

Cristian colocou o medalhão na palma e juntou as nossas mãos em um cumprimento. Meu coração estava disparado, mas eu confiava nele. Cristian estava sempre aprontando, mas nunca era pego então eu também não seria.

- Para quando vamos?

- Nosso primeiro encontro, quero reviver aquilo e te mostrar por que me apaixonei.

Meu sorriso sumiu, achei que ele tentaria só alguns dias e já teria um preço alto, mas dois anos era tempo demais, se alguém nos pegasse era o fim.

- Não podemos.

- Nada vai acontecer, vamos ver o nosso primeiro beijo e recriar, depois voltamos. Confia em mim.

- Ou desistimos e você me leva para um encontro novo na Casa do Chocolate, na próxima vez que visitarmos a cidade.

- Sei que está com medo mas está tudo bem - Cristian pegou minha mão outra vez e ajustou corretamente, mas eu estava realmente assustada, tentei tirar o objeto da sua mão e acabei batendo o indicador no primeiro círculo entalhado na moeda. Cristian fechou os olhos e apertou minha mão de novo junto a sua, começou a murmurar palavras em latim, me deixando realmente assustada.

Ao nosso redor tudo passava assustadoramente mais depressa, nem mesmo corpos eram reconhecidos apenas borrões e vultos. A velocidade foi diminuindo, barulhos estranhos de coisas quebrando e pessoas gritando me deixaram alerta. Cristian me abraçou e me fez sentar ao seu lado no chão enquanto o tempo parava.

- O que está acontecendo?

Ele não respondeu, mas não era preciso ser um gênio para entender. Pessoas brigando umas com as outras, com socos, facas, tiros, paredes sendo explodidas e até fogo podia ser visto. Era uma confusão generalizada.

- Parece uma guerra, quando isso aconteceu?

- Nunca. Precisamos sair daqui.

- Você voltou demais, Cristian.

- Acho que não voltamos, Isa - ele me apertou junto ao seu corpo - estamos no futuro.