Capítulo 5 _ Reencontro
O sol mal tinha surgido no horizonte quando eu saí da suíte de Damian.
A pele ainda carregava os resquícios do toque dele, e meu corpo inteiro parecia um campo minado de sensações que eu não sabia como lidar.
Eu não dormi ali.
Não porque ele não quisesse. Mas porque eu precisava de espaço. Precisava lembrar quem eu era antes que Damian Cavendish tomasse mais do que meu corpo.
Eu não era uma mulher que se envolvia. Não era alguém que se deixava levar.
Mas, enquanto eu descia pelo elevador, a lembrança do gosto dele ainda na minha boca, eu sabia que era tarde demais.
Eu já estava envolvida.
E Damian sabia disso.
Ele sempre soube.
No táxi de volta para o meu apartamento, minha mente girava como um maldito redemoinho.
A cidade ainda acordava, as luzes suaves da madrugada se dissolvendo em tons dourados conforme o sol surgia no horizonte. Mas dentro de mim, tudo ainda estava escuro e caótico.
Eu me encostei no banco, fechei os olhos e respirei fundo.
Foi só uma noite.
Só uma maldita noite.
Então por que eu sentia como se tivesse deixado algo para trás naquela suíte?
Minhas pernas ainda estavam fracas. Meu corpo ainda carregava as marcas do toque dele — da forma como ele me tomou, como se soubesse exatamente onde me desmontar, onde acender o fogo certo e me deixar sem fôlego.
Mas não era isso que me assustava.
O que me assustava era o fato de que eu queria mais.
Eu queria mais do homem que nunca deveria ter me tocado.
Quando o táxi parou em frente ao meu prédio, paguei sem nem perceber direito quanto entreguei ao motorista e subi para o meu apartamento como um fantasma.
Entrei, tranquei a porta atrás de mim e joguei minha bolsa no sofá.
Eu precisava de um banho.
Eu precisava apagar as lembranças daquela noite.
Mas, ao me olhar no espelho, tudo que vi foi a verdade estampada nos meus olhos.
Eu estava fodida.
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A segunda-feira chegou rápido demais.
O burburinho sobre Damian Cavendish só aumentava. Os veículos de mídia disputavam para descobrir quem ele era, de onde vinha, o que faria agora que o império da Cavendish Industries estava em suas mãos.
E eu?
Eu estava sentada na redação, encarando a tela do computador, tentando escrever algo coerente.
Tentei manter o foco no jornalismo, na matéria. Mas tudo que eu via era ele. Tudo que eu sentia era o toque firme de suas mãos, o sabor dele na minha boca.
— Thompson!
A voz do meu editor, Mark Reynolds, me tirou do transe.
Levantei a cabeça e o vi vindo na minha direção, segurando um jornal dobrado na mão, a expressão carregada.
— Alguma novidade sobre Cavendish? — ele perguntou, jogando o jornal sobre a minha mesa.
Respirei fundo.
— Ainda estou reunindo informações.
Mark bufou, cruzando os braços.
— Todos os outros jornais estão publicando matérias rasas, especulativas. Nós precisamos de algo sólido. Algo de dentro.
Eu mordi o lábio. Algo dentro?
Eu tinha "algo de dentro". Eu tinha mais do que qualquer jornalista nesse prédio.
Eu sabia exatamente como Damian Cavendish gostava de dominar. Sabia como ele soava quando estava no controle, como seus olhos escureciam quando queria algo.
Mas nada disso podia ser impresso.
— Estou trabalhando nisso — respondi firme.
Mark me lançou um olhar avaliativo, mas pareceu satisfeito.
— Ótimo. Porque Cavendish vai dar uma entrevista exclusiva amanhã à noite. Um jantar fechado, apenas alguns jornalistas selecionados. E adivinha quem está na lista?
Meu coração parou por um segundo.
— Você.
Merda.
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O restaurante era um daqueles lugares caros, onde o silêncio valia tanto quanto o champanhe.
Jornalistas de publicações renomadas estavam espalhados pelo salão, ocupando mesas estrategicamente dispostas para que Damian Cavendish fosse o centro das atenções.
Eu estava sentada de frente para a entrada, esperando.
Esperando por ele.
E quando ele chegou, era como se o tempo tivesse desacelerado.
Damian entrou com a mesma confiança magnética que me prendeu desde o primeiro momento. O terno escuro moldava seu corpo com perfeição, e o relógio caro brilhava em seu pulso enquanto ele caminhava com calma até a mesa reservada para ele.
Mas foi quando seus olhos encontraram os meus que o verdadeiro jogo começou.
Ele me viu.
E sorriu.
Não um sorriso educado. Não um sorriso para os outros jornalistas.
Um sorriso para mim.
Um sorriso que dizia: Você achou que poderia fugir?
Meu coração disparou. Minhas pernas cruzadas sob a mesa se apertaram involuntariamente.
Damian Cavendish ainda me possuía, mesmo sem me tocar.
Ele sentou-se à mesa, cumprimentando todos com um aceno discreto. As perguntas começaram, os jornalistas jogando questões sobre os rumos da Cavendish Industries, sobre seus planos, sobre sua visão.
Mas ele não me olhava.
Não até que, no meio de uma resposta perfeitamente articulada, seus olhos caíram sobre mim novamente.
— Algumas perguntas são mais interessantes do que outras.
Eu me endireitei na cadeira, sentindo o peso do olhar dele.
— Você concorda, Alex?
Meu nome nos lábios dele foi um golpe direto no estômago.
Todos na mesa olharam para mim.
Os outros jornalistas.
Era um teste.
Ele queria ver se eu conseguiria manter a compostura.
Então ergui o queixo e segurei seu olhar.
— Eu concordo, senhor Cavendish.
Seus lábios se curvaram de leve.
— Que bom. Então me pergunte algo que realmente queira saber.
O restaurante ficou em silêncio.
Era um duelo agora.
A tensão entre nós era invisível para os outros, mas eu a sentia como algo sólido, algo que nos envolvia e nos puxava para dentro daquele jogo perigoso.
Eu podia jogar de forma segura, perguntar algo sobre a empresa, sobre sua liderança.
Ou podia ir direto ao ponto.
— Por que voltou? — Minha voz saiu firme, sem hesitação.
Os outros jornalistas esperavam algo estratégico, corporativo. Mas eu não perguntei sobre a empresa. Perguntei sobre ele.
Damian se recostou na cadeira, analisando-me com um olhar indecifrável.
— Porque certas coisas não podem ser deixadas para trás.
Meu coração pulou.
Foi uma resposta calculada. Mas eu sabia que, naquele momento, ele não estava falando da empresa.
Ele estava falando de mim.
Droga.
Eu estava perdida.
