Capítulo 8
Na semana passada, no refeitório, antes daquele desastre com Becca acontecer, fiquei silenciosamente escondido atrás dela por alguns segundos e senti um odor açucarado. Eu estava convencido de que era o bolo, mas quando ela se virou percebi que não o havia apanhado. Na bandeja havia apenas um pedacinho de pizza, uma bebida e uma maçã.
Então deduzi que devia vir dela.
Suspirei e me mexi nervosamente nos lençóis.
- O que está acontecendo? Becca me perguntou, deitada ao meu lado, com uma voz sonolenta. Ele se virou para mim e colocou a mão no meu peito. Merda. Eu não queria acordá-la. Eu não queria falar com ela.
Tirei as pernas da cama e me levantei, afastando-a.
“Que visão linda”, ele miou, tentando usar um tom de voz que achava sedutor e que realmente me irritava.
Peguei as roupas do chão e ela me ligou. Eu a ignorei e me vesti.
Tive que sair de casa e correr. De imediato.
— Volte para a cama — ele me implorou — preciso de você —
Ele tinha ouvido essas palavras muitas vezes, ele não atacou mais.
— Tenho certeza que você ficará bem. Eu tenho que ir -
Becca bufou, desapontada. —Diga-me o que é essa correria matinal. Você tem um corpo espetacular de tanto treino, por que precisa de mais atividade física? -
Que pergunta idiota. "Eu gosto disso", respondi laconicamente.
“Se sim, eu também quero ir algum dia”
, eu ri, sentando na beira da cama e apertando o cadarço do meu tênis.
- Você? Correr? Você estaria implorando por misericórdia em cinco segundos”, zombei.
Recebi um tapinha nas costas pouco antes de ela encostar os seios nus em mim. Eu queria ser provocativo, mas a proximidade dele só me irritava.
- Sem brincadeira. Eu quero ir...” ele sussurrou, mordiscando meu lóbulo da orelha. Sua mão vagou por baixo do meu moletom, pelo meu abdômen, me arranhando com as unhas.
Revirei os olhos para seu flagrante duplo sentido, bloqueando seus dedos. - Não posso te ajudar. E então gosto de correr sozinho. -
- Porque? -
“Ajude-me a aguentar você e todas as bobagens dos meus pais,” eu rugi, sem cerimônia, deixando a verdade escapar por entre os dentes.
Ela sabia muito bem que eu mal podia esperar para deixá-la, só esperava que ela se cansasse de ficar obcecada por mim e fizesse isso primeiro para que eu não tivesse problemas com meu velho.
Claro que ele riu dela. —Alguém acordou de mau humor, né? Se você voltar aqui comigo, vou te deixar de bom humor de novo -
Claro, com sua voz de ódio em meus ouvidos...
- Talvez outra hora -
Foi também a mentira mais gentil que eu poderia contar a ele.
Dei-lhe um beijo apressado em sua boca fazendo beicinho e saí rapidamente.
O que eu disse a Becca era verdade.
Adorei correr e, acima de tudo, fazer isso sozinho.
É claro que correr com alguém poderia te estimular a ir mais rápido, te distrair do cansaço, te melhorar, mas nunca poderia te dar aquela sensação de ser você mesmo, o ambiente ao seu redor, o cheiro da grama molhada, o som abafado de passos no chão. a estrada. estrada de terra e nada mais. Ninguém para gritar no meu ouvido o que eu deveria ou não fazer, o que estava ou não de acordo com a posição social do meu pai... apenas silêncio.
Uma benção.
Viajei alguns quilômetros rapidamente, a paisagem ao meu redor estava borrada, mas eu precisava. Tive que me esgotar, parar de pensar. E assim foi, por um tempo.
Até que o latido furioso de um cachorro me fez diminuir a velocidade, na esperança de encontrá-la.
Rowan Scott.
Lembrei-me da expressão que ela tinha na última vez que a vi.
Traído. Amargo.
Ele pensou que concordava com a minha namorada idiota.
Claro, já que eu nem me preocupei em me desculpar pelo comportamento terrível dela, ou em explicar a ela que eu realmente só queria falar com ela, e eu estava esperando por esse momento o dia todo, para saber se a voz dela ainda tinha aquela voz. inflexão sensual que eu lembrava.
Eu não tinha virado as costas para ele para trocar minha estúpida camisa manchada.
Cristo.
Quando aquele suco roxo lixo bateu nela, eu deveria ter notado seu olhar de surpresa e humilhação, deveria ter sentido pena dela. Mas não.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi a renda do sutiã que ficava visível através da camisa molhada. Sentindo-me um pervertido nojento, pela primeira vez em anos, fiquei furioso de vergonha. A verdade é que ser arrastada por Becca me salvou de parecer uma maricas sem cu na frente de todo mundo, ficando excitada só de ver a porra de um sutiã.
Depois daquele episódio eu tentei compensar, mas ela conseguiu me evitar e eu não podia deixar que as pessoas soubessem do meu interesse por ela pedindo o número dela na secretária eletrônica, teria sido muito perigoso. Ele pensara que encontrá-la por acaso no parque não levantaria suspeitas.
Fui na direção do cachorro, mas não encontrei nenhum pastor alemão. Apenas um border collie na companhia de uma mulher de cerca de quarenta anos, que o arrastava para longe da árvore onde um esquilo se refugiara. Eu bufei nervosamente.
Não era ela.
Assim que cheguei ao cais que atravessei para voltar para casa, uma figura feminina dobrou a esquina no final do quarteirão. Eu estava prestes a desviar o olhar quando percebi um lampejo vermelho e minha respiração deixou meus pulmões em uma nuvem de condensação.
Observei-a correr entre dois carros estacionados e atravessar a rua, de cabeça baixa, como se estivesse profundamente absorta, com seu fiel cachorro a poucos metros dela.
Quando ela se aproximou, ela olhou para cima, me notou e parou no meio da rua, espantada.
Eu sorri para ele. - OLÁ. Você é uma garota difícil de encontrar, você se aproxima dela e levanta a mão em saudação. Ela franziu a testa e olhou em volta.
“Relaxe, ninguém vai sair de um arbusto e te emboscar”, assegurei a ele.
