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Capítulo 1

— Naira! Está pronta para aproveitar as férias de verão?!

- Mais ou menos... - Murmurei desanimada, nesses últimos meses não havia sido fácil pra mim.

- Deve ser porque tem vergonha de se enfiar num biquíni e revelar o corpinho miúdo.

A voz chata da Júlia invadiu nosso grupinho da paz. No entanto nada que dissesse faria me entristecer mais do que já me encontrava. Todos sabiam o motivo, até mesmo ela. A escola inteira sabia da minha desgraça.

- Cala a boca! - Minha verdadeira amiga me defendeu enquanto os demais ficaram calados.

- Eu não, é bom que os garotos saibam que a princesinha loirinha do colégio não é tão gostosinha quanto eles pensam. Olhe pra mim! Eu que deveria ser o destaque, mas essa mulherzinha sem sal desperta o desejo até de um defunto. Daqui a pouco os mortos vão levantar pra comer essa buceta, que além do mais ninguém ainda provou.

- Vixe, isso tudo me cheira a inveja das brabas. Se situa mulher. A Naira é muito gata. - Finalmente Bartolomeu reagiu, ele sempre teve uma quedinha por essa que me adora, pra não dizer ao contrário.

- Até... você... acha isso dela... - Falou ela estupefata.

- Toma papuda! - Kalil ria da feição da nossa intrigueira.

- Custo a falar, mas você está passando dos limites. Não está vendo que a menina precisa de apoio? Onde você enfiou seu coração nos últimos tempos? Parece que depois de tudo que houve você nutriu mais ódio pela Naira do que alguns meses atrás. Será que até a morte trágica dos pais dela te afeta? Gostaria que acontecesse o mesmo com os seus?

- Chega Bartolo, ela já compreendeu. - Falei ao chegar de frente a minha casa.

- É, vou... - As palavras dela sumiram, desnorteada atravessou a rua, presa nos seus próprios pensamentos.

- Fez a mocreia travar o bico rapidinho, gostei de ver meu amigo.

Os dos integrantes calados riram da coitadinha.

- Eu não, me doeu dizer cada frase dura pra ela, mas o que eu podia fazer? Só assim que a Júlia retornou pra realidade. Ninguém deveria ser tão perverso, no entanto, ela é. Maldito coração que me fez sentir algo por essa mulher desalmada.

- Oh! Garoto! O sentimento está na nossa cabeça e não no coração.

Os dois começam a discutir sobre o assunto, contudo, fui incapaz de prestar atenção nos detalhes desta imensa conversar que englobava poesias sentimentais e a ciência, porque atrás da casa abandonada havia um jardim aberto, e daqui via-se uma parte dele. Comecei a ter um mal pressentimento ao sentir as marcas que ganhei na infância arderem. Envolvendo os anéis de uma  forma tão extrema, que cheguei a suspeitar que era um aviso. Me anunciando da presença... deles!

Não podia ser, depois de tantos anos.

- Naira! Naira!

Meu corpo foi balançando no mesmo instante que um par de olhos bastante azuis me avistou. Era sombrio e amistoso, não soube como desviar dele até que senti um tapa no meu rosto, fazendo-me voltar a si.

- Aí. - A olhei sem entender a razão daquilo.

- Que bom que voltou. Achei que daria aquele troço novamente. - Alisa os meus braços ao se afastar.

- Quer que a gente entre contigo? Não me parece bem hoje. - Bartolomeu se mostrava bastante solícito nesta manhã.

Os mirei nos olhos com firmeza, até esbocei um sorriso pra disfarçar a minha angústia.

- Estou ótima! Vejam a minha alegria estampada no meu rosto. Acho que vou até separar aquele biquíni. - Falo com ironia mascarada. Sou boa na arte de fingir.

- Assim que eu gosto de te ver, xô tristeza, você mais do que ninguém na face dessa terra merece ser feliz.

- OK, podemos marcar para a próxima semana. - Continuo o fingimento. Eu só queria dormir às férias toda.

- Mas...o que vai fazer nessa?

- Descansar a mente. - Precisei pensar rápido.

Os dois concordaram mutuamente, inclusive o resto do grupo. Nos despedimos ali mesmo, em seguida cada um foi pra sua casa.

Finalmente havia chegado a noite. Pra mim era muito bom, precisa dessas horas pra relaxar. Deito na minha cama, e imediatamente fecho os olhos. Entrando algo me faz ficar completamente em êxtase. Tipo uma combustão aguda, vindo fortemente das minhas entranhas. Eu sentia que o vento clamava meu nome, e como não queria aceitar aquilo as vozes dentro de mim foram ficando cada vez mais agudas. Ao ponto de me fazer abrir os olhos e não conseguir mais fechá-los, todavia o som havia cessado mim. Nervosa me sacudi, me revirando no colchão, até que decidi sair lá pra fora.

Notei que a noite havia esfriado de uma hora para outra com a minha presença. A camisola fina não me protegeria do vento frio, mas era tarde demais para retornar. Meus pés já se moviam sozinhos naquela direção, atrás da casa abandonada.

Naira... Naira... Naira...Naira...

Agora ouvia-se uma junção de vozes, numa espécie de coro.

Devo estar enlouquecendo, depois de tudo, não era pra menos. Muitos psicólogos queriam me tratar, porém eu os neguei. Bati o pé que iria me virar sozinha sem ajuda de tratamento.

Ao chegar no local avistei dois seres; um usava capuz.

Me olhava de viés, como se estivesse com raiva por estar ali.

Cruzei os braços sobre os seios, eles estavam nitidamente rígidos, não queria desconhecidos reparando nisso.

O outro indivíduo era mais polido, normal, usando terno e gravata.

— Quem são vocês? Por que estão me vigiando?

- Parece que a menininha cresceu e esqueceu de nós, irmão. - O de capuz ergueu a cabeça me olhando ferozmente.

- Não... Ela sabe quem somos, só está confusa por ter demorado tanto tempo para voltarmos a vê-la.

- Não foi isso que pensei. - Retruco mentindo pra mim mesma.

- É inegável essa informação. Estou em você loirinha. - Sorriu gentilmente. - Saudades de ti, minha rainha.

- O quê?!

- Nossa rainha irmão. - O rabugento joga o capuz pra trás, se aproximando o suficiente, revelando no meio da noite escura o par de olhos azuis mais lindos que já existiu.

Não me recordava dessa tonalidade quando ele era apenas um garoto magrelo. Fiquei impressionada, mas soube me esquivar. Eles ainda eram um completo enigma.

- Quero saber o que querem?

- Obviamente seu corpo. - Fala ele me assustando ao avançar.

- Pare! Sean! - Seu irmão coloca o braço na frente.

- Estamos aqui á dias observando-a. Vamos levá-la para o nosso planeta, antes que toda a população de Saluti venha se desintegrar.

Trêmula e impactada com a possível realidade indaguei ao mais sensato.

- São... Extraterrestre... De qual planeta?

- Pelo símbolo nos seus pulsos já deveria saber!

- Fale direito com a nossa fêmea!!

Enquanto eles debatem as boas maneiras, estiquei os braços, olhando de novo as marcas que viraram minhas tatuagens desde aquele dia.

Saturno, eles são alienígenas... Mas não se pareciam com nada que os denunciasse. A aparência deles eram de homens e não aquelas figuras estranhas que imaginávamos em nossas mentes férteis.

Sobretudo alguma coisa neles seria diferente dos caras da terra, tive receio de perguntar quando eles ficaram quietos. Os sentia me observando.

Mirei os irmãos ao abaixar os braços, sem me importar se os bicos dos meus seios sobressaíram no tecido fino da seda.

- O quê difere vocês dos terráqueos?

Sean olhou-me debochadamente, avançando a barreira do seu irmão. Chegando bem pertinho do meu rosto.

— Quer mesmo saber?!

— Quero!

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