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A Dona: Uma Mulher no Comando do Morro

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Natasha Taylor
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Resumo

Flávia que levava uma vida no crime e foi presa sai da cadeia com uma nova visão sobre a vida e o futuro, determinada a se afastar do submundo do crime solicita uma reunião para pedir seu desligamento. O que ela bem sabia, é que entrar é muito fácil, mas sair é um pesadelo de difícil, não impossível mas difícil, sua vontade não é atendida e em contrapartida ainda é nomeada chefe de um dia morros mais disputados da região, o Morro Celeste. Flávia que é conhecida no mundo do crime como Rafaela, passa comandar o morro e a viver lidar com todas as dificuldades do dia a dia na comunidade, tendo como maior desafio guarde seu lado afetivo do coração e mantendo seu pulso firme nas disciplinas. Flávia vai encarar ameaças, operações policiais, inveja de muitos, conspiração e traições. Seu maior dilema é de que não se come a carne onde se conquista o pão, mas o destino é sagaz e coloca em seus caminhos uma paixão ardente por um dos seus aliados, Tom. Tom tem uma trajetória de conquistas semelhante a de Rafaela, seus sentimentos por ela é recíproco, no entanto ele tem um passado afetivo que pode acabar afastando esse romance. Embarque nessa aventura e descubra o que a inveja e as traições poderiam fazer na vida de Rafaela e se Tom resolverá seus empecilhos para ficar junto com A Dona. PS: Esta obra contém romance, mas não romantiza o crime, todos os conflitos são baseados em fatos reais

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Capítulo 01

Flávia.

Tranquilidade, saúde e família é tudo que eu quero para minha vida de agora em diante. Esses meses todos presa me fez refletir sobre o futuro e eu não quero passar tanto tempo longe de quem eu amo.

Só fazem dois dias que sai da cadeia, a vida ainda está confusa, o corpo ainda está no ritmo da prisão, mas minha mente está certa do que realmente quer, todos vão ter de entender que essa vida não é pra mim e estou saindo fora de tudo isso, e que definitivamente eu não quero mais nada vindo do corre.

Certa da minha decisão, me sento na sala pego o telefone que está sobre a mesinha de centro, digito um texto breve e envio como a mensagem ao quadro final da facção, marco uma "R", tipo uma reunião, que fica para a noite, deixo avisado que o assunto é o pedido do meu afastamento.

Até dar o horário da reunião, organizo alguns currículos, separo minha documentação, preparo minha bolsa e minha roupa. Tenho uma primeira entrevista de emprego, espero que seja a única, é em um hotel e está marcada para às 14:30, preciso muito que dê certo pois é meu pequeno grande passo rumo a uma vida tranquila e honesta.

Chego ao Hotel na hora marcada, estou um pouco nervosa, faz alguns anos que não sei o que é trabalhar para os outros, tenho pavor do regime CLT, porém preciso. Já estou pedindo aos meus anjos que me dêem força e proteção, conheço meu pavio curto sei bem que não tolero desaforo, nem de patrão e nem de cliente, vai ser um desafio e tanto.

Um casal sentado em uma mesa é quem conversa com os candidatos, na minha vez eu me sento junto a eles e então exponho minhas experiências, expectativas, habilidades e tudo mais que me foi perguntado.Mesmo sabendo que sou capacitada para a vaga, aguardo ansiosa o resultado, e ele não poderia ser outro, estou devidamente contratada!

Meu coração se enche de alegria, um rio de esperança lava a minha alma, realmente preciso desse emprego, o pouco de dinheiro que eu tinha a cadeia levou, e como não vou voltar pro corre, estou na lona, por baixo mesmo.

Chego em casa saltitando de felicidade, comemoro com meus pais e meus filhos por minha contratação, enquanto aguardo ansiosamente a "R" que está marcada para às 20h, depois de desvincular do crime estarei livre de verdade.

Quase no horário da "R" tomo um banho e aguardo, na hora exata o telefone vibra, chamada de vídeo em grupo. Sinto meu corpo formigando de nervoso, é agora que eu saio dessa vida e sigo meu caminho em paz, sem medo ou preocupação. Começamos a conversar, logo de primeira exponho meu desejo sem rodeios ou enrolação e aguardo a aprovação do quadro.

Me pedem para justificar e eu alego os tempos difíceis, falo do sofrimento, da dor de ficar longe da família dos amigos e do quão me senti mal em estar sem liberdade.

—Olha aqui mana, seu marido está preso, certo? Onde ele está não tem sintonia, certo?— Ele pergunta e apenas friso que estamos separados já tem um tempo e que nosso vínculo é de amizade, fortaleço ele como amiga — Correto mana, agora me responde uma coisa, como a mana pretende fortalecer o seu ex povo estando afastada? A senhora compreende que a caminhada é até o final? E sem vacilação!

— Nós tamo ligado que o mano mesmo preso e sem sintonia fez o corre e deu assistência pra mana os meses que a senhora ficou privada, agora a mana quer rasgar? O mana a senhora acha certo? Entendemos que não são mais casados porém continuam tendo laços e esse vínculo depende do corre, do seu corre. — outro irmão fala me deixando sem palavras, eu já tinha esquecido o quanto é difícil sair, entrar é tão simples agora sair é bem difícil mesmo.

— Irmãos, assistência para ele é claro que vou dar, vou fazer meu papel mas para isso eu não preciso estar no crime, quantas e quantas mães visitam e dão auxílio sem precisar estar no crime.

— Mana a senhora tem entendimento, pô, não vem de vacilação não, a mana quer rasgar a gente vai rasgar mas depois não vem chorar leite derramado não que aqui não tem K.O não. O crime não é o creme. Vai ser afastada mas se falar de corre na cadeia ou na rua já vai ser disciplinada no automático, a mana tá ligada que afastou é pra sair de tudo, sem contato, sem amizade sem nada.

— Sim mano estou ciente!

— Ok mana vou retirar a senhora e já já adicionamos novamente com resumo final.

Me tiram da chamada e eu fico ansiosa aguardando, sair é algo muito burocrático, apesar de querer muito, sinto que será negado. Realmente não tem como eu estar ligada ao Thiago preso e não falar sobre corre, a vida na cadeia gira em torno disso.

Quando se pede afastamento do crime, é uma decisão que precisa ser muito pensada e planejada, não dá para sair ficar uns dias, não conseguir se virar e querer voltar. A regra é clara, entra por que quer e sai se tiver certeza pois facção não é ioiô para ir e voltar quando bem entender.

Quando sai também é proibido se envolver em qualquer tipo de corre, frequentar lugares que pessoas do crime frequentam, ir em bailes, usar drogas, ou qualquer coisa que remeta a esse mundo. É como dizem, o crime não é creme!

Não demora muito a chamada é retomada, meu coração está aflito, atendo e só tem dois irmãos na chamada, os demais não estavam mais presentes. Eles fazem outra apresentação pois um deles não estava na chamada passada.

— Mana, analisamos sua situação e a senhora não vai estar saindo por agora.— Ao ouvir, a minha feição se transforma, claramente estou chateada mas não falo nada apenas aceno com positivo.

— Na verdade mana para a senhora temos outra oportunidade, conhecemos a caminhada da mana e não há manchas no passado, desde sempre fazendo o certo pelo crime e representando nossa família— O outro fala e eu apenas ouço— ao invés do seu afastamento vamos te dar o domínio do Morro Celeste que fica ao Sul.

— Oi? Mano eu agradeço a oportunidade mas definitivamente eu não tenho condições financeiras para tal! É uma honra mas não posso dar um passo que minhas pernas não alcançam.

— Calma mana, a senhora vai entrar com nosso apoio, todo material e armamento nós estaremos abastecendo e dando total apoio até que a senhora consiga caminhar com as próprias pernas.

— E em troca desse apoio?— Pergunto com o pé atrás afinal quando a esmola é grande o santo desconfia, principalmente no crime.

— A única condição é que o abastecimento seja nosso, preço da tabela, sem nada a mais. Sabemos que a senhora conhece toda a região e vai ser bem recebida pela população.

Aceito, mesmo indo literalmente contra tudo que planejei para minha vida. Vamos ver onde isso vai dar pois é um poder muito grande e eu não tenho toda essa experiência. Conheço a teoria de tudo mas na prática somente o básico ou talvez nem isso.

Essa é uma reviravolta que eu não esperava, Morro Celeste é um dos mais almejados na região, muitos irmãos tem cacife suficiente para assumi-lo, e tantos outros vivem lutando para dominá-lo.

Sinceramente ainda não entendi o porquê de estar sendo designada para liderança mas de uma coisa eu tenho certeza, vou fazer o melhor que esse morro já viu.

A chamada foi finalizada e eu ainda estou aqui com o telefone na mão olhando para o céu e me perguntando como vou falar para minha família o tamanho da responsabilidade que eu acabei de abraçar.

Meus pais e meus filhos não vão gostar nada disso, Thiago não vai poder reclamar muito, ele já me conheceu no corre, ele está preso, e não estamos mais juntos… Pensando bem não vou contar pra ele, deixa ele achando que estou trabalhando, é melhor.