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Capítulo 2 - Lorenzo

Eu estava ganhando a oportunidade de mostrar ao meu pai que todos os anos trabalhando para seus concorrentes me ensinaram, sim, alguma coisa, e que não foram apenas anos curtindo a vida ao extremo, mesmo que talvez essa fosse parte da verdade.

Nunca achei que quando assumisse a companhia seria naquelas circunstâncias. Para começar, quase não acreditei quando ele anunciou que ia se aposentar e que queria que eu assumisse no seu lugar, até que ele contou que estava mal do coração e por isso estava se aposentando.

Ninguém sabia disso, tínhamos deixado o assunto entre as paredes de casa, só a família tinha conhecimento.

E agora eu não conseguia ficar plenamente feliz com a ideia de me tornar CEO da empresa de engenharia da família, além de não me sentir totalmente preparado, eu também estava preocupado com o estado de saúde do meu velho.

Ser filho único tinha me mantido muito perto dos meus pais, sempre fazíamos tudo juntos, unidos. E a simples ideia de perdê-lo apertava meu peito.

Como fundador daquela empresa e acionista majoritário, ele decidiu que eu seria seu sucessor, porém tinha um grupo forte ali dentro que queriam tirá-lo do poder há um tempo e que naquele momento se recusavam a aceitar que outro Bianchi continuasse à frente da companhia.

Meu pai fundou aquele lugar com trabalho duro, muita economia e fazendo clientes satisfeitos ao redor do país. Seu trabalho sempre foi impecável e quando o sobrenome do engenheiro estrangeiro, que veio de baixo, começou a ficar reconhecido não faltaram convites para que ele se filiasse a alguma companhia.

Foi quando ele decretou que iria abrir a sua própria empresa, isso incomodou ainda mais gente. Com o passar dos anos pessoas importantes do meio começaram a se sentir ameaçadas pelo sucesso da Wish Engineering Bianchi no mercado, mas isso nunca o impediu de crescer cada vez mais, pelo contrário, o Senhor Bianchi usou isso como combustível.

Estava no sangue quente dos italianos, não levamos desaforo pra casa, e não desistimos do que queremos. Eu tinha o maior orgulho dele por tudo isso e agora era minha vez de provar a todos que eu também conseguiria!

Entrei na sala de conferência onde o conselho aguardava, assim como algumas outras pessoas que eu nunca tinha visto na vida. Meu pai já tinha me avisado sobre o clima de ansiedade rodeando todos os setores, afinal era a primeira vez que a companhia mudaria de presidente desde que foi fundada.

— Por anos a Wish foi conduzida por um único condutor e foram bons anos, mas está na hora de passar o volante a outra pessoa, alguém com a mente mais fresca e aberta, com novas ideias e que nos leve a novas conquistas. — Meu pai interrompeu as palavras e me deu um tapinha nas costas me puxando para o seu lado. — Senhoras e Senhores, eu tenho o prazer de apresentar Lorenzo Bianchi, o novo presidente da Whish Engineering!

— Bom dia, Senhoras e Senhores. — Olhei para todos em volta, tentando gravar um pouco os rostos que veria dali em diante, então meus olhos focaram na ruiva no fundo da sala. — Estou animado para trabalhar com vocês! Vai ser um prazer!

Mesmo que tivesse começado a falar para todos no recinto, a parte do prazer foi direcionada totalmente a ela, a dos olhos castanhos mais expressivos que eu já tinha visto.

Eu não era um santo e as ruivas eram meu ponto fraco, por isso não me importei em ser discreto olhando-a. Nossos olhares se prenderam por um milésimo de segundo e ela pareceu um tanto desconcertada, um tom rosado cobriu as bochechas pintadas de sardas fazendo um sorriso sacana crescer em meus lábios.

Mas algumas pessoas se intrometeram em meu caminho, me parando e estendendo as mãos, me felicitando pela conquista, me obrigando a dar atenção a cada um ali, ainda que soubesse que aquelas mesmas pessoas eram contra a escolha do meu pai.

Procurei os cabelos vermelhos entre as pessoas que se amontoavam na minha frente, mas não tinha mais nem sinal dela. A ruiva não tinha esperado como os outros para me cumprimentar, apenas desapareceu, e aquilo só atiçou ainda mais minha curiosidade, adorava uma boa caçada.

— Fico muito feliz de finalmente conhecer o famoso Lorenzo Bianchi! — um homem falou dando tapinhas no meu ombro atraindo minha atenção. — Travis, Travis Wayne.

Encarei a mão estendida, eu tinha escutado meu pai falar aquele nome, rico e mesquinho foram os adjetivos usados para descrevê-lo. Mas o que eu podia dizer, já havia sido chamado de coisas bem piores apenas por ter um pai rico.

— Ouvi muito a seu respeito, é bom finalmente dar um rosto ao nome. — Apertei a mão dele e o sorriso em seu rosto cresceu de maneira estranha.

Travis não era velho como o resto das pessoas da diretoria, assim como eu, ele tinha um pai influente que o colocou ali. Eu havia feito o dever de casa aprendendo um pouco sobre cada pessoa que iria trabalhar diretamente comigo.

Mas no momento eu só queria saber quem era a linda ruiva que tinha desaparecido.

— Vejam só, esperei muito para ver essa imagem! — meu pai exclamou me trazendo de volta. — Meu filho e o filho do meu maior sócio e braço direito, juntos. Bem aqui na nossa frente está a nova geração da Wish o futuro da empresa!

O que eu podia dizer, o velho adorava fazer discursos e usar frases de efeito.

Passamos ao menos mais meia hora ali, conversando e trocando amenidades com alguns funcionários. Os chefes de cada departamento fizeram questão de apertar minha mão e me felicitar. Eu sabia bem que a maioria deles estava apenas puxando meu saco, conhecer todo o tipo de gente nesse mundo me ensinou ao menos isso.

Depois disso meu pai me acompanhou até sua sala, no último andar do prédio onde ele tinha uma vista perfeita da cidade.

Eu não me orgulhava em dizer que fazia anos que eu não entrava naquele lugar. Desde que me formei na faculdade eu fiz questão de trabalhar nas melhores empresas de engenharia ao redor do mundo, enquanto aproveitava minha vida ao máximo, certo que um dia estaria ali.

Meu pai nunca escondeu a aversão que tinha por eu ter seguido esse caminho e talvez essa seja uma das maiores razões para tantas opiniões negativas ao meu respeito.

Saímos do elevador e eu dei de cara com a mesa que costumava ser da secretária do meu pai, mas ao invés da senhora Smith, era a ruiva que estava ali, a mulher dos cabelos de fogo e os olhos cor de avelã que me hipnotizaram.

Ela parecia concentrada até ouvir nossos passos se aproximando, foi quando nossos olhos voltaram a se encontrar e eu assisti um rubor tomar conta de suas bochechas. O que será que se passava na mente dela?

— Filho, quero te apresentar a uma pessoa, essa é Isabella Evans, minha secretária e uma grande amiga!

A mulher se levantou, contornando a mesa e estendendo a mão para mim, um sorriso amigável brotou atraindo meu olhar diretamente para os lábios rosados.

— Isabella Evans — falei seu nome testando as palavras em minha boca e apertei sua mão, sentindo a maciez de sua pele. — É um prazer conhecê-la.

— O prazer é todo meu — murmurou com as bochechas voltando a ficarem coradas e como eu gostaria que aquelas palavras fossem ditas em uma outra situação, com ela ainda mais vermelha. — Seu pai me falou muito sobre você.

— Infelizmente eu não posso dizer o mesmo, meu pai nunca disse que tinha outra pessoa no lugar da senhora Smith.

Nossas mãos ainda estavam unidas, eu já deveria tê-la deixado ir, mas eu não estava com pressa de perder a mão delicada e quente contra a minha.

— Agora vocês vão ter bastante tempo para se conhecer, já que ela vai ser sua secretária — meu pai falou se enfiando entre nós dois e passando o braço sobre os ombros de Isabella com intimidade. — E como você é novo aqui, filho, ela concordou em te ajudar a se adaptar, conhecer melhor as pessoas e etc.

Eu gostei disso, significava que íamos passar ainda mais tempo juntos.

Deslizei meu polegar sobre o dela, sentindo uma corrente elétrica subir por minha espinha com aquele simples toque. Seus olhos brilharam de forma diferente, mas Isabella rapidamente se afastou e ergueu a mão esquerda deixando o solitário e a aliança dourada brilharem em uma declaração: casada!

Como se uma bandeira vermelha fosse hasteada bem na minha frente, eu dei um passo para trás, abrindo mais espaço entre nossos corpos.

— Vai ser ótimo trabalhar com a senhora — falei dando ênfase no título que meu pai tinha deixado de lado. — Agora que tal conhecermos minha sala? Se me lembro bem tinha uma garrafa de Whisky escondida que é perfeita para brindarmos a essa ocasião.

Puxei meu pai de lá enquanto tratava de tirar qualquer ideia sobre aquela mulher da cabeça. Eu podia ser um safado de carteirinha, mas não me metia no casamento dos outros.

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