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Capítulo 02

Sair da cadeia e ir para a casa dos pais não é fácil, a pressão para que eu arrume um emprego quase me deixou doida, quero só ver quando eu dispensar a vaga que eu quis tanto pegar.

Já estou vendo o surto, com essa responsabilidade monstra é que não vai dar certo ficar aqui, mesmo porque preciso subir o morro e ficar mais perto do que esta acontecendo por lá.

Até daria para ficar na casa dos meus coroas masé muita cobrança, pouca privacidade e nada do que eu faça é válido, todo mundo acha que sou uma bomba relógio prestes a estourar e prejudicar todo mundo. Não que estejam de todo errado, mas também não é de todo certo.

Não tiro a razão deles estarem com o pé atrás, afinal não é a primeira vez que fui presa, contudo nunca prejudiquei ninguém aqui de casa. Na verdade não sei nem porque falam tanto se nem me visitar não foram.

Melhor eu deixar esses pensamentos pra lá não vou remoer esse assunto, eu sei o que estou fazendo e mesmo que não fosse meu planejamento inicial a realidade é que já me acostumei com os fatos estou satisfeita com os caminhos que estou tomando independente dos riscos que estou assumindo.

De acordo com os irmãos, os trabalhos começam em dois dias e eu não tenho tempo a perder, o lema é faturar para viver bem, o corre não pode parar.

Um dia antes reúno pessoal do morro, passo a visão do novo quadro de liderança, os cargos de confiança quase todos ocupados por mulheres, minha gestão é diferenciada é feminina o que deixam os manos contrariados.

Como já imaginava, alguns dos irmãos reclamam dos cargos serem ocupados por mulheres, mas eu deixo claro que meu quadro sou eu quem escolho, e que sem um vacilo ninguém é substituído, portanto o melhor é cada um ir para sua função.

Na reunião que é em uma área de lazer, primeiro repassamos os fundamentos da facção, as normas do morro, os cargos, as formas de distribuição, montamos as barreiras de contenção e organizamos a lista do que falta no paiol do morro . Obrigações feitas todos aproveitaram para curtir o restante do dia, visto que os trabalhos só vão começar amanhã.

—Dinda qual vulgo a senhora vai usar, ou podemos chamar pelo antigo? — Nicole me pergunta e me dou conta de que não tinha pensado nisso, mas respondo de súbito.

—Rafaela! Vulgo Rafaela, filhota — Respondo enquanto bebo outro gole do meu suco, evito consumir bebida alcoólica na rua.

Nicole volta para junto do pessoal e eu fico sentada de longe olhando minhas redes sociais, observando todos e me perguntando com quais dificuldades vou ter que lidar nessa nova caminhada.

— Oi dona Flávia! Ou não é assim que é pra chamar? — Tiro as vistas do telefone e olho na direção da voz, um homem alto e forte está parado me observando e aguardando minha resposta, ao seu lado tem outro, ambos são irmãos no morro já os conheço a alguns anos mas nunca conversamos, sinto que os problemas que vou lidar começaram a chegar.

—Rafaela, e vocês são Thor e Peso da Morte, certo? Em que posso ajudar?— pergunto me levantando e saudando os dois com um aperto de mão.

—Então Rafaela, eu sei que a senhora já veio com instruções de fora, sei que tá seguindo o fundamento mas isso aqui não funciona não, a senhora não é a primeira que tenta, já aviso, todos que vieram caíram e outra eu não rendo pra facção não, minha mercadoria sou eu quem trago não vou pegar com vocês, vou vender onde e como eu quiser — ele fala e eu apenas escuto, antes de prosseguir ele ergue a camiseta deixando um 38 à vista— E tem outra mana se tentar me oprimir eu passo por cima.

— Então na primeira reunião já está me ameaçando?— Por dentro estou gelada mas tento me manter firme por fora.

— É só um aviso! — ele fala e ambos saem sem sequer olhar para trás.

Quem esse cara tá achando que é? Eu posso parecer sonsa ou frágil mas ele está desafiando a pessoa errada. Ele não me conhece, antes mesmo que ele imagine vai ter a resposta que merece, deixa estar que ele vai parar na mão.

Já no fim do dia me despeço do pessoal e vou para casa, preciso me organizar para buscar um carregamento, como é o primeiro é interessante que eu vá para pegar o ritmo certo do trajeto.

Entro em casa e minha mãe já está me esperando com cara de poucos amigos, ela me dá alguns sermões, mesmo ela estando certa eu a abraço e digo que pode ficar tranquila que não estou fazendo nada errado.

Separo uma roupa social, pego uma bolsa elegante, e na madrugada eu saio pé por pé na esperança de que ninguém esteja me vendo sair, antes que eu chegue na metade do caminho meu telefone vibra é mensagem do meu pai.

(Papai) 03:48

Seu destino está diretamente ligado às escolhas que você faz hoje, eu gostaria muito que você não fosse para o caminho errado, mas eu não posso te prender aqui, pensa como você quer estar daqui alguns anos, nós te amamos e te queremos bem. Seus filhos precisam da mãe e eu da minha filha.

(Papai) 03:49

Um vez quando você tinha 02 aninhos eu te coloquei no balanço e você caiu, então eu te ajudei a levantar e disse que você poderia tentar quantas vezes fossem possíveis que você é capaz, eu queria poder evitar todas as suas quedas como não posso só lembra que eu vou estar com você em todas as vezes que precisar de mim.

Li as mensagens porém não respondi, segui com o peso dessas palavras no meu coração. Meu pai é meu exemplo de bondade e honestidade, o homem da minha vida, meu herói, decepcioná-lo me deixa destruída, infelizmente esse é um passo sem volta.

Chego no local marcado para receber o carregamento, O morro do VP, quem vai entregar é o sub do dono, conhecido por Tom, para mim ele é que nem caviar, nunca o vi mas já ouvi falar bastante.

Chegamos em dois carros, a entrega é em uma estrada com várias saídas, confiro a carga com os vapores e quando já está tudo no carro que vai levar o Tom desce do carro.

Ele me olha de cima em baixo e me dá um sorriso safado, não dou brecha, olho firme e séria entregando o dinheiro para ele que faz menção de guardar sem conferir.

Venho de experiências ruins, definitivamente seria muito amadorismo pagar e não exigir conferência, da para sentir a energia irritada de Tom quando fiz questão de que ele contasse tudo ali, a lógica é uma só, não nos conhecemos, eu confiro a mercadoria e ele o dinheiro.

Depois de tudo certo entro no carro e seguimos para o morro, tenho pressa de deixar tudo lá para voltar para casa ainda cedo. O trajeto de volta é tenso, muita polícia por todo lado, felizmente estou bem discreta e ainda não sou figurinha na mão desses vermes.

Descarrego a mercadoria no galpão, volto em casa e tomo café com meus pais, dou um beijo nos meus filhos e subo o morro ainda tem muito trabalho. Coloquei alguns vapores em pontos estratégicos nos arredores de casa, ainda preciso comunicar minha família que eu vou subir de mudança ainda essa semana.

Entro no barracão e vou direto para minha sala, assim que entro Val, minha sub, vem atrás me lembrando de tudo que preciso fazer no dia. Mas o meu foco principal é organizar os números do morro, preciso saber o que tem e como está para que eu saiba a demanda.

— Certo! Vamos fazer tudo isso, mas primeiro quero saber exatamente quantos irmãos temos, quantos companheiros, quantas lojinhas ativas, quantos presos e quantas famílias estão mais necessitadas de assistência social.

— Até o fim do dia lhe entrego os relatórios.

Val sai e meu telefone toca, é o irmão Papa, o mesmo que me colocou à frente do morro. Atendo com um frio na barriga.

— Salve maninho!!

— Salve mana, foi tudo certo com o carregamento? Já estamos trabalhando? Como foi a reunião com os irmãos? Era para ligar ontem mas teve Dezoito aqui.

— Tudo certíssimo, já estamos cadastrando e reativando as lojas, a reunião foi relativamente tranquila, alguns irmãos contestaram meu quadro, mas nem Jesus agradou todo mundo, não vai ser eu né— eu falo e caímos na gargalhada— Só que o problema não é esse.

— Já solta a voz do que está pegando que a gente resolve de imediato.

— Logo após a reunião, liberei o churrasco e a bebida, estava sentada dando um tempo pra vir embora quando vieram dois irmãos até minha mesa, irmão Thor e Peso da Morte, eles me ameaçaram com um 38 e disse que não rende pra facção que outros já tentaram ficar aqui mas que caíram…

— Oh mana parada é a seguinte, essas ideias não procedem não, "pagar de ameaça não vira", amanhã a gente já vai dar um basta nisso. Já vamos chegar nos disciplinas, é para eles piá esses malditos e mostrar como funciona, já devia ter feito isso lá na hora..

— Dmr mano já vou acionar os mano aqui e montar o GP do resumo.

Desligo a chamada e já acionei o pessoal do quadro disciplinar, coloco todos no grupo. Mano Papa passa a visão do que é para fazer e todos saem na captura dos dois safados.

Ainda tenho muito que aprender mas eu vou aprender e vou dominar isso aqui como homem nenhum nunca fez. Na história eu sou a primeira Dona e eu vou honrar esse título.

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