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A última legião

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Straissand
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Resumo

Por muito tempo não ouvia-se falar sobre mutantes, até que uma nova geração surgiu, trazendo uma nova caçada governamental com o objetivo de erradicar o gene mutante da Terra. Os poucos sobreviventes precisam se preparar para uma nova guerra. Lanna luta contra seu passado traumático enquanto tenta descobrir a origem de seu bloqueio mental. A menina das ilusões tem sede de vingança e buscará o desenvolvimento de suas habilidades. Ela só não podia esperar por dois empecilhos silenciosos: a amizade e o amor. Os tempos de paz se foram, a guerra chegou. Há amor em meio a destruição ou há destruição em meio ao amor?

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Capítulo 1 Prefácio

Filadélfia — Solum, 2029

Descrição

Nome: Diana James

Data de nascimento: 22/06/2012

Cidade Natal: Santa Ana/CA

Altura: 1,73

Peso: 60kg

Filiação: Gabriel e Melissa James

Situação atual: Vivendo em um hostel localizado em Tustin/CA. Participa de lutas livres clandestinas.

Diana James, filha de um pai cientista e alcoólatra, teve a mãe assassinada pelo mesmo devido ao enorme ciúme que o marido sentia da esposa pelo tratamento atencioso que mantinha com sua filha. Os pais de Diana sempre souberam sobre o dom da menina, mas Gabriel acreditava que Diana era uma experiência inusitada e que, de alguma forma, a radiação havia alterado o DNA da pobre menina. Melissa, ao contrário do marido, sempre tratou a filha bem, fazendo a menina sentir-se especial por ser diferente. Gabriel não aceitava. Em uma noite, depois de beber tudo o que pudera, Gabriel foi até sua casa e assassinou sua esposa. Diagnosticado com distúrbios psicológicos e comportamento violento, fora levado para uma clínica psiquiátrica, deixando Diana para cuidar de seus seis irmãos mais novos. Ela não soube o que fazer, como reagir... Seu coração guardava ódio e esse era seu gatilho. A garota mandou metade dos meninos da escola para o hospital depois de ouvir piadas maldosas sobre sua família. Diana procurou emprego, mas sempre fora rejeitada somente por ser filha do louco cientista assassino. Não tendo opção procurou o caminho mais fácil e foi lutar clandestinamente. Acredite, ninguém nunca a venceu dentro de um octógono até hoje.

Habilidade: Super força

— Por que estou sentindo que vai ser difícil? — A poderosa Alison questionara depois de ler o objetivo da nova missão de resgate.

— Porque realmente vai — respondeu o dono da Solum (sua base subterrânea).

— Tenho outra opção? — Ravi sorriu e negativou com a cabeça.

— Se quiser perder a guerra, que tão rápido se aproxima, sim.

— Ok! Quem vai comigo?

— Responda essa pergunta, Daven. — Ordenou o homem. O rapaz que, até então, concentrava-se em seu computador, levantou-se, pegando seu tablet e aproximando-se dos outros dois.

Daven Nixon era especial, assim como todos os outros moradores da Solum. Com constantes dores de cabeça, fora diagnosticado com um tumor em seu cérebro. O que ninguém poderia imaginar era que pudesse ser apenas o aumento de ondas gamma em sua mente. Sim, a inteligência de Daven se expandia, adicionando mais e mais informações a cada dia. Ravi fora um grande sortudo de conseguir a participação do menino em sua base. Dotado de super inteligência, Daven possui um QI fora do comum de qualquer ser humano existente.

— Sim, se-senhor. — Respondeu afobado, subindo seu óculos que escorregava por seu nariz. Ele sempre fora muito nervoso, mas quando se tratava de mostrar sua inteligência, nada e ninguém o parava — analisando o lugar, as probabilidades e o alvo... — olhou algo em seu objeto tecnológico. — Você vai precisar de alguém que possa lidar com a raiva da super forte. Alguém que consiga observá-la sem ser vista e alguém que possa pará-la. Já tenho as pessoas certas para ir a esta missão com você, Alie. — Estava nítido que seu nervosismo havia se esvaído.

— Conte-me, Daven. Preciso recrutar os escolhidos para a ida à Califórnia de amanhã cedo.

— Na ala B você pode encontrar a Ariana, ela vai ser uma peça importante para controlar a raiva da mutante. Na ala C procure por Bea, ela vai ser seus olhos nas sombras e a sua ação em silêncio. Só espero que você esteja bem de persuasão porque a Bea não é cão domesticado e não gosta muito de receber ordens.

— Não somente a persuasão, mas tenho certeza que a telepatia de Alison está em alta. — Ravi dissera, piscando o olho para a menina que apontou o dedão em positivo. — Isso não é muito para você, pequena.

— Quanto alguém que a pare... — Continuou o rapaz. — Você pode encontrar...

— Eu posso pará-la! — Dissera com tamanha convicção. — Com toda certeza eu posso.

Alison Breyer poderia ser pequena em tamanho, mas em poder era uma gigante incomparável. A loirinha era dotada de telepatia. Ela sabia que essa missão não seria tão fácil como parecia, porém lembrou-se que já havia feito outros resgates antes. Ela era uma das mais velhas e mais antigas na Solum, possuía a total confiança de Ravi, era também uma das mais poderosas.

— Vou agora mesmo recrutá-las. — Avisou a telepata antes de deixar a sala principal. O escritório de Ravi.

A garota saiu apressada do setor central e seguiu para a ala B, antes de dobrar na ala C. Alison procurou Ariana telepaticamente e conseguiu a informação mental de que a menina estaria na biblioteca, não tão longe de lá. Alison pensou que seria fácil convencer Ariana. O problema mesmo seria conseguir convencer Bea, que parecia não aceitar ordem de ninguém com exceção de Ravi, dono da base.

A telepata saiu de um setor para o outro. Quando finalmente avistou a entrada da biblioteca, sorriu ao encontrar Ariana por lá, dando razão, mais uma vez, à sua telepatia. Alison aproximou-se da mesa em que a outra menina estava sentada, a mesma que não sentiu sua aproximação. Esmurrou não tão forte a madeira, fazendo com que a outra garota pulasse um pouco com o susto e levasse as mãos ao coração.

— Ai meu santinho, que susto! — Ariana falou, respirando fundo e arregalando os olhos. — Juro, juro mesmo que não vi você chegar.

— Eu deveria ter avisado. Perdão. — Alison pediu sinceramente.— Deve estar se perguntando o motivo de ter minha presença aqui. Então serei direta. — Ariana parecia ainda mais assustada. — Você vai a uma missão comigo amanhã cedo.

Alison poderia jurar que viu a menina da empatia mudar de cor. Conseguia ler os pensamentos assustados dela.

— Mantenha a calma, ok? Não é nada tão assustador. Além de tudo, você vai comigo e mais outra pessoa. Vai dar tudo certo. — A mais experiente tratou de acalmá-la.

O nervosismo de Ariana fez a telepata cogitar a possibilidade de Daven, ter escolhido a pessoa errada. Se Ariana controlava emoções, por qual motivo estava tão nervosa?

— Você é a menina da empatia, não é? Por que não mantém a calma? Você controla emoções, sim? Sei que não lhe conheço tão bem, mas eu já ouvi falar do seu poder.

— Eu aprendi a controlar as emoções das outras pessoas. Ao menos eu acho. Ainda não consigo controlar as minhas da maneira que quero.

Alison soltou um suspirou e levou a mão ao ombro da outra menina como um apoio moral.

— Você é mais que bem vinda a missão, então. E não se preocupe sobre seu poder. Eu prometo que vai melhorar com o tempo.

— Eu espero que sim.

A mais experiente explicou detalhe por detalhe enquanto Ariana se acalmava. Por fim, Alison avisou a hora da viagem e despediu-se da garota, tendo a plena noção que a parte mais difícil da noite estava ainda por vir. Precisava conversar com Bea, a garota da umbracinese.

Beatrice Noctis, uma adolescente de apenas quinze anos, possuinte de um grande poder: a umbracinese. Ela era uma garota fechada, calada, e um pouco complicada de se lidar. Alison sabia muito bem disso. A telepata buscou por informações mentais da garota, mas não conseguiu rastreá-la. As sombras de Bea poderiam ter culpa nisso, sabia. Alison tentou lembrar-se de alguma das poucas vezes que viu a menina. Tentou capturar informações que pudessem a levar até ela, porém, nada. Não conseguira sinal algum. A menina da telepatia já estava no setor C, perto do quarto que Bea dividia com alguém quem ela conhecia. Conhecia muito bem. Fora assim que tivera uma ideia. Prontamente, a telepata se aproximou da porta e bateu. Três vezes foram necessárias para que fosse atendida.

— Oi? — Perguntou a garota de olhos verdes, do outro lado da porta.

Lanna Leidtheke, a poderosa criadora de ilusões. Melhor amiga de Bea. Tinha dificuldade com as palavras. Não que ela não soubesse falar, mas o seu passado obscuro a transformou em alguém não muito sociável. Lanna comunicava-se por palavras curtas. Ela não confiava nas pessoas, ela tinha medo e um bloqueio em sua mente também.

— Oi, Lanna! Como está? — Lanna levantou o polegar em positivo. Sua expressão era confusa. Ela queria saber o motivo da presença de Alison na porta de seu quarto. — Sei que está se perguntando porque estou aqui.

— Sim.

— Onde está Bea? Tenho um resgate para amanhã cedo e ela é a minha melhor opção, segundo Daven.

Lanna mordiscou o canto dos lábios, ajeitou a touca cinza que usava em seus cabelos e levou o indicador a sua têmpora, pedindo silenciosamente para a menina mais velha ler seus pensamentos.

—Você sabe que ela gosta de ficar sozinha.

— Eu sei, Lanna, mas entenda que estou aqui para levar Bea a uma missão. Chegou o momento dela.

Lanna arqueou as sobrancelhas e suspirou. Ela sabia que missões sempre eram importantes porque eram de causa maior.

— Bea confia em mim, então não diga que fui eu quem contei. Vá nas ruínas, lá é muito escuro e Beatrice vive disso. Ela está por lá.

Ao terminar de ouvir o pensamento de Lanna, Alison agradeceu e foi rapidamente para a grande garagem, precisando usar o elevador e deixar o subsolo para trás. A Solum era uma base escondida no subterrâneo, debaixo de um prédio destruído durante grandes ataques. Sair de lá era uma regra quebrada. Esse também era um motivo para que Lanna não contasse sobre a saída de Bea. Mesmo sabendo que a menina corria perigo ao deixar a base, Lanna também sabia que Bea podia se virar com suas sombras. Beatrice era uma das poucas amigas de Lanna. Talvez a única. Era a única em quem ela confiava também. Além do que, Bea tinha um comportamento muito parecido com o da mutante das ilusões. Ambas eram desconfiadas e fechadas mesmo que tivessem suas diferenças. Mas ao contrário de Lanna, Bea falava e conversava, mesmo que apenas com quem achava merecer sua saliva. Quando Alison chegou lá em cima, saiu por uma parte escondida que camuflava a entrada para a base. A poderosa mulher captou alguns dos pensamentos de Beatrice que parecia estar ouvindo música. Ela andou até a parte de trás de um grande muro caído, onde a menina estava escondida. E se não fosse por sua pele alva e seu cabelo loiro platinado, Alison não teria a enxergado. Controladora das sombras, podendo se esconder e se locomover por elas, Bea usava roupas tão escuras quanto uma noite sem luar. Alison ganhou o campo de visão de Bea, que a olhava séria e fechada, com um olhar penetrante e enfurecido. A menina das sombras ergueu-se rapidamente e arrancou seus fones de ouvido.

— O que faz aqui?

— Preciso falar com você.

— Como você me encontrou? — Lembrou-se que era uma telepata. — O que quer?

— Eu preciso de você em uma missão. — Alison podia ver pela expressão irritada de Bea que ela não iria aceitar. A telepata podia ouvir os

pensamentos na cabeça da menina. Não deixaria um olhar adolescente lhe assustar. Mantinha-se inabalável em sua postura. — Não aceito uma resposta negativa.

— Você não manda em mim! — A telepata aproximou-se, ficando face a face com a menina.

— Mas o Ravi sim, e esse é o seu maior medo. Você sabe que precisa ir mas não quer receber uma ordem que não venha dele.

— Pare de ler o que está na minha cabeça! — Bea ordenou, apontando o dedo para o rosto da mais velha. Alison segurou seu pulso firmemente

— me solte! Eu não vou a lugar algum.

— Temos mais uma para resgatar e você vai! Ravi precisa de você para isso.

— Não pense que por ser uma das mais antigas na Solum, eu vou te obedecer ou deixar você me amedrontar — soltou seu pulso das mãos da telepata. — Você me resgatou e eu agradeço, mas isso não dá a você o direito de pensar que manda em mim.

— Eu não quero nada seu. Estou aqui somente porque Ravi me ordenou — e era mesmo verdade. — Sei que você teve seus problemas, Beatrice, mas não venha como uma granada, explodindo e jogando seus cacos para quem não tem culpa. Todos nós tivemos passados horríveis. Você não foi a única.

A menina afastou-se e virou nos calcanhares, procurou a melhor sombra e quando ia lançar-se sobre ela, a mais velha resolveu usar de seus poderes. Resolveu falar em sua mente, usando de toda a sua persuasão.

— A mãe dela foi assassinada assim como a sua. Foi bastante cruel porque seu próprio pai quem a matou e seus irmãos foram levados a um orfanato. — Bea virou-se, ficando de frente para Alison novamente. Mantinha a cabeça baixa. Quando se tratava de família, não tinha jeito, era a coisa mais importante para Bea. — Agora ela vive sozinha num hostel e luta clandestinamente para tentar sustentar os mais novos. Ela pode ser capturada e morta a qualquer momento, Bea. Ela não tem ninguém. Você ao menos tem a Lanna. — As palavras continuavam na mente da menina que agora parecia ter sido tocada de verdade. — Nós não deixamos ninguém morrer. Nós não deixamos ninguém sozinho. Nós não deixamos você morrer.

Alison concluiu e deu as costas apenas para enfatizar as últimas palavras. A menina mais velha já havia lido os pensamentos da outra.

— Espere! — Pediu a menina com umbracinese. — Eu vou.

A telepata sabia que ela iria de qualquer maneira. Ninguém dava uma resposta negativa para o braço direito de Ravi. Alison e Bea desceram juntas para o subsolo. A telepata contou sobre o plano e sobre quem mais iria com elas. Alison viu Beatrice fazer uma careta ao saber da presença de Ariana na missão. Não que Bea tivesse problemas com alguém, ao menos, não mais. Ela apenas era fechada e não gostava de conversar. Talvez fosse por esse motivo que Bea e Lanna entendiam-se tão bem. Após chegarem, Alison deixou avisado a hora que precisavam partir. Por mais que a missão parecesse simples — pois era o resgate de uma pessoa — a telepata sabia que não seria fácil pelo curto tempo lhe dado. Apenas vinte e quatro horas. Alison sabia que precisava chegar inteira, pois haveria outras missões de resgate para ela, mas ela também sabia que não seria fácil lidar com um poço de força e ódio; Por mais experiente que ela podia ser, a menina sempre sentia um frio na barriga e andava com um pé atrás. Nem muito confiante nem muito receosa. Esse era o seu equilíbrio. A madrugada chegara rápido e Alison já descansava desde muito cedo. Assim como Bea que também se encontrava num sono pesado. Só não era certo dizer que Ariana também. A menina da empatia não havia pregado os olhos ainda. Estava nervosa, ansiosa, receosa. Nunca participou de uma missão antes, mesmo tendo mais tempo do que algumas pessoas dentro daquele lugar. Nunca precisaram de uma controladora de emoções em uma missão, como não ficar nervosa? Por que ela teria que ir agora? Ariana virou para um lado, depois para o outro. Inverteu o corpo de posição tantas vezes que perdeu as contas. Ela olhou para o relógio e viu que eram quase cinco horas. Lembrou-se que iria se levantar às seis e praguejou-se por não ter tido nem uma hora de sono sequer.

— Não quero mais dormir. — Reclamou baixo para não acordar as gêmeas, suas colegas de quarto. — Se bem que eu não estava dormindo mesmo.

Levantou-se e arrumou sua mochila silenciosamente. Sem saber o que levar, colocou quatro vestidos e um de seus pijamas com ursinhos cor-de-rosa na estampa. Ariana tomou seu banho e colocou um vestido lilás, fez seu rabo de cavalo e pegou sua mochila, seguindo para o refeitório. Ela sabia que estava quase na hora de partir, ela também sabia com quem iria partir. Deixou o quarto e saiu pelos corredores da base, terminou por chegar no refeitório. Foi quando seus olhos procuraram por Alison. Infelizmente, não a encontrou. A menina da empatia conseguiu avistar Bea sentada numa mesa ao lado direito do lugar. Pegou uma bandeja, colocou um pão com duas fatias de queijo, pegou uma geleia de morango e um copo de suco. Ela segurou a bandeja firmemente e antes de seguir para a mesa de Bea, respirou fundo. Nunca havia falado com a menina das sombras. Somente quando tomou coragem, seguiu até a mesa, chamando a atenção de Lanna que cutucou Beatrice. Ariana tocou as costas da cadeira vazia e tratou de fazer seu pedido:

— Posso me sentar aqui? — Perguntou, esperando pela resposta que não havia saído da boca de nenhuma das duas. — Vocês se importam? — Ela tornou a perguntar, pressionando as duas meninas. Lanna olhou para Ariana e assentiu negativamente. — Então eu posso sentar?

Ela questionou ainda sem entender. Bea que levava uma uva a boca pausou, levantando o olhar para a menina da empatia que ainda estava em pé. Se ela calasse a boca depois que conseguisse aquele lugar, melhor para Bea.

— Pode. — Rosnou a menina das sombras. Ariana então sentou-se. O silêncio se manteve por alguns poucos minutos. Os minutos em que a menina da empatia mastigava, vagarosamente, o seu café da manhã. Ariana olhou as duas por baixo dos seus cílios e respirou fundo, rompendo o silêncio assim que lhe coube:

— Eu preciso desabafar. Eu não estou aguentando guardar isso. Eu acho que vou morrer se não disser — Ariana soltava tudo num só fôlego. Bea e Lanna olharam-se. Silêncio era uma coisa muito agradável para elas, mas ele não estava ali agora. — Eu preciso dizer a alguém. Estou quase morrendo, não sei se posso...

— SILÊNCIO! — Lanna falou alto. Bea a olhou surpresa e baixou a cabeça, segurando um riso. Não por Lanna ter levantado a voz, mas pela cara de Ariana.

— Desculpa. Eu me precip-ptei — Ariana fez menção em levantar antes de ser interrompida.

— Fique — Bea ordenou, esticando-se sobre a mesa para segurar o braço de Ariana. Por mais que Bea não gostasse do jeito tagarela da garota, ainda sim havia um bom coração que a mandou tranquilizá-la. Lanna sentiu que precisava ajudá-la também. Deveria haver algum jeito de desculpar-se por ter quase gritado com a pobre Ariana.

— Medo — Lanna pronunciou, sinalizando um polegar para baixo. Ariana impressionou-se mais uma vez porque Lanna já havia falado duas vezes naquela manhã.

— É, sem medo. Se você pensar negativo é apenas a negatividade que vai te seguir. — Bea aconselhava sinceramente. Ela sabia que era a primeira missão da menina, ninguém precisou a contar. — Então não jogue coisas negativas ao universo porque ele pode jogar de volta para você.

— Sim. — Lanna outra vez.

Ariana sabia que não iria ser fácil, mas por outro lado deu uma certa razão as palavras de Bea. Por mais que fosse a primeira vez, ela sabia que não iria sozinha. Ariana parecia boba, mas ela sempre foi muito esperta. Lembrou-se que Alison — uma das mais fortes de toda a base — estaria com ela, assim como Bea. Então, gradativamente, seu nervosismo foi cessando. Isso lhe permitiu terminar sua refeição tranquilamente. Alison acentuou sua presença no refeitório e avistou as três, aproximou-se com um sorriso enorme, não fazendo diferente dos outros dias.

— Vamos? Está na hora.

Alison observou Ariana levantar e pegar a sua mochila, e observou Bea e Lanna trocar olhares significativos. Sim, ela poderia ouvir aqueles pensamentos, mas ela também poderia respeitar a privacidade das pessoas porque era algo que gostaria que fizessem com ela.

— Qual o problema?

— Só vou se Lanna for.

— Bea, você sabe que não é necessário. Será mais uma vida em risco. Por que isso agora?

— Vale — Lanna reforçou, fazendo Alison entender que para proteger sua melhor amiga, tudo valia.

A criadora de ilusões levou o dedo indicador da mão direita a sua têmpora, indicando o que Alison precisava fazer. Queria dar uma explicação melhor.

— Lanna, você sabe que quando colocamos o pé para fora da Solum estamos arriscando as nossas vidas e não podemos perder ninguém.

— Me deixe ir, por favor! Eu sei dos riscos e é por isso que eu quero ir. Me deixe proteger a Bea. — Alison não havia imaginado o motivo, não até agora. — Ela é a única pessoa mais perto de uma família que eu tenho. Se eu não for e algo acontecer, eu nunca irei te perdoar.

Alison sentiu a garganta arder. Todo mundo naquele lugar sabia o peso de perder alguém.

—Tudo bem, Lanna, mas me prometa que vai se cuidar — Bea e Ariana viram Lanna sorrir e assentir. Era impressionante, Lanna quase nunca sorria.

— Eu prometo.

Finalmente aquela conversa mental havia sido encerrada.

— Então? O que decidiu? — Beatrice perguntou apreensiva.

— Ela vai. — Alison poderia jurar nunca ter visto Bea sorrir. — Vá fazer sua mochila, Lanna.

Lanna negativou com a cabeça e abaixou-se para puxar sua mochila que estava embaixo da mesa. Bea e Lanna já sabiam que Alison não teria a coragem de negar um pedido como aquele. A telepata era durona mas tinha um coração de manteiga.

— Nossa, ela é muito esperta. Eu nunca pensaria nisso. — Ariana falou boquiaberta.

— Sim — Lanna confirmou com orgulho.

— Então, vamos.

As quatro meninas saíram do refeitório, seguindo para a sala de Ravi. Lá, iriam saber das últimas informações. Bea e Lanna estavam tranquilas, assim como Alison enquanto Ariana estava apreensiva. Elas passaram pelos corredores, causando olhares dos outros que sabiam que elas iriam para um resgate. A curiosidade de sempre não era sobre quem iria, mas sobre quem trariam. As pessoas sabiam que Alison era a responsável pelas missões de resgate. Andaram mais alguns metros em silêncio até encontrarem Ravi e Daven na sala central.

— Bom dia, meninas! — Cumprimentou o homem.

— Bom dia! — Elas soaram uníssono. Ao menos três delas.

— Posso ver que estão em ótima conexão. Isso parece bom.

— Isso p-parece ótimo — Daven se pronunciou. — Por que La-Lanna está aqui?

— Ela vai com a gente. — Alison avisou.

— Sabe que não é necessário, não sabe? — Ravi perguntou à menina de olhos verdes, que assentiu uma única vez. — Então, por que está com as malas prontas?

— Quero. — Murmurou a menina, levando o olhar para Bea. Ravi entendeu e assentiu.

— Tudo bem. Será muito melhor com você por lá, realmente.

Ravi sabia da dificuldade que aquelas duas enfrentavam em se ressocializar. Ambas tiveram grandes perdas e se estavam reconquistando algo, ele não repreenderia.

— Do que vamos? — A mais velha perguntou.

Daven e Ravi cuidavam de tudo, desde o grande planejamento da missão aos pequenos detalhes.

— Daven vai levar vocês de jato. Lembrem-se que vocês têm vinte e quatro horas. Daven vai estar no ponto de resgate amanhã. Não se atrasem

— Ravi avisou. Por mais que o tempo pudesse ser curto, ele confiava em Alison. Ele sabia de sua responsabilidade nas missões. — Eu confio em você, Alison. Volte com todas em segurança.

— Pode deixar.

Eles seguiram para o pátio dos transportes aéreos e embarcaram no pequeno jato. Daven tomou o controle da mini aeronave enquanto lá atrás, Bea e Lanna sentaram-se nas duas poltronas da esquerda e Alison e Ariana na direita. Cientes de que as próximas quatro horas seriam de viagem, elas acomodaram-se. Ariana finalmente havia conseguido um cochilo, já que não teria dormido nem meia hora durante a madrugada. Lanna ficou vidrada em um de seus livros e Bea concentrada em um cubo mágico, tentando de sua resolução. Alison foi fazer companhia a Daven na cabine do piloto. Pela glória e felicidade daquelas quatro meninas, as horas passaram voando, literalmente. Pousaram em solo californiano no início da tarde. O menino gênio havia as lembrado de que estaria naquele mesmo lugar e na mesma hora do outro dia e pediu para que elas tomassem o maior cuidado e não se atrasassem. Despediu-se das meninas e em seguida, ergueu vôo, sumindo pelos céus da Califórnia tendo como destino a Solum outra vez. Alison estava com a chave de um pequeno loft de Ravi, pois não poderiam ficar em qualquer lugar. Por esse motivo Ravi precisava ter abrigos espalhados pelos Estados Unidos. Não muito longe da pista de pouso estava o loft. Ao encontrar uma área mais movimentada, Alison procurou por informações e descobriu que a moradia estava a apenas três quarteirões de lá. Sem querer arriscar, foram caminhando. Bocas caladas, porém pensamentos falantes. Ariana saiu observando tudo o que podia, já que nunca havia saído da Filadélfia desde que se lembrava. A menina agora sentia-se mais animada e devido a isso, as outras também sentiam-se iguais. O poder da menina conseguia expandir-se quando o sentimento era grande. O que tornou tudo muito engraçado pois até mesmo Lanna e Bea sorriam sem ter motivo para isso. Ao chegar no loft, Alison tratou de conferir se havia perigo. Quando teve certeza que não, permitiu a entrada e deixou que as meninas depositassem suas poucas bagagens em dois dos três quartos encontrados lá. Alison tratou de fazer o almoço e depois da refeição, reuniram-se na sala para esclarecer sobre o plano. Nada podia falhar e não iria, não enquanto Alison estivesse por lá.

— Certo, o nosso alvo terá uma luta importante hoje à noite, resultando em muitos telespectadores. Bea, quando estiver anoitecendo eu preciso que vá e observe todo o perímetro, o sistema de segurança e a quantidade de pessoas. Eu vou me comunicar com você. O alvo vai chegar duas horas antes da luta, ou seja, às 21h. Vamos encurralá-la na sala de aquecimento — as garotas apenas assentiram. — Eu vou tentar convencê-la de vir conosco e como será difícil é aí que você vai agir, Ariana. Não pode deixar a raiva dela crescer. Eu e Lanna vamos cuidar dos que vão aparecer e Bea vai abrir caminho através das sombras. Me entenderam?

Alison perguntou e todas assentiram, convictas de que haviam entendido.

— Como saberemos quem é ela? — Questionou a menina das sombras.

— Ela é grande — Alison falou, mostrando uma foto da menina. Ela viu Ariana ficar estática. — E forte. — Dessa vez a menina da telepatia

jurou ter visto os olhos de Ariana saltarem de seu rosto.

— Tudo esclarecido? Se sim, vou dar uma volta. Preciso de ar e aqui é muito pequeno.

— Cuidado. — Lanna pediu.

— Eu tenho.

Bea apertou o ombro de Lanna e sorriu fraco, antes de se mandar por uma sombra que havia na cozinha.