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Eu não quero me casar.

Pensando na reação da minha irmã e do Pablo, caminho com as pernas trêmulas. Estou com mau pressentimento. Pablo sabia que alguma coisa estava errada, por isso aquele papo estranho de "o importante é que ele veio".

Enrolo o meu vestido para não correr o risco de enroscar nos meus pés e logo chego na frente da igreja onde ele estava. As portas estavam fechadas com todos os convidados dentro, nos esperando.

Avisto no topo da escada o amor da minha vida. Ao me ver, percebo que ele ficou nervoso e começa a afrouxar a gravata. Subo os degraus sorrindo, para esconder o medo que estava sentindo.

— Amor... — Falo parando na sua frente.

Zaian me olha de cima a baixo. Ele segura na minha cintura, me puxando com vontade contra o seu corpo e me beija devagar, como se quisesse gravar o nosso beijo. Sua língua parecia estar em sintonia com a minha.

— Nossa. — Falo terminando o beijo. Ele coloca a testa na minha e suspira pesadamente. — O que faz aqui, minha vida? Já era para entrarmos, o padre deve estar querendo nos expulsar.

— Olívia...

Olho nos seus olhos e estranho o tom da sua voz. Ele nunca me chamou de Olívia, somente de pequena ou amor.

— Fala, amor, o que foi? Aconteceu alguma coisa?

— Desculpa, mas eu não vou me casar com você! — Fala se afastando de mim, sem conseguir encarar os meus olhos.

Levo um susto e começo a rir, pensando que ele está brincando. Mas meu sorriso se desfaz quando vejo que ele está falando sério. Sinto como se tivessem me dado um soco no estômago.

— Só vim aqui por respeito a você. Estou indo embora hoje, na verdade agora. Vim me despedir.

— Não estou te entendendo, amor. Me explica o que está acontecendo?

— Peço perdão, Livy. Eu não tive a intenção de te magoar...

— Não teve? Só me diz por que, amor? O que eu fiz de errado? — Falo com a voz embargada, mal dava para entender o que estava falando. Tento encarar os seus olhos, mas ele desvia. — Amor, se quer adiar o casamento, não tem problema. Eu converso com o pessoal, só não diz que não quer se casar comigo. Até hoje de manhã estávamos fazendo planos das nossas viagens...

— Para, não quero adiar. Já disse que não vou me casar com você, nem hoje, nem nunca. Nada fará com que eu mude de ideia.

— Não consigo entender. Como de uma hora para outra você muda assim? Não tem sentido isso. Me diz por que, amor?

— Eu não quero me casar. Sou novo, tenho muita coisa pela frente. E se ver amarrado em você não vai me deixar chegar onde eu quero. E outra, eu não te amo mais.

Estou em negação. Minha cabeça não está raciocinando direito. Levo minha mão no seu rosto, mas ele desvia. Abaixo e coloco minha mão na minha barriga.

— Para onde você vai?

— Não importa. Não tenho nada que me prenda aqui. Estou indo. Siga a sua vida e seja feliz.

— Claro que tem algo que te segure aqui. Não precisa ficar comigo se não quiser, mas...

— Já disse! Nada me fará voltar atrás — diz ele virando as costas e descendo os degraus da escada.

— Amor? — Ele para e olha para trás. — Eu estou grávida! — Falo tentando controlar a minha respiração. Ele não precisa ficar comigo, mas do seu filho ele tem direito de saber.

— Adeus, Olívia.

— Você ouviu? Eu estou esperando um filho seu! Não faz isso com a gente, não faz isso comigo, por favor.— Falo em desespero. Ele olha nos meus olhos, que mal consigo ver direito, e desce as escadas correndo. Penso em ir atrás, mas paro sem acreditar que isso realmente está acontecendo. Em poucos minutos, observo o meu amor entrar no carro e acelerar...

Me sento naquele degrau chorando, e ali me vejo novamente destruída.

— Por que isso está acontecendo, por quê? — busco respostas, mas não encontro. Somente as suas palavras ficam na minha cabeça.

Debruço sobre as minhas pernas, sem me importar se toda essa maquiagem vai borrar o meu vestido, e choro alto, desesperada, pois não sei o que está acontecendo. O meu peito dói como há muito tempo não doía.

Após longos minutos chorando, a imagem do meu pai erguendo o meu queixo aparece na minha mente, como se fosse um filme. As suas palavras me fazem levantar.

— (Lembrança) Eu te ensinei a ser forte, não deixe ninguém molhar esses lindos olhos de novo. Vou estar com você, não importa como, mas sempre que precisar, estarei ao seu lado.

Sentindo aquele vento fresco secar as minhas lágrimas, e em meio a esse pesadelo, acabo sorrindo. Isso sempre acontece. Falo que o vento é meu melhor amigo, pois só ele me faz sentir um pouco mais tranquila. Pensando no meu pai, em tudo que passei, decido que não vale a pena chorar. Ele não se importou com o seu próprio filho, e isso eu não vou perdoar. E se depender de mim, ele nunca terá contato com meu bebê.

Passo a mão no meu rosto, limpando um pouco a maquiagem borrada, o meu cabelo que estava preso com uma coroa a tiro bagunçando o meu penteado, e abro a porta da igreja. As pessoas levantam, a orquestra toca, exatamente como pedi, a nossa música no piano.

Os convidados assustados com a minha aparência, ando devagar olhando cada rosto de surpresa e pena. As minhas amigas correm para me abraçar, mas eu continuo andando em direção ao altar, me perguntando quando é que essa igreja se tornou tão grande assim. Um filme passa na minha cabeça, de todas as vezes que ensaiei para esse momento, para o momento de me tornar a mulher do homem que eu amo.

Subo os 4 degraus até o padre, pego o microfone, respiro fundo, tentando controlar a minha voz, pois se eu fraquejar vou aumentar a minha humilhação, e esse desgosto a meu pai, eu não darei.

— Boa tarde! Gente, nossa, estão todos aqui, todas as pessoas que amamos, bom, parece que o noivo não vem, não é? — Forço um sorriso, vejo o meu sogro sentando nervoso, sendo consolado por minha sogra, que também não estava acreditando.

— Quero pedir perdão por fazer vocês esperarem tanto tempo, perdão por vocês virem de tão longe para presenciar o meu fracassado casamento. Agradecer por vocês terem vindo, quem ia imaginar que o noivo ia me abandonar, não é mesmo? O casamento não aconteceu, mas a festa vai, coloquem um sorriso no rosto, eu vou ficar bem, e vamos ao baile. Tem muita comida boa, escolhida com muito carinho para vocês, comam, bebam, se divirtam. Vou só trocar de roupa e vou ao encontro de vocês. — Conforme vou falando, começo a me sentir sufocada.

— Esse moleque, o que o filho de vocês está pensando? Como pode humilhar a minha filha desse jeito? Para que esperar a hora do casamento para fazer isso? — Ela diz isso olhando para Genilson e Katrina, os pais de Zaian.

— Chega mãe, por favor, isso não é hora nem lugar. Ninguém tem culpa! Vamos para a festa, pessoal. Drica, mana e Emy, acompanhem eles, por favor. É logo ali do outro lado da rua...

O salão de festas eu comprei com meu pai quando eu ainda tinha 13 anos. Sempre me interessei pelos negócios da família. Ele reformou e deixou como eu falei que imaginaria o local. Ele sempre gostou de desenhar vestidos para casamento e festas, mas nunca quis montar uma empresa para esse fim. Eu dei a ideia e minha irmã me apoiou. Ela fica com a parte da decoração e eu com os desenhos. Muitas noivas gostam de algo exclusivo para esse momento e assim fazemos.

— Vamos, gente. Ouçam a Livy. Não queremos ninguém triste — minha amiga Drica fala, praticamente expulsando os convidados da igreja.

— Isso, vamos beber, comer. O bolo está uma delícia. Foi minha irmã mesmo quem fez, então já devem imaginar como está perfeito e delicioso — Samantha tenta amenizar as caras de pena das pessoas.

— Amiga... — Emily se aproxima e me dá um abraço.

— Eu estou bem, amor... Só preciso de uns minutos sozinha. Logo venho me juntar a vocês, prometo.

Nesse instante, meus olhos cruzam com os de Pablo.

— Livy, desculpa. Eu juro que não sabia. Percebi que tinha algo estranho, mas pensei que fosse só o nervosismo pelo casamento.

— Eu sei. Obrigada por ficar. Vão indo, só vou trocar de vestido.

Saio porta fora, entro no carro e acelero. Vou para um dos meus refúgios, no único lugar em que sinto meu pai tão vivo comigo: na praia atrás da nossa casa.

Essa praia tem lembranças, muitas risadas, muitas alegrias que eu e minha irmã passamos com ele. Paro, olhando para o horizonte, lembrando de como eu era feliz e não sabia. De como a minha única preocupação era com a roupa que ia vestir, de como ia ganhar do meu pai no xadrez.

Daria tudo para voltar e poder dizer apenas uma última vez o quanto eu era feliz, o quanto eu amava o meu pai. E hoje estou aqui, pensando em como dizer para minha filha ou filho que serei apenas eu nas horas em que as coisas apertarem.

— É bebê, parece que seremos só nós dois. - Falo, passando a mão na minha barriga.

— Oi!

Me assusto com a voz do Pablo vindo atrás de mim, me viro e o abraço forte.

— Como sabia que estaria aqui?

— Olívia, sei mais coisas sobre você do que você imagina. Posso te fazer companhia?

— Claro! Obrigada por ter vindo. - Falo, me separando dele. - Realmente não queria ficar sozinha.

— Vou estar ao seu lado, até quando você quiser que eu esteja. — Pablo vira para frente, ficando ao meu lado. Sentamos na areia, sentindo a maré molhar nossos pés.

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