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1- De volta às aulas

Por Anna Green

Affs! Hoje é o primeiro dia de aula, e como eu estou? Querendo faltar. Mas não só hoje... o ano todo, se fosse possível.

Odeio aquela escola. Ainda bem que é o último ano. Tenho 17 anos, sou adiantada um ano. Sou zoada todo dia. Minha mãe morreu no parto, e meu pai me dá todo o amor e carinho que pode. Ele é mecânico e trabalha na oficina que fica na garagem aqui de casa mesmo. Nossa casa é bem humilde: dois quartos (o meu e o dele), um banheiro, uma cozinha pequena (mas tem), e uma sala onde o sofá quase não coube.

Desculpe a arrogância. Me chamo Anna, tenho 17 anos, como já disse. Tenho cabelos cacheados, sou parda — nem escura o bastante para os pretos, nem clara o bastante para os brancos. Tenho sardinhas quase invisíveis, mas tenho. Boca meio carnuda, olhos castanhos claros, corpo médio.

Nesse momento, estou me espreguiçando para descer e perguntar ao papai se ele me deixa ficar em casa, pelo menos hoje. Desço as escadas correndo e paro no pé da escada.

— PAI!! CADÊ VOCÊ???

— TÔ AQUI NA COZINHA! — ele grita de lá. Saio correndo até ele.

— Paizinho, você sabe que eu te amo, né? — abraço ele e dou um beijo no topo da cabeça dele.

— O que você quer dessa vez? — puxo a cadeira e me sento ao seu lado.

— Eii! Você acha mesmo que eu quero alguma coisa, paizinho? — pego um pão e passo manteiga.

— Sim! Você só me chama de paizinho quando quer algo. — diz, dando um gole no café.

— Tá, você me pegou. — digo, mordendo meu pão. — Eu posso faltar hoje? — falo de boca cheia.

— Não fale de boca cheia! Você sabe que é falta de educação. E não, você tem que ir. Não é à toa que pago aquela escola. — diz, dando outro gole de café.

— Desculpa... tudo bem, vou me arrumar então. — digo triste por não conseguir o que queria. Termino de comer e me levanto, indo em direção à porta.

— Filha? — ele me chama quando eu já estou saindo da cozinha.

— Siiim, papai? — me viro.

— Não esquece que eu te amo, minha pequena. — ele sorri.

— Oooh, papai, também te amo! E muito! — dou um abraço nele e vou me arrumar.

Separei meu uniforme na cama e fui tomar banho. Tomei aquele banho e fui finalizar o cabelo. Quando vi as horas, levei um susto. Comecei a colocar minha saia (ela bate no joelho), depois coloquei a blusa branca do uniforme escolar. Comecei a escovar os dentes e calçar o tênis, tudo ao mesmo tempo. Isso que dá demorar no banho!

Lavei a boca, peguei a mochila e saí correndo do quarto. Desci as escadas pulando alguns degraus, fui até a cozinha, peguei uma maçã e uma banana e saí correndo. Olhei o relógio da sala: 7h10. Era pra eu estar lá às 6h40! Affs... primeiro dia e já estou atrasada.

— Eiii! Não está esquecendo de nada?

— Aaah, me perdoa, papai. — voltei, segurei a mão dele e dei um beijo. — A bênção, papai?

— Deus te abençoe. — ele beijou minha testa. — Agora vai, minha pequena. — disse, com aquele sorriso que me acalma todo dia.

— Papai, eu não sou mais pequena! — fiz biquinho e ele riu.

— Tchau, pai. — sorri e corri para o ponto.

O ônibus não demorou a chegar. Olhei para o relógio no pulso: 7h30. Meu Deus, perdi a primeira aula. Droga. Fui direto pra coordenação, mas as coordenadoras não me deram ocorrência. Sou legal, nunca fiz nada de errado, então elas já me conhecem. Puxaram assunto sobre as minhas férias. Ficamos conversando até o sinal tocar. Quando tocou, deu vontade de sair correndo. Meu Deus... o inferno começou.

Fui para minha sala torcendo para que os populares não estivessem na minha turma este ano. No ano passado, minha única forma de escapar das besteiras que faziam comigo era ficar na sala. Na minha escola, não é permitido alunos de uma turma ficarem em outra, então eu passava o recreio todo sozinha lá dentro.

Esperava de verdade que o diretor não fizesse isso comigo de novo. Minhas esperanças estavam altas quanto a isso. Ele sabia de tudo. Não seria capaz de repetir esse erro.

Abri um sorriso, pronta para entrar na minha nova sala. Mas quando olhei o mural e vi os nomes: Rebeca Harris, Stiles Evans, Daryl Assis, Stefan Thompson, Verônica Edward, e por último, mas não menos importante... Scott Wood. Meu sorriso se desmanchou na hora.

Mas que droga... por que a turma da bagunça tá toda junta? Meu Deus... me tira daqui!

— Não... Não pode ser... — a escola parecia silenciosa perto do meu coração acelerado.

— O que foi, não gostou do que viu? — ele sussurrou no meu ouvido.

Não pode ser. Minha alma saiu do meu corpo na hora. Não, não, não... isso não pode ser verdade. É só um sonho. Eu vou acordar. Me virei devagar e lá estava ele. Me encarando com aquele sorriso torto.

Meu estômago virou. Aqueles olhos castanhos escuros, quase pretos, que pareciam me perfurar... o mesmo olhar de deboche de sempre. Scott Wood. O cara mais insuportável, convencido e metido da escola — e, infelizmente, também o mais bonito. A combinação perfeita para o caos.

SOCORRO, DEUS!

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