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Hora cruel

Quando cheguei em casa eu ainda tremia por aquele encontro. Abri a porta e escutei vozes alteradas vindo do escritório de papai.

— Sou seu melhor amigo Kalil, você pode entregar a mim. Confie pois não tem mais jeito. Você tem que entregar ou colocará todos em risco.

Logo a voz de papai sobressaiu.

—Não vou entregar nada...

Pela segunda vez naquele dia eu estava espionando e como da primeira os olhares dos protagonistas foram para mim.

Era Omar que estava discutindo com Papai, ele se irritou quando me viu e saiu batendo a porta atrás de si.

— Papai?

Corri para atacá-lo e chorei em seus braços descarregando a tensão que eu tinha sofrido pelas diversas situações.

—Acalme-se Zafira. Eu sinto muito.

Ele acariciou meus cabelos, mas algo me dizia que ele não estava calmo como queria que eu ficasse.

Quando parei de soluçar ele se afastou e foi até uma gaveta da estante e pegou uma caixa. Ele a colocou em minhas mãos.

—Escute, pegue esta caixa, coloque na sua cesta de vime e vá até o vinhedo como se fosse recolher uvas. Chegando lá cave um buraco e enterre-a.

— Mas porque isto? O que tem nesta caixa?

—Zafira apenas obedeça para o nosso bem, faça isto. E foi o que fiz, apesar de estar tentada para abrir aquela caixa eu obedeci.

DOIS DIAS DEPOIS...

A batida da música era envolvente e eu me movia me sentindo livre e feliz, olhei para Samira que tentava ter algum gingado.

— Zafira, eu não consigo. Não sou tão boa quanto você ...

— Apenas deixe fluir seus quadris, Samira. Assim...

— Para você é fácil para mim não, eu não consigo me mover como você.

Ríamos dançado, eu amava a dança do ventre, mas Samira a minha irmã, não tinha o dom para a dança.

—Quando eu tiver a sua idade talvez eu consiga a sua experiência...

A sua fala foi interrompida pela porta da sala que se abriu em um rompante. Demos um grito de susto até ver Papai entrando. Ele estava ensanguentado e apenas, gritou:

—Zafira, você tem que sair, agora!

Eu o olhei sem entender.

—Mas...

—Não temos tempo. Vamos todos morrer se não for rápida. Escute vocês têm que ir para a Itália, Sicília e procurar no hotel San Domenico, lá perguntem pelo senhor Kosta. Diga que é minha filha e peça proteção a ele.

— Papai, eu não posso...

— Você pode e vai conseguir. Va para o esconderijo e não saia de lá por nada, fiquem em silencio independente do que acontecer.

Ouvimos o barulho do portão e pela janela vi que era Yusef o pior traficante de Marrakech avançando para nossa casa. Diante do olhar desesperado de papai tive o instinto de sobrevivência puxando Samira pela mão rumo ao seu escritório.

O desespero estava tomando conta de mim, mas eu tinha que ser forte por Samira, por papai, continuei correndo para o escritório até pegar o livro falso que abria o compartimento atrás de sua estante, lugar onde ele já tinha nos ensinado que era um refúgio seguro se precisássemos nos esconder.

Pela pequena brecha eu conseguia ter uma pequena visão do escritório de papai, sem ser vista. Estávamos seguras mesmo que de fora alguém tocasse o mesmo livro a porta não se abriria enquanto estivéssemos dentro.

Samira estava chorando e eu segurava seu rosto fazendo sinal para ela se controlar ou seriamos mortas. Por mais que me doesse eu sabia que o destino de papai seria este naquele momento e eu esperava de coração que não fosse em nossa frente.

O lugar onde estávamos não caberia Papai conosco, ele tinha feito de propósito para nós. Não questionávamos suas decisões, pois ele sempre cuidou bem de nós desde que mamãe morreu e agora ele também morreria.

As lágrimas estavam banhando o meu vestido e eu rezava para minha irmãzinha suportar o que estava acontecendo.

Escutamos disparos e sons de luta vindos da sala, o silêncio perpetuou por um momento. Mas felizmente ouvi a voz de papai ao longe mesmo que eu não estivesse compreendendo suas palavras, ele respirava, estava vivo e me bastava.

Ouvi mais sons de luta e a porta do escritório foi aberta com um golpe.

Sem poder me segurar olhei pela fresta e vi papai caído no chão, tinha sido empurrado por Yusef que apontava a arma para ele.

— Diga logo onde está!

—Eu não farei isto!

Yusef deferiu uma coronhada no rosto de meu pai que gritou de dor. Samira tremia ao meu lado e eu a olhei fazendo sinal para que se controlasse.

— Você vai falar, eu não tenho pressa. Meus homens estão procurando por suas filhas e eu juro que vou me divertir muito com elas na sua frente. Principalmente Zafira, sempre quis ver ela totalmente nua e de joelhos diante a mim...

Papai deu um chute fazendo-o cair. Mas logo Yusef levantou dando mais socos em papai. Ele estava resistindo fortemente, mas quando vi Yusef tirar uma adaga da cintura o meu sangue gelou.

— Fale, onde está o mapa?

—Vá para o inferno, Yusef! — Papai cuspiu nele.

Mas Yusef avançou enfiando a adaga em sua perna e eu vi quando papai se curvou de dor.

Eu tinha visto Yousef poucas vezes muitos anos atrás, mas agora eu estava memorizando cada centímetro de seu rosto, eu jamais esqueceria.

gritou chamando por seus homens que reviraram todo o escritório enquanto ele se divertia a machucar papai enfiando e tirando a adaga de diversos lugares de seu corpo.

Horas depois de revirar tudo e meu pai não se mover e nem mesmo respirar, Yusef saiu.

Abracei Samira que estava em choque ao meu lado, ela tinha assistido a toda a tortura e morte de nosso pai.

O barulho fora de casa cessou e podíamos ouvir nossa respiração e o som dos grilos lá fora. Eu sabia que já era noite, tudo estava escuro fora.

Tínhamos que sair dali, tínhamos que ir para a Itália como papai tinha me orientado, mas eu não tinha ideia de como fazer isto. Abri lentamente a porta do esconderijo, Samira ficou lá sentada, paralisada como se fosse uma estátua.

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