Capítulo 2
— Não se preocupe, a culpa não é sua. Tudo isso está acontecendo apenas por causa do meu pai. Você está certo, eu deveria terminar de arrumar minha mala. — respondo, desviando o olhar para a massa de roupas jogadas na cama.
Meu senso de ordem e organização desapareceu há muito tempo.
Também me faz sorrir quando penso nas vezes em que todos zombaram de mim por ser um maníaco por controle.
Se você visse meu quarto agora, ficaria orgulhoso de minhas conquistas.
- Vá com calma. Assim que você ver, escreva para mim e me conte como foi! —ela recomenda e eu a cumprimento antes de começar.
Vai ser ruim, Samanta.
Suspiro enquanto caio na cama, arrumando ao acaso todas as roupas que não me importam agora.
Esta tarde, minha mãe e eu iremos à casa dos Terrilkl, embora mais do que uma casa eu espere um palácio, como me foi descrito.
Já prevejo que não saberei como me comportar rodeado de tantas riquezas e sobretudo não poderei evitar o desconforto.
Eu só tenho que tentar ficar longe de Dario, mesmo que ele provavelmente vá me evitar.
É o que eu esperava desde que descobri que iria morar com ele.
— Querida, posso entrar? —Minha mãe bate na porta, me distraindo de mil pensamentos.
- Sim, entre. — respondo sem nem sair da cama. Estou muito deprimido e desmotivado para fazer qualquer esforço.
—Serly, saia da cama! Então você estraga todas as suas roupas. —ele desabafa, me obrigando a levantar, puxando meus braços com força.
Minha cabeça também doía ao pensar em dividir uma casa com Dario Terrilkl.
Sei perfeitamente que quanto mais penso nisso, pior fica.
Mas não posso evitar.
- Eu não gosto disso, mãe. —murmuro, sentando na beira da cama.
Esfrego os olhos e suspiro alto.
— Quer me dizer o que diabos há de errado com você? Qualquer outra pessoa em seu lugar ficaria encantada em ser hospedada pelo Terrilkl e você está aqui reclamando há dias! - ele exclama.
Se você soubesse o quanto me desgasta por dentro ter que aturar aquele egomaníaco que certamente fará da minha vida um inferno, talvez você me entendesse.
- Tem razão. Agora vou me levantar e guardar minha mala. — Eu a apoio porque agora conheço muito bem a minha mãe.
Quando ela faz isso, é sempre mais fácil concordar com ela do que explicar os motivos do meu desconforto.
—Você está assim há muito tempo, Serly. Quero ver você subir novamente, em vez de afundar cada vez mais. Este será o nosso novo começo. — ela sorri satisfeita.
Ou será o começo do fim, eu gostaria muito de te dizer. Mas eu aceno, forçando um sorriso e felizmente ela me deixa em paz.
Depois de terminar de arrumar as últimas roupas, vou para o banheiro para tirar as últimas coisas de lá também.
Fico alguns segundos me olhando no espelho.
Meu longo cabelo castanho, do qual uma vez cuidei tanto, cai bagunçado sobre meus ombros.
Meus olhos verdes, que antes brilhavam com uma luz inconfundível dada a minha despreocupação, agora parecem quase opacos.
Afinal, um pouco como eu.
Estou usando o único vestido que sobrou da mala, um azul-petróleo que chega até o meio da coxa.
Não é nada especial, mas meu objetivo é exatamente esse: passar despercebido por todos.
Principalmente o de Dário.
Minha mãe me chama lá de baixo e eu vou para o carro com minha mala e minha bolsa, me despedindo pela última vez desta casa que me proporcionou tantos momentos tão lindos a ponto de serem inesquecíveis, mas também tão ruins que eu quero apague-os. da minha mente para sempre.
É precisamente entre estas paredes que me lembro da última vez que vi o meu pai, meses atrás, antes de ele nos abandonar.
E percebo que ele pode nunca mais voltar para nós, por mais ruim que seja admitir isso.
Mas a realidade é sempre assim: fria e cruel.
—Eu também sentirei falta dele. — Mamãe sussurra, lendo meus pensamentos enquanto me envolve em um abraço carinhoso.
- Não importa. Vamos. — Minimizo o problema e afasto os sentimentos, algo que venho fazendo com muita frequência há meses.
Entramos no carro e enquanto tento não pensar muito nas próximas horas, bato os dedos na janela ao ritmo de uma música do rádio.
Quero saber? por Arctic Monkeys.
Uma música mais adequada não poderia ter acontecido comigo neste momento.
A pergunta que me faço é exatamente: quero saber?
Quero saber o que acontecerá quando Dario me ver e perceber que tem que dividir a casa comigo.
Ele é tão apático e frio como todos dizem?
Ele vai me atacar e arruinar minha existência ou estará muito ocupado pensando nas milhares de garotas correndo atrás dele?
- Chegamos! — Mamãe anuncia orgulhosa e eu abro os olhos novamente, olhando em volta.
Estou surpreso ao ver a mega villa à minha frente. Tinha toda a razão ao dizer que mais do que uma casa simples e modesta, como aquela a que estava habituado, parecia um palácio.
—Tem certeza que é isso? — gaguejo, engolindo em seco.
Resumindo, imaginei que os Terrilkls estivessem muito bem financeiramente, mas nunca esperei algo assim.
Mamãe balança a cabeça, desliga o carro e vai até o porta-malas para pegar as malas.
Eu a ajudo e nós dois seguimos em direção à interminável avenida que leva à vila.
Ao meu redor vejo um jardim repleto de plantas perfeitamente cuidadas e com cores vivas que me lembram a primavera.
A porta principal da casa também parece estar rodeada de ouro, com pelo menos três metros de altura.
—Mas eles são... nobres? —Pergunto insegura para minha mãe, que arregala os olhos.
— Serly, os pais são investidores financeiros. E não se atreva a fazer perguntas tão desagradáveis, mesmo na presença dele! - ela exclama porém, certificando-se de que só eu a ouça, enquanto uma empregada também se aproxima para nos ajudar com a bagagem.
- Só perguntava. —Murmuro, ainda surpreso e maravilhado com o que tenho diante de mim.
Enquanto isso, a empregada se junta a nós com um sorriso acolhedor no rosto.
— Bom dia, somos Amy e Serly Moore. —Minha mãe se apresenta mas a empregada faz um gesto rápido com a mão para nos fazer entender que ela já sabe de tudo.
— Me dê suas malas, eu cuido disso. O Sr. e a Sra. Terrilkl estão esperando por você na sala! -
Ele anuncia em tom alegre.
Senhores Terrilkl... isso significa que Dario também estará lá?
Eu realmente espero que não.
Mamãe me incentiva a segui-la porque, mesmo sem perceber, fico pensando.
Chego rapidamente até ela e na entrada vejo uma mulher loira, com cabelos bem cacheados e maquiagem natural que lhe confere uma aparência jovem.
— Aqui está você, finalmente! - ele exclama, sorrindo com os dentes e imediatamente me abraçando, me pegando de surpresa.
—Você deve ser Serly. - ele diz e eu aceno rapidamente.
— Prazer em conhecê-la, Sra. Terrilkl. E obrigado por decidir hospedar a mim e à minha mãe. — Agradeço a ele, mascarando todas as minhas ansiedades nem que seja por um segundo.
— Me chame de Bethany e me chame de família.
Receber você só nos deixa felizes, tenho certeza que Amy será uma excelente governanta e... tenho uma tarefa para você também. —ele anuncia me fazendo estremecer.
Talvez eles queiram que eu comece a trabalhar aqui também?
Para mim não há problema, sou simplesmente incompetente no que diz respeito aos trabalhos domésticos.
Ela não me dá mais detalhes e entramos, onde também aparece seu marido, Luke Terrilkl. Ele é alto e tem músculos decentes para sua idade, e imediatamente penso que ele é mais frio e distante do que sua esposa, mas ainda é muito gentil.
Também tive a oportunidade de conhecer os gêmeos Terrilkl, um menino e uma menina adoráveis. Eles me abraçam imediatamente, como se me conhecessem há anos.
- Você é tão bela. — Matthew anuncia, recebendo imediatamente um tapinha no braço de sua irmã mais nova, Julie.
—Você não diz isso para uma garota! —ela o repreende e ele fica de mau humor.
Todos nós começamos a rir da conversa engraçada deles.
- Bom é verdade. Serly é muito lindo! —Bethany acrescenta e eu coro e em seguida agradeço.
Estou prestes a me sentar no sofá ao lado da minha mãe quando Bethany fala novamente.
—Vamos lá, Logan está nos esperando. —ele declara e Luke assente, indo em direção à porta.
—Logan? - perguntei confuso, me levantando.
— Sim, nosso filho. Ele tem anos, um pouco mais velho que Matthew e Julie. —ele ri junto com minha mãe enquanto eu fico sem palavras.
— Dario também estaria lá, mas… acho que ele não vai jantar conosco. — ele me explica e eu inevitavelmente empalideço.
E assim, em questão de segundos, meus problemas duplicaram.
Não há apenas um Terrilkl para lidar, há dois.
E me pergunto qual dos dois será pior.
Relutantemente vou para a sala onde Logan, um dos Terrilkl cuja existência descobri há apenas alguns minutos, está esperando por nós.
Ando devagar deixando todos passarem por mim porque quero adiar esse momento o máximo possível, mesmo que seja só por alguns segundos.
Mantenho o olhar fixo no chão de mármore tão brilhante que quase me faz refletir interiormente.
