Capítulo 3.
—Obrigado — sussurro, minha voz mudou depois de tossir até ficar sem voz.
Ele acena uma vez, mas não sorri. Parece gelado. O som da notificação do seu celular interrompe o contato visual. Ele pega o celular da mesa e olha para o que parece ser uma mensagem; sua expressão muda de fria para calorosa. Uma emoção diferente percorre seus olhos e eu consigo ler perfeitamente.
Ele suspira e, pelo canto do olho, posso perceber que algo está errado.
— Ricci. Tenho um trabalho importante depois desta reunião — diz ele.
Vinte dos meus homens foram feridos em uma batalha ontem à noite e preciso da sua ajuda. Sei que Chicago é o mais forte agora.
—Eu não distribuo homens feitos e prontos. —Ele ri entre dentes.
—Eu sei, Eduardo. —Meu pai olha para mim—. Eu trouxe um preço para você. —Meu pai pega minha mão e a aperta com força. Ele costuma fazer isso quando quer que eu fique calado. —Leve minha filha e me dê vinte dos seus soldados em troca.
O quê? Olho para ele em estado de choque. Não sei o que dizer.
— Minha Made Men tem um preço, Ricci. — Eduardo diz antes de me lançar um olhar.
—Minha filha também.
— Te darei meus homens por menos de quinhentos milhões de dólares.
— Fabiana é filha de um chefe e tem que ser vendida por um bom preço — diz o pai.
O que estou fazendo aqui, ouvindo uma conversa sobre como vão me vender?
- Estou disposto a dar mil milhões de dólares pela sua filha. - Eduardo olha fixamente para mim e eu lanço-lhe um olhar gélido. Nunca soube quanto valia; foi isso que custou: mil milhões de dólares; é muito dinheiro.
- Negócio fechado? - pergunta o pai.
Claro. Pela primeira vez você me deixa feliz com um acordo comercial. Diz Eduardo com um sorriso.
Uma lágrima escorre pelo meu rosto ao perceber que meu pai acabou de me vender. Desde criança, eu sabia que um dia ele me entregaria, mas esperava que fosse um casamento arranjado, porque é isso que as máfias fazem. Raramente se apaixonam por alguém, porque o amor é fraqueza.
—Ricci. Não quero que ninguém saiba que você me vendeu sua filha. Vamos fechar este acordo como um casamento arranjado. Este acordo deve ser secreto e não sairá desta sala.
—Não se preocupe, Eduardo. Ninguém ficará sabendo do nosso acordo.
—Uma coisa que aprendi hoje. Nunca confie em ninguém. —Um sorriso escapa dos seus lábios e depois ela balança a cabeça negativamente—. Você acabou de me vender sua filha. Que mesquinho!
—Você sabe que eu posso fazer qualquer coisa para salvar meu cargo de chefe —diz meu pai, e eu só ouço besteiras nojentas. Esse homem é um demônio. O pai que nunca se importou com a filha. Espero que um dia eu possa revelar sua verdadeira face ao mundo e que todos saibam o quão escandaloso é Marco Ricci.
Não sei se choro ou me alegro neste momento. Choro por ter sido vendida ou sorrio porque estou me libertando do controle de Marco.
Fico sentada ali, sem conseguir me mover nem um centímetro. Sinto-me como uma coisa, não como um ser humano. Vendemos coisas, não pessoas. Será que eu pensei que minha fé chegaria a este ponto?
Fiz tudo o que meu pai me disse. Por sua culpa, nunca saí com nenhum homem e ainda sou virgem. Estudei em uma universidade católica para meninas e nunca tinha falado com um rapaz antes; sempre tinha guarda-costas me seguindo. As pessoas poderiam dizer que sou uma princesa da máfia, mas nunca tive a oportunidade de ser uma, porque meu pai é um rei malvado.
Um dia, Marck Ricci pagará por seus atos. Ele terá uma morte horrível e implorará ao seu assassino para não matá-lo. Eu gostaria de estar lá e vê-lo dar seu último suspiro naquele momento.
Mas quem matará o Capo de Nova York?
Fabiana
Ao olhar para o meu relógio, meu olhar pousa na estátua de Afrodite. Por que não sou uma estátua? A vida não teria sido cruel. Feita de granito, essa beleza se tornou impressionante; ninguém pode machucá-la, movê-la ou vendê-la. Por favor, alguém me transforme em uma estátua. Estou cansada dessas tristezas; essa não deveria ser eu. Estou perdida e não sei mais o que fazer.
Meu pai e Eduardo saem da sala de conferências. Saí antes porque não suporto tanta irreverência. Como Eduardo vai me tratar?
Meus olhos se voltam para ele, ele parece fresco e bonito, mas no fundo daqueles olhos azuis percebo que ele está passando por algo difícil e está tentando agir normalmente, embora saiba que não pode.
Observo-o aproximar-se. Inclino a cabeça e olho para as minhas pernas cruzadas. A mão dele roça-me o queixo e obriga-me a olhar para ele. Devo ter os olhos lacrimejantes ou vermelhos, porque vejo que Eduardo o analisa com atenção, franzindo a testa, e a sua expressão de preocupação desaparece instantaneamente.
- Agora você é minha responsabilidade. - Ele soltou um suspiro antes de voltar a falar. - Você entende o que aconteceu dentro de você. -
Aceno com a cabeça. —Sim. —Tenho um pouco de medo dele. E se ele sacar uma arma e atirar em mim se eu não fizer o que ele pede?
— No momento, não quero que você volte para aquele desgraçado. — Ele aponta para Marco Ricci. — Mas não tenho outra opção. Você terá que voltar para ele, se despedir da sua família e depois voltarei para buscá-lo. Você me vendeu. Eles não têm mais o direito de tratá-lo mal. — Ele me garante, com um sorriso nos lábios.
- Como você pode dizer que eles me trataram mal? - Eu me pego fazendo perguntas sobre mim.
— Se não tivessem feito isso, você teria dito alguma coisa lá — ele sussurra e depois tira a mão do meu queixo.
Um monte de tristezas escapam de mim. Sinto a mudança com a presença dele e isso me dá esperança de que tudo ficará bem agora. Vejo-o se afastar e falo com meu pai, que não é muito gentil. Eduardo diz algo que o deixa pálido.
Isso significa que meu pai tem medo de Eduardo. Calder é muito mais poderoso que os Ricci. Ele pode ser poderoso, mas vai me perseguir pelo resto da minha vida. Não tenho ideia da vida dele. Há alguns minutos, ele era um completo estranho para mim; eu não sabia seu nome e agora só sei que ele pertence à Organização de Chicago.
Não vou mais ficar em Nova York. Chicago será um lugar completamente novo para mim; não vou lá há muito tempo. O que me lembro é que fui lá quando era pequeno. Só sei o nome e nada sobre a cidade, nem mesmo uma breve história.
Eduardo chega ao seu carro, um Porsche preto, e assim que liga o motor, parte ao mesmo tempo. Marco olha para mim com uma expressão normal e eu caminho em direção ao carro em que viemos antes.
Não digo uma palavra no carro. Papai não fala comigo, fica em silêncio, e acho que talvez tenha sido Eduardo quem o avisou para não falar comigo. Agradeço sua pequena ajuda.
Ao chegar em casa, entro correndo com as mãos nos bolsos do casaco. Todos estão na sala. Uma sensação estranha me invade: tristeza e infelicidade. Pergunto-me se eles sabem do acordo com Eduardo. Se não têm ideia, quem vai contar para mim ou para meu pai?
Papai ainda não entrou. Devo começar a história?
— Onde ele te levou? — pergunta minha mãe com um tom sério. Às vezes sinto pena dela, mas depois me lembro de como ela ficava em silêncio quando meu pai me batia. Meu coração se enche de frio.
—Uau! Estou surpresa que vocês não tenham ideia. —Um risinho escapa e meu olhar se fixa em Angelo, que lhe dedica um meio sorriso com tristeza nos olhos.
— O quê? — rosna Luca, atraindo sua atenção para mim.
— Meu pai acabou de me vender para o Eduardo Calder. — Os rostos deles ficam em branco. — Não deveríamos estar comemorando? — Minha voz está grave enquanto tento falar, mas por dentro quero chorar.
—Que diabos? —Angelo se levanta com a mandíbula cerrada e as mãos fechadas em punhos, formando uma bola.
