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One

Fazia frio, muito frio. As árvores chacoalhavam fazendo um grande barulho, poucas pessoas se arriscavam a sair de casa diante de tão grande frieza. Mas Marianna não se importava.

Tinha prometido a Mayk que iria fazê-lo escrever uma carta para sua mãe. Marianna sempre estava envolvida com as crianças do vilarejo. Agasalhou-se bem e foi em direção a casa do garoto.

Marianna tinha a opção de adiar a ida na casa de Mayk, mas qualquer coisa era melhor do que ficar em casa nos dias das reuniões. Ela sabia que os lobos precisavam reunir-se para procurar proteger o vilarejo impedindo a entrada de outros seres sobrenaturais que venham fazer o mal. Mas aquilo tudo era cansativo. Marianna nem lembrava mais quando foi a última vez que ela e seu pai fizeram uma refeição juntos ou conversaram. A liderança tomava todo o tempo do seu pai.

_Mayk? Você está aí?

Ao chegar na frente da casa de Mayk, se viu tendo que chama-lo pois começava a cair uma chuva forte e as batidas na porta tornaram-se inaudíveis.

Nesse momento, um senhor ía passando com suprimentos em uma sacola. Parou para observar Marianna chamando pelo garoto.

_Eles não estão. Precisaram sair do vilarejo._Com frio, o velho abraçava seu corpo._Vá pra casa, menina. O tempo está cruel. Até mais.

_Até mais.

Marianna saiu da frente da casa observando que de fato o tempo estava cruel. Voltou pelo mesmo caminho de antes pensando no por quê de Mayk e seus pais terem saído do vilarejo às pressas.

Marianna deveria não estar sentindo tanto frio assim pela sua condição sobrenatural, mas devido a sua rejeição em se transformar, é quase como uma humana qualquer. Ela nunca se transformou, nunca.

Parou em frente a um estabelecimento, mais precisamente um barzinho pacato, e entrou. O local estava vazio, tirando a presença da dona.

_O que faz aqui, Anna?

Celeste, dona do barzinho, gosta muito de chamar Marianna pelo seu apelido. Na verdade, quase todos daquele lugar a chamam assim.

_Estava passando por aqui e resolvi entrar pra tomar um daqueles seus cafés maravilhosos.

Sorrindo para a linda jovem, Celeste foi preparar uma das suas especialidades nesse tempo frio: café.

Marianna se viu perdida observando a decoração daquele lugar. Ela sempre dava um jeito de ir ali quando seu pai resolvia reunir os lobos dentro de casa.

Celeste retorna com uma xícara média cheia de café e algumas rosquinhas. Era um prazer mimar a jovem Marianna, ela era um doce.

_Obrigada, Celeste._Marianna agradece ao ver que Celeste trouxe mais do que um simples café._Você sabe por que Mayk e sua família saíram do vilarejo? Algo aconteceu?

_Pelo que eu soube, eles tem família em outro vilarejo. Alguém de lá adoeceu, não sei ao certo. Foram todos.

Marianna bebericou seu café assentindo vagarosamente. Todo mundo naquele vilarejo se conhece muito bem. Claro que a pequenez do lugar ajuda.

_Cadê o Vinícius? Faz bastante tempo que não o vejo._Celeste pergunta curiosa.

Vinícius é o irmão mais novo de Marianna, e único. Ultimamente nem ela tem visto o irmão. Ele anda ocupado demais com os assuntos do pai.

_Passou a se importar com os assuntos da alcatéia. Não tem mais tempo pra ninguém._Ela bufa desanimada.

Celeste se entristece pela atual situação da família Avillar. Depois que a mãe de Marianna e Vinícius morreu, Érico se entregou totalmente aos assuntos do vilarejo e da alcatéia. Mesmo Vinícius já tendo 18 anos e Marianna 20, eles cresceram sem muita atenção do pai. O mesmo se absteve de arrumar uma outra mulher deixando os filhos serem criados pela empregada.

Depois de bebericar o último gole de café, Marianna repousa a xícara vazia no balcão.

_Estava maravilhoso, Celeste._Ela agradece._Preciso ir que já está escuro demais. Até breve.

_Cuidado por esses caminhos, Anna. Até breve.

Ao abrir a porta e sentir o vento frio chicotear seu rosto, abraçou seu corpo. Pisou na calçada da rua olhando para o céu totalmente escuro e chuvoso às 15hrs da tarde. Caminha assoprando as mãos na tentativa de fazê-las esquentar.

Marianna já pensava na frustração em ter que entrar em casa e ver tantos lobos na sua sala conversando. Era incômodo pois eles a olhavam como algo precioso para a alcatéia, algo que Marianna não entendia.

Viu-se parar bruscamente ao ouvir um barulho estranho, tipo alguém ou algo correndo. Olhou em volta tremendo levemente o lábio inferior procurando de onde veio o barulho.

Repreendeu-se por dar importância a isso e voltou a caminhar. Novamente ouviu o barulho só que mais perto. Perto até demais.

_Quem está aí?_Ela diz um pouco alto já temendo ser alguém que queira fazer mal._Alguém está aí?

De repente um grande lobo sai de trás de uma casa encarando Marianna com seus grandes olhos vermelhos. Ela deu dois passos pra trás temendo um possível ataque. Estava sozinha e jamais teria forças para enfrentar um lobo, qualquer que seja. O lobo de pelagem negra e olhos vermelhos inala o ar como se sentisse um cheiro específico.

_Quem é você?_Ela arrisca perguntar mesmo sabendo que na forma lupina, eles só se comunicam pelo pensamento e para isso ela precisaria estar transformada também._Você quer me fazer mal?

O lobo se aproxima de Marianna calmamente, uma calmaria assustadora. Devido ao seu enorme tamanho, ele abaixa o focinho encarando o rosto da jovem medrosa.

Rodeia Marianna parecendo avaliar e se divertir com o medo da garota.

_Por favor, me deixe ir embora.

Já se viam lágrimas nascerem nos olhos de Marianna. O lobo encosta sua narina no braço dela como se a incentivasse a ir embora. Imediatamente ela se pôs a correr não entendendo nada do que acabara de acontecer. Só parou ao chegar no grande portão de sua casa. Ela estava pálida, sem ar. Viu Vinícius aproximar-se de modo extremamente rápido.

_O que foi que aconteceu, Anna?_Seu irmão a põe em seus braços por vê-la tão fraca.

Marianna nada falou até que já estivessem dentro do grande casarão Avillar. Vinícius repousou o corpo da irmã no sofá e sentou-se perto.

_O que te aconteceu, Anna?

_Apenas tive a impressão de estar sendo seguida. Corri por medo, sei lá. Acabei ficando nesse estado.

Marianna se viu por algum motivo desconhecido omitindo seu encontro com o lobo. Ela estava intrigada, curiosa. Ele não parecia querer fazer mal, apenas observa-la. Mas por que? Por que aquele lobo jamais visto naquele lugar a procuraria?

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