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01

No momento em que Blake viu o homem, ele soube que essa noite

terminaria em morte. O problema era que Blake não achava que terminaria com sua morte

“Não quero problema,” ele disse, percebendo a estupidez daquelas palavras. Tinha passado da meia noite, ele estava em um beco abandonado com três mil dólares em cocaína – e essa era a boa notícia.

“Perdido?” um dos homens perguntou, se aproximando.

Os outros três na extremidade oposta do beco se aproximaram também. Não havia escapatória. Blake pode senti-lo se agitar, pressentindo o perigo. Ele não tinha muito tempo.

“Vocês precisam ir,” Blake disse, o medo se instalando enquanto ele sentia aquele zumbido familiar começar em sua cabeça.

Um deles riu. “Nos dê aqueles pacotes que você acabou de comprar, vadia, e nós vamos.”

Por um breve momento, Blake hesitou. Ele comprou a droga com seu último dinheiro e ele precisava dela. Não porque fosse um viciado; Blake nunca tocou em drogas na vida. Não, ele pretendia que sua primeira vez ao usar fosse a última coisa que ele fizesse.

Mas aquele zumbido em sua cabeça estava ficando mais alto. Não. Não ainda. Não até eu poder me afastar dessas pessoas...

“Leve e me deixe em paz,” Blake grunhiu, arrancando os pacotes do casaco.

Um deles pegou os pacotes e então empurrou Blake. Ele balançou e caiu, sentindo gosto de sangue quando sua boca bateu contra uma saída de emergência.

Aquele ruído em sua cabeça ficou mais alto. Era tarde demais.

“Matem-me,” Blake arfou.

Confusão estava estampada nos rostos que o espreitavam. “Ele é louco,” alguém murmurou.

Blake olhou ao redor. Nenhum deles tinha sacado uma arma ou faca. Esse

era um beco escuro e infestado de gangues em Columbia Heights, DC (Distrito de Colúmbia).

Um deles não podia esfaqueá-lo ou atirar nele?

Blake começou a gritar a coisa mais incendiária que pode pensar. “O que vocês estão olhando ai de pé? Você me reconhece da noite passada, quando eu estava fodendo sua mãe?”

“Oh, inferno, não,” um deles disse.

Eles cercaram Blake, o chutando. Blake girou, não fazendo movimento algum para se defender. Ao invés disso, ele se arqueou na direção dos chutes. O medo cresceu, mas não de morrer.

Quebrem meu pescoço, Blake pensou selvagemente. Ou peguem um cano e esmaguem minha cabeça! Eles não fizeram nada disso, porém um deles esmagou o rosto de Blake com o pé, quebrando seu nariz. Blake tossiu sangue mesmo quando seu corpo inteiro se dobrava. Ele estava quase aqui. Blake tentou repeli-lo, mas ele era muito forte.

“Qual o problema com você?” Blake urrou com sua última pitada de força.

“Matem-me!”

Um chute forte jogou a cabeça de Blake para trás antes que seu mundo ficasse branco. Por um breve e abençoado momento, Blake achou que finalmente tinha conseguido morrer e sentiu um alívio devastador.

Mas quando Blake voltou à realidade, havia sangue por todos os lados. Algumas pessoas estavam reunidas no fim do beco.

Blake não sabia quanto tempo elas estavam lá, mas seus olhos eram de espanto, rostos chocados, brancos como giz. Provavelmente eles nunca viram nada assim, mesmo lá, em uma das piores partes do Distrito. Blake soltou um uivo de desespero quando olhou para o sangue vermelho e espesso cobrindo suas mãos e os corpos ao seu redor. Maldito, ele gritou silenciosamente para o monstro dentro dele. Maldito seja no inferno!

Mas esse era o problema. Inferno era de onde veio o demônio dentro de Blake.

A sala de estar de Elise começou a chacoalhar, mas ela mal notou. Estava tão acostumada com as vibrações cada vez que um trem passava que chamava mais atenção quando havia longos períodos de calma.

A música dos anos 50 “Jump, Jive and Wail” tocava em seu iPod, um presente recente de seu criador, Mencheres. Elise teria continuado a ouvir música em seus discos, sem importar quantas vezes os trens faziam a agulha pular e arranhá-los, mas uma das lições mais comuns de Mencheres era abraçar as mudanças do mundo. Alguns vampiros, quando ficavam mais velhos, se retiravam da sociedade e se tornavam tipos eremitas, se apegando as coisas de sua época original. Eventualmente esses vampiros podiam se tornar tão desconectados que o ódio pelo mundo avançando constantemente era um efeito colateral.

Elise já era uma solitária. Ela vivia debaixo de um túnel de metrô, não socializava muito com outros vampiros ou humanos e, de longe, preferia música orquestrada ao invés do barulho dos dias de hoje no rádio. Considerando tudo, Mencheres tinha motivos para se preocupar dela escorregar para a estrada eremita, mas ela não odiava o mundo moderno ou suas mudanças. Ela só era mais feliz sozinha.

Mais um sacudir das paredes anunciava a chegada do trem das seis e quinze. Elise baixou o livro com um suspiro. Hora de tomar banho e comer, atividades que requeriam que ela saísse de seu lar confortável.

Ela vestiu uma regata e calças, acrescentando uma jaqueta apesar da temperatura quente lá fora. Menos roupa significava mais atenção e Elise queria falar com menos pessoas possível. Ela puxou o cabelo em um rabo de cavalo, colocou um boné de baseball e abriu a porta de metal barulhenta.

Uma rajada de cheiros a atingiu quando entrou nos túneis que conectavam a seção morta onde ela morava aos túneis operantes de metrô acima. Pelo menos ela não precisava respirar; os odores residuais de indigente que usava esses lugares como residência e banheiro temporários, combinado com o fedor de comida podre, ratos mortos ou outros animais – era ruim o suficiente.

Os poucos desabrigados que estavam nos túneis naquela hora não olharam para Elise quando ela passou. De vez em quando um recém-chegado se aproximava dela. Um que não tinha sido avisado sobre ela pelos outros, ou que não tinha ouvido. Elise não se alimentava de nenhum recém-chegado curioso – cheirá-los já era ruim o suficiente – ela só os atingia com o poder em seu olhar e os hipnotizava para deixá-la em paz. Se algum fosse estúpido o suficiente para atacá-la, bem… aquela pessoa não vivia tempo o suficiente para se arrepender.

Essa noite estavam apenas os de costume, então Elise passou por eles sem nenhum incidente. Ela andou para fora do túnel e através da plataforma da estação, mantendo a cabeça baixa, sem precisar olhar para saber o caminho. Era tão familiar para ela que poderia fazer a viagem dormindo.

Livre da atmosfera fechada, os passos de Elise ficaram mais longos e mais relaxados. Ela até cantarolou enquanto caminhava pela Avenida Connecticut até a academia. A garota atrás do balcão mal olhou para Elise quando ela entrou, mas um aceno de cabeça indicou que Elise não precisava mostrar o cartão de membro. Ela era uma visão regular por lá, poucos funcionário pediam para ver o cartão atualmente.

Elise desceu as escadas para a grande quantidade de equipamentos de exercícios. Seu tamanho nunca seria diferente do que é agora, mas os funcionários da academia faziam muitas perguntas se ela, pelo menos, não fingia se exercitar. Depois de vinte minutos na esteira, Elise foi para o vestiário. Ela tirou a roupa e tomou banho, então escovou os dentes com a escova de dente que mantinha com uns poucos outros itens no armário. Depois de secar rapidamente o cabelo, estava pronta para prosseguir com o próximo item de sua rotina.

Algumas noites, quando Elise tinha sorte, ela se alimentava de quem estivesse sozinha no vestiário. Só bastava um brilho de seu olhar para a mulher esquecer que Elise tinha acabado de encurralá-la num canto e bebido seu sangue. Mas a maioria das noites eram cheias na academia. Era mais fácil para Elise andar pela cidade e encontrar alguém sozinho – ou acompanhado por poucas testemunhas para lavar a mente.

Hoje, Elise encontrou sua refeição ao longo da Rua Sete, um jovem rapaz que vagava para longe dos amigos no Jardim Sculpture. Ela bebeu dele, fechou os furos com uma gota de seu sangue e o mandou de volta para suas companhias num prazo de dois minutos. Ele ficaria sonolento devido ao meio litro que ela drenou dele, mas de qualquer forma, ileso. Só nos filmes que vampiros precisavam matar para se alimentarem, junto de outras mentiras como estacas de madeira e luz do sol sendo prejudicial a eles.

Assentindo às repreensões de seu criador para sair mais, Elise se sentou e leu em um café local ao invés de apenas comprar mais livros e ir direto para casa. Ela até trocou um comentário sobre o tempo com alguém que se sentou na frente dela. Olha ai. Ninguém poderia dizer que ela interagia com humanos apenas para mordê-los.

Porém, quando o café fechou, Elise foi para casa de bom grado. Andou pela Capital Lawn, tendo conforto na familiaridade dos reluzentes edifícios brancos e estruturas mais antigas. Então, seguiu pela cidade até chegar à estação onde os túneis se conectavam.

Passou pelos poucos viajantes que restavam e pelos túneis inoperantes quando ela sentiu o cheiro de algo que não deixava dúvidas. Sangue, temperado com o distinto odor de morte. Elise apertou o passo, seus tênis mal faziam barulho. Havia bem poucos sem teto nos túneis a essa hora, apesar de suas cautelas serem sem fundamento, já que Elise nunca matou um que não a atacasse primeiro. Porém, aqueles que supunham o que ela era, não se demoravam muito depois de escurecer. Humanos tolos. Só porque ela preferia sair à noite não significava que ela estava presa lá dentro durante o dia.

O cheiro ficou mais forte quanto mais Elise entrava no túnel. Mesmo sobre o som de um trem se aproximando, Elise pôde ouvir uma pulsação logo em frente. Quem quer que fosse, tinha se escondido em um dos velhos cantos de manutenção, mas logo descobriria que um ataque sorrateiro era uma má ideia.

Quando o homem pisou no trilho, de costas pra ela, ela parou, surpresa. Quem quer que fosse nem ao menos sabia que ela estava lá, e muito menos era uma emboscada. Aquele cheiro forte de sangue e morte exalava do estranho, mas o desespero era ainda mais forte. Ele se equilibrava na borda do trilho como se estivesse indeciso. O trem estaria aqui a qualquer momento. O tolo não tentaria atravessar os trilhos agora, tentaria?

O homem agarrou a cabeça, balbuciando, “Não, ainda não!” várias vezes. O túnel vibrava com a aproximação do trem. Com crescente consciência, Elise viu que o homem ia pular bem na frente dele.

No mesmo instante em que ela se lançou para afastá-lo, algo aconteceu. O cheiro desesperador emanando dele mudou para o cheiro asfixiante de enxofre. Sua boca se abriu rosnou enquanto ele girava, agarrando Elise com mais força do que qualquer humano teria. Pontinhos vermelhos brilharam em seus olhos, como fagulhas antes do fogo e, perante o olhar dela, a pele dele pareceu se transformar em uma sombra pálida de cera.

“Vampiro,” ele sibilou, agarrando sua garganta.

Elise não parou para ver o que estava acontecendo. Ela o socou na cabeça, olhando, com alívio, enquanto ele caia no chão do túnel.

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