Capítulo 2
O olhei sem reação, o que ele estava fazendo aqui?
- O que está fazendo aqui? - perguntei perdida.
- O que as pessoas vêm fazer aqui? - perguntou ele arqueando uma sobrancelha. Só agora percebi que a minha pergunta havia sido estúpida.
- Certo, Sr. Kennedy. Vamos começar a sessão. - disse engolindo em seco.
- Não sou uma pessoa que precisa de ajuda psicológica. - disse ele com um ar debochado.
- O que veio fazer aqui, então? - perguntei sem paciência.
- Vamos conversar. - disse ele, em nenhum momento desviando seu olhar do meu.
- Não sou paga para conversar. - disse dando um falso sorriso.
- Eu paguei para conversar. - disse ele me apresentando um sorriso provocador.
- Ok. - disse. Ponto para ele. Estendeu um grande silêncio. - Sobre o que quer conversar? - perguntei.
- Jogos de perguntas. Confesso que estou curioso sobre você. - disse. - Irei lhe dar a honra de começar. - disse ele cruzando as pernas. - Sobre o que quer saber? - perguntou ele. O rapaz havia dito que não precisa de ajuda psicológica, mas eu estava começando a achar que ele era um louco.
- Não acho que seja um bom lugar para nos conhecermos melhor. - disse e então ele me ofereceu um sorriso vitorioso.
- Você tem um jantar mais tarde. - disse ele se levantando e indo em direção a porta.
- Você já sabia... - ele não me deixou terminar e saiu. Ele já sabia que eu iria dizer isso, talvez só tenha vindo aqui para armar esse encontro. Agora percebi que de louco ele não tinha nada.
Atendi todos os pacientes e podia dizer que estava exausta, pois, mesmo que eu passasse o dia todo sentada só dialogando, ainda sim era cansativo.
Sai da clínica louca para chegar em casa e ter um bom descanso, mas meus planos foram por água a baixo. Lá estava Christopher escorado no meu carro com um pé no pneu.
- Pensei que havia esquecido. - disse me aproximando. Talvez, mas só talvez eu estivesse começando a ficar com medo dele.
- Jamais. - disse ele me observando como um predador. - Para onde vai? - perguntou quando viu que eu rodeava o carro em direção a porta do lado do motorista. Olhei para ele óbvia.
- Embora? - saiu mais como uma pergunta. - Tire o pé do meu pneu. - briguei e então ele desencostou do carro com as mãos para cima em forma de redenção. - Estou cansada e já acabei por aqui. - disse.
- Não "acabou por aqui". - disse estalando a língua. - Não atendeu um paciente, então não acabou o seu trabalho. - disse ameaçador dando um passo em minha direção, na mesma hora dei um passo para trás, mas ele parou e me abriu um enorme sorriso.
- Você venceu. - disse suspirando. - Para onde quer ir? - perguntei. Talvez eu estivesse arriscando em estar dialogando com um estranho, mas quando o estranho é incrivelmente gato, gostoso e misterioso não tem como resistir.
- Vim de táxi, então... - disse ele estendendo a sua mão para mim, o olhei sem entender. - As chaves. - disse ele, resisti, mas ele insistiu, então acabei sedendo e dando as chaves para ele.
Alguns minutos vagando pela cidade e logo chegamos a um pequeno estabelecimento que parecia mais como um bar, mas não um bar desorganizado e sim um bar bem ajeitadinho, gostei.
- O mesmo de sempre. - disse ele ao garçom. O que me fez descobrir que ele vem aqui sempre.
- Isso é meio estranho. - disse, ele voltou a me olhar.
- O que é estranho? - perguntou ele sorrindo de lado.
- Nós mal nos conhecemos e cá estamos nós em um encontro. - disse. - Eu não sei como falar ou como agir. - disse lhe arrancando uma gargalhada, o que me fez rir também.
- A quanto tempo você não tem um encontro? - perguntou ele, o que me fez fechar o sorriso pela pergunta. - Não precisa responder se for incômodo. - disse ele. Esse assunto me incomodava, mas aquele sorriso me fazia querer falar.
- Não! - disse, mas logo percebendo que soou desesperado demais. - Eu só... não tenho tempo para encontros. - disse me acalmando e ele assentiu levemente.
- Então não se preocupe porque eu lidero as coisas a partir daqui. - respondeu ele sobre o comentário que fiz de não saber o que fazer em um encontro. Observei o garçom trazer dois copos de bebidas e colocando em nossa mesa.
- Essa é a hora que você bebe. - disse ele bebericando a sua cerveja, mas olhei em dúvida. - Vamos! Prometo que não é daquelas cervejas baratas. - disse insistindo. - Se quiser me conquistar vai ter que tomar pelo menos um gole. - disse com um sorriso divertido. Não havia percebido quando, mas eu também estava com um sorriso divertido ou talvez eu só não estivesse tirado ele do rosto desde quando estávamos no carro flertando um com o outro.
- Quem disse que quero te conquistar? - perguntei pegando o copo.
- Todos querem. - disse ele. Então levantei uma sobrancelha pelo convencimento e tomei um gole da cerveja e ao contrário do que pensei era realmente boa. - Me fale sobre você. - disse ele.
- O que quer saber? - perguntei.
- O que está disposta a me contar? - retrucou, arqueando uma sobrancelha. Ele era bom com as palavras.
- Bom, não há muito o que saber. Tenho uma casa própria onde minha mãe e meus irmãos moram comigo. Basicamente isso. - disse.
- Namora? - perguntou ele sorrateiramente, dando outro gole na bebida.
- Não. - disse incomodada.
- Já namorou? - perguntou ele sério.
- Na verdade, sim, uma vez. - disse, na mesma hora vindo flashback's.
- E por que acabou? - perguntou ele e suas perguntas pareciam não ter fim.
- Traição. - disse me remexendo na cadeira.
- Da parte de quem? - perguntou.
- Uou! - disse surpresa por tantas perguntas. Decidi não responder, mas ele estava sério demais para desistir da pergunta. - Ele me traiu. - disse desviando o olhar.
- Sinto muito. - disse ele. Olhei em seus olhos e posso dizer que todos esses anos que estudo psicologia dizem que não, ele não sentia muito, na verdade, não sei o que se passava naqueles olhos inexpressivos.
- Eu também. - disse encerrando o assunto. - Me conte sobre você. - sugeri, a fim de quebrar a tensão.
- Tenho pouco para falar sobre mim. - disse ele. - Bom, moro sozinho e... - bufou ele dando de ombros. - É basicamente isso. - disse com um sorriso fraco.
- E seus pais? Irmãos? - perguntei.
- Não moram comigo. - disse ele. - Não tenho irmãos. - disse.
Senti que esse assunto não era confortável para ele, mas ele disfarçava não ter nenhum problema.
- Desculpe pela esbarrada. - soltei, pois, não sabia o que conversar.
- Que esbarrada? - perguntou ele fingindo um falso esquecimento, sorri por ele me confortar sobre isso. - Você tem que sorrir mais vezes. - disse ele me olhando fixamente.
- Não tenho motivos para sorrir a todo tempo. - disse sorrindo sem graça.
- Me deixe reformular a sua resposta. - disse ele parecendo pensar. - Você não está andando com pessoas certas. - disse.
- É, talvez. - disse olhando para o copo enquanto esfregava o meu polegar nas gotículas de água que escorria pelo copo.
- Mas a partir de hoje você está. - disse chamando a minha atenção. - Quero me encarnar nesse papel. - disse, o que me fez rir mais uma vez. - Juro. - disse ele se inclinando sobre a mesa e levantando o seu mindinho. - De mindinho. - disse sorrindo. Seu sorriso era maravilhoso e seus olhos se fechavam cada vez que sorria. Realmente era uma cena fofa de se ver.
- Isso é meio antiquado não? - perguntei divertida.
- Não tive infância, está bem? - disse ele fingindo falsa indignação. Me inclinei sobre a mesa deixando nossos rostos perto e misteriosamente meus batimentos se aceleraram.
- Ok. - disse levando meu dedo mendinho na altura do seu e os entrelacei. Sua pele era quente e esquentava o meu mindinho que estava frio pelo clima. Senti meu corpo se eletrizar pelo toque. O seu tocar era bom. Nossos dedos ainda estavam entrelaçados e ele estava me olhando mais tempo do que devia. Então sai do meu transe e recuei limpando a garganta. Bebi mais um gole da minha cerveja que já estava pela metade.
- Por que a psicologia? - perguntou ele.
- Tenho uma grande paixão desde pequena. - disse mentindo, pois, não era isso que me levou a psicologia, mas o motivo era pessoal demais para dizer a alguém que acabei de conhecer. - E você? - perguntei.
- Procuro um significado para minha vida. - disse ele me olhando com os seus olhos severos. - A psicologia é só mais uma metáfora em minha vida. Por anos estudei várias coisas para encontrar o que realmente me fascinava, mas até agora não encontrei. - disse ele, escutei tudo com atenção.
- Qual a sua idade? - perguntei.
- 26. - disse ele, na mesma hora fiz um biquinho balançando a cabeça ao mesmo tempo. - Velho demais para você? - perguntou mordendo os lábios.
- Perfeito. - disse na lata, mas só depois percebendo o que havia falado. - Quero dizer... você está bem para alguém que tem 26. - disse tentando me desenrolar, enquanto ele me encarava com um sorriso divertido.
- Certo, você tem 23, não é? - perguntou ele, assenti. - Não parece, você tem cara de bebê. - disse ele.
- Tem problemas com bebês? - perguntei indignada.
- Na verdade, não. Eu até gosto. - disse e mais uma vez corei pela sua flertada.
Olhei em meu relógio e já se passavam das 11 horas da noite, me levantei rapidamente, pois, tinha que dar o remédio para minha mãe.
- Tenho que ir.- disse enquanto ele me observava. - Me esqueci da hora completamente. - disse explicando.
- Bom, prometo que na próxima eu mesmo a levo para casa. - disse ele me dando uma leve piscada.
- Irei cobrar. - disse sorrindo. Dei um leve acenar para ele e lhe dei as costas.
- Hey, Ayla! - chamou ele, me virei para olha-ló. - Está disposta ser minha amiga? - perguntou ele sério.
- Por que não? - dei de ombros o vendo dar o último sorriso.
Mas realmente podemos ver o interior de alguém que não conhecemos por alguns sorrisos trocados? Não, não podemos. Nem se conhecêssemos essa pessoa em 1 milhão de anos.
