Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 9

Com aquele tapa na cara dele me arrependi de não ter jogado água no rosto dele. — Não vou tomar café da manhã com seus pais. -

Ele riu.

—Elia, não estou brincando. —A mãe dele teria pensado sabe-se lá o quê e eu não queria ficar sobrecarregado com aquela situação constrangedora.

- E o que você quer fazer? Jogar pela janela? Ficar aqui esperando meus pais irem embora, caso eles coloquem os pés fora de casa hoje. -

Boa ideia . — Isso mesmo, farei exatamente isso: vou esperar. — Mudei de posição para abrir espaço e fui sentar na cadeira acolchoada.

Ele me encarou por um bom tempo com os braços cruzados, talvez para ver se eu estava falando sério. De repente ele me deu as costas, girou a chave e abriu a porta, tudo num milésimo de segundo. Era muito imprevisível.

Levantei-me da cadeira com a intenção de detê-lo, mas não pude correr, caso contrário eles teriam me ouvido, na verdade ele chegou primeiro às escadas.

— Mãe, Karla também está aqui para tomar café da manhã. -

Eu vou matá-lo. Vou jogar pela janela. Fiquei no corredor enquanto ele conversava com a mãe lá embaixo, de cabeça baixa.

-Carla? — ouvi seu sussurro. Ela certamente não esperava que ele a ouvisse. —Eu disse para você respeitar aquela garota! - Ele deu um tapa no tornozelo dela.

Por que eles estão falando de mim?

—Então vou deixá-lo experimentar suas deliciosas panquecas. —Ele se libertou, rindo e andando de volta em minha direção. “Problema resolvido”, disse ele com satisfação.

Dei-lhe alguns socos no braço, de todo o coração. —O que ele vai pensar agora? -

Eu estava prestes a bater nele novamente, mas ele agarrou meu pulso. Ele olhou nos meus olhos e, tentando me acostumar com os dele, me perdi.

"Nada que eu realmente nunca farei", ele sussurrou, a apenas um passo de meus lábios.

Eu olhei para eles. Parei imediatamente. - O que você disse, desculpe? —Eu entendi muito bem.

—Somos vizinhos, temos que nos ajudar, certo? — Ele sorriu satisfeito mostrando seus lindos dentes brancos, depois me soltou e entrou em seu quarto. “Você me traz o sal, eu trago o açúcar, coisas assim”, acrescentou, entre um passo e outro.

Eu estava prestes a responder, mas os passos de sua mãe na escada me impediram. Ainda estou com a camisa do filho dele.

— Karla, bom dia! — ouvi a voz dele atrás de mim.

Virei-me, pronto para fingir que não estava morrendo de vergonha. - Bom Dia senhora. -

—Amy. —Ele deu uma rápida olhada no quarto de Elia quando chegou perto o suficiente. - Tudo está bem? -

- Se você ouvir... -

Ele era elegante, mesmo de manhã. — Chame-me pelo meu nome. -

— Sim... eu estava dizendo, ontem sofri um acidente feio e o Elia só me ajudou, eu não queria que ele pensasse, pensei, coisas estranhas. -

Ele ficou instantaneamente preocupado. — Um acidente grave? Com o carro? -

- Nono. —Apressei-me em explicar. — Me jogaram na água e eu tenho talassofobia. -

"Oh, me desculpe..." Ele levou as mãos aos lados da minha cabeça, acariciando-a. Certamente já imaginei as causas do meu trauma. Tive a confirmação disso quando ele mudou imediatamente de assunto. —Elia te incomodou? -

Não, mesmo que meu corpo quisesse. "Não, de jeito nenhum, é apenas irritante", eu ri. Eu não sabia por que, mas me sentia confortável com ela.

- Eu acho, eu acho. -

—Você está falando mal de mim? — Ouvi a voz do meu filho. — Karla, você quer ficar com minha camisa ou quer usar seu vestido? Está seco. -

Eu vou matar seu filho, Sra. Papai Noel, eu vou.

“Sim... é melhor eu me trocar”, respondi, olhando para seus cabelos dourados e ondulados.

- Vá, vá. -

A mãe dele nos deixou sozinhos e eu voltei para o quarto para dar mais algumas injeções no braço de Elijah. - Te odeio. -

— Sim, sim... — Ele parou e então me entregou o vestido, tirado sem permissão. —Você não acha que é um pouco transparente? -

“Não fica seco quando está seco”, tirei-o das mãos dele e caminhei em direção ao banheiro.

— Dê banho nele então, se quiser. —O ouvi dizer depois de fechar a porta. Nem merecia uma resposta.

Tirei minha camisa e coloquei meu vestido. Coloquei-o nos quadris e olhei no espelho.

Você realmente quer cheirar a camisa dele?

Agarrei-o antes de sair, segurei-o no nariz e respirei fundo. Cheirava tão bem que tive que parar de amá-lo.

Abri a porta, pronta para entregar a ele. Ele não fez nenhum comentário. Ele tirou-o das minhas mãos, tocando os dedos, atordoado ao olhar para o tecido laranja. Se as suas palavras eram perigosas, talvez o seu silêncio fosse ainda mais.

Eu tentei preenchê-lo. — Vamos descer? — Embora fosse a última coisa que eu queria fazer, ficar naquele quarto com ele novamente não foi uma boa ideia. E ele parecia pensar como eu.

A mesa da cozinha estava cheia de coisas para comer, sucos e frutas. Algo estava faltando, no entanto. - Seu pai? Você também trabalha aos domingos? —perguntei a Élia.

A mãe dele tinha-nos dito que ia sair à procura de peixe fresco no mercado, por isso ficámos sozinhos. Talvez ele tenha percebido minha vergonha e quisesse me dar espaço.

"Não, eu não deveria estar de serviço", disse ele brevemente.

Ele manteve a cabeça baixa e seu olhar focado no xarope de bordo que cobria as panquecas. Ele acrescentou os cranberries e o açúcar de confeiteiro, tudo em completo silêncio.

Comecei a entender que quando aquele garoto ficava em silêncio, havia algo dentro dele que ele guardava para si, e eu certamente não era a melhor pessoa para se intrometer nos assuntos ou no conforto dos outros, então respeitei seu silêncio.

- Ao Senhor. — Ele me entregou o prato pronto e comemos juntos entre goles de suco de laranja e outro.

Não conversamos muito porque Taylor me manteve ocupada com a ligação e talvez fosse melhor assim.

Terminei as panquecas e o suco e coloquei o telefone na bolsa. — Agora é melhor eu ir... —

- Sim OK... -

Levantamos em sincronia e ele me acompanhou até a porta. Eu deveria ter tomado cuidado ao sair com meu pai assim que cruzei a soleira daquela casa.

—Obrigado por ontem e pelo café da manhã. — Olhei para a mão dele na maçaneta mas ele não parecia disposto a abri-la.

"Você vai me evitar de novo?" - perguntado. Uma pergunta que eu não esperava receber.

Esse despertar me fez sentir de alguma forma viva. Cheio de emoções confusas e apatia, me perguntei o que eram. O que ele sentiu depois de pular no mar para se recuperar, depois que suas mãos me tocaram pela manhã, depois de folhear o mangá que ele queria me emprestar. Ele deve ter esquecido... E estava tudo bem: estava tudo bem eu reprimir cada nova emoção que aquele garoto parecia despertar em mim.

"Sim", eu finalmente respondi.

Ele sorriu, um sorriso estranho. - Imaginei. —Ele estava prestes a abrir, mas parou instantaneamente. - Espera um momento. -

Ele me deixou lá para subir. Não me diga isso... Ele desceu as escadas com o volume daquele mangá na mão. Ele voltou para mim e me entregou. — Você estava esquecendo. -

Não, eu não tinha esquecido...

Ainda não tinha conseguido porque sabia que seriam muitos volumes e isso significava que não iria evitar por muito tempo, porque iria querer o segundo, o terceiro, etc. E você sabe disso, Elijah, então está me emprestando. O que farei para vencer hoje? Apatia ou essas novas emoções? Pegar ou ir embora?

Meus dedos tocaram aquela cobertura macia. - Obrigado... -

Levado.

Carla

Não levei aquele mangá para o trabalho nem para a praia com medo de estragá-lo, então li no meu quarto à noite.

Normalmente, no verão, ele nunca ficava em casa, mas depois do episódio da última festa, precisava de solidão. Os gêmeos pensaram que eu estava com raiva deles (eles me revelaram isso uma manhã no trabalho) e eu perguntei por quê.

Quando me contaram - porque Elijah parecia muito zangado conosco naquela noite - quase não acreditei; Suas vozes, naquele momento de pânico, estavam tão distantes que eu nem conseguia ouvi-las.

Ele parecia muito calmo perto de mim e era seu tom irritante de sempre. Eu não conseguia nem imaginá-lo com raiva.

Por causa desses pensamentos tive que voltar aos globos anteriores porque tinha lido, sim, mas sem prestar atenção. Eu estava quase terminando na companhia daquela bola de pelo com a cabeça sempre apoiada na minha barriga.

Eu acariciei ele e ele abanou o rabo, descobri depois que ele também abanou o rabo ruidosamente devido a outra presença.

Virei-me para a janela do meu vizinho e ele estava lá, deitado de costas, sem camisa, treinando bíceps no espelho.

Meu quarto era iluminado apenas por uma vela que ele certamente não conseguia ver, então talvez ele pensasse que eu não estava lá. Enfim, o quarto era dele e ele poderia fazer o que quisesse, talvez eu fosse quem não precisava espioná-lo, mas suas costas e coluna chamavam minha atenção.

Ele tinha um corpo tão definido que pensei que ele já vinha trabalhando no físico há anos, e talvez tenha sido isso que ele fez, por causa de sua paixão.

Aliás, não sei nada sobre a paixão dele pelo surf... E não deveria me importar.

Parei de invadir sua privacidade para ler novamente. Esse mangá estava me deixando louco. Tinha um componente de fantasia e mistério, mas o romance era igualmente primário. Os dois se odiavam, mas estava claro que eles estavam se encarando. Depois de alguns minutos terminei com a melhor nota: eles estavam prestes a se beijar. Porém, algo me dizia que alguém no segundo volume iria interrompê-los.

Eu tinha que saber.

Dei outra olhada em Elijah. Eu ainda estava treinando. Mas o que você ganha? Eu o teria impedido: precisava do segundo volume. Acendi a luminária e fui até a janela, sentando no parapeito.

—Você ainda não está cansado? Levantei a voz para me fazer ouvir.

Ele olhou para mim com o canto do olho. - Você está espionando? ele perguntou, depois de terminar sua última série de rosca direta de tríceps.

Ele jogou o guidão no chão e se aproximou. Use pelo menos uma camiseta. Ele também estava sentado no parapeito da janela, suado, sem fôlego e lindo como o inferno.

- Terminei. —Eu balancei esse volume. —Quando esses dois vão se beijar? -

Ele riu. — Ah, fique à vontade. -

- Imaginei. -

— Aposto que você quer o segundo. -

Balancei a cabeça, satisfeito.

Mesmo no escuro eu conseguia ver seus dentes brancos. - O que você vai me dar em troca? -

É sempre ele quem me faz pensar mal, não sou eu.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.