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Três LADOS

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Ida Garcia
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Notas

Resumo

Um romance Policial. Bruna ainda criança mostrava sua personalidade. De temperamento forte e decidida, ela defenderá seu amigo das injustiças de uma escola elitista. Anttone é um garoto tímido de QI acima da média, vai se apaixonar por Bruna ainda na infância. Amigos inseparáveis, eles serão afastados por algo ruim que acontece na vida dela. Bruna cresce em busca de vingança, já Anttone só pensa em reencontrar o amor de sua vida.

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Prólogo - Canção de Ninar

Outubro do ano 2000, Candeias município da Bahia...

— Como tem sido as últimas noites? A mudança de horário da prática de esportes deu resultado? — Acomodada na poltrona, a psicanalista observa Bruna esfregar os braços. — Está gelado aqui. — pontua o óbvio — Quer uma manta ou que diminua o ar?

— A manta seria bom. — Como se quase sussurrasse, a jovem de 16 anos responde de forma tímida.

A mulher negra de porte robusto, levanta da cadeira se dirigindo até o armário que ficava dentro da sala. Já com o tecido felpudo em mãos, ela cobre Bruna sobre o divã com amabilidade. Em seguida, senta-se ereta na cadeira por trás da jovem, pega a prancheta e volta a pergunta inicial. — Como tem sido suas noites?

— Tenho dormido melhor. — Responde com pouca convicção.

— Melhor quanto? Uma boa quantidade de horas e sem pesadelos?

— Sem pesadelo! — Sorri irônica — Não preciso dormir para estar em um pesadelo. A minha vida é um grande pesadelo.

— Quer falar mais sobre isso? Pois não está em um pesadelo, aconteceram coisas no passado que farão parte da sua história, mas não irão reger sua vida eternamente Bruna. Você é dona da sua direção.

— Eu só queria esquecer de tudo, é sufocante passar quatro anos se sentindo sozinha em cima de uma árvore. E já que a senhora perguntou, não quero mais falar sobre isso. 

— Se expressar pode ser aliviante, diminuir o peso e junto com ele a pressão. - Bruna apenas fica muda. - Certo. - a mulher aceita a negativa.

A psicanalista entende que nem todo dia irá avançar. Lidar com estresse pós traumático é mais que um trabalho de paciência. É saber o momento certo de invadir, o que são feridas para o paciente. Por fim, resolveu mudar o rumo da conversa.

— Que tal recordar mais algumas histórias do seu passado. Que tal falarmos da escola que estudava no Rio de Janeiro. Gostava da escola?

A jovem fica pensativa, um tanto estática. Logo resolve responder — Não me lembro se eu gostava.

— Mas lembra de algo ou alguém? A escola é o ambiente onde fazemos amizades importantes, que muitas vezes marcam nossa vida, quem era a sua amiguinha?

— Acho que não tinha nenhuma amiguinha, ao menos não me lembro. Só... 

— Continue. Só... Iria falar algo.

— Só me lembro do Batutinha.

De cenho franzido a mulher tenta entender - Você tinha algum amigo que tinha apelido ou parecia com o personagem do filme Os Batutinhas? — A jovem adolescente apenas assente. - E como ele era? Qual era o nome dele?

— Ele tinha os olhos de um anjo e um cabelo lambido, mas o nome não me lembro. Eu não me lembro. — Em sua voz uma pequena aflição.

— Tive uma ideia — fala altruísta — porque não ligamos para sua antiga escola e tentamos descobrir algo sobre o Batutinha, talvez ainda estude lá. Seria bom reencontrar com alguém do seu passa...

— NÃO!!! — A menina se levanta do divã alterada, interrompendo a analista — A SENHORA É UMA INTROMETIDA.

— Respire Bruna, se acalme. Lembre do exercício para controlar a raiva.

— Não é raiva — Bruna inspira e expira tentando se controlar — é medo. A senhora não pode ligar para ele, pois não posso mais protegê-lo, não aguentaria perdê-lo também.

[•••]

Bárbara tentava manter-se forte, aquela rotina era dura. Contudo jamais desistiria de sua filha. Bruna aguardava na recepção com o padrasto, enquanto sua mãe ouvia a análise da sua última consulta.

— Há evolução, senhora Bárbara. Talvez um pouco vagarosa, mas significativa. Sua filha sofre de TEPT, Bruna não tem amnésia, entretanto os traumas que sofreu, a faz colocar todas as lembranças que a rodeavam naquele momento, em uma zona morta, ela simplesmente não quer se lembrar. Para Bruna, essa é uma forma de não sentir dor.